Thursday 26 August 2010

EX-QUADROS DA JERÓNIMO MARTINS EM POSIÇÕES DE TOPO

Economia

Luís Amaral trocou a Jerónimo Martins por fundos de investimento. Depois comprou a polaca Eurocash à Jerónimo Martins e torna-a líder

Português reforça liderança no cash & carry polaco

A Eurocash é líder no sector alimentar grossista da Polónia. Pertence a Luís Amaral, um ex-quadro da Jerónimo Martins (JM). Nos supermercados, a JM lidera com a cadeia Biedronka. São concorrentes indiretos.

Se no retalho polaco os supermercados Biedronka , da Jerónimo Martins (JM), são líderes incontestados, na área grossista os maiores cash & carry também são de capital português.A liderança pertence à Eurocash (controlada pelo empresário Luís Amaral) e acaba de ser reforçada com a compra da Pol Cater, filial polaca da multinacional dinamarquesa Euro Cater, especialista no fornecimento a estações de serviço, restaurantes e empresas de catering. É a sexta compra de uma lista criada em 2003 e que ainda "vai a meio", segundo Luís Amaral.Desde que assumiu o controlo da Eurocash, há sete anos, investiu mais de €200 milhões em aquisições. Todas escolhidas a dedo, de forma a garantir a liderança nos vários segmentos do sector grossista em que opera.Com a Pol Cater, que emprega 170 pessoas e fatura €23 milhões, a Eurocash torna-se na maior fornecedora de hotéis, restaurantes e cafés. Já operava nessa área há dois anos, com a compra da McLane, uma empresa de logística que lhe permitiu fornecer estações de serviço e cadeias como a Pizza Hut, Burger King e KFC.

De quadro a rival da JM

"Não posso ter uma dimensão inferior à do maior retalhista", diz Luís Amaral. "A nossa luta no longo prazo, mais do que com os grossistas, é com os retalhistas.É com eles que os nossos clientes concorrem e nós temos de ter dimensão para oferecermos condições que lhes permitam ser competitivos", explica.Ironia das ironias, concorre com o retalhista onde, há 15 anos, foi um quadro-chave. Foi Luís Amaral quem implementou a entrada da JM na Polónia, precisamente através da aquisição da Eurocash.Comprou-a em 1995, em nome da JM, de onde sairia cinco anos depois para se tornar empresário na América Latina, como sócio dos fundos Antfactory (incubadora de Internet) e Laep (mediatizada já após a sua saída por ter comprado a Parmalat Brasil).Depois, quando a JM quis vender a Eurocash e focar-se na Biedronka, Luís Amaral comprou-a por €30 milhões, em 2003, através da sua empresa pessoal, a Politra, com sede na Holanda. Esta detém 52% da Eurocash.O restante está disperso por pequenos investidores e três fundos que são acionistas de referência: Aviva Powszechne Towarzystwo Emerytalne, ING Otwarty Fundusz Emerytalny e BZ WBK AIB Asset Management.

Dinheiro sempre em caixa

Há sete anos, quando a comprou, faturava €300 milhões, com prejuízos de €10 milhões. Agora, com 6 mil colaboradores, fatura €1,7 mil milhões e lucra €26 milhões. A meta é atingir vendas de €10 mil milhões, sem calendário definido. A estratégia de aquisições cirúrgicas começou em 2005, um ano após a Eurocash estar cotada na Bolsa de Varsóvia. Primeiro foram 17 cash & carry da MHC. No ano seguinte, mais duas. Primeiro a KDWT, distribuidora de tabaco e confeitarias. Depois o franchise dos supermercados Delikatesy Centrum. Em 2008, foi a vez da McLane. Este ano, mais duas: a CEDC, maior distribuidor de álcool polaco, e a Pol Cater. Foram todas compradas com capitais próprios, à exceção da CEDC, que foi financiada pela banca. "Estamos sempre a gerar dinheiro para as próximas aquisições".

