Tem apenas 38 anos e um plano para salvar o Banco Privado Português (BPP) da falência. Pragmático mas também intuitivo, serviu cafés no Citibank e geriu uma carteira de acções aos 16 anos.
Estudava no liceu Maria Amália, mas entre uma aula de Matemática e outra de Português Duarte d'Orey, na altura com 16 anos, corria para a Bolsa de Lisboa. O seu pai, que trabalhava no Brasil, tinha-lhe deixado uma tarefa de peso: gerir uma carteira de acções da empresa familiar, a Orey Antunes. Foi o primeiro treino intensivo do adolescente para uma carreira dedicada ao sector financeiro. Hoje, aos 38 anos, o empresário mantém o espírito destemido dos tempos de juventude e propõe-se a acabar com o longo e penoso caminho para a falência do BPP. A proposta de viabilização da Privado Holding, dona do Banco Privado Português, que pretende reembolsar os clientes do retorno absoluto e recapitalizar a instituição, já está nas mãos do Governo e do Banco de Portugal, que devem pronunciar-se no início da próxima semana.
Nascido em Luanda em 1971, Duarte d'Orey não foi um aluno brilhante no liceu, muito menos na Universidade Católica, onde se formou em Gestão de Empresas sem honras nem distinções. Queria trabalhar rapidamente, por isso a meio do curso resolveu telefonar para o Citibank a pedir trabalho. Acenou com a experiência como corretor da carteira de acções do seu pai e disse que gostava de transaccionar no mercado de capitais. Contrataram-no para servir cafés e fazer trabalhos de estafeta. Ganhou tarimba, garante hoje aos seus colaboradores. Foi dealer do mercado monetário, derivados e câmbios no mesmo banco, e esteve na União de Bancos Portugueses, entretanto comprada pelo grupo Mello, onde trabalhou como tesoureiro. Há dez anos arriscou em nome da ambição, mas deu-se mal. Saiu do Banco Mello e criou o primeiro hedge fund português com dez milhões de euros angariados a vários investidores. Por azar, nessa altura, um dos maiores hedge fund dos Estados Unidos - Long Term Capital Management - faliu e deixou uma marca negativa neste tipo de instituições em todo o mundo, incluindo em Portugal. Por contaminação da situação internacional, os investidores portugueses recuaram e Duarte d'Orey ficou apenas com um cliente e um milhão de euros para investir. Em 1999, o empresário fundou o First Opportunity Fund, estabelecendo investimentos alternativos no mercado nacional, e um ano mais tarde nasceu o First Portuguese SGPS, uma das primeiras empresas de gestão de activos do País. Com o objectivo de inovar constantemente, introduziu no mercado fundos de investimentos sobre passes de jogadores de futebol. Os do Sporting foram um sucesso, os do Porto menos, e os do Boavista revelaram-se uma desgraça.
Pouco tempo depois, perante uma disputa na sucessão da Orey Antunes, Duarte d'Orey, que fizera um percurso à parte da empresa que está há 120 anos nas mãos da sua família, lançou uma OPA e adquiriu a instituição procedendo a uma reestruturação assente na criação de sub-holdings por áreas de actividades. A revolução não foi pacífica e alguns familiares não gostaram das novas ideias. Hoje, a empresa está focada fortemente no sector financeiro e cada vez menos nas suas áreas tradicionais (ver caixa).
No trabalho, o empresário invoca muitas vezes os valores do râguebi, desporto que jogou durante anos como federado no CDUL e na selecção: humildade para aprender, solidariedade e lealdade, sacrifício, compromisso e respeito pelos companheiros.
Para descontrair gosta de ao fim-de-semana ir para a quinta que tem no Alentejo ou ficar na sua casa no bairro da Lapa na companhia da mulher, Mónica Lima Mayer Alves Moreira, e das cinco filhas. Acusam-no de ser vaidoso mas uma fonte próxima do empresário disse ao DN que o seu aspecto físico sempre suscitou "inveja". O certo é que não descura a imagem. Até pode ir trabalhar vestido de forma descontraída, mas se tiver uma entrevista agendada com a imprensa muda para um fato mais formal. Viaja em classe económica e prefere gastar mais em bons hotéis e ficar bem instalado.
Os amigos dizem que detesta a exposição pública, excepto quando isso beneficia o seu trabalho, mas evita ser fotografado em eventos sociais. Líder nato, ambicioso, diz que gosta de psicologia e acredita que consegue ler o olhar de qualquer pessoa. Muitas vezes funciona por intuição. Uma vez decidiu comprar uma casa sem a ver por acreditar, pela descrição, que era perfeita. Nos negócios é mais pragmático e calculista e os seus detractores dizem que faz qualquer coisa para que o seu nome fique gravado nos manuais da economia.
por RITA ROBY GONÇALVES
DIÁRIO DE NOTÍCIAS 10 Julho 2009
Estudava no liceu Maria Amália, mas entre uma aula de Matemática e outra de Português Duarte d'Orey, na altura com 16 anos, corria para a Bolsa de Lisboa. O seu pai, que trabalhava no Brasil, tinha-lhe deixado uma tarefa de peso: gerir uma carteira de acções da empresa familiar, a Orey Antunes. Foi o primeiro treino intensivo do adolescente para uma carreira dedicada ao sector financeiro. Hoje, aos 38 anos, o empresário mantém o espírito destemido dos tempos de juventude e propõe-se a acabar com o longo e penoso caminho para a falência do BPP. A proposta de viabilização da Privado Holding, dona do Banco Privado Português, que pretende reembolsar os clientes do retorno absoluto e recapitalizar a instituição, já está nas mãos do Governo e do Banco de Portugal, que devem pronunciar-se no início da próxima semana.
Nascido em Luanda em 1971, Duarte d'Orey não foi um aluno brilhante no liceu, muito menos na Universidade Católica, onde se formou em Gestão de Empresas sem honras nem distinções. Queria trabalhar rapidamente, por isso a meio do curso resolveu telefonar para o Citibank a pedir trabalho. Acenou com a experiência como corretor da carteira de acções do seu pai e disse que gostava de transaccionar no mercado de capitais. Contrataram-no para servir cafés e fazer trabalhos de estafeta. Ganhou tarimba, garante hoje aos seus colaboradores. Foi dealer do mercado monetário, derivados e câmbios no mesmo banco, e esteve na União de Bancos Portugueses, entretanto comprada pelo grupo Mello, onde trabalhou como tesoureiro. Há dez anos arriscou em nome da ambição, mas deu-se mal. Saiu do Banco Mello e criou o primeiro hedge fund português com dez milhões de euros angariados a vários investidores. Por azar, nessa altura, um dos maiores hedge fund dos Estados Unidos - Long Term Capital Management - faliu e deixou uma marca negativa neste tipo de instituições em todo o mundo, incluindo em Portugal. Por contaminação da situação internacional, os investidores portugueses recuaram e Duarte d'Orey ficou apenas com um cliente e um milhão de euros para investir. Em 1999, o empresário fundou o First Opportunity Fund, estabelecendo investimentos alternativos no mercado nacional, e um ano mais tarde nasceu o First Portuguese SGPS, uma das primeiras empresas de gestão de activos do País. Com o objectivo de inovar constantemente, introduziu no mercado fundos de investimentos sobre passes de jogadores de futebol. Os do Sporting foram um sucesso, os do Porto menos, e os do Boavista revelaram-se uma desgraça.
Pouco tempo depois, perante uma disputa na sucessão da Orey Antunes, Duarte d'Orey, que fizera um percurso à parte da empresa que está há 120 anos nas mãos da sua família, lançou uma OPA e adquiriu a instituição procedendo a uma reestruturação assente na criação de sub-holdings por áreas de actividades. A revolução não foi pacífica e alguns familiares não gostaram das novas ideias. Hoje, a empresa está focada fortemente no sector financeiro e cada vez menos nas suas áreas tradicionais (ver caixa).
No trabalho, o empresário invoca muitas vezes os valores do râguebi, desporto que jogou durante anos como federado no CDUL e na selecção: humildade para aprender, solidariedade e lealdade, sacrifício, compromisso e respeito pelos companheiros.
Para descontrair gosta de ao fim-de-semana ir para a quinta que tem no Alentejo ou ficar na sua casa no bairro da Lapa na companhia da mulher, Mónica Lima Mayer Alves Moreira, e das cinco filhas. Acusam-no de ser vaidoso mas uma fonte próxima do empresário disse ao DN que o seu aspecto físico sempre suscitou "inveja". O certo é que não descura a imagem. Até pode ir trabalhar vestido de forma descontraída, mas se tiver uma entrevista agendada com a imprensa muda para um fato mais formal. Viaja em classe económica e prefere gastar mais em bons hotéis e ficar bem instalado.
Os amigos dizem que detesta a exposição pública, excepto quando isso beneficia o seu trabalho, mas evita ser fotografado em eventos sociais. Líder nato, ambicioso, diz que gosta de psicologia e acredita que consegue ler o olhar de qualquer pessoa. Muitas vezes funciona por intuição. Uma vez decidiu comprar uma casa sem a ver por acreditar, pela descrição, que era perfeita. Nos negócios é mais pragmático e calculista e os seus detractores dizem que faz qualquer coisa para que o seu nome fique gravado nos manuais da economia.
por RITA ROBY GONÇALVES
DIÁRIO DE NOTÍCIAS 10 Julho 2009
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