Friday 27 August 2010

DUARTE D'OREY

Herdou um negócio de navegação quando sempre quis ter um banco

Não fosse a determinação e ambição de Duarte d"Orey e quase se poderia dizer que a sua entrada na empresa da família, em 2003, mais parecia um erro de "casting". Aos 32 anos, o jovem gestor assumiu as rédeas de um negócio secular, fundado pelo seu bisavô em 1886 e que cresceu em torno da navegação marítima.

Não fosse a determinação e ambição de Duarte d'Orey e quase se poderia dizer que a sua entrada na empresa da família, em 2003, mais parecia um erro de "casting". Aos 32 anos, o jovem gestor assumiu as rédeas de um negócio secular, fundado pelo seu bisavô em 1886 e que cresceu em torno da navegação marítima.

Duarte herdava um negócio de barcos quando, na realidade, o que sempre quis foi ter um banco. O percurso já vinha a ser feito e a afinidade com a área financeira era, por demais, evidente.

Começou a estagiar na sala de mercados do Citibank era ainda estudante de Gestão na Católica. Aí, fez de tudo, "desde servir cafés a ir a leilões do Banco de Portugal e a experimentar os carros da rapaziada que lá trabalhava", recordou numa entrevista ao Negócios em Novembro de 2005.

Recém licenciado, entra na União de Bancos Portugueses em 1994, instituição que viria a ser comprada pelo Banco Mello para o qual Duarte d'Orey transita ficando como responsável pela área de mercados e, posteriormente, da tesouraria. Foi aí que se cruzou com Luís Pereira Coutinho, o seu "melhor chefe de sempre" e uma figura "fundamental" na carreira.

Em 99, decide lançar-se em voos mais altos e cria o First Portuguese Opportunity Fund, introduzindo novas classes de activos e investimentos alternativos no mercado português. Entre estes, os fundos de futebol que viriam a ajudar a projectar a notoriedade do grupo Orey. Em especial quando, no âmbito de um acordo com o Sporting Clube de Portugal, o fundo passa a deter percentagens de relevo dos passes de vários jogadores, entre os quais Cristiano Ronaldo, que estava na sua carteira quando se concretizou a transferência para o Manchester. Um negócio proveitoso.

O negócio corria bem a Duarte d'Orey. Tão bem que foi no seu músculo financeiro que a família encontrou solução para garantir que o negócio, em risco de ser adquirido por terceiros, pudesse continuar em mãos d'Orey. Mesmo assim, a questão não terá sido pacífica. Mas ao adquirir 12,5% do grupo, que pouco depois crescem para 60% através de uma operação de "leverage buy out", Duarte d'Orey assegura os comandos da empresa. No papel, o grupo Orey compra o First Portuguese Group. Mas na prática, foi como se este tivesse adquirido o grupo. Duarte d'Orey estava longe de ser o tal erro de "casting".

Desde então, a aposta do grupo na área financeira tem sido crescente. E num recente auto-balanço sobre os seus 10 anos de empreendedorismo, Duarte d'Orey voltou a frisar que o foco é claro: "transformar a Orey numa empresa de investimentos". Na última assembleia-geral do grupo, no passado dia 1 de Junho, a Orey aprovou já a venda das suas actividades tradicionais a um fundo de "private equity", constituído pelo próprio grupo. Sob a gestão do Orey Capital Partners ficarão todas as actividades não financeiras.

Bom gestor de passivos

Hoje com 38 anos, casado e pai de cinco filhos, Duarte d'Orey propõe ser a solução para o Banco Privado Português. Se o negócio se concretizar, a troco de um euro, o grupo Orey ficará com um banco que tem a sua credibilidade afectada, um grupo de clientes com investimentos furados e um buraco financeiro que exigiu uma injecção de 450 milhões de euros protagonizada por um consórcio de bancos e com garantia estatal. A missão soa difícil. Mas há quem diga que Duarte d'Orey gosta mesmo de um bom desafio. E mesmo entre aqueles que não morrem de amores por ele, há quem lhe reconheça "brilhantismo técnico" e uma vulgar aptidão para o risco. É um empresário "com uma coragem acima da média, que faz acontecer e que ganha mais do que perde", descreve uma fonte.

