Tuesday 18 June 2013

ASCENSÃO E QUEDA DO REI DOS CORRETORES

 
CASO PEDRO CALDEIRA
 
Escândalos da democracia: "Se Deus quiser, hei-de voltar à bolsa"
 
por Rosa Ramos, Publicado em 06 de Agosto de 2009   
Pedro Caldeira recebia dinheiro de particulares e prometia juros elevados

Havia dois Pedro Caldeira. Um era presidente e accionista maioritário da sociedade corretora com o seu nome. Afável, que transparecia uma imagem de seriedade e competência. Tanto que a sociedade estava de boa saúde financeira. O outro Pedro Caldeira passeava-se por Cascais, pedia dinheiro aos amigos e prometia, em troca, juros elevados. Era um homem com uma capacidade inigualável de vendedor. Durante quatro anos, recebeu depósitos de particulares - entre os quais Lili Caneças e Carlos Cruz - que remunerava a taxas de 4 e 5%. Nos últimos tempos, chegou a pagar 9 e 10%. As propostas de remuneração eram tão aliciantes que muitos hipotecaram a própria casa para pagar ao corretor. 

O desespero de Caldeira atingiu o seu clímax quando o BCP, o seu banco particular, lhe cortou o crédito e recusou qualquer ajuda, porque as suas contas já tinham atingido, várias vezes, saldos negativos elevados. Estávamos em 1992. Por esses dias, Pedro Caldeira dava a sua última entrevista antes de o escândalo financeiro rebentar, em que se definia como "optimista, religioso, ciumento e zeloso da família". 

Em 1988, foi suspenso da actividade de corretor pelo então ministro das Finanças Miguel Cadilhe, por alegadas irregularidades. Quando voltou ao trabalho, no início de 1989, foi ao Santuário de Fátima agradecer. Mas de pouco valeu.

Às 11h30 da manhã de 23 de Julho de 1992, Pedro Caldeira telefona a Nandin de Carvalho, presidente da Assembleia Geral da sua corretora e seu advogado particular. Estava "preocupadíssimo", porque deveria ter liquidado, no dia anterior, uma dívida de 203 mil contos (cerca de um milhão de euros) ao Fundo de Tesouraria Atlântica. O sonho tinha-se transformado em pesadelo e era preciso arranjar uma solução. Depois de conversarem, Caldeira disse que estava cansado, precisava de ir para casa. Às seis da tarde do dia seguinte, Nandin de Carvalho fica a saber que Pedro Caldeira estava desaparecido e o facto é comunicado à Polícia Judiciária. O corretor não conseguiu aguentar a pressão dos credores e fugiu. Tinha 2,5 milhões de contos (12,5 milhões de euros) em dívida e recebera várias ameaças de morte. Foi o fim de uma história de milhões, amizades, ilegalidades e ganância. 

A fuga A última vez que Caldeira tinha sido visto em público foi num concerto dos Genesis, pouco tempo antes, no Estádio de Alvalade. Quando o seu funcionário José Maria Ribeiro, na altura com 26 anos, mas já um dealer prestigiado da praça lisboeta, chegou à sociedade corretora, depois da sua lua-de-mel, nem queria acreditar. Estava sem emprego (o escritório da sociedade foi encerrado) e as economias que tinha reunido para pagar um MBA nos Estados Unidos tinham desaparecido. Pedro Caldeira e a mulher, espanhola, tinham há muito marcado o início das suas férias no Algarve precisamente para esse dia, 24 de Julho. Seguiriam depois para Marbella. As malas estavam feitas, mas os planos mudaram de repente. 

Enquanto o escândalo explodia em Lisboa, Caldeira, acompanhado da mulher e dos filhos, viajou para o aeroporto de Barajas, em Madrid, num BMW conduzido pelo seu motorista pessoal. Daí, embarcou para os Estados Unidos. Acabou por ser detido pelo FBI em Abril de 1993, no Hotel Marriot, em Atlanta.

Em Abril de 2005 foi absolvido de todas as acusações. O Tribunal da Relação de Lisboa confirmou uma primeira decisão de 2000 e ilibou-o de 17 crimes de abuso de confiança e 65 de burla agravada, além do uso indevido de 2,5 milhões de contos. O corretor só foi condenado ao pagamento de pedidos cíveis. 

À saída da leitura da sentença, Pedro Caldeira disse apenas aos jornalistas: "Se Deus quiser, hei-de regressar à bolsa." Actualmente, está a escrever um livro para novos investidores.
 

