Monday 30 August 2010

Estado gasta milhões a arrendar imóveis que vendeu a si próprio

Encaixe de €980 milhões em cinco anos foi feito esmagadoramente com recurso à Parpública

O Estado português é o maior proprietário de imóveis do país mas o Governo gasta milhões de euros todos os anos em arrendamentos para instalar os seus serviços. E boa parte desse valor é para pagar rendas de imóveis que pertenciam ao Estado, foram vendidos nos últimos anos (em muitos casos, a empresas do grupo Parpública) e depois alugados, para lá continuarem os mesmos serviços públicos.

Entre 2005 e 2009, o Estado encaixou €980 milhões em vendas de imóveis. O principal comprador foi a Estamo, detida pela Parpública, que se dedica à gestão imobiliária, e que foi responsável por mais de 90% da receita conseguida com estas vendas.

A mesma empresa surge agora como um dos principais senhorios do Estado. Entre as maiores rendas suportadas destacam-se várias pagas à Estamo. Desta forma, sem os imóveis saírem da esfera pública, o Estado teve uma receita que ajuda a compor o défice e vai pagando, anualmente, renda pela utilização dos espaços.

Nos últimos anos, o Governo tem feito um esforço para tornar mais eficiente a gestão do património imobiliário do Estado. Mas a verdade é que a maior parte das alienações aconteceu dentro da esfera pública, numa altura em que não está sequer completo o processo de inventariação dos imóveis públicos. No último relatório da Direção-Geral do Tesouro e Finanças, relativo ao final de 2009, apenas 65% dos organismos públicos tinham já comunicado os imóveis que detêm.

Quanto valem as rendas? O grupo parlamentar do CDS quis saber quanto gasta o Governo anualmente com as rendas, e perguntou a todos os ministérios que contratos de arrendamento, e por que valores, foram feitos nos últimos cinco anos (nos governos Sócrates). Mas, seis meses depois de serem enviadas as perguntas, apenas dez ministérios responderam.

Estes dez ministérios assinaram 269 contratos de arrendamento desde 2005, num valor total de 18 milhões de euros por ano. Mas esta é apenas uma pequena parte do total. Não só porque faltam cinco respostas, mas sobretudo porque entre os que ainda não respondem estão os três ministérios que terão o maior número de arrendamentos: Finanças, Segurança Social e Justiça.

A Presidência do Conselho de Ministros também ainda não disponibilizou qualquer informação (estão em causa, por exemplo, as Lojas do Cidadão — quase sempre em espaços amplos e bem localizados no centro das cidades). O Ministério do Ambiente, por seu lado, revelou que fez trinta contratos de arrendamento para os seus serviços nos últimos cinco anos, mas não releva o valor dessas rendas.

O caso do Ministério da Justiça (MJ) é exemplar, para se perceber como os 18 milhões conhecidos até agora são só o início da história. Basta lembrar que apenas três edifícios arrendados pelo Ministério da Justiça nos últimos anos representam um encargo anual de cerca de 21 milhões de euros — o campus da Justiça, em Lisboa (14 milhões), e as prisões de Lisboa e Pinheiro da Cruz (7 milhões). Estes dois estabelecimentos prisionais são, aliás, paradigmáticos da estratégia do Estado, que os vendeu e imediatamente arrendou para os continuar a utilizar. Se juntarmos as rendas de tribunais por todo o país — sobretudo os novos, quase sempre em imóveis que não são do Estado — é fácil perceber que a conta dispara. Não é por acaso que o Tribunal de Contas está a investigar os negócios de património no MJ.

"Engenharia financeira"

Uma das razões que levaram o CDS a questionar os ministérios foram notícias "de vários casos de venda e posterior arrendamento, envolvendo os edifícios onde se sediam os vários serviços dos ministérios governamentais". Por outro lado, verifica-se que muitos dos imóveis são vendidos a empresas do grupo Parpública — ou seja, é o Estado a vender ao Estado, para depois o Estado arrendar ao Estado.

Dos dados que já recebeu, o deputado centrista Altino Bessa, que conduziu esta iniciativa, destaca isso mesmo: "Em alguns casos o vendedor do imóvel é o próprio ministério que o arrenda logo após a venda, isto tudo sem nunca o abandonar. A razão deste procedimento prende-se com questões de engenharia financeira de um Estado devorador e descontrolado financeiramente que apenas pretende arrecadar verba imediata a todo o custo, transferindo o défice do Estado para o seu subsector empresarial, e assim esconder a verdadeira dimensão do défice 'varrendo-o para debaixo do tapete'."

Para o deputado, este é um "procedimento ruinoso para o próprio Estado com as escandalosas rendas mensais que fica a pagar de imóveis que eram seus, e obrigando as suas empresas participadas a adquirir os imóveis, endividando-se junto da Banca para o poderem fazer".

Para Eduardo Catroga trata-se de uma situação clara de desorçamentação. O ex-ministro das Finanças de Cavaco Silva refere mesmo que "o Instituto Nacional de Estatística é muito responsável em tudo isto, porque finge que não vê". O economista sublinha que é uma forma de desorçamentação entre outras que têm acontecido nos últimos anos, como as parcerias público-privadas ou o endividamento das empresas públicas.

Três casos exemplares

Está nesta situação, por exemplo, o edifício da Avenida da República que alberga a secretaria-geral do Ministério da Economia. O imóvel foi vendido em 2008, por €10,7 milhões, à Estamo. Os serviços que lá estavam lá continuaram e, segundo explicou ao Expresso o gabinete de imprensa do Ministério da Economia, está atualmente em negociação um contrato de arrendamento, pelo valor mensal de 69.400 euros (832.800 euros por ano). Feitas as contas, Albino Bessa nota que é um excelente negócio para o comprador: o investimento 10,7 milhões está pago ao fim de doze anos.

No Ministério da Agricultura há três casos parecidos: dois imóveis vendidos na anterior legislatura por €5 milhões, e outro por €7,4 milhões, todos comprados pela Estamo. Pelos primeiros, o ministério ficou a pagar uma renda de €33 mil, pelo último paga quase €50 mil. As contas são parecidas: ao fim de 12 anos a Estamo recebeu em rendas o valor pago.

Das respostas que chegaram ao CDS, o Ministério da Saúde é o que tem celebrado mais contratos de aluguer de imóveis {73), seguido pela Administração Interna (67), Negócios Estrangeiros (64) e Ambiente (30). A Administração Interna paga a renda mais cara (126 mil euros por mês pelas instalações do SEF em Barcarena, alugado à Fundimo, também do universo Parpública), mas também a mais barata — o posto territorial da GNR de Odemira está num imóvel da PT e custa apenas 50 euros por mês. Mas esta é apenas a ponta do icebergue.

O Expresso tentou obter um esclarecimento do Ministério das Finanças sobre esta situação e também a lista de rendas pagas, já que foi um dos que não responderam ao requerimento do CDS, mas não obteve resposta até ao fecho desta edição.

DESDE JANEIRO

Quatro ministérios não responderam às perguntas sobre arrendamentos e venda de imóveis colocadas pelo CDS: Finanças, Justiça, Trabalho e Presidência do Conselho de Ministros (PCM). O Ambiente, por seu lado, deu alguns dados mas não revelou o valor dos arrendamentos. O Regimento da Assembleia da República impõe que as perguntas feitas pelos deputados ao Governo sejam respondidas no prazo de um mês. Neste caso já passaram mais de seis, as perguntas foram reapresentadas, e nada.

O Expresso perguntou aos ministérios por que razão não dão a informação pedida, mas não teve muito mais sorte do que os deputados.

"Não é hábito deste Ministério responder a questões colocadas pelos senhores deputados através da comunicação social", disse o Ministério do Trabalho e Segurança Social, que assim não responde nem a uns nem a outros. O Ministério da Justiça não deu qualquer resposta ao Expresso. Apenas a PCM explicou que "o levantamento da informação solicitada no requerimento em causa está a ser processado e verificado pelos diferentes organismos e serviços dependentes da PCM. Logo que esse processo esteja concluído será prestada a informação requerida com total transparência".