A gestão de passivos parece ser um dos seus fortes. E a auto-estima um dos seus grandes activos. Duarte d'Orey é conhecido no mercado como pessoa de grande ego, "muito vaidoso" e esta é uma faceta que gera anticorpos. Por parte de um amigo, a resposta surge pronta: "Dizem mal dele, mas o que têm é inveja!".

13 Julho 2009

Jornal de Negócios

DUARTE D'OREY: AMBICIOSO E DESTEMIDO

Tem apenas 38 anos e um plano para salvar o Banco Privado Português (BPP) da falência. Pragmático mas também intuitivo, serviu cafés no Citibank e geriu uma carteira de acções aos 16 anos.

Estudava no liceu Maria Amália, mas entre uma aula de Matemática e outra de Português Duarte d'Orey, na altura com 16 anos, corria para a Bolsa de Lisboa. O seu pai, que trabalhava no Brasil, tinha-lhe deixado uma tarefa de peso: gerir uma carteira de acções da empresa familiar, a Orey Antunes. Foi o primeiro treino intensivo do adolescente para uma carreira dedicada ao sector financeiro. Hoje, aos 38 anos, o empresário mantém o espírito destemido dos tempos de juventude e propõe-se a acabar com o longo e penoso caminho para a falência do BPP. A proposta de viabilização da Privado Holding, dona do Banco Privado Português, que pretende reembolsar os clientes do retorno absoluto e recapitalizar a instituição, já está nas mãos do Governo e do Banco de Portugal, que devem pronunciar-se no início da próxima semana.

Nascido em Luanda em 1971, Duarte d'Orey não foi um aluno brilhante no liceu, muito menos na Universidade Católica, onde se formou em Gestão de Empresas sem honras nem distinções. Queria trabalhar rapidamente, por isso a meio do curso resolveu telefonar para o Citibank a pedir trabalho. Acenou com a experiência como corretor da carteira de acções do seu pai e disse que gostava de transaccionar no mercado de capitais. Contrataram-no para servir cafés e fazer trabalhos de estafeta. Ganhou tarimba, garante hoje aos seus colaboradores. Foi dealer do mercado monetário, derivados e câmbios no mesmo banco, e esteve na União de Bancos Portugueses, entretanto comprada pelo grupo Mello, onde trabalhou como tesoureiro. Há dez anos arriscou em nome da ambição, mas deu-se mal. Saiu do Banco Mello e criou o primeiro hedge fund português com dez milhões de euros angariados a vários investidores. Por azar, nessa altura, um dos maiores hedge fund dos Estados Unidos - Long Term Capital Management - faliu e deixou uma marca negativa neste tipo de instituições em todo o mundo, incluindo em Portugal. Por contaminação da situação internacional, os investidores portugueses recuaram e Duarte d'Orey ficou apenas com um cliente e um milhão de euros para investir. Em 1999, o empresário fundou o First Opportunity Fund, estabelecendo investimentos alternativos no mercado nacional, e um ano mais tarde nasceu o First Portuguese SGPS, uma das primeiras empresas de gestão de activos do País. Com o objectivo de inovar constantemente, introduziu no mercado fundos de investimentos sobre passes de jogadores de futebol. Os do Sporting foram um sucesso, os do Porto menos, e os do Boavista revelaram-se uma desgraça.

Pouco tempo depois, perante uma disputa na sucessão da Orey Antunes, Duarte d'Orey, que fizera um percurso à parte da empresa que está há 120 anos nas mãos da sua família, lançou uma OPA e adquiriu a instituição procedendo a uma reestruturação assente na criação de sub-holdings por áreas de actividades. A revolução não foi pacífica e alguns familiares não gostaram das novas ideias. Hoje, a empresa está focada fortemente no sector financeiro e cada vez menos nas suas áreas tradicionais (ver caixa).