PEDRO CALDEIRA EM ENTREVISTA À VISÃO


O ex-ícone da Bolsa revelou, em entrevista à VISÃO, os segredos por contar, mais de 20 anos após a polémica falência da sua corretora
Os segredos de Pedro Caldeira: "Deus deu-me tudo - até ganhei o Totoloto"

Agora que o Banco de Portugal anunciou o fim da longuíssima liquidação da corretora de Pedro Caldeira, processo que durou duas décadas, há que dar voz ao protagonista - para, também ele, efetuar o "fecho de contas". A derrocada da sociedade, em julho de 1992, fez correr rios de tinta, até à detenção, em abril de 1993, do corretor, num quarto do Marriot de Atlanta (EUA), na presença da mulher e dos dois filhos menores. Factual, no entanto, é que, em 2000, Pedro Caldeira seria absolvido dos 65 crimes de burla agravada e dos 17 de abuso de confiança, com que foi a julgamento. Resta, pois, o (muito) que aqui se fica a saber, com especial incidência em Cavaco Silva, enquanto primeiro-ministro.
 
Como entrou na Bolsa? 
 
Por mero acaso. Um dia, em 1972, fui à Bolsa com o António Caldeira, grande amigo e colega de curso, no 3.° ano de Engenharia Mecânica, no Técnico. Ele tinha herdado umas ações e queria saber quanto aquilo valia.
 
Já sabia alguma coisa de Bolsa?
 
Rigorosamente nada, tinha 22 anos. Mas, quando lá entrei, fiquei fascinado. Adorei aquilo, aquele ambiente frenético, cheio de fumo. Curiosamente, a Bolsa situava-se no Torreão Norte da Praça do Comércio e o meu pai [oficial do Exército] estava nessa altura colocado no Tribunal Militar, no Torreão Sul. Eu era filho único, com uma ligação fortíssima ao meu pai, e essa coincidência pareceu-me uma manobra do destino.
 
E aconteceu alguma coisa de especial?
 
Sucedeu mesmo. Inesperadamente, no meio da sessão, encontrei o meu primo Abílio de Sousa, mais velho do que eu, que era corretor, coisa de que não tinha ideia. Tratámos das ações do António Caldeira, que já percebia de Bolsa, e eu e o meu primo combinámos logo um almoço. A partir daí, comecei a ir à Bolsa, a entusiasmar-me com aquilo e, ao quinto dia, decidi que nunca mais voltava ao Técnico.
 
Quanto tempo decorreu até ingressar num escritório de corretagem?
 
Ao fim de duas semanas, o meu primo disse-me que eu tinha jeito para aquilo. E convidou-me para trabalhar no escritório dele. Fiquei tão espantado que lhe perguntei se estava a gozar comigo. Respondeu-me que era mesmo a sério. Perguntei-lhe quanto ia ganhar. Dez contos [50 euros], "para começar", disse-me. "Dez contos?!" Fiquei siderado. "Venho já amanhã!" Para se ter uma ideia de como era um bom salário, comprava-se um carro novo por 50 contos. Dez contos, aliás, era o dobro do que, à época, o meu pai ganhava, no Exército. E quando ia para o Ultramar, em comissão de guerra, pagavam-lhe 5 400 escudos.
 
Qual foi a reação do seu pai? 
   
Disse-lhe que lhe ia dar um desgosto: desistia do curso, para trabalhar na Bolsa. Ele aceitou mal, mas, quando lhe comuniquei quanto ia ganhar, a reação mudou. Se era disso que eu gostava, paciência, que fosse em frente.
 
E que volta deu a sua vida? 
 
Tinha 23 anos quando recebi aquele primeiro ordenado, em 1973, e casei-me logo com a Cristina [de origem basca e sua mulher há quase quatro décadas], que é da minha idade. E, a seguir à revolução de abril de 1974, a minha mulher abriu uma boutique de roupa, que se tornou famosa em Cascais.
 
Teve uma entrada de leão na Bolsa? 
 
Até à revolução, apanhei meses fantásticos de Bolsa, ganhei muito dinheiro. Embora o País estivesse envolvido na guerra colonial, com graves problemas, havia, ao mesmo tempo, uma grande euforia económica. Estavam cotadas na Bolsa mais de 60 companhias - bem acima do que hoje acontece. Até o Banco de Portugal, imagine-se, era cotado na Bolsa.
 
Após a Revolução, o que lhe aconteceu? 
 
A Bolsa fechou, para só reabrir em 1977. Continuei a trabalhar no escritório do meu primo, a ganhar o mesmo ordenado. Ele ausentara-se do País, por razões de segurança, e eu tomava conta do que lá estava - milhões de contos em ações e obrigações, em papel, empilhadas num cofre gigante. Era uma responsabilidade enorme. Lembro-me de que um dia houve uma inundação, entrou água no cofre, e apanhei um susto tremendo. Mas não se estragou nada.
 
Era só o que fazia? 
 
Havia outra atividade, que, mesmo com a Bolsa fechada, era preciso fazer: cortar os cupões das obrigações que, mensalmente, valiam juros. Eu e dois contínuos tínhamos de cortar os cupõezitos, ir com aquilo aos bancos, para receber o dinheiro, e depositá-lo nas contas dos clientes. Era um trabalhão infernal, à tesoura, em torno de quilos e quilos de papel.
 
O seu primo regressou? 
 
Sim. O grande rival dele era um senhor chamado Valentim Lourenço, à época já com 70 e muitos anos e o corretor mais antigo da praça de Lisboa. Não tinha filhos e adoeceu. Perguntou, então, ao meu primo se eu podia fazer a Bolsa no lugar dele, por uns tempos, o que o Abílio aceitou. Acertei logo com o meu primo que eu ia lutar pelos interesses do Valentim como ele batalhava pelos seus.
 
E?... 
 
A coisa correu de tal maneira que, quando regressou ao escritório, o Valentim, verificando que o volume de negócios tinha aumentado bastante - o que deixou o meu primo um bocado chateado comigo... -, convidou-me para trabalhar com ele. É claro que fui falar com o meu primo. E ele reconheceu que, a bem do meu futuro, devia continuar no escritório do Valentim. Estávamos em 1983, e combinámos que, durante um ano, eu ganhava um terço do que auferia com o Abílio, e que, depois, ele, Valentim, me oferecia o trespasse do escritório. Mas ficávamos os dois a trabalhar no mesmo gabinete até ele morrer. E assim foi.
 
Tornou-se patrão, pois... 
 
E com a grande sorte de então se estar a preparar a entrada de Portugal na CEE [que se concretizou em 1986] e de começar a haver algum interesse pela nossa Bolsa. Vi que tudo ia mudar e fiz logo uma grande viagem pela Europa, visitei corretores, bancos - dei-me a conhecer.
 
Houve resultados imediatos? 
 
Quando apareceram os primeiros investidores estrangeiros, era a mim que se dirigiam. Comecei a ter ordens enormes de compras de ações. Além de que, em 1985, nas eleições para síndico, o representante dos corretores, os meus colegas votaram em mim. Com 35 anos, devo ter sido o síndico mais novo do mundo.
 
Muito novo, muito poder... 
 
Tive na mão um poder enorme. Era quase obrigatório que um banco estrangeiro, que quisesse investir em Portugal, passasse, antes, por mim. Fui, também, o primeiro corretor a comprar um computador, um Sinclair, que era eu que programava, embora a Bolsa continuasse a ser física. Isto é, persistia o inferno das contas feitas à mão: as taxas de corretagem, o imposto de selo... Eu fazia isto tudo no meu computador e era o primeiro a avisar os bancos do que tinham realizado. Às três e meia da tarde enviava a informação, uma maravilha para a banca, enquanto os meus colegas só pelas 18 horas o faziam. Resultado: também os bancos portugueses, todos, passaram a trabalhar comigo.
 
Mas, em 1988, é punido com uma suspensão, por irregularidades, que não contestou. 
 
Não contestei essa suspensão, de seis meses e administrativa, por uma razão muito simples. Tudo começou com uma inspeção que o então auditor, Armindo Jorge Ribeiro, me fez - a primeira efetuada, a um corretor, na história da Bolsa portuguesa. Eu tinha milhares de clientes; havia filas quilométricas para o meu escritório, com pessoas a chegarem às cinco da manhã, munidas de uma pequena cadeira de plástico, para me darem ordens de compra de ações. Face a tamanho movimento, e embora eu já tivesse 60 empregados, aquilo começou a assumir proporções catastróficas. Os papéis, que eram ações, enchiam todo o meu escritório, casas de banho incluídas. E ainda aluguei o 1.° andar, para os guardar.
 
Que irregularidades eram essas?
 
Como fui o único inspecionado, por dar nas vistas, acusaram-me de não possuir a escrita comercial em dia - coisa que corretor nenhum da praça tinha. Todos nós trabalhávamos com uma escrita de mercearia. Depois, era preciso haver um diário, com o registo, manual, de todas as operações. Quando entrei na Bolsa, esse livro já existia e, em meia hora, um empregado fazia a sessão toda. Em 1988, um funcionário, ao fim de dez horas, já não via o livro nem nada... E o diário só estava atrasado um mês, um milagre...
 
Houve mais imputações? 
 
Para meu espanto, ainda apareceu nesse auto de suspensão uma alegação ridícula: a de que havia um conflito de interesses entre mim e empresas cotadas em Bolsa. À época, ao contrário do que hoje acontece, os corretores não podiam comprar essas ações para si próprios. Mas, no essencial, era isto: a dada altura, alguém, já não me lembro quem, da Caixa Económica do Funchal, antecessora do Banif, abordou-me para investir ali, de modo a safar aquilo, que estava à beira da falência. Imbuído do melhor espírito, e porque podia fazê-lo, investi os 5 mil contos [25 mil euros] que me pediram - e assim tornei-me acionista do Banif, que surgiu logo a seguir. Como não estava cotado em Bolsa, nunca me preocupei com o assunto. A explicação que me deram foi que, embora não sendo cotado, o Banif dava ordens para operações em Bolsa. O que tinha uma coisa a ver com a outra?
 
E não fez nada? 
 
