Sunday 8 August 2010

MONACO: FORT ANTOINE

Fort Antoine was built on the northeastern tip of The Rock of Monaco by HSH Prince Antoine I during the threat of invasion during the War of Spanish Succession. He sold family heirlooms and melted down his own silver and gold to pay for the new fortifications to ensure the safety of his small country. Prickly bushes and cactus were planted along the base of the walls to serve as natural obstructions.

The primary fortifications were built in 1709 but much more work was done. Huge gates at the approach were constructed, the cliffs were sheered and an underground barracks was built and a drawbridge was added by the last year of the war in 1714. The feared attack, however, never came and over time Fort Antoine began to lose its purely military, defensive function. Today there are pittosporum hedges rather than parapets and the cannon are only fired in salutes to mark joyous occasions in the history of the principality.

Time, neglect and other priorities had caused Fort Antoine to deteriorate considerably by the twentieth century. During World War II, when Monaco was occupied by the Axis forces, the major buildings were fortunate to remain unscathed amidst the numerous Allied air attacks. The harbor, La Condamine and neighboring Beausoleil were bombed in 1944 and the area of Fort Antoine was damaged. The underground tunnels Prince Antoine I had built served as bomb shelters for the frightened Monegasque population. After the war in 1954 HSH Prince Rainier III ordered a complete refurbishment of Fort Antoine, both to repair and to redesign the fortress for a more pleasant, non-military purpose. The stout walls, watchtowers and gun emplacements remain but the interior is now an open-air theater with cannonball pyramids decorating the stage to match the martial surroundings.

Today Fort Antoine is famous for its shows rather than its ramparts. The theater offers 350 seats in semi-circle stepped rows. As it is an outdoor theater one can still get a good show with a good pair of glasses rather than a seat up front. Shows, musical performances and the like are mostly held in the summer though when not in use there is no price for admittance and it is a rather scenic place to take in the view amidst the historical surroundings. It is only on special occasions such as the births of Princess Caroline, Prince Albert and Princess Stephanie that the Prince’s soldiers man the walls to fire off cannon salutes in honor of the new arrivals. Hopefully we will soon hear them firing again in honor of the arrival of the next Princess of Monaco.
MAD FOR MONACO 8-02-1010

DUCHESS OF YORK CLOSE TO BANKRUPTCY

Duchess Of York Tries To Avoid Bankruptcy

A spokesman for the Duchess of York says she is doing "everything she can" to avoid bankruptcy.

A Sunday newspaper has claimed that the Duchess owes up to £5m to creditors, however the figure has been dismissed as "significantly" exaggerated.

Sources have suggested that actual total owed is closer to the £2m mark.

Sarah Ferguson went public with her financial problems in May after being caught in a cash-for-access scandal by a tabloid newspaper.

She was filmed accepting money from a reporter, posing as a business tycoon, in exchange for an introduction to her ex-husband, the Duke of York.

She later apologised for a "serious lapse of judgment" and said that Prince Andrew was not aware of her actions.

During a subsequent interview with US chat show queen Oprah Winfrey, the former royal owned up to being "substantially" in debt, but would not say by how much.

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"The figures in the press have been exaggerated - the situation is being managed... All her personal debts have been paid. "

A spokesman for the Duchess of York
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The Duchess perplexed viewers by speaking about herself in the third person.

Debts have mounted since the Duchess' American business venture folded and a lucrative contract with Weight Watchers ended.

It is believed that legal bills are partially responsible for the Duchess' indebtedness.

The Sunday Telegraph has reported that at least one key Royal adviser now believes that bankruptcy is now the best option for the divorced mother-of-two.

But the Duchess, who recently split from her long-term spokeswoman, appears determined for this not to happen.

Her new spokesman said today: "She is doing everything she can to avoid bankruptcy."

The Duchess spoke to chat show host Oprah Winfrey about her debts

He added: "The figures in the press have been exaggerated - the situation is being managed.

"The only debts she has are business debts, some of which are disputed. All her personal debts have been paid."

The Duchess' spokesman said various alternatives to bankruptcy are viable at this time.

"There is a number of options open to the Duchess of which bankruptcy is one.

"But it would be premature to say she is going into bankruptcy as the situation is being managed."

SKY NEWS
UK, Sunday August 08, 2010

Pete Norman, Sky News Online

JARDIM GONÇALVES: A ENTREVISTA

08 Agosto 2010 DIÁRIO DE NOTÍCIAS
JOÃO CÉU E SILVA

Economia

"Os actuais accionistas do BCP têm interesses conduzidos pelo Estado português e angolano"

Jorge Jardim Gonçalves é acusado de irregularidades na gestão do Banco Comercial Português, que fundou e durante várias décadas geriu com mão de ferro. Afirma não recear o total apuramento de responsabilidades em todo este caso. Clama inocência e aceitou falar desta situação abertamente.

A um grande banqueiro nunca é dado o benefício da dúvida e Jorge Jardim Gonçalves encontra-se nessa situação após ter largado as rédeas do Banco Comercial Português (BCP) que fundou e durante várias décadas geriu com mão de ferro. Está acusado de irregularidades na gestão do BCP e decorre em tribunal uma disputa sobre as suas responsabilidades, tendo sido há dez dias anunciado que iria a julgamento. Jardim Gonçalves afirma não recear o total apuramento de responsabilidades em todo este caso. Clama inocência e aceitou falar desta situação abertamente

Já quando se carrega no botão do elevador que vai dar ao andar onde mora em Lisboa sabe-se que a entrevista a Jardim Gonçalves vai ser dura pois estamos frente a um homem que contra todas as expectativas montou o maior banco privado nacional e desvalorizou o cartel da banca pública. A sigla BCP nasce da vontade de empresários do Norte em possuírem um banco e o banqueiro foi convidado para liderar o processo. Não aceitou a designação regional nem se conformou com o projecto inicial, tendo alargado o horizonte financeiro por centenas de sucursais abertas por todo o país e estrangeiro e sob diferentes modalidades bancárias. O Banco de Portugal, em decisão inédita, proibiu-o de exercer actividade por nove anos e multou-o em um milhão de euros. O próprio assume que será muito difícil ultrapassar uma condenação ou uma absolvição porque a primeira já decidida na opinião pública seja qual for o desfecho da luta judicial em que se envolveu com o sistema bancário e judicial.