A Eurocash não concorre diretamente com a JM na Polónia. Mas Luís Amaral, 48 anos, não facilitará a vida a Alexandre Soares dos Santos, o chairman da JM que conheceu na Unilever, há 26 anos, ao estrear-se como marketeer. Depois tornou-se diretor de marketing da Nissan e quadro da JM - na Polónia cinco anos, e depois na holding apenas por alguns meses, até se tornar empresário.

Universo Cash & Carry

Depois de ser comprada à JM, em 2003, por €30 milhões, a Eurocash já investiu €200 milhões em seis aquisições. E ainda faltam outras tantas . A primeira compra foi em 2005: 17 cash & carry da MHC . Em 2006, pagou €15 milhões pela KDWT, de tabaco e €40 milhões por 150 lojas do franchising Delikatesy Centrum . A quarta compra foi a empresa de logística McLane, por €20 milhões, em 2008 . Este ano, já foram duas. Em Abril, foi o maior distribuidor polaco de bebidas alcoólicas, a CEDC, por €103 milhões, e agora a especialista em serviços de catering, restaurantes e estações de serviço Pol Cater, cujo valor não foi divulgado

Escola Jerónimo Martins lança 'alunos' pelo mundo

Da Polónia à Noruega, passando por Angola, são vários os gestores que saíram da JM para cargos de topo noutras empresas Um dos melhores 'alunos' da Jerónimo Martins (JM) está no grupo holandês Ahold. Chama-se António Soares e é o presidente-executivo da ICA, subsidiária da Ahold, na Noruega, que fatura €2,5 mil milhões, com 600 lojas.Há dois anos que lá está, mas já foi há oito que se estreou na Ahold. Entrou pelos países bálticos, vindo da JM Dystrybutia, líder neste país. Foi o segundo presidente-executivo da operação polaca da JM, hoje liderada por Pedro Silva.Só lá esteve um ano, entre 1999 e 2000, na ingrata altura em que um problema de software descontrolou os stocks e afundou todo o grupo numa dívida que obrigou a vender ativos não estratégicos, como as participações no BCP e na Oni.Deixou a JM por questões familiares e após 18 meses 'sabáticos', entrou na Ahold para 'dar a volta' a "um mercado de grande fragilidade e com uma concorrência pouco escrupulosa".Foi responsável pelas operações na Estónia, Letónia e Lituânia, até 2008. A última fechou agora, sem rentabilidade.O convite da Ahold baseou-se num currículo que inclui 13 anos na área de vendas e marketing da Colgate-Palmolive e 11 anos na JM, seis deles como presidente-executivo dos supermercados Pingo Doce. Convidou-o o presidente europeu da Rimi, cadeia da Ahold que opera no formato de preços baixos, como a polaca Biedronka, da JM. São, aliás, quase 'primas'. A Ahold é acionista da JM Retalho, embora esteja há quatro anos a negociar a saída.Trabalhar numa empresa familiar como a JM, liderada por Alexandre Soares dos Santos (atualmente presidida a nível executivo pelo seu filho Pedro), não foi problema. "Já tinha sido quadro superior em duas empresas de cariz familiar (a Fábrica Portugal e a Lima Mayer). A JM tinha bons quadros familiares e uma qualidade de quadros não-familiares de fazer inveja a muitas companhias estrangeiras", diz António Soares.

Formação garante êxito

Outro ex-JM, Paulo Carvalho, está em Angola a dirigir o arranque dos 60 supermercados Mel e dos cash & carry King Market, do grupo angolano Score, com consultoria da própria JM. Todos estes gestores tiveram intensas lições no terreno e em escolas de negócios como o Insead, pagas pela JM.Alexandre Soares dos Santos, não se cansa de frisar a importância da formação e da perseverança. "Se julga que já recebi de volta todo o dinheiro que pus na Polónia, não recebi. Mas estamos lá para os próximos 30 anos", disse no programa "Plano Inclinado", de Mário Crespo, na SIC Notícias. Foi da Polónia, com a Biedronka, que veio 51% dos €7,3 mil milhões que a JM faturou no ano passado.

Texto publicado no caderno de Economia do Expresso de 21/08/2010

Marisa Moura (www.expresso.pt)

EXPRESSO ONLINE 25-08-2010

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