Saúde
Nas urgências do Hospital de Faro foram atendidas uma média de 400 pessoas por dia, em 2009
No Verão a população algarvia triplica e quem quer rapidez na saúde tem que pagar
Nas urgências do Hospital de Faro foram atendidas uma média de 400 pessoas por dia, em 2009
No Verão a população algarvia triplica e quem quer rapidez na saúde tem que pagar
03.08.2010 - 08:13 Por Idálio Revez, Ana Henriques PÚBLICO
Direcção do hospital de Faro fez um apelo para que os médicos não fossem de férias em Agosto. Faltam clínicos, há gente a mais nas urgências e a média de espera é de quase quatro horas.
Direcção do hospital de Faro fez um apelo para que os médicos não fossem de férias em Agosto. Faltam clínicos, há gente a mais nas urgências e a média de espera é de quase quatro horas.
Camisola à cava com padrão de camuflado, calções e chinelos, o ucraniano sai das urgências do Hospital de Faro mais de seis horas depois de ter entrado, o pé direito arroxeado transformado num trambolho, ainda luzidio da pomada. "Foi a cortar umas plantas venenosas que fiz isto", explica. Leva com ele uma receita para aviar e vontade de não voltar tão cedo: "Isto na Ucrânia era mais rápido."
A população no Algarve no Verão triplica. Os automóveis formam filas contínuas à saída das praias, os estabelecimentos comerciais estão cheios. A resposta dos cuidados de saúde é que é praticamente a mesma do resto do ano. Não só não existe o reforço de médicos feito em Verões passados, como acabou a consulta especial ao turista.
Regra número um do turista acidentalmente doente: evitar ao máximo as urgências dos hospitais públicos - que, aliás, são apenas dois, Faro e Portimão, e ambos entidades públicas empresariais. Só recorrer a elas em caso de possível perigo de vida e pouco mais. Em Faro, por exemplo, o tempo médio de atendimento nas urgências é de 3h40, mas nos casos considerados pouco ou nada graves a espera pode prolongar-se por muitas mais horas. Regra número dois: se a situação é realmente grave use e abuse destas urgências. É para isso que elas lá estão. "As pessoas só perdem horas nas urgências, se a sua condição clínica não for grave", observa o presidente da Administração Regional de Saúde do Algarve, Rui Lourenço. E acrescenta: "Não podemos atender toda a gente ao mesmo tempo, não temos recursos suficientes." Para problemas menores, como picadas de peixe-aranha e afins, o turista pode recorrer aos 32 postos de praia com enfermeiro. Funcionam das 10h às 20h e alguns deles vão manter-se abertos até 15 de Setembro. Senão, pode ir aos serviços de urgência básica. Estão em Albufeira, Lagos, Loulé e Vila Real de Santo António, funcionando 24 horas por dia e sete dias por semana. Têm dois médicos em permanência, electro-cardiógrafo com desfibrilhador... E espera garantida. Só em Lagos o atendimento poderá ser mais rápido.
Dois dias numa maca
Quem tem dinheiro para pagar acaba num dos hospitais ou clínicas particulares. O grupo Hospital Particular do Algarve possui unidades em Faro (Gambelas), Alvor e Portimão (São Camilo). Já o grupo da Caixa Geral de Depósitos HPP-Hospitais Privados de Portugal opera em Faro, São Gonçalo e Lagos e na Clínica do Infante, Portimão. A maior parte aceita seguros de saúde, tendo algumas restrições em relação aos funcionários com ADSE. Nalguns deles existem até equipamentos em falta no sistema público. Mas o responsável pela área de saúde da região, Rui Lourenço, avisa que as urgências dos privados não têm os mesmos recursos nem a mesma quantidade de serviços que os públicos: "Há coisas que lá não há, nem nunca haverá: cuidados intensivos ou anestesista, cirurgia e pediatria em permanência..." Aqui, os preços das consultas variam entre os 65 e os 70 euros, pagos na íntegra, se não se tem seguro nem ADSE.
Em Abril, ainda a vaga de turistas não tinha chegado, Isabel Ponte, de 84 anos, ficou dois dias numa maca no corredor das urgências do Hospital de Faro com uma pneumonia. O genro, Manuel dos Santos, conta que a idosa, também diabética, não se curou. Pelo contrário, a doença agravou-se e começou a apresentar "sinais de perturbação psíquica". Os médicos e enfermeiros com quem falou "acharam que deveria ser transferida para um espaço adequado ao seu estado clínico, mas não havia outro". Perante um desfecho que antevia dramático, Isabel Ponte pediu que lhe fosse dada alta, enquanto o genro lavrou um protesto no livro de reclamações da instituição. "Para morrer, que morra em casa, pois o hospital não dá a cura, precipita a morte", escreveu, sublinhando o "esforço dos clínicos" para resolverem uma situação que os ultrapassava.
No comments:
Post a Comment