Tem evitado conceder entrevistas e só recentemente abriu duas excepções. O sim para esta conversa demorou mais de um ano a obter e só aconteceu após uma conversa prévia durante um almoço no seu escritório, nas Torres das Amoreiras, onde avaliou quem o iria entrevistar. Esperava-se uma série de perguntas de rajada mas durante essas primeiras duas horas a linha de inquérito foi subliminar. Primeiro, numa ante-câmara ao sabor de um sumo e de uma troca de informações pessoais para ambientar. Em seguida, uma refeição servida numa extensa mesa de reuniões onde a conversa passou pelos livros de Saramago, um seu encontro com Salazar e outro com Álvaro Cunhal, até se aterrar na política, nos bastidores da banca e no negócio PT/Telefónica. Perto do final, é dado o anúncio da decisão de se avançar na entrevista. Condições? Nenhuma foi imposta a não ser a sugestão de ler o livro onde reuniu toda a correspondência enviada aos accionistas durante a sua presidência do BCP.

Quando se observam fotografias suas do ano de 1985 vê-se como os anos passaram e o rosto do banqueiro foi mudando. Destaca-se ainda sobre um dos móveis da sala uma fotografia com o Rei de Espanha e existem muitas outras que justificariam a sua referência mas, principalmente, nota-se que a ostentação não está presente naquele espaço. Aponta para um ou outro quadro que decoram as paredes; refere o que mais gosta, e recorda uma história do pós-25 de Abril. De quando um amigo lhe quis dar 450 contos para lhe facilitar a sobrevivência durante tempos politicamente conturbados. Não aceitou porque achou que iria conseguir dar a volta mas nunca esqueceu esse gesto.

Também não se esquece dos vários tempos da sua vida e faz questão de os recordar. Que nasceu no Funchal, em 1935, numa clínica privada numa época em que era habitual o parto acontecer em casa: “A minha irmã mais velha nasceu em casa e morreu de parto, de maneira que a partir desse acidente passámos todos a nascer na clínica”. Pergunta-se se pensa morrer lá mas a resposta é “onde Deus quiser”. Também não pensa voltar à ilha para morar porque, apesar de bastante madeirense, explica: “saí aos 17 anos definitivamente da Madeira… Mas tenho jazigo da família na Madeira”.

Depois de se ter matriculado no Instituto Superior Técnico de Lisboa, teve um percalço de saúde e durante um ano a doença dominou-o. Fica paralisado da cintura para baixo mas não temeu pelo futuro: “Os meus pais sim. Lembro-me de acordar e a minha mãe estar debruçada sobre a cabeceira da cama a olhar para mim. Aceitei como uma coisa que ia passar, fui tratado e rapidamente melhorei. Depois fui para o norte [da Madeira] e desfrutei bastante da ilha com pessoas amigas”. Esse foi um período magnífico para Jardim Gonçalves porque teve tempo para muita leitura e tertúlia: “Encontrei lá um senhor, Carlos Santos, que tinha vivido por toda a parte do mundo e possuía uma grande biblioteca. Quando voltei ao Funchal convidaram-me para ir trabalhar para o Diário de Notícias da Madeira. Fui revisor e escrevi muitos textos e, ao fim desse ano, em vez de regressar para o Técnico, onde estive matriculado, decidi que preferia a Universidade de Coimbra”. Ao fim desse ano sabático, já não lhe apetecia fruir os edifícios públicos do Técnico mas sim uma universidade clássica. Posteriormente, é no Porto que faz engenharia.

O desejo de ser jornalista foi muito forte: “Achei muita graça mas não seria a minha profissão. Não só escrevia para a página de estudantes como também para uma meia hora de rádio no posto emissor do Funchal dos estudantes mas a Engenharia era o meu desejo mais forte”. A página dos estudantes que escrevia era no Jornal da Madeira, o chamado jornal dos padres por ser da diocese e foi aí que teve um dos primeiros embates: “quisemos fazer uma homenagem a um sacerdote que morreu mas como tivera problemas com o poder o jornal não publicou. Então, editámos o texto e uma exposição numa loja que ainda existe, a Maison Blanche, para lhe prestar homenagem”. Entre as reacções, houve a de ficarem sob observação das autoridades pelo acto de indisciplina.

Quando acaba o curso, é convidado para ser engenheiro na Ponte sobre o Tejo mas, com a guerra em Angola, foi mobilizado: “o Dr. Salazar fez o discurso e embarquei no segundo barco, em Junho de 1961. Chegámos e poucos dias depois estávamos a caminhos dos Dembos porque havia um mito sobre Nambuangongo que os militares precisavam de desmontar. Acreditava-se que se chegássemos até lá haveria uma desmoralização nos nativos por que os militares iriam mostrar que eram diferentes dos chefes de posto, da organização administrativa e dos fazendeiros e que isso permitiria estabelecer a paz”. Tal não aconteceu e Jardim Gonçalves, conta, teve “oportunidade de, a 9 de Agosto de 1961, à noite, dizer ao meu comandante: O problema não se resolve em Angola mas em Lisboa”. A descolonização era inevitável e mais certo ficou disso quando viu a destruição de pontes de betão à base de fogueira, água e picareta: “Eu, que era engenheiro de pontes, disse logo que ninguém faz isto por devaneio cultural. Está na alma das pessoas e é preciso ir ao encontro desta gente”. Para Jardim Gonçalves a solução estaria na “mesa de negociações”.

No ano de 1962, em plena guerra, é o primeiro oficial a ter uma licença para vir a Portugal casar-se: “A minha mulher estava a fazer a defesa da teses e o exame de Estado para poder ser professora e preparou o casamento. Casámos em Abril e em Julho foi ter comigo. Pensava que já não voltava à guerra porque quem tinha ido uma vez não regressava mas não foi o que aconteceu, estive sempre em guerra. No primeiro momento a apoiar a infantaria e depois recuei para fazer estradas e quartéis”. Ainda em Luanda tem duas filhas dos cinco e o casal ainda tentou um sexto: “Perdemo-lo. Foi um sinal de que a natureza já não aconselhava”.

Regressado a Portugal, foi professor na Faculdade de Engenharia do Porto a partir de 1968: “Não fui o melhor aluno mas sempre bom. Aceitei o lugar porque a empresa onde trabalhava obrigava-me a andar com a família atrás e a minha mulher já era professora efectiva no Porto. Achei que devia estabilizar”. Em 1969 é convidado para ser deputado da Ala Liberal: “Já não havia o Dr. Salazar e o primeiro responsável da Acção Nacional Popular, Melo e Castro, queria reunir um grupo de deputados no Porto, que depois vieram a ser essa Ala”. Nessa época tinha intervenção política no Porto através da cooperativa Confronto, onde tinha sido um dos fundadores, tal como já tinha sido um iniciadores da SEDES, em Lisboa: “Éramos pessoas preocupadas com o país, víamos com dificuldade a transição e tínhamos dúvidas se era possível tal caminho”. Não aceitou, no entanto, ser deputado porque trabalhava para uma empresa privada - depois na administração do Porto de Leixões e logo em seguida na banca – e considerou ser pouco conveniente: “toda a gente sabe o que vou pensando em cada momento, não o escondo, mas também nunca notei da parte dos partidos políticos que tivessem interesse em que eu fosse para lá. Não tive abordagens sérias”.

Se não teve actividade política, Jardim Gonçalves não se escusou jamais a apoiar os partidos e, em Março de 1998, referiu numa entrevista que “damos dinheiro aos partidos que o pedem”. Também refere: “Os partidos políticos nem sempre acharam graça porque o declarávamos e isso nem sempre lhes convinha. Julgo que ninguém deu mais porque íamos ao máximo possível. Penso que a nossa atitude foi correcta porque era um pequeno imposto para a democracia já que não há democracia sem eles”. Os donativos do BCP era equitativos a não ser que, explica, “houvesse uma clara desproporção entre as necessidades”. Esclarece que só o Partido Comunista é que nunca pediu e, portanto, nunca teve mas sabia que se o solicitasse receberia”.

Será em 1970 que entra para a banca: “Foi um convite que me mudou a vida completamente e que foi muito pensado. É para ficar no Porto e, em part-time, a apoiar 9 projectos de investimento para o Banco da Agricultura. Era um banco pequeno, do Sul, e de muito boa gente que teve consciência de que para ser realmente importante e nacional tinha que passar pelo Porto. Como imaginavam que eu era uma pessoa de lá, pela engenharia, a faculdade, a Junta de Acção Católica e pelas relações que tinha com o bispo do Porto, entendiam que mesmo não estando no banco era uma ajuda. Podia ter aceitado o encargo sem nenhuma condição mas pedi para conhecer o banco por dentro porque não sabia como funcionava, o que conhecia era de engenharia de Portos. Então, nas férias, a família ficou no Porto e vim a Lisboa fazer um estágio para os serviços de retaguarda, sem vínculo nem remuneração. Quando estava a fazer o estágio, o vice-presidente do banco chamou-me e disse: “Agora que já o conhecemos, gostávamos que mudasse de vida e viesse para Lisboa”. Respondi-lhe que nada sabia ainda mas a resposta foi que “de banca sabemos nós. Precisamos é de si”. Não foi fácil mas acabei por aceitar”.

É a partir desse momento que nasce o banqueiro Jardim Gonçalves. Concorda que foi tudo muito rápido: vem como director das garantias bancárias; passa para o crédito; é nomeado director-geral comercial e, em seguida, entra para a administração: “Entretanto, acontece o 25 de Abril de 1974, a nacionalização da banca em 1975 e fica com cinco filhos e sem trabalho. Tive muitas ofertas de emprego como engenheiro mas quando íamos concretizar surgia sempre uma dificuldade”. Percebeu que em Portugal, durante algum tempo, estava marcado. Após a nacionalização ficou proibido de sair do país por três meses mas em Maio pede a Vasco Gonçalves autorização para ir a Espanha, onde o administrador do Banco Popular Espanhol lhe promete emprego e o convence a não ir para longe: “Eu disse-lhe que estava a pensar ir para o Brasil, Canadá ou Austrália mas avisa-me: ‘Não vás para longe porque Portugal vai-se resolver’. E a 13 de Junho, dia de S. António, deixaram-me sair e fico a trabalhar em Madrid até que em 1977 se dá a visita do Presidente da Republica Ramalho Eanes e, numa recepção na embaixada, o general aproxima-se de mim e faz-me o convite para voltar a Portugal. Digo-lhe que se tiver trabalho volto e quando é nomeado o I governo constitucional de Mário Soares sou convidado a voltar. Mas, avisei, que só regressaria quando o meu nome fosse publicado no Diário da República”.

