Friday 27 August 2010

O PLANO DE COMPRA DO BPP PELA OREY ANTUNES

Banca

Um euro compra dívidas do BPP

Duarte d'Orey propôs a compra do BPP por um euro. Assume passivo, mas seis bancos têm de converter 450 milhões de euros de empréstimos em capital. Diogo Vaz Guedes diz que bens não chegam para pagar aval do Estado

O grupo Orey propôs ontem a compra do Banco Privado Português (BPP) por um euro, assumindo o passivo e activo do banco e de duas empresas da Privado Holding. Duarte d'Orey, líder do grupo, espera agora - para efectivar o negócio - a aprovação do Banco de Portugal e do Governo, já que a operação prevê a conversão do empréstimo de 450 milhões de euros, avalizados pelo Estado, em capital social.

Os seis bancos já terão dado o "acordo tácito" à operação de reconversão da dívida em capital. "A banca recebeu esta proposta com agrado", resume fonte do BPP, adiantando que a "proposta formal" foi entregue ao fim da manhã de ontem no Banco de Portugal, embora o banco central, tal como as Finanças, já tenham, desde há duas semanas, conhecimento informal do desenho da operação. A meio da tarde, Vítor Constâncio referia que ainda não tinha tido tempo para analisar a proposta.

Para os clientes do retorno absoluto, a Orey Financial - o braço financeiro do grupo e autor material da compra do banco - garante o "pagamento da totalidade do capital inicialmente investido", afirma a empresa em comunicado emitido ao final da tarde de ontem, "num prazo compreendido entre cinco e seis anos". Ao mesmo tempo, aos clientes será dado "acesso imediato" a linhas de crédito até 25% do "capital inicialmente investido".

A proposta do grupo Orey para a compra do BPP não prevê a "entrada do Estado português no capital do banco", de acordo com comunicado. Condição que satisfaz Teixeira dos Santos, ministro das Finanças, que, também ontem, deixou claro que rejeitaria a entrada do Estado na estrutura accionista do banco. "Relativamente ao BPP tornamos claro que não é do interesse público que o Estado se transforme em accionista", declarou o ministro das Finanças e da Economia, durante uma visita às instalações fábrica Covilis.

Duarte Orey terá conseguido convencer os seis bancos que emprestaram 450 milhões de euros ao BPP para solver depósitos - Caixa BPI, BCP, CGD, BES, Totta Santander Crédito Agrícola - em participar no capital social do banco de forma "temporária", convertendo o crédito em capital.

A Caixa Geral de Depósitos e o BCP deverão dominar a nova estrutura accionista (foram os bancos líderes da operação, contribuindo, cada um, com 120 milhões de euros no empréstimo), tomando acções com direito a dividendos. Mas a gestão do banco, realça o plano, será controlada por Duarte d'Orey. O banco deverá ainda ser dotado de capital fresco, injectado pela Orey Financial, cuja fonte terá origem num empréstimo avultado junto de um dos bancos subscritores do capital social.

O actual accionista do banco, a Privado Holding, garante que todos - accionistas, clientes e Estado - ganham com a proposta do grupo Orey. A holding, liderada por Diogo Vaz Guedes, "confessa" que num eventual cenário de falência do banco, o aval do Estado teria de ser usado para "ressarcir os bancos credores", já que "o património desonerado seria largamente insuficiente para reembolsar os empréstimos".

O que pensam os clientes do retorno absoluto que se arriscam a encaixar perdas de milhões de euros? Estão divididos entre o "apoio tácito à operação" e uma "expectativa" descrita como "cautelosa", esperando novos dados em relação aos apelidados "depósitos" do retorno absoluto.

Jaime Antunes, líder da Associação Privado Clientes, afirma que "esta solução em comparação com o que existe é boa, mas não é uma solução perfeita", já que "perfeito era receber o dinheiro, congelado há oito meses". A solução do Governo, diz o também investidor e accionista da Privado Holding, "foi abandonar o banco e os clientes".

O advogado Miguel Henrique, da Associação de Defesa dos Clientes BPP, "sem conhecer os detalhes da proposta", afirma, no entanto, que "qualquer negócio está dependente da aprovação dos clientes, a não ser que a parte compradora tenha 500 milhões de euros para injectar e lhes pagar", diz, referindo-se às perdas contabilísticas dos três mil clientes, cuja carteira valia inicialmente 1,3 mil milhões de euros.

por RUDOLFO REBÊLO

11 JULHO 2009

DN BOLSA

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