Altino Bessa vê este silêncio "com enorme apreensão". Até porque serão os ministérios "onde estas situações serão mais escandalosas e de maior dimensão". Para o deputado, "isto é demonstrativo do estado da organização dos ministérios da Justiça, das Finanças e do Trabalho e Solidariedade Social, que não têm, ou não querem fornecer, os dados relativos ao seu património imobiliário e à sua política de arrendamento de imóveis". E apela ao TC para que alargue as investigações a "todos os ministérios".

Publicado no jornal Expresso a 28 de Agosto de 2010, por Filipe Santos Costa com João Silvestre

in site da Ordem dos Advogados

ALGARVE EXIGE SUSPENSÃO DA CAMPANHA GUIMARÃES 2012



Economia

Algarve exige suspensão de campanha Guimarães 2012

Hóteis do Algarve consideram campanha ofensiva e insultosa. Tudo porque anúncio da capital europeia da cultura 2012 mostra praia algarvia vazia.

Campanha Guimarães 2012 mostra praia algarvia vazia

"O absurdo da campanha ultrapassa o mero mau gosto dos seus criadores e padrinhos patrocinadores e financiadores, assumindo-se como um atentado aos interesses gerais e colectivos, pelo que deve ser imediatamente suspensa por quem de direito, devendo os referidos cartazes ser imediatamente retirados e removidos de todo o espaço regional e nacional". É desta forma que a Associação dos Hóteis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA) se insurge contra a campanha publicitária de promoção de Guimarães 2012 - Capital Europeia da Cultura, que mostra uma praia algarvia deserta em Agosto de 2012, por toda a gente se ter deslocado à cidade-berço do país.

A AHETA sustenta, em comunicado, que "esta campanha fere de forma grave os interesses da maior actividade económica nacional e dos seus agentes e trabalhadores, assim como, a principal região turística portuguesa sendo, por isso mesmo, penosamente lesiva da nossa economia". Os empresários algarvios, no entanto, garantem que apoiam a promoção e divulgação de Guimarães 2012, mas alegam que isso "não pode ser feito à custa e contra a imagem da principal região turística portuguesa, através de publicidade enganosa e paga com dinheiros públicos, ou seja, de todos nós".

A AHETA exige aos organismos envolvidos um "pedido de desculpas formal ao Algarve, aos algarvios e aos seus agentes económicos e, em última análise, aos portugueses, pela atitude difamatória e ofensiva desta campanha contra a principal região turística nacional e uma das maiores geradoras de riqueza do nosso país".


EXPRESSO ONLINE

Catarina Nunes (www.expresso.pt)

11:45 Segunda feira, 30 de Agosto de 2010

FISCO DÁ RAZÃO A DOIS TERÇOS DAS RECLAMAÇÕES

Mais de dois terços das reclamações dos contribuintes são deferidas pelo fisco

O relatório da IGF motivou já novas aplicações informáticas para avaliação da qualidade das correcções feitas pela inspecção tributária e que estão a dar os primeiros passos desde Março

Mais de dois terços das reclamações dos contribuintes fiscais, após conhecerem as correcções feitas à matéria colectável, acabaram por ser deferidos a seu favor, segundo informação enviada ao PÚBLICO pelo Ministério das Finanças.

Esse valor é semelhante ao assinalado pela Inspecção-Geral de Finanças num relatório relativo ao triénio 2006-2008. Nesse período, o restante terço repartiu-se entre o indeferimento e o arquivamento.

A desproporção a favor dos contribuintes pode ter várias explicações.

O Ministério das Finanças alerta que, em muitos casos, se deve a erros praticados pelos contribuintes nas declarações fiscais e que, ao apresentar declarações de substituição, são tidas como reclamações graciosas e corrigidas a seu favor. Mas pode também ser revelador de que os serviços tributários estão a pressionar os contribuintes a pagar mais impostos, através de correcções indevidas da matéria tributável.

Aliás, a "falta de qualidade" dessas correcções motivou a 26 de Janeiro de 2010 - na sequência do relatório da IGF - um despacho do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Sérgio Vasques, a instruir os dirigentes da DGCI para "desenvolver e aprofundar os pertinentes procedimentos no sentido de melhorar a qualidade da intervenção dos serviços ao nível das correcções à matéria colectável".

Segundo informação oficial, essas diligências implicaram "novas aplicações informáticas, que entraram em produção em Março de 2010", melhoramentos nos sistemas já utilizados e reformulação nas aplicações da informação de gestão.

Apesar do elevado deferimento a seu favor, a situação do contribuinte pode tornar-se difícil, dado a lentidão na avaliação dos processos.

Ainda assim, a IGF elogia os esforços de redução dos processos pendentes nos últimos anos. O relatório sublinha que, apesar do número crescente de reclamações, o saldo passou de 36.103 processos no final de 2005 para 7226 processos em Junho de 2010. O tempo médio de apreciação desceu de 11,2 para cerca de três meses.

Mas a IGF detectou que alguns processos favoráveis aos contribuintes ainda "se encontram há vários anos a aguardar nos serviços centrais a produção de efeitos".

Um velho problema

A questão não é de agora e pode indiciar o nível de qualidade da intervenção da inspecção tributária (IT). Ano após ano, o fisco vai divulgando valores cada vez mais elevados das correcções, fruto das inspecções. Só em 2009, as correcções somaram 6,8 mil milhões de euros, mais 68 por cento do que em 2008.

Mas nunca são apresentados valores da eficácia dessas acções. Nos anos 90, a justificação oficial era a de que, após a inspecção, os serviços deixavam de seguir o que acontecia aos processos. Estimava-se que apenas metade das correcções entravam nos cofres do Estado.

No final de 2009, o relatório do grupo de trabalho para o estudo da política fiscal realçava "os erros da administração fiscal" que, "associados à morosidade da justiça portuguesa e ao poder de execução prévia, são apontados como dando origem a resultados, por vezes, catastróficos para os contribuintes", a ponto de provocarem "falências, desemprego e situações pessoais dramáticas".

Outro relatório da IGF, sobre a inspecção (com base em números de 2008), recomendou precisamente que a informática tributária avalie a "efectivação das liquidações propostas e os custos de não qualidade" e que melhore o "painel de indicadores para a avaliação de desempenho da inspecção". A IGF alerta que a avaliação do desempenho da inspecção continua a ser quantitativa e que são "estabelecidos indicadores de medida para a avaliação do objectivo estratégico de melhoria da qualidade da intervenção da inspecção".

Na altura em que o relatório foi redigido, o cálculo desses indicadores estava em fase de testes e a informação disponibilizada "ainda não se revelou fiável e estabilizada para este tipo de avaliação". Uma avaliação que requer tempo, já que é preciso seguir cada um dos processos e saber se resultou em cobrança.

Menos entregas voluntárias

Em sua substituição, a IGF usou outros indicadores. Foi o caso da percentagem de regularizações voluntárias pelos contribuintes inspeccionados. Se, em 2006, a percentagem era de 26,1 por cento, passou a 29,6 por cento em 2008, mas o relatório de actividades da IT revela que se reduziu para 23,4 por cento em 2009. Desconhecem-se os motivos dessa redução, em conjuntura de crise. Outro indicador relaciona-se com a qualidade do planeamento e mede a percentagem das acções sem correcção da matéria tributável. "Este indicador", segundo a IGF, "tem vindo a apresentar uma evolução positiva que foi interrompida em 2008." Nesse ano, quase dois terços das inspecções não produziram resultados. Segundo o relatório de actividades da IT, o valor foi igual em 2009.

Mas há outros constrangimentos. A IGF concluiu que - apesar da subida de funcionários (de 1644 para 1833 em 2008) - "o acréscimo do número de efectivos (...) não se repercutiu na actividade de controlo inspectivo" e foi "utilizado para reforçar actividades internas, designadamente de controlo preventivo e apoio à justiça tributária". Por isso, verificou-se "uma acentuada perda de importância do controlo inspectivo (de 67,7 para 60,9 por cento) no conjunto das actividades desenvolvidas pela IT".

E que actividades preventivas eram essas? Parte dela foi filtrar a informação obtida pelo cruzamento das bases de dados da DGCI, revelador de várias discrepâncias, "um manancial de informação de potenciais anomalias detectadas pelas rotinas dos sistemas a nível central".

Apesar da progressiva informatização, muito parece estar por fazer.

Publicado no Jornal Público a 28 de Agosto de 2010, por João Ramos de Almeida

in Ordem dos Advogados site

CENTENÁRIO DO REGICÍDIO - EXÉQUIAS