Fui falar com o meu advogado e soube que a suspensão era imediata. E que, para a levantar, o auditor demorava de seis meses a um ano a julgá-la. O próprio auditor reconheceu que um eventual recurso meu não serviria para nada, porque, entretanto, tinha voltado a trabalhar. Esse auditor, Armindo Jorge Ribeiro, mandou-me, em 1990, quando saiu do cargo, uma carta em que dizia ter a maior consideração por mim. Ainda hoje a guardo. Ah: no primeiro dia do meu regresso ao ativo, em janeiro de 1989, comprei o Totta para o Mario Conde (risos).
 
Como ocupou esses seis meses? 
 
Resolvi reorganizar o meu escritório, com o apoio de pessoas como Jorge de Brito e Jorge Figueiredo, que confiavam em mim e que, de imediato, puseram capital à disposição, para me aguentar. E, à falta de legislação consistente, fui, como síndico, falar com o meu homólogo espanhol - que, já em Madrid, me deu um esboço que tinha para uma lei dos mercados mobiliários. Esse esboço andava a marinar em Espanha há um ano, mas cá, pouco depois de o entregar ao então governador do Banco de Portugal, Tavares Moreira, foi a base de uma lei que revolucionou a nossa Bolsa.
 
De que forma analisa, hoje, a inspeção e a suspensão? 
 
A suspensão não teve só a ver com o que antes relatei. É que, em 1986, resolvi ser banqueiro. Associei-me à então Sociedade Hispanoamericana, atualmente integrada no Grupo Santander, e paguei-lhes 20 mil contos [100 mil euros] para fazerem um estudo do projeto do meu banco. Na altura, o capital social necessário era de 3,5 milhões de contos [17,5 milhões de euros]. Em 1987 - quando o meu escritório faturou 200 milhões de contos [mil milhões de euros], antes do crash de outubro desse ano -, fui entregar em mão o projeto do banco ao governador Tavares Moreira. O meu banco não só tinha um capital social igual ao do BCP, que abrira há pouco tempo, como apresentava acionistas do nível de Américo Amorim, Ilídio Pinho, a American Express... E, em 1987, fiz quase dois terços das OPV [Operações Públicas de Venda], e todos esses clientes tornaram-se propostos acionistas do banco, mediante cartas de intenção. Falo, igualmente, de António Champalimaud, da família Mello...
 
Diligenciou junto do Governo? 
 
Sim. Fui entregar em mão o projeto do meu banco ao então ministro das Finanças, Miguel Cadilhe, na companhia, por exemplo, de Américo Amorim e de Jorge de Mello - que não se falavam por questiúnculas antigas. Um feito meu. Se Tavares Moreira ficou impressionado com o projeto, Miguel Cadilhe mostrou-se ainda mais entusiasmado. E o banco ficou para aprovação do ministro das Finanças, que tudo indicava estar adquirida. Mas, passado um ano, ocorreu a tal suspensão, devido à qual o meu banco transitou de Miguel Cadilhe para o primeiro-ministro, Cavaco Silva - que chumbaria o projeto. Tratava-se de um banco perigoso: nessa altura, seria um forte concorrente de todos os outros. Mas eu não teria funções executivas no banco - ficava com 10%, como prémio de autoria do projeto. Venderia cada uma das ações a 1 100 escudos, e detinha os tais 10%, sem pagar. Era um projeto maravilhoso, que esbarrou em Cavaco Silva.
 
Tem mesmo a certeza disso? 
 
Tenho, porque um dia, à saída de um almoço, em Cascais, em 1991, Jorge de Brito chamou-me à mesa onde estava e disse-me, com pena, que o projeto havia passado de Miguel Cadilhe para o primeiro-ministro. E que, tinha a certeza, ia ser chumbado. Nesse mesmo dia, telefonaram-me do Banco Pinto & Sotto Mayor, então ainda do Estado [e mais tarde incorporado no BCP], a dizer que eu tinha um buraco de 2 milhões de contos [10 milhões de euros] nas minhas contas. Aí começou o meu grande problema.
 
O que fez? 
 
Pedi de imediato uma auditoria à Arthur Andersen, pela qual paguei 30 mil contos [150 mil euros]. O Sotto Mayor, pelo seu lado, efetuou uma auditoria interna, em vez de externa. E nunca se conseguiu provar nada. O que a Arthur Andersen garantia era que havia, de facto, uma falta de 2 milhões, mas que eu não tinha tirado um tostão daquelas contas. Acrescentava que a diferença não tinha a ver com dinheiro, tout court. Era uma questão de não contabilização de compras e vendas de ações, por uma das duas entidades. Ainda hoje está para se saber qual delas.
  
Qual foi a sequência do litígio? 
 
Tive uma reunião secreta, numa casa no Monte Estoril, com Loureiro Borges, o presidente do Sotto Mayor - que, se não sofresse de uma doença muito grave, teria sido o líder do PSD, em lugar de Cavaco Silva; toda a gente sabe isso. Nunca mais me esqueço do que ali me disse: "Pedro: tenho tanta certeza de que você me deve 2 milhões como eu dever-lhe a si 2 ou 4 milhões. Eu sei que tenho dentro do meu banco uma quadrilha de faca na liga." Assim mesmo. Depois, pôs os dados sobre a mesa: "Eu tenho de o criticar, porque sou um banco nacionalizado, não posso fazer outra coisa. E você, se quiser, critica-me a mim."
 
Era um beco sem saída? 
 
Imagine-se o que era um buraco de 2 milhões de contos, num banco que tinha um capital social de cerca de 3 milhões. E, nessa altura, se o Sotto Mayor estoirasse, o País também rebentava. Tínhamos, portanto, de assinar um acordo. Mas pedi uma audiência ao Presidente da República, Mário Soares, que me recebeu imediatamente. Antes, solicitei-lhe a máxima confidencialidade sobre toda esta história que lhe ia contar e o compromisso a que chegara com Loureiro Borges. Combinámos um acordo em que eu me considerava como devedor da quantia em causa, com 20 anos para pagar, ao juro de 1 por cento. Financeiramente, ao fim desse tempo, dava um milhão para mim e outro milhão para o Sotto Mayor.
   
Como correu a audiência com Mário Soares? 
 
Tive de explicar tudo sobre a Bolsa ao Presidente, como se fosse uma mercearia. Mas eu pedira-lhe estrita confidencialidade, e ele tinha ao lado um assessor. Chamei-lhe a atenção para isso, de que preferia uma conversa a sós, o assunto colocava a banca nacional em jogo. Ele respondeu-me que precisaria do assessor, para o ajudar a perceber melhor o problema. E que, dali, não sairia "nada". Mas, quando cheguei ao meu escritório, recebi logo um telefonema do Fernando Ulrich, a dizer-me que já sabia que eu tinha um buraco de 2 milhões no Sotto Mayor. Como sabia? O tal assessor de Mário Soares trabalhava, também, no BPI, e ligou-lhe de imediato... Era assim que as coisas funcionavam. E, se calhar, continuam a funcionar. Resultado: aquele buraco tornou-se-me num cancro para a vida. Mas o litígio persiste, agora com o BCP.
 
Guarda ressentimentos de Cavaco Silva? 
 
Veja-se este exemplo: aquando da minha suspensão, Cavaco Silva foi abordado por jornalistas à saída da Gomes Teixeira, que lhe pediram que comentasse o assunto. E ele disse uma frase que nunca mais esqueci: "Se o auditor achou por bem tomar essa medida, que não lhe doam as mãos." Já quando houve os problemas que se conhecem com o então conselheiro de Estado Dias Loureiro, disse o inverso: que era inocente até prova em contrário. E a verdade é que o meu banco foi chumbado e aconteceu-me o que se sabe até 1992. Cavaco Silva tomou-me de ponta. E eu a ele.
 
Miguel Cadilhe ficou completamente de fora do projeto do seu banco? 
 
Ainda me autorizou a representar todos os que me acompanhavam no projeto, o que se revelou uma armadilha, porque, às tantas, deram-me como dono quase absoluto daquilo. Cadilhe sabia bem que isso não correspondia minimamente à verdade, e que se tratava, apenas, de um expediente, que ele deferiu, para ultrapassar burocracias.
 
Mas regressava a questão de, enquanto corretor, não poder ser acionista de um banco.
 
O banco não iria estar cotado em Bolsa. Para isso, aliás, eram precisos três anos de exercício. A cotação em Bolsa era algo a ver na altura própria. E, se o projeto fosse por aí, eu tinha muito tempo para vender as ações ou fazer o que quisesse.
 
Mais tarde, em meados dos anos 1990, recaíram sobre si acusações muito graves...
 
Quando estoirei financeiramente, acabei acusado de me servir, em proveito próprio, do dinheiro dos clientes, que supostamente angariava com a miragem de juros altos. Eu apenas investia em Bolsa, onde se ganha e se perde. Não comprava nem vendia ações para mim. Era nas corretagens que ganhava dinheiro: por cada mil contos [5 mil euros] que alguém transacionava, cabiam-me cinco [25 euros]. Foi isso que provei em tribunal, com a apresentação de 34 mil documentos. De tal modo que o procurador, nas alegações finais, pediu a minha absolvição completa, corroborada, na sentença, por três juízes. Isto ao cabo de mais de 130 sessões. E, já agora, lembro que, mal foi deduzida a acusação pelo Ministério Público, não pedi a abertura de instrução, para tentar amenizar o que me era imputado. Quis ir, direto, para julgamento, porque tinha a certeza absoluta de que estava inocente.
 
O que sucedeu, exatamente, no início da década de 1990? 
 
Depois do crash de 1987, a Bolsa levou muito tempo a reanimar. E em 1991, quando houve outra queda, eu estupidamente achei - mas sem dolo, como se provou em tribunal - que, se reunisse cem pessoas para investir, era bom para a Bolsa e para o País. Essas pessoas entregaram-me dinheiro para ser eu a jogar na Bolsa por elas. E isso é que nunca devia ter feito. Simplesmente, pensei que, sozinho, ia conseguir, outra vez, revigorar a Bolsa.
 
Nunca mais se lhe conheceu uma profissão... Do que vive?
 
Vivo com dificuldades, mas tenho uma mulher extraordinária, que trabalha, e eu, por exemplo, faço peritagens em casos de pessoas que entregaram a gestão das suas carteiras de títulos a bancos e não estão satisfeitas com os resultados.
 
De essencial, o que mudou em si? 
 
Tenho perfeita noção de que o que me perdeu na vida - independentemente dos inimigos que ganhei - foi a minha própria vaidade, ambição e orgulho, que hoje considero atitudes completamente estúpidas. Que necessidade tinha eu de querer ser sempre o n.° 1? O que me iria na alma? Ainda procuro essas respostas. E fui um privilegiado. Deus deu-me tudo - até ganhei o Totoloto aos 35 anos. Mas os meus erros tudo estragaram.

CASA DE ARISTIDES RECEBE INSTALAÇÃO DE NORTE-AMERICANO



Casa do Passal - Cerimónia de inauguração vai contar com a presença de sobreviventes salvos pelo diplomata português

Na próxima quinta-feira, dia 20 de Junho, vai ser inaugurada uma instalação semi-permanente no terreno da casa de Aristides de Sousa Mendes, da autoria de um norte-americano cuja família foi salva pelo diplomata português. Cerca de cinquenta de sobreviventes da II Guerra Mundial, salvos pelos vistos do diplomata, vão marcar presença na cerimónia.
 
A obra é do norte-americano Eric Moed, recém-formado pela Pratt Institute School of Architecture in New York, que decidiu honrar o diplomata quando descobriu que a sua família foi salva precisamente por este português durante a II Guerra Mundial.
 
Aristides de Sousa Mendes salvou milhares de pessoas. Contra as ordens do governo e assegurou vistos a fugitivos desesperados, para que pudessem vir para Portugal. Pouco tempo depois, as ações de Aristides vieram a público e o diplomata foi severamente castigado.

Inspirado pela história deste herói português, Eric dedicou a sua tese de fim de curso à restauração da casa de família do cônsul, em Portugal, com o objetivo de a transformar num museu.
 
Depois de apresentar o projeto, o jovem norte-americano candidatou-se ao concurso "Desempregado do Ano", da UNHATE Foundation, e conseguiu angariar os fundos necessários para tornar a sua proposta em realidade. Chamou-lhe 'WTF: Work Towards Fairness' (Trabalhar em prol da Justiça).

Três pavilhões dedicados ao cônsul e ao holocausto
 
A instalação, que está a ser preparada desde Março, consiste na construção de três pavilhões, na entrada da Casa do Passal, em Cabanas de Viriato, onde o cônsul viveu os seus últimos dias, despojado da sua fortuna.

Os pavilhões exibem várias exposições com material relacionado com as ações do cônsul de Bordéus e com o holocausto e pretende fazer uma ligação entre o passado e o presente, inspirando as futuras gerações para a tolerância e para ações humanitárias.

O conteúdo da instalação foi elaborado com o apoio da Sousa Mendes Foundation, entidade com sede nos EUA fundada por familiares do cônsul que tem procurado encontrar descendentes de refugiados salvos pelo Cônsul de Bordéus.

Cerca de cinquenta de sobreviventes da Segunda Guerra Mundial, que escaparam ao holocausto graças aos vistos do diplomata, e vindos sobretudo dos EUA, vão marcar presença na cerimónia.

Esta obra tem também o apoio da Câmara de Carregal do Sal e da portuguesa Fundação Aristides de Sousa Mendes. A casa em si continua abandonada e em avançado estado de degradação mas, segundo diz o site da Fundação portuguesa, "o início das obras, para reposição da cobertura da casa, terá lugar até ao final do ano, encontrando-se o projeto aprovado pela Direcção Regional da Cultura Centro".

Clique AQUI para saber mais sobre o projeto WTF.

SOBREVIVENTES DO HOLOCAUSTO VISITAM PORTUGAL

Sobreviventes do Holocausto visitam Portugal esta quinta-feira
 
Sobreviventes da Segunda Guerra Mundial chegam esta quinta-feira a Cabanas de Viriato, à casa de Aristides de Sousa Mendes, o cônsul de Portugal em Bordéus que os salvou.
 
Acompanhados por familiares, os sobreviventes encontram-se a partir desta segunda-feira em Portugal para uma visita a Cabanas de Viriato, em Carregal do Sal, à casa que pertenceu ao diplomata Aristides de Sousa Mendes, responsável por salvar várias pessoas do Holocausto.
 
A visita de cinco dias inclui, ainda, passagens por Vilar Formoso, Guarda, Belmonte, Figueira da Foz, Curia, Coimbra, Caldas da Felgueira e Tomar.
 
"Os locais de visita abrangem os diversos núcleos judaicos incluídos na 'Rota das Judiarias', assim como localidades e espaços onde alguns refugiados portadores do visto Sousa Mendes viveram durante a II Guerra Mundial", refere uma nota de imprensa do Turismo Centro de Portugal.
 
Os sobreviventes terão, também, a oportunidade de participar numa cerimónia no cemitério de Cabanas de Viriato e visitar a igreja onde Aristides de Sousa Mendes se casou com a primeira mulher, Angelina, na próxima quinta à tarde. A visita à propriedade do diplomata, conhecida por Casa do Passal, é o programa seguinte. Em frente à casa, o arquiteto Eric Moed, neto de um refugiado, está a preparar uma instalação artística.
 
A organização admite que "para todas essas famílias, Portugal foi o símbolo da paz e da esperança retomada" e que o país irá retomar o "caminho de liberdade".
 
A comitiva iniciou no passado dia 9, em França, uma viagem que pretende homenagear a memória de Aristides de Sousa Mendes, que salvou mais de 30 mil pessoas do holocausto, aos passar-lhes vistos, desobedecendo às orientações que tinha recebido de Salazar.
 
Esta iniciativa é organizada pela Fundação Sousa Mendes, nos Estados Unidos da América, pela comissão nacional francesa de homenagem a Aristides de Sousa Mendes e pela AJPN - Anónimos, Justos e Perseguidos durante o período Nazi.
 

Friday 14 June 2013

FUNDAÇÃO ARISTIDES SOUSA MENDES



                                                       Memória

A lista de Sousa Mendes

Na próxima semana, meia centena de sobreviventes da Segunda Guerra Mundial, salvos graças aos vistos do diplomata Aristides de Sousa Mendes, chegarão à aldeia de Cabanas de Viriato, para honrar a sua memória   

 Olivia Mattis nunca esquecerá a história que ouvia a sua avó Lucie contar. A 10 de maio de 1940, ainda dormia com o marido, em Bruxelas, quando ouviu o som de uma explosão e correu para a janela. Já era de manhã, o sol brilhava - e mísseis prateados rasgavam o céu azul.
 
Lucie correu a ligar o rádio. A Alemanha acabara de invadir a Bélgica, a Holanda e o Luxemburgo. Embora ninguém desconfiasse da perseguição que os nazis haviam de fazer aos judeus, a sua ideologia antissionista já era conhecida. Em poucas horas, o casal fez as malas, chamou alguns familiares e apanhou um comboio para Paris.
 
Dias depois, o seu bairro, na capital francesa, foi bombardeado. O clã Mattis continuou a fuga para sul e chegou, por acaso, a Bordéus. Aqui, um rabi ultraortodoxo, de longos caracóis ruivos, falou-lhes de um diplomata português. "Este cônsul está a ajudar centenas de pessoas", terá dito. A família logo entregou os passaportes no consulado. Em poucas horas foram devolvidos, carimbados. Escaparam para Portugal, embarcando no cargueiro Santarém, com destino ao Rio de Janeiro e, meses depois, começaram uma nova vida em Nova Iorque.
 
A história que a avó de Olivia contava terminava sempre assim, com a referência a um cavalheiro sem nome, que salvara 12 membros da família. A sua identidade permaneceu um mistério, durante sete décadas. Até que, em abril de 2010, o pai de Olivia fazia zapping e parou num canal francês, intrigado pelo filme Disobedience, do cineasta Joel Santini. Quando passaram os créditos, tomou nota do nome do realizador e enviou-lhe um e-mail, a que este respondeu de imediato. O pai de Olivia reencaminhou as mensagens para a filha. "Descobri o homem que salvou a nossa família", escreveu. "Chama-se Aristides de Sousa Mendes."
 
O nascer de uma fundação
 
Olivia diz que o diplomata "tornou-se rapidamente numa obsessão". A musicóloga, com um doutoramento na Universidade de Stanford, começou a reunir informação sobre o português e organizou uma lista de pessoas, nos EUA, interessadas em Sousa Mendes. "Mas foi apenas quando conheci a sua família, e percebi as dificuldades por que tinham passado, que decidi envolver-me", diz. "Contaram-me que sonhavam recuperar a casa onde ele viveu, em Cabanas de Viriato, mas não tinham fundos. Então disse: 'Vamos angariar esse dinheiro nos EUA."
 
Nesse verão de 2010, Sebastian Mendes, neto do diplomata, reuniu-se em Washington com Lissy Jarvik e Harry Oesterreicher, cujas famílias receberam vistos, e Miguel Ávila, um gestor português emigrado na Califórnia. "No final da reunião, a fundação encontrava-se desenhada", afirma. "Tínhamos administração, presidente, estatutos, tudo." Em setembro, a Sousa Mendes Foundation já existia legalmente.
 
O primeiro objetivo era angariar dinheiro para recuperar a Casa do Passal (no último ano, juntaram cerca de 40 mil euros). Além disso, pretendiam divulgar a história do cônsul, com a realização de palestras, filmes e exposições, e, finalmente, queriam identificar todas as pessoas salvas.
 
Meses depois, Olívia visitou os pais, em Salt Lake City, no Utah, e aproveitou para conhecer a Biblioteca da História da Família. Nesta instituição, gerida pela igreja Mormon, acedeu a uma gigantesca base de dados. Com a lista de vistos emitidos a seu lado, pesquisou um primeiro apelido e... surgiu um resultado. O nome aparecia num rol de passageiros de embarcações com destino aos EUA. A seguir, mais um, e outro e outro. Rapidamente, percebeu que a lista era muito mais extensa do que imaginara. "Com o mesmo passaporte, podiam viajar várias pessoas", explica. Hoje, calcula-se que as assinaturas de Sousa Mendes tenham salvo cerca de 30 mil pessoas.
 
Olívia regressou a Nova Iorque, ampliou e imprimiu a lista de nomes e fez uma enorme colagem, que espalhou no chão da sua sala. Em janeiro do ano passado, perguntou a vários colaboradores da fundação se queriam ajudar nesta operação gigantesca de busca. Todos disseram que sim.
 
Nove pessoas trabalham hoje no projeto, esclarece Olivia, que é agora presidente da fundação. "Vivem em vários Estados americanos e uma investigadora reside na Bélgica. Ninguém trabalha a tempo inteiro e são todos voluntários, mas dedicam uma grande parte do seu tempo a esta missão."
 
Em 18 meses, identificaram cerca de 3 mil pessoas que Sousa Mendes ajudou a fugir dos nazis. A maioria reside nos EUA, mas há outros no Brasil, Canadá, Israel, Bélgica, França, Holanda, Suíça, Portugal, Rússia e Polónia.
 
A equipa tem o trabalho facilitado: já não precisa de visitar bibliotecas. Tem acesso a páginas online como a ancestry.com ou a familysearch.org através das quais podem aceder a enormes bases de dados. "Se encontramos alguém... bingo! Fazemos um telefonema."
 
Uma descoberta transformadora
 
No início do ano passado, Jonah Peretti, fundador dos sites de informação Huffington Post e BuzzFeed, recebeu um desses telefonemas.
 
A sua mãe, Della, estava em Genebra, na Suíça, mas ele contactou-a imediatamente. "Mãe, telefonaram-me de uma fundação. Dizem que fomos salvos por um homem chamado Sousa Mendes." A americana lembrou-se, então, de uma carta que a mãe escrevera antes de morrer, contando a sua fuga da Suíça. Quando regressou à Califórnia, recuperou o manuscrito:"Assim que chegámos a Portugal, tudo melhorou, de forma mágica... víamos sorrisos, era limpo, acolhedor, cuidado... Que alívio!"
 
Sobre a passagem pelo País, era tudo. "Fiquei chocada", lembra Della. "Seis pessoas da minha família receberam vistos e não sabia da existência do cônsul. Ninguém o conhece nos EUA. Como é possível?"
 
Meses depois, reformou-se da Universidade de Berkeley, onde era responsável por um mestrado em ciências da educação. "Estava à procura de um projeto para a minha reforma e este veio ter comigo", congratula-se. Prepara agora a tradução de um livro de banda desenhada que a fundação vai editar, faz parte da sua equipa de pesquisa e dá palestras. Por estes dias, participará numa viagem organizada pela Sousa Mendes Foundation, ao lado de Olivia Mattis e de outras 44 pessoas de oito países. Começaram no dia 9 de junho, em Paris, e terminam a 23, em Lisboa. Pelo caminho, irão visitar Bordéus, Vilar Formoso, Figueira da Foz e Cabanas de Viriato, para honrar a memória do cônsul.
 
Antes de partir para França, a 11 de abril, a professora discursou, no Tribunal Civil de Queens, em Nova Iorque, perante mais de 80 pessoas. O tema foi "Aristides de Sousa Mendes: um herói desconhecido". A americana contou a história de um homem nascido no seio de uma família privilegiada, que se tornou diplomata e contrariou as ordens de Salazar, ao emitir milhares de vistos, entre 16 e 23 de junho de 1940; mostrou imagens das suas assinaturas, muito corretas no início, depois desleixando os contornos, sobrando apenas um apelido mal desenhado nos últimos documentos; relatou o percurso dos fugitivos e mostrou uma fotografia da estação de comboios de Vilar Formoso, a primeira imagem que os refugiados tinham de Portugal; descreveu, finalmente, o julgamento deste homem, a forma como foi expulso da carreira diplomática, e como morreu, a 3 de abril de 1952, viúvo, com muitos dos 15 filhos dispersos pelo mundo, queimando as portas da sua casa para se manter quente. Della sublinhou todos os pormenores, captando a atenção dos americanos, que nunca tinham ouvido falar deste português, mas que foram sentindo de forma cada vez mais profunda as suas palavras, deixando primeiro cair algumas lágrimas, e rebentando, por fim, em aplausos.

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