Saturday, 28 August 2010

FALSA MÉDICA LIGAVA AO ACASO


Polícia

"Médica" afinal era homem e ligava ao acaso

Saiu tranquilamente do tribunal, com a medida de coacção mínima, o homem suspeito de ter-se feito passar por médica para induzir mulheres a actos sexuais em "consultas" telefónicas. Há mais processos em investigação e o indivíduo pode não ser o único falso clínico.

Afinal, a voz feminina que enganou “várias dezenas de mulheres”, segundo a PSP, seria simulada por um homem, de 46 anos, vendedor de profissão, sem qualquer ligação à área da saúde e residente em Vila das Aves (Santo Tirso). Foi apanhado em flagrante, anteontem, na rua, a contactar mais uma vítima por telemóvel.

Presente, ontem, ao Tribunal de Instrução Criminal do Porto, acabaria por sair em liberdade, com termo de identidade e residência. À saída, fez de conta que nada tinha a ver com o caso. “Querem falar comigo? Deve ser engano”, limitou-se a dizer aos jornalistas, enquanto caminhava apressadamente, de cigarro na boca. Sem antecedentes criminais, o vendedor foi indiciado por usurpação de funções, coacção sexual, devassa da vida privada e ofensa a pessoa colectiva.

A detenção, efectuada pela Divisão de Investigação Criminal (DIC) da PSP do Porto, resultou de diligências encetadas há sete meses, após uma denúncia do Instituto Português de Oncologia (IPO).

Em causa estava o esquema, do qual o JN deu conta este mês. Várias mulheres, de diferentes pontos do país, eram contactadas telefonicamente por uma “doutora” que se apresentava como profissional do IPO, mas também do Hospital de S. João. Sob o pretexto da urgência de essas pessoas fazerem rastreios por poderem ter cancro, o indivíduo, imitando uma voz feminina, conseguia convencê-las a fazer “testes” envolvendo práticas de masturbação e apalpação.

Em determinados casos, até perguntava às “pacientes” se tinham telemóveis 3D para estas poderem filmar aqueles actos e enviar-lhe as imagens. Para poupar nas chamadas – houve conversas de horas – chegava a dizer-lhes para serem elas a ligar-lhe. As mulheres ainda eram aconselhadas a deslocar-se aos hospitais, para mais exames.

Ao contrário do que se suspeitava, a PSP descarta, para já, a hipótese de o autor dos crimes ter tido acesso a informação clínica privilegiada das vítimas. O comissário Fernando Silva, da DIC, realçou que as mulheres eram escolhidas “aleatoriamente”, através da ligação para números ao acaso, e que a grande arma do homem era “o poder de argumentação e retórica”. O vendedor terá usado vários telemóveis pré-pagos e não tinha preocupação em ocultar os números. Nas buscas, a PSP apreendeu-lhe um aparelho e diversa documentação.

Fernando Silva explicou que já foram ouvidas 15 vítimas e que futuramente serão contactadas “várias dezenas” que também terão caído no esquema. A única motivação do indivíduo seria a satisfação sexual.

Ao que o JN apurou, há outros processos ligados a falsas médicas a ser investigados e não é de descartar o envolvimento de mais indivíduos.

Nuno Silva

JORNAL DE NOTÍCIAS 28-08-2010

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