No trabalho, o empresário invoca muitas vezes os valores do râguebi, desporto que jogou durante anos como federado no CDUL e na selecção: humildade para aprender, solidariedade e lealdade, sacrifício, compromisso e respeito pelos companheiros.

Para descontrair gosta de ao fim-de-semana ir para a quinta que tem no Alentejo ou ficar na sua casa no bairro da Lapa na companhia da mulher, Mónica Lima Mayer Alves Moreira, e das cinco filhas. Acusam-no de ser vaidoso mas uma fonte próxima do empresário disse ao DN que o seu aspecto físico sempre suscitou "inveja". O certo é que não descura a imagem. Até pode ir trabalhar vestido de forma descontraída, mas se tiver uma entrevista agendada com a imprensa muda para um fato mais formal. Viaja em classe económica e prefere gastar mais em bons hotéis e ficar bem instalado.

Os amigos dizem que detesta a exposição pública, excepto quando isso beneficia o seu trabalho, mas evita ser fotografado em eventos sociais. Líder nato, ambicioso, diz que gosta de psicologia e acredita que consegue ler o olhar de qualquer pessoa. Muitas vezes funciona por intuição. Uma vez decidiu comprar uma casa sem a ver por acreditar, pela descrição, que era perfeita. Nos negócios é mais pragmático e calculista e os seus detractores dizem que faz qualquer coisa para que o seu nome fique gravado nos manuais da economia.

por RITA ROBY GONÇALVES

DIÁRIO DE NOTÍCIAS 10 Julho 2009

QUANDO A OREY ANTUNES QUIS COMPRAR O BPP

Caso BPP: Orey Antunes compra BPP por um euro

O Grupo liderado por Duarte d Orey vai entrar no capital da Privado Holding

Concretizou-se o negócio de compra do BPP que o Expresso noticiou em primeira mão, no último sábado. Custo da operação: um euro.

A Sociedade Comercial Orey Antunes informou hoje a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários ter adquirido a totalidade do Banco Privado Português (BPP) e de duas empresas holding do Grupo Privado Português pelo preço simbólico de um euro.

"No seguimento do comunicado divulgado no dia 4 de Julho de 2009, a Sociedade Comercial Orey Antunes, S.A. (SCOA) vem informar que acordou hoje a aquisição, pela sua participada Orey Financial, Instituição Financeira de Crédito, S.A. (Orey Financial), da totalidade do capital do Banco Privado Português, S.A. (BPP) e de duas empresas Holding do Grupo Privado Holding (Gest Advisors, Ltd. e Pcapital, SGPS, S.A.), pelo preço total de um Euro", refere a nota enviada à CMVM.

O acordo alcançado encontra-se "sujeito à verificação de determinadas condições, em particular da autorização do Banco de Portugal", adverte o comunicado.

Tendo em atenção a actual situação financeira do BPP, a Orey Financial acordou que "seja de imediato submetido à aprovação das entidades públicas e privadas relevantes, por parte da administração do BPP, um plano de recapitalização para a recuperação e saneamento" daquela instituição bancária.

Simultaneamente, a Orey Financial apresentará um programa de reestruturação do produto "Retorno Absoluto - Investimento Indirecto com Garantia" do BPP que visa assegurar aos clientes que subscreveram este produto uma solução de recuperação a médio prazo do capital investido, refere a nota à CMVM.

A aquisição do BPP e das duas sociedades pela Orey Financial enquadra-se na estratégia já anunciada de "centrar a actividade do Grupo Orey na área financeira, desenvolvendo as actividades não financeiras através de um fundo de Private Equity, denominado Orey Capital Partners", conclui o comunicado.

Negócio precisa de parecer do Banco de Portugal
O porta-voz da Associação Privada de Clientes, Jaime Antunes, comenta que a compra do Banco Privado Português (BPP) "é uma boa notícia", mas está "dependente do parecer das entidades oficiais", como o do Banco de Portugal.

O porta-voz dos clientes reforça que "uma mudança accionista num banco precisa do parecer favