Tuesday 10 August 2010

A HERANÇA DE TOMÉ FETEIRA

Crime

A herança de Tomé Feteira e o homicídio no Brasil
por Rosa Ramos, Publicado em 10 de Agosto de 2010
I ONLINE
Com Cláudio Reis/ Região de Leiria

Duarte Lima terá sido a última pessoa a ver Rosalina com vida

Rosalina Ribeiro era divorciada quando se tornou secretária e amante do empresário. Mas nunca conseguiu ser a única mulher da vida dele.

É uma história de amor difícil como quase todas. Num guião que dura décadas, várias mulheres disputam o mesmo homem. Rosalina Ribeiro - a empresária portuguesa com 74 anos assassinada a 7 de Dezembro no Brasil e representada em vida pelo advogado e ex- -deputado do PSD Duarte Lima - esperou pacientemente e durante 32 anos por Lúcio Tomé Feteira. Mas o empresário não foi o seu primeiro amor.

Descendente de famílias abastadas, Rosalina casou quando tinha pouco mais de 20 anos com um homem quase 30 mais velho, viúvo abastado e amigo de Lúcio Feteira. Só que o casamento durou pouco porque os enteados tentaram sempre impedi-la de ter acesso aos bens do pai. O casal acabaria por se separar judicialmente, apesar de continuarem a viver debaixo do mesmo tecto até à morte do ex-marido.

Na década de 1960, Rosalina cruza-se com Lúcio Feteira em Lisboa. Torna-se secretária do empresário de Vieira de Leiria e, pouco tempo depois, amante. A relação durou mais de três décadas e nunca foi secreta. De tal forma que Lúcio morreu, em 2000, na casa onde moravam juntos há vários anos, em Lisboa. E de tal forma que até a legítima esposa de Lúcio Feteira, Adelaide, sabia da relação extraconjugal. "Eram outros tempos. Antigamente as senhoras eram muito respeitadoras do marido, apesar de ele nunca parar em casa", recorda ao i um sobrinho do empresário.

Adelaide, dona de casa, foi sempre uma mulher dócil e paciente. Do casamento nasceu um filho varão, que poderia ter herdado o império do pai. Mas morreu "ainda novo, no Brasil, com uma doença mental", conta o sobrinho de Lúcio. Adelaide até perdoou o marido quando o empresário engravidou outra mulher, que também conhecera em Lisboa. É desse relacionamento que nasce Olímpia Feteira de Menezes, com quem Rosalina estava a disputar há dez anos a herança de Lúcio. "Perfilhou a menina desde o início", garante o sobrinho. O incidente extraconjugal depressa foi ultrapassado pelo casal e nunca levantou problemas de maior. Adelaide sempre recebeu em casa, aliás, mãe e filha.

O testamento da discórdia Quando morreu, aos 98 anos, Lúcio Feteira não deixou nada em testamento aos vários sobrinhos que deixou em Vieira de Leiria. Mas reservou 80% da herança da quota disponível para a constituição de uma fundação na terra natal - os restantes 5% seriam para a filha Olímpia e 15% para Rosalina. Lúcio Feteira incumbiu a junta de freguesia de elaborar os estatutos e nomear o conselho de administração da fundação, cuja sede seria na Quinta da Carvalheira, de que era proprietário. Até hoje a ideia não saiu do papel, por causa da batalha judicial que opunha, há dez anos, Olímpia e Rosalina. "Estamos a falar de alguns milhões de contos que foram desviados dos objectivos do senhor Feteira", resume Rui Pedrosa, presidente da Biblioteca de Instrução Popular de Vieira de Leiria, a quem Lúcio doava, todos os meses, 500 euros.

A filha legítima de Lúcio e Rosalina estariam a disputar mais de 35 milhões de euros. A empresária era representada na justiça por Duarte Lima, que terá sido a última pessoa a vê-la com vida. Segundo a imprensa brasileira, o advogado terá deixado Rosalina num local ermo nos arredores do Rio de Janeiro. A empresária terá saído de casa, na Praia do Flamingo, com uma carteira e uma mala com documentos para ir ter com Duarte Lima para discutir questões relacionadas com o património - que incluía bens em Portugal e no Brasil. Menos de três horas depois levou três tiros, dois no peito e um na cabeça. O assassino só terá levado a pasta com documentos. Duarte Lima já emitiu um comunicado em que admite que se reuniu com Rosalina no dia da sua morte, mas garante que só soube do homicídio no dia 21 de Dezembro e que "por iniciativa própria" comunicou às autoridades a existência do encontro.

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