A partir deste momento, a história de Jorge Jardim Gonçalves como banqueiro encaminha-se rapidamente para o que o tornará conhecido: o BCP. Para trás fica o regime de Marcelo Caetano e a Revolução dos Cravos que sintetiza assim: “Portugal devia ter encontrado os seus bons caminhos sem o 25 de Abril porque não foi uma revolução, antes uma atitude muito concentrada à volta de uns tantos militares e de uma classe política que aproveitou e fez a revolução. Foi um movimento”. Considera que a banca antes da revolução era saudável e que, após a nacionalização, houve casos que a fragilizaram: “O primeiro banco que é privatizado é o Banco Totta porque tem garantido a segurança social e as reformas”. Quanto à dúvida sobre se existia um lugar para o BCP na banca portuguesa, Jardim Gonçalves recorda que lhe fora referido várias vezes que não: “Os bancos nacionalizados gozavam de confiança mas os promotores do BCP entendiam que havia espaço para um banco comercial e eu também acreditei, desde que fôssemos pela inovação. Com o conceito de vender todos os produtos financeiros no mesmo balcão, ter um sistema informático a dar resposta global a todos os produtos financeiros, a internacionalização, cruzar participações e ter subsidiárias fez com que o BCP realmente aparecesse”.

Se a história do banco é bem conhecida, o mesmo não se passa com o divórcio entre Jardim Gonçalves e o Millenium-BCP que se verificou em 2005, quando passa a presidência para Paulo Teixeira Pinto, e em 2007, quando deixa o Conselho Superior de Supervisão.

Como convive com a proibição de exercer a actividade de banqueiro?

Olho para esta inibição como não existindo e algo que tem de ser explicado e que irá ser resolvido. Não aceito nove anos de inibição - nem sequer nove segundos de inibição - e toda a minha história, a relação no sistema bancário e com os reguladores não permite que tal se verifique. O que aconteceu deve-se a situações perfeitamente externas ao meu currículo, à minha vida profissional e institucional.

Acha que é um caso político?

Não é um caso político de política. Foi um caso em que a política interveio numa instituição privada. Com a dimensão a repercussão que tem no estrangeiro nos mais diferentes mercados e pela importância que tem no país, não há ninguém na política que possa estar fora do que aconteceu. Se a instituição foi usada para determinadas fontes de poder passarem a intervir no banco!... Aliás, há duas viagens seguidas do primeiro-ministro português a Angola que caem exactamente em cima dos primeiros movimentos para que Paulo Teixeira Pinto venha a ser afastado. O tema não foi afastarem-me mas afastarem-no a ele. Eu podia sair e Paulo Teixeira Pinto continuava e o banco teria o seu desenvolvimento.

Porque é que também o quiseram afastar? Foi uma governamentalização do banco?

Nitidamente! O Banco Comercial Português em vários momentos da sua vida lutou para que não tivesse grandes accionistas.

Nunca com mais de 5%?

3% de preferência, 5% no máximo. Nas minhas conversas com accionistas pedi sempre “não cheguem a 4,99, porque terão a tentação de ultrapassar” e todos os problemas que tivemos foi com accionistas que o fizeram. Essa barreira que implicava um visto bom do Banco de Portugal (BP) e pensei sempre que a estabelecendo como uma barreira de negociação, não era de confrontação, que BP protegia-nos o resto. Quem quer ter mais de 5% precisa de apresentar uma história de investimento em relação à empresa cotada e, pergunto, qual foi a que estes senhores que hoje têm mais de 5% apresentaram para serem autorizados? Eu não os conheço, nunca fui ouvido sobre essas histórias e obtiveram mais de 5% quando eu era presidente do conselho geral de supervisão.

Quem são ?estes senhores?. O BES e a CGD?

O Banco Espírito Santo (BES) não tem posição. Agora, a EDP tem, e logo que António Mexia entrou na EDP o BES tomou uma posição na EDP, diferentemente de quando nós e o BPI éramos accionistas da PT. Nitidamente, a PT procurou que saíssemos da empresa e aquilo ficou sempre a ser um mundo à volta do grupo Espírito Santo. Na EDP estávamos numa atitude de criar condições para que a PT não fosse incumbente e único operador de relevo. Aí, o primeiro-ministro de Portugal entendeu que era de promover a criação de um outro operador de comunicações e que a EDP dificilmente faria isso só - o tal tema da gestão da base de dados. Como o BCP tinha uma boa base de dados, para cima de três milhões de clientes, sugeriu-se que a EDP e BCP desenvolvessem a ONI, juntamente com a Brisa.

Mas nunca se conseguiu?

Nunca porque a PT ofereceu todas as resistências e o próprio governo que se segue a António Guterres também não quis o desenvolvimento da ONI.

Que accionistas mais é que ultrapassaram?

Temos a EDP, a Fundação Berardo, a Sonangol, a Eureko, o BPI e a CGD…

O BES aparece por via da EDP?
Por via da EDP no sentido de ter influência e poder. Na reunião, que eu chamo atípica, de Vítor Constâncio com os accionistas, estavam os quatro bancos a decidir da nossa vida! O BPI, a CGD, o BPP - que tinha mais de 3%, muito para aquela instituição - e, indirectamente, a EDP.

A ?crise? no BCP é paralela ao novo governo de José Sócrates?

Eu saio em Março de 2005, é a seguir a isso.

É uma coincidência o Governo socialista e a ?crise? do BCP terem o mesmo período histórico?

Não tenho dúvidas de que a deslocação de elementos da CGD para o BCP é algo que o Estado aprova, porque o Estado tem que nomear outras pessoas para a Caixa e tem que dar acordo a que saiam. Saíram três administradores da CGD para administradores do BCP e isso é um facto. Outro facto: todos sabemos que em relação a Angola, na visita do Governo, há realmente uma grande abertura desse país a que as empresas portuguesas vão investir lá. Era bom para ambas as partes. Independentemente das que vão para a Polónia, Eslováquia, Croácia e outros países, Angola era sempre falada, tal como o Brasil. Nessa altura, nas visitas de Estado, fica claro que há um sinal que Angola quer dar: não aceita nova colonização e é muito importante que Portugal dê o exemplo de que Angola pode fazer grandes investimentos. A Galp e o BCP são os sinais visíveis desse investimento.

Há uma intervenção do Governo para que a Sonangol entre no BCP?

Nitidamente, a Sonangol funcionou. Não são coisas que aconteçam sem que os governos falem. Não fui parte de nenhuma conversa mas sabe-se que é assim. Só que eu tenho também uma história de antes de 90 onde um dos primeiros países em que o BCP quer investir é Angola. E nessa altura, a conversa com o Presidente da República é clara, que o BCP não quer angolanos seus sócios mas instituições angolanas e fica a Sonangol apalavrada. Mas quando o Presidente da República diz que não pode garantir que a Sonangol, ficando o BCP, não vá para outros bancos, é o BCP que diz que não pode ser.

Se se mantivesse como presidente do BCP não teria aceite?

Teria aceite a Sonangol por ter feito um investimento e nós teríamos uma subsidiária em Angola. Perfeito, porque ficou acordado com o presidente. O que não foi aceite pelo BCP era que a Sonangol repetisse esse investimento noutros bancos e na assembleia de Maio de 2010 foi importante ter sido retirado o artigo 12, que refere as incompatibilidades. Neste momento a Sonangol não só está no BCP como, em Portugal, está noutros bancos. E em Angola a mesma coisa. Isto não seria possível se não houvesse essa mudança estatutária, que me faria sair no dia seguinte à retirada dessa incompatibilidade.

Quem é responsável pela mudança estatutária?

Os actuais accionistas, que têm interesses conduzidos pelos estados português e angolano. Era muito importante legalizar e legitimar a presença de investidores angolanos em mais de um banco em Portugal.

Pode-se dizer que houve uma intervenção estatal no BCP?

O Estado dirá que não tem intervenção nenhuma nem fará nada. Agora, como é que não fará? O BCP é a maior instituição financeira, nalguns parâmetros maior que a CGD, muito acima do BES e do BPI e não pode passar desapercebido quando se vê a ligação a escritórios de advogados. Quem é o advogado do senhor Berardo? É um advogado do mesmo escritório de António Vitorino, que tem todas as relações com a Comissão Europeia e o Santander. Portanto, há toda uma rede que cria facilidade para que o BCP venha a ser gerido por estas pessoas. O que não tem a ver com a cultura do banco, que pretendia manter centros de decisão em Portugal.

Mas Paulo Teixeira Pinto é escolhido por si e pelos seus pares?

Sim, há 70 pessoas consultadas.

E porque é que ele aceita esta intervenção?

Ele não aceitou a intervenção, ficou de fora! Paulo Teixeira Pinto não sai porque os antigos impõem a saída mas porque nessa altura pede para sair. Os antigos querem o ponto 8 na assembleia geral de Maio para evitar que Paulo Teixeira Pinto saia e para dar um sinal que o conselho geral de supervisão pode designar o conselho de administração executiva. Só que esse ponto nunca chegou a ser discutido devido à movimentação dos advogados das partes.

Paulo Teixeira Pinto não tem meios de evitar essa ?intervenção do Estado??

Não, ele foi o primeiro a sair.

E o senhor tenta recolocar a situação?

Há duas mudanças feitas na 1.ª assembleia de 2006, um ano depois de Paulo Teixeira Pinto entrar, com que eu estaria sempre de acordo: a fusão/aquisição com o BPI e que se consagrasse o governo do banco a dois níveis: conselho geral de supervisão e conselho de administração executivo. Esta é que deu o desencontro entre os órgãos e o que se disse foi que eu tinha saudade do poder e queria regressar. Não foi nada disso. Nunca tive confrontação com Paulo Teixeira Pinto, nem ele comigo. Houve, sim, movimentos estranhos aos dois para criar condições no sentido de que Paulo Teixeira Pinto saísse. E eu, naturalmente, também tinha o meu tempo contado.

Pode-se dizer que o BCP quase foi nacionalizado?

O BCP não está nacionalizado, está é com um corpo de accionistas que desviaram fundos do seu negócio e foram buscar créditos para comprar a preços muito elevados. Isso é que cria uma dependência. Há pessoas que compraram acções a valor médio de quase três euros - chegaram a comprar a quatro - e que hoje as vêem a menos de um euro. Esses estão extremamente dependentes de negociações, de reestruturações de dívida e da entrada de mais garantias.

Refere-se a Joe Berardo?

A vários! Não sei quais são porque desconheço as posições. Diria que é um problema dos maiores e será comum.

Mas Berardo é um dos pilares contra si?
Creio que o senhor Berardo não tem nada contra mim nem se entende que a maior instituição financeira privada possa ser perturbada por uma questão pessoal. Não há uma questão pessoal mas sim estratégica importante de controlo dessa maior instituição financeira portuguesa. Se passa por mim, pelo Paulo Teixeira Pinto, por Santos Ferreira, se passou por Armando Vara… Pois terá passado por muita gente, não há aqui é nada de pessoal. Ninguém tem razão de queixa de mim e eu não tenho razão de queixa também. Posso ter pela maneira como são feitas referências à minha actuação no banco, perfeitamente fora de contexto e que não são verdadeiras nem consistentes. Um dia provar-se-á que não faz qualquer sentido tudo o que se tem dito. Não sei é como nem quando.

Joe Berardo foca sempre em si as acusações.

Porque convém! Para a imprensa é a minha fotografia e o meu nome que interessa apesar de já ter saído do banco vai para mais de cinco anos.

Até já interpôs a Berardo uma queixa-crime e duas cíveis.

Como é o rosto dele que faz essas referências tenho que o fazer mas o tema das remunerações, que ele aborda de uma maneira menos adequada, vem de um tempo em que não eram individualizadas e é ele quebra essa regra. Uma coisa que não tem qualquer legitimidade em abordar, até porque hoje é custo zero para o banco e não diz respeito aos actuais órgãos sociais. E estão lá provisões, até para uma actualização dessas remunerações em 3%. Não tem acontecido, a inflação não tem chegado a esses valores, mas está tudo preparado. A actual administração, a actual gestão do banco, os actuais accionistas não sofrem absolutamente nada porque tudo ficou preparado.

Não prescinde dos seus direitos?

Não, estão perfeitamente consagrados. E não pesam no banco! Isso ninguém publica!

Entre as acusações está a de usar o avião e a segurança do banco.
As pessoas acharam que a minha exposição recomendava que a privacidade, a segurança e o transporte se mantivessem nos mesmos termos. Infelizmente, passados cinco anos, a minha exposição agravou-se. Antigamente, era só porque era presidente do banco mas ninguém duvidava da minha honorabilidade e honestidade. Hoje, essa exposição está agravada porque as pessoas não acham graça a todo o ambiente que se criou, de que a pessoa se aproveitou e alterou números para ter mais benefícios. Já convidei os três órgãos do banco a fazerem uma avaliação sobre se as condições se alteraram para me dizerem como é que é.

Considera que tem menos segurança?

Está agravada! Têm acontecido coisas que não aconteciam há dez anos, nem há oito, nem há cinco.

Quando sai à rua sente-se inseguro?

Não pode ser de outra maneira! Há abordagens mas ainda não houve nada de trágico porque mantenho um mínimo de segurança. O número de 40 seguranças nada tem a ver com a realidade pois nunca tenho mais do que um.

Também considera que existe uma outra frente de ataque por Vítor Constâncio?
É muito difícil fazer crer à opinião pública que os governadores possam contribuir para a instabilidade das instituições mas a verdade é que sim. Contribuíram de tal maneira que mesmo tendo os governadores conhecimento de toda a vida do banco Vítor Constâncio não teve essa dignidade para na altura dizer “cuidado, nós sabemos o que se passa no banco” ou “chegou uma denúncia, vamos ver se é verdade ou não e depois falaremos”. Não o fez e deixou-se arrastar, tal como Carlos Tavares o fez. Eu ainda fui a tempo de iniciar suspeição sobre a independência deste no juízo mas em relação a Vítor Constâncio porque os advogados nem tiveram tempo para ler o processo.

Diz que da parte de Vítor Constâncio existe uma prévia condenação.

E do Carlos Tavares também!

Que razões estão por trás dessas prévias condenações?

Só eles é que podem dizer. Não é natural que um regulador contribua para a instabilidade de uma instituição sabendo que o estavam a fazer. Porque é que o fizeram?

Que resposta encontra?

Não há resposta que não seja uma orientação, uma ordem ou um projecto mais forte que a honra do fundador e presidente do banco. Não pode haver outra coisa! Poucos dias antes eu estava a escrever cartas manuscritas ao governador a dar apontamento sobre a situação do banco. A minha relação com as autoridades foi sempre exemplar e eles não dizem o contrário!

Então terá a ver com os administradores nomeados pelo Governo?

Creio que eles tiveram que se enquadrar em determinado projecto, que é muito maior e mais relevante do que a minha pessoa. Mas para o concretizarem, passava por me desfazer.

Sejamos directos. Acha que da parte do Governo existia interesse em abatê-lo?

Não tenho dúvida. Se não têm interesse, afastaram-se para que alguém abatesse. Ou o fizeram ou deixaram que se fizesse.

Quem é fez ou deixou fazer?

Quem queria o BCP para poder fazer acontecer em Portugal uma série de coisas. Não era possível financiar determinados projectos e determinadas operações noutras condições sem a CGD mais BCP e mais BES.

Portanto, o Governo?

O Governo de certeza que o fez ou afastou-se para que alguém fizesse. Pode não ser necessariamente o Governo, mas não está fora do jogo.

Qual o objectivo do Governo?

O BCP foi independente, autónomo e todos os dias tinha a sua estratégia a concretizar-se. Não foi dependente do Indosuez que veio com Amorim nem de Botín ou dos italianos. Quando deixou de o ser, abriu-se uma brecha e determinado corpo de accionistas conseguiu 20 a 30% com o projecto de ocupação. O que não esperavam é que o banco perdesse valor com a ocupação e acreditavam que dava para todos, tal como ainda hoje estará a dar para muitos à custa de um desfazer que é grave. Eu não vendi uma acção, podia tê-lo feito a quatro governos. Muita gente vendeu e eu aqui estou à espera. Não alterei nenhum bico do meu património mesmo que fortemente lesado. Os afectos também são importantes apesar de serem valores patrimoniais.

Nunca falou com o primeiro-ministro sobre o assunto?

O primeiro-ministro não está interessado em falar sobre este assunto, sobretudo comigo.

Nem com Armando Vara?

Falei com Armando Vara antes de ser administrador, depois não.

E a conversa teve a ver com esta situação?

Tinha que ver… Disse-lhe: “vai entrar no banco que é uma casa excelente. Faça o possível por continuar a ser”.

Quem é que o pretendeu abater afinal?

Houve interesse de vários. Não aconteceriam determinadas coisas se eu lá estivesse. Qual é a contrapartida do Governo para Angola em relação às empresas que foram para lá? Não sabemos mas que houve um interesse não há dúvida. E que o conseguiram parcialmente foi na vertente negativa.

O governo angolano terá tido um papel importante?
Angola é governo angolano, nada se faz sem governo angolano. É regime presidencialista...

O governo angolano canalizou os seus interesses através de um banco português?

Angola precisa de um banco do primeiro mundo para ter onde circular os fundos financeiros e o BCP era uma instituição com esse perfil mas não tinha que ser feito desta maneira. Quando digo “ser feito desta maneira” não tem a ver com Angola. Mas podemo-nos perguntar se isto interessava a Angola em determinadas vertentes? Interessava. Mas foi desta maneira que Angola mandou fazer? Eu não digo isso. Agora, que interessou a Angola sim. Interessava ao Banco Privado Português para ser incorporado dentro do BCP? Sim senhor. Ou podia interessar ao Fundo do professor António de Sousa para dar uma certa movimentação... Cada um tinha as suas razões mas todas passavam pelo afastamento da cultura fundacional do BCP.

Que considera contarem sempre com a cooperação de Vítor Constâncio e Carlos Tavares?

Vítor Constâncio e Carlos Tavares apoiaram com certeza e mesmo a nível de Ministério Público. Tenho muita pena que o senhor procurador-geral tenha vindo à porta para fazer a fotografia com eles - quando tinham entrado pela garagem - ao lado da procuradora-adjunta, do presidente e vice-presidente da CMVM. Não dá para entender o que levou a que o Ministério Público não me tivesse feito uma audição consistente e que a acusação esteja em curso?

Crê que o Ministério Público também tem interesse em abater o BCP?

Até agora sim. Ao BCP e às pessoas da cultura fundacional do BCP. Lembro-me de uma vez ter dito que quando há uma equipa que ganha toda a gente pensa que qualquer membro dessa equipa pode fazer o mesmo. Ainda no outro dia o José Mourinho dizia isso de uma maneira inteligente - “aqueles que não são os melhores têm que trabalhar mais” - mas às vezes há a tentação de se dizer “este tipo pensa que faz tudo. Não é assim, não precisamos dele”. Se calhar não precisava dele nem do vice-presidente Pinhal e bastava quatro motoristas e uma secretária. Só que as coisas não são bem assim.

A actual direcção do BCP está a cumprir os objectivos fundacionais?

Não está e não compreendo porquê, nem a assumir que a reputação do seu banco passa pelo bom nome de toda a gente que chega lá.

A saída de Armando Vara foi benéfica para o BCP?

Eu acho que foi indiferente.

No dia 25 de Junho do ano passado disse que uma acusação não é uma condenação. A 13 de Maio foi condenado. Surpreendeu-o?

A condenação nos termos em que veio não diz nada do que fiz porque continuo a pensar que não fiz nada de mal; não mandei fazer nada de mal; não soube que alguma coisa tenha sido mal feita e tenho para mim que nada foi mal feito. Tudo o que se passou no banco está nos livros da instituição e, sobretudo, na informação enviada ao Banco de Portugal. Se o foi nos mercados, foi enviada à CMVM. Portanto, continuo a pensar que não há nada e mesmo se como presidente do banco seja o último responsável de tudo, há que ver que uma coisa é ser responsável funcional e outra coisa é factual.

Uma das principais bases da acusação é a questão das 17 offshores.

Que está mais do que explicado. Quando foi do aumento de capital não havia acções das offshores e tem-se que as enquadrar num determinado momento das fusões. Só em Setembro de 2009 é que o Banco de Portugal vem dizer que sociedades offshore em praças não cooperantes não podem ter crédito. Há bancos que podem não cobrir a área de serviços através de offshores e outros que têm essa opção e o BCP disse nos anos 90 que tinha uma oferta global. Quem detectou que havia as offshores e que era preciso encontrar o beneficiário foi o próprio banco e decidiu-se logo vender as acções.

Há um protagonista constante que é Joe Berardo. Qual é o interesse dele em o atacar tanto?

Deve ter uma razão. Nunca o disse.

Que deu o exemplo da dívida do seu filho ao BCP.

Primeiro, não fala a verdade. Depois, a dívida não era do filho mas uma situação empresarial, com várias empresas e sócios. Faz-se um harmónio e espremem na figura do filho, porque convinha que a minha imagem fosse denegrida quando toda a gente sabe que no BCP, desde o primeiro dia, nunca acompanhei nenhuma operação comercial ou de crédito.

Nem privilegiou o seu filho?

Ninguém, porque nunca dei crédito a ninguém! Disse logo no princípio para não contarem comigo para trazer clientes para o grupo BCP porque não quero ter relações comerciais com ninguém.

A sua briga com Paulo Teixeira Pinto nunca foi explicada...

Nunca tive briga com ele, nunca!

Houve um desentendimento?

Não! Nunca nos desentendemos. O que se pode dizer é que ele não ligava àquilo que nós falávamos, isso é outra coisa. Eu e ele nunca tivemos nenhum momento tenso, é a verdade.

Sentiu a ausência da solidariedade de Paulo Teixeira Pinto?

Paulo Teixeira Pinto a certa altura estava com outro projecto.

No banco?

Estava a servir outras pessoas mas não sei se era no banco.

António de Sousa?

Sim, estava nas reuniões. Também estava o Filipe Botton, o António Mexia, o João Vieira de Almeida, dois administradores do banco - Carlos Henriques e o Lacerda – mas nunca assisti a nenhuma reunião. Salvaguardo que foi o que me disseram.

Sendo presidente do BCP competia-lhe defender os interesses do banco?
Não tenho dúvidas e várias vezes lhe foi perguntado. E ele aí não foi claro. As pessoas que estavam no BCP não sabiam que ele efectivamente estava nessas reuniões - ao meu nível. Foi-lhe perguntado! Porque aparecia muito “Paulo Teixeira Pinto versus Jardim Gonçalves” e dentro do banco não havia isso porque entendíamo-nos.

Essas reuniões serviam para quê?

Quando vem a propósito da demissão dos cinco administradores - Christopher Beck, Filipe Pinhal, Alípio Dias, Bastos Gomes e António Rodrigues – e surge a lista dos órgãos sociais novos. É Paulo Teixeira Pinto que está nisso.

Que está a decidir?
Não sei quem está a obedecer a quem, com quem ou a mandar em quem?

Era uma gestão que servia outros interesses que não os do espírito fundacional do banco?

Nessa altura sim. Mas é nessa altura que escrevo a carta de Julho de 2007 e em que a assembleia recua e todas as propostas de demissão foram retiradas. Mas é evidente que nessa altura o Paulo Teixeira Pinto também saiu. Porquê? Agora era ele que ordenava. Se dirigia ou era dirigido não sei.

É quem abre caminho aos novos interesses?

Não sei se abre ou se foi obrigado a abrir. Só ele é que pode dizer.

Os interesses do Governo, de Angola...

Como podem ser os de outros quaisquer. De escritórios de advogados locais, banco em dificuldades como o Banco Privado Português e outros! Até profissionais que gostariam de achar determinados lugares para passarem a exercer cargos dentro do banco.

Até a própria Fundação Berardo?

De certeza...

Acredita que vai ganhar esta batalha judicial?
Tenho todas as razões para esperar que sim mas não é fácil porque temos uma opinião pública muito unânime de que, efectivamente, as coisas não foram bem feitas. Como isso pode criar embaraço e dificuldades, espero que a justiça não culpe alguém quando não se diz o que é que a pessoa fez. Eu tenho a coima máxima e o tempo máximo mas ainda não houve uma acusação a dizer “este senhor fez isto”.

Duvida da actual justiça portuguesa?

Eu quero acreditar. A esperança e a confiança é a última coisa que se perde numa guerra.

Caso perca esta guerra judicial o que é que sentirá?

O mesmo que hoje porque sou a mesma pessoa. A convicção da bondade de toda a minha gestão é plena enquanto os juízos nos homens são sempre falíveis. O que é que se pode fazer?

Há alguém a quem não perdoe neste processo todo?
Perdoar é uma questão de vontade, esquecer é uma questão de memória. Memória, já me vai faltando em algumas coisas… Perdoar é de todos os minutos. O que era feito de nós se não perdoássemos?

Não se vai esquecer de quem?
De tudo quanto me lembre, até para ajudar a compreender, porque há coisas que eu ainda não entendo.

Vai de férias?

Vou fazer uns dias fora de Lisboa, coincidindo com as férias judiciais porque é a melhor maneira de não prejudicar as minhas defesas.

TESTEMUNHA PROCESSA JUIZ

Magistrado do Tribunal da Guarda processado por professora primária de Lisboa

02 Agosto 2010 CORREIO DA MANHÃ

Justiça: Testemunha acusa magistrado de a chamar de “ignorante”

Docente processa juiz por difamação

Maria C., professora primária residente em Lisboa, decidiu processar um Juiz de Direito por injúrias durante a sessão de um julgamento onde era testemunha. Como compensação pede apenas o pagamento de um cêntimo e a censura judicial do magistrado.

Na acção que colocou no Tribunal Judicial da Guarda, em Julho deste ano, contra Luís A., Juiz de Direito, Maria C. explica que foi interrogada, em 2008, como testemunha de um processo onde os seus pais eram parte interessada. Os pais acusavam o vizinho de provocar inundações numa loja de sua propriedade. A meio do depoimento, Maria terá sido, como é descrito na acção, interrompida pelo juiz que, "em altos berros e batendo com os punhos na mesa", lhe "perguntou se sabia calcular um volume de água, ao mesmo tempo que referia a respectiva fórmula e apresentou um resultado". Depois de ter perguntado à testemunha se era professora e de ter obtido a resposta, o juiz terá referido a profissão da própria mãe: "Se a minha mãe soubesse que tinha uma colega que não sabia calcular o volume de água, ia ficar muito triste".

Na acção colocada contra o juiz, é alegado que o mesmo quis fazer a testemunha "passar por ignorante" e "incompetente" e que a "crítica" foi "desajustada", uma vez que o que estava em causa era saber se determinada divisão de uma casa tinha sido inundada por acção do vizinho e quais as consequências. Não era "para calcular, com exactidão, o volume das águas vertidas e, muito menos, o tempo de enchimento e de escoamento".

A professora, antes de avançar com um processo no tribunal de primeira instância, apresentou queixa no Conselho Superior de Magistratura (CSM). Mas, apesar de dois votos contra, o CSM acabou por se decidir pelo arquivamento (ver apoios). No rol de testemunhas, Maria C. incluiu a mãe do magistrado, o presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Noronha do Nascimento, um vogal do CSM, o juiz-conselheiro Laborinho Lúcio e o bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto.