Friday 23 July 2010

HIPERMERCADOS VOLTAM A ABRIR AO DOMINGO

Comércio: Igreja critica decisão por ir contra um dia de família e credo

Híperes voltam a abrir ao domingo
Os hipermercados já podem estar abertos aos domingos até à meia-noite. A decisão foi tomada ontem em Conselho de Ministros que, no entanto, prevê que as autarquias tenham a possibilidade de alargarem ou restringirem os limites dos horários dos hipermercados "em casos devidamente justificados".

A alteração não é pacífica, com os pequenos comerciantes a alertarem para o aumento do desemprego e as cadeias de distribuição a falarem em benefícios para a economia. A Igreja foi a primeira a reagir, criticando o que considera ser "a lógica do lucro" a governar. A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) defende que os domingos devem ser "dias de encontro de familiares" e de "celebração do credo". Também a Associação de Comerciantes do Porto já se mostrou contra, garantindo que a diminuição do consumo no comércio tradicional resultará em encerramentos e aumento de desemprego.

A Sonae, por seu turno, defende que a decisão vem "facilitar a vida das famílias" e criar mais emprego. Paulo Azevedo, responsável da empresa, já tinha apontado que "todos os anos, em Janeiro, quase duas mil pessoas deixam de trabalhar na Sonae. Essas pessoas teriam, com certeza, lugar na empresa [se os híperes estivessem abertos aos domingos". A Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) estima que sejam criados oito mil empregos directos e indirectos, com um impacto para a economia superior a 2,5 mil milhões de euros até 2017.

IGREJA APELA A CONTESTAÇÃO

A Igreja Católica apela a "uma contestação política organizada que questione estruturas financeiras, comerciais, culturais e políticas" na actual situação de crise. Sem meias palavras, D. Carlos Azevedo, presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, considerou ontem que "em caso de extrema necessidade todos os bens são comuns". "Se não tomarmos consciência disso, haverá violência", alertou, adiantando que "em algumas situações localizadas" já existe um ambiente de revolta. "Perante a perda do emprego, a ausência de ter que comer, podem haver situações de violência", enfatizou.

Para o bispo, "a crise é tão grave que não poderemos superá-la uns contra os outros: empresários contra os sindicatos, sindicatos contra patrões, Governo contra a Oposição, oposição contra o Governo."
CORREIO DA MANHÃ 23-07-2010
Pedro H. Gonçalves

No comments: