Durante a visita à quinta, o Presidente sentou-se debaixo de um pinheiro, no mesmo local onde o pai gostava de estar.
Presidência: Cavaco faz visita guiada ao CM na sua quinta, nos arredores de Boliqueime
“Mantenho esta quinta em memória do meu pai”
"Agora vou vestir o fato de camponês." Cavaco Silva põe, deste modo, fim à conversa com o CM no pequeno escritório na sua casa de férias, em Albufeira. Minutos depois, o Presidente da República, acompanhado da mulher, aparece pronto para partir para a "Quintinha", como chama à propriedade de 3 hectares, essencialmente de pomares, situada nos arredores de Boliqueime, a cerca de 20 km da Aldeia da Coelha, e encostada ao campo de golfe do Millennium de Vilamoura.
Na "Quintinha", o Presidente da fala das árvores e dos seus frutos com o à-vontade de quem conhece bem a lida da terra, a terra onde estão, afinal, as suas raízes. Parece ter um orgulho particular pelas anonas. "Não há muito disto no Algarve", diz, ao mostrar-nos os frutos ainda meio verdes. "Antigamente, o Alberto João Jardim mandava-me anonas da Madeira, mas agora não, porque diz que as minhas são melhores do que as dele!"
Cavaco Silva herdou dos pais a propriedade rural, que já era do seu avô e do seu bisavô. Para lá da ligação familiar, a quinta é, para o Presidente, um espaço de memórias de infância: "Lembro-me de que quando era criança, por volta dos 7, 8 anos, gostava de vir aqui com os meus avós. Mas, nessa altura, só havia alfarrobeiras, oliveiras e amendoeiras. Não havia absolutamente mais nada, não havia nenhuma destas casas. Foi o meu pai quem fez tudo isto. Mas foi herança do lado da minha mãe, que também adorava vir para aqui."
Explica-nos que a parte da herança que lhe coube foram as propriedades rústicas, ao passo que os irmãos ficaram com prédios urbanos. A "Quintinha" é a maior dessas propriedades recebidas e diz--nos que a mantém por uma "questão de respeito ao pai e de homenagem" ao pai (Teodoro Gonçalves Silva, falecido em 2007, aos 95 anos).
A certa altura da visita, o Presidente da República senta-se numa pedra debaixo de uma oliveira e revela que era ali que o pai gostava de estar horas a fio a descansar e a pensar: "Na última fase da vida, mesmo morando em Quarteira, ele vinha para aqui todos os dias. Dizia que lhe dava saúde, que se sentia bem aqui, a respirar... Agora este é o meu encargo. Mas faço-o com alegria, porque gosto de ver as árvores crescer, de ver os frutos aparecer, de colher os frutos e também me dá prazer oferecê-los."
De facto, segundo nos diz, não tira qualquer rendimento da quinta, muito pelo contrário, só tem prejuízo, pois, para a manter, tem de gastar água, luz, adubos, tempo... Cada vez que lá vai empenha-se em introduzir novas culturas e, mesmo para isso, tem de contar "com as boas almas amigas", umas das quais é o seu primo Henrique. Mas também o genro, Luís Montês, que nasceu em Angola, tem dado uma grande ajuda. Aliás, tem sido ele o principal responsável pela introdução da maioria das frutas exóticas na quinta do Presidente. Ali podemos ver, além de anonas, peras-abacates, pitangas, sapotis, goiabas, limas - "para fazer caipirinha", diz o Presidente. E não faltam também as árvores típicas do Sul de Portugal: marmeleiros, pessegueiros, figueiras, romãzeiras, amoreiras, alfarrobeiras, laranjeiras...
"É PRECISO PRESERVAR MUNDO RURAL"
Ao longo da visita de cerca de uma hora à sua quinta, o Presidente, que revela um interesse e um conhecimento surpreendentes dos assuntos da lavoura, assume-se como "um defensor do mundo rural". Alerta que "sem a preservação do mundo rural será a desertificação. Teremos um País envelhecido, despovoado!" A preocupação não é nova: ao longo do seu mandato, referiu-se por várias vezes ao estado da agricultura e aos problemas de escoamento dos produtos. Ainda há pouco tempo fez um apelo para que os consumidores optassem por comprar os produtos nacionais em vez dos estrangeiros, ajudando, assim, a economia nacional. Ele próprio, enquanto proprietário de uma quinta, sofre com a situação: "Isto é de tal forma que eu ofereço as alfarrobas e as amêndoas. Já ninguém as compra..."
POLÍCIAS MAIS BEM APETRECHADAS PARA COMBATER O CRIME
Os incêndios florestais surgiram este ano com uma violência como há muito não se via, provocando enormes danos, não só materiais como também humanos. Foi de tal modo que o Presidente da República teve de interromper as férias no Algarve e vir a Lisboa, para se inteirar da situação junto da Autoridade Nacional de Protecção Civil, que visitou no passado dia 23, acompanhado pelo primeiro-ministro e pelo ministro da Administração Interna.
"A questão dos incêndios é uma grande preocupação não apenas para o Presidente mas também para o Governo. Portanto, interrompi as minhas férias para ter um relato daqueles que diariamente exercem funções de comando e de coordenação no combate aos incêndios", explica o Chefe de Estado, que considera "termos neste momento um comando nacional de combate aos fogos e uma equipa que tem dado tudo o que lhe é possível para enfrentar estas situações".
Sobre o combate ao crime associado a este flagelo, Cavaco também se mostra optimista: "A informação que me é dada é a de que as nossas forças policiais, e a Polícia Judiciária em particular, estão neste momento bastante melhor apetrechadas para combater situações de dolo, situações criminosas." "Mas, às vezes, é difícil encontrar uma fronteira entre o dolo e a negligência", nota, concluindo: "Daí o apelo que fiz para que os portugueses tenham muito cuidado em comportamentos de risco, como é o caso das queimadas, que podem degenerar, de facto, em incêndios."
DISCURSO DIRECTO
"AGRICULTURA DE PASSAR CHEQUES", Aníbal Cavaco Silva, Presidente da República
Correio da Manhã - A sua quinta está pejada de anonas. O que faz a tantas anonas?
Cavaco silva - Ofereço!
- Porque é que não as vende? Assim perde dinheiro...
- Pois, é uma agricultura de passar cheques! É uma despesa gigantesca. Só a electricidade... está a ver.
- Mas, então, porque é que mantém a quinta cultivada?
- É uma questão de raízes. Foi do meu bisavô, do meu avô, do meu pai. Eu não tiro rendimento, nem um tostão. Nem quero.
- E porque não?
- Tinha de fazer registos...
- A quem é que oferece a fruta?
- Aos mais necessitados, como, por exemplo, à Santa Casa da Misericórdia. Mas alguns frutos os mais idosos não aceitam, como a pêra-abacate, que faz aumentar o colesterol, e a anona, porque tem muito açúcar.
- Que outras árvores é que tem?
- Tudo o que é esquisito... Tenho aqui árvores esquisitas.
João Cortesão
CORREIO DA MANHÃ 28-08-2010
Presidência: Cavaco faz visita guiada ao CM na sua quinta, nos arredores de Boliqueime
“Mantenho esta quinta em memória do meu pai”
"Agora vou vestir o fato de camponês." Cavaco Silva põe, deste modo, fim à conversa com o CM no pequeno escritório na sua casa de férias, em Albufeira. Minutos depois, o Presidente da República, acompanhado da mulher, aparece pronto para partir para a "Quintinha", como chama à propriedade de 3 hectares, essencialmente de pomares, situada nos arredores de Boliqueime, a cerca de 20 km da Aldeia da Coelha, e encostada ao campo de golfe do Millennium de Vilamoura.
Na "Quintinha", o Presidente da fala das árvores e dos seus frutos com o à-vontade de quem conhece bem a lida da terra, a terra onde estão, afinal, as suas raízes. Parece ter um orgulho particular pelas anonas. "Não há muito disto no Algarve", diz, ao mostrar-nos os frutos ainda meio verdes. "Antigamente, o Alberto João Jardim mandava-me anonas da Madeira, mas agora não, porque diz que as minhas são melhores do que as dele!"
Cavaco Silva herdou dos pais a propriedade rural, que já era do seu avô e do seu bisavô. Para lá da ligação familiar, a quinta é, para o Presidente, um espaço de memórias de infância: "Lembro-me de que quando era criança, por volta dos 7, 8 anos, gostava de vir aqui com os meus avós. Mas, nessa altura, só havia alfarrobeiras, oliveiras e amendoeiras. Não havia absolutamente mais nada, não havia nenhuma destas casas. Foi o meu pai quem fez tudo isto. Mas foi herança do lado da minha mãe, que também adorava vir para aqui."
Explica-nos que a parte da herança que lhe coube foram as propriedades rústicas, ao passo que os irmãos ficaram com prédios urbanos. A "Quintinha" é a maior dessas propriedades recebidas e diz--nos que a mantém por uma "questão de respeito ao pai e de homenagem" ao pai (Teodoro Gonçalves Silva, falecido em 2007, aos 95 anos).
A certa altura da visita, o Presidente da República senta-se numa pedra debaixo de uma oliveira e revela que era ali que o pai gostava de estar horas a fio a descansar e a pensar: "Na última fase da vida, mesmo morando em Quarteira, ele vinha para aqui todos os dias. Dizia que lhe dava saúde, que se sentia bem aqui, a respirar... Agora este é o meu encargo. Mas faço-o com alegria, porque gosto de ver as árvores crescer, de ver os frutos aparecer, de colher os frutos e também me dá prazer oferecê-los."
De facto, segundo nos diz, não tira qualquer rendimento da quinta, muito pelo contrário, só tem prejuízo, pois, para a manter, tem de gastar água, luz, adubos, tempo... Cada vez que lá vai empenha-se em introduzir novas culturas e, mesmo para isso, tem de contar "com as boas almas amigas", umas das quais é o seu primo Henrique. Mas também o genro, Luís Montês, que nasceu em Angola, tem dado uma grande ajuda. Aliás, tem sido ele o principal responsável pela introdução da maioria das frutas exóticas na quinta do Presidente. Ali podemos ver, além de anonas, peras-abacates, pitangas, sapotis, goiabas, limas - "para fazer caipirinha", diz o Presidente. E não faltam também as árvores típicas do Sul de Portugal: marmeleiros, pessegueiros, figueiras, romãzeiras, amoreiras, alfarrobeiras, laranjeiras...
"É PRECISO PRESERVAR MUNDO RURAL"
Ao longo da visita de cerca de uma hora à sua quinta, o Presidente, que revela um interesse e um conhecimento surpreendentes dos assuntos da lavoura, assume-se como "um defensor do mundo rural". Alerta que "sem a preservação do mundo rural será a desertificação. Teremos um País envelhecido, despovoado!" A preocupação não é nova: ao longo do seu mandato, referiu-se por várias vezes ao estado da agricultura e aos problemas de escoamento dos produtos. Ainda há pouco tempo fez um apelo para que os consumidores optassem por comprar os produtos nacionais em vez dos estrangeiros, ajudando, assim, a economia nacional. Ele próprio, enquanto proprietário de uma quinta, sofre com a situação: "Isto é de tal forma que eu ofereço as alfarrobas e as amêndoas. Já ninguém as compra..."
POLÍCIAS MAIS BEM APETRECHADAS PARA COMBATER O CRIME
Os incêndios florestais surgiram este ano com uma violência como há muito não se via, provocando enormes danos, não só materiais como também humanos. Foi de tal modo que o Presidente da República teve de interromper as férias no Algarve e vir a Lisboa, para se inteirar da situação junto da Autoridade Nacional de Protecção Civil, que visitou no passado dia 23, acompanhado pelo primeiro-ministro e pelo ministro da Administração Interna.
"A questão dos incêndios é uma grande preocupação não apenas para o Presidente mas também para o Governo. Portanto, interrompi as minhas férias para ter um relato daqueles que diariamente exercem funções de comando e de coordenação no combate aos incêndios", explica o Chefe de Estado, que considera "termos neste momento um comando nacional de combate aos fogos e uma equipa que tem dado tudo o que lhe é possível para enfrentar estas situações".
Sobre o combate ao crime associado a este flagelo, Cavaco também se mostra optimista: "A informação que me é dada é a de que as nossas forças policiais, e a Polícia Judiciária em particular, estão neste momento bastante melhor apetrechadas para combater situações de dolo, situações criminosas." "Mas, às vezes, é difícil encontrar uma fronteira entre o dolo e a negligência", nota, concluindo: "Daí o apelo que fiz para que os portugueses tenham muito cuidado em comportamentos de risco, como é o caso das queimadas, que podem degenerar, de facto, em incêndios."
DISCURSO DIRECTO
"AGRICULTURA DE PASSAR CHEQUES", Aníbal Cavaco Silva, Presidente da República
Correio da Manhã - A sua quinta está pejada de anonas. O que faz a tantas anonas?
Cavaco silva - Ofereço!
- Porque é que não as vende? Assim perde dinheiro...
- Pois, é uma agricultura de passar cheques! É uma despesa gigantesca. Só a electricidade... está a ver.
- Mas, então, porque é que mantém a quinta cultivada?
- É uma questão de raízes. Foi do meu bisavô, do meu avô, do meu pai. Eu não tiro rendimento, nem um tostão. Nem quero.
- E porque não?
- Tinha de fazer registos...
- A quem é que oferece a fruta?
- Aos mais necessitados, como, por exemplo, à Santa Casa da Misericórdia. Mas alguns frutos os mais idosos não aceitam, como a pêra-abacate, que faz aumentar o colesterol, e a anona, porque tem muito açúcar.
- Que outras árvores é que tem?
- Tudo o que é esquisito... Tenho aqui árvores esquisitas.
João Cortesão
CORREIO DA MANHÃ 28-08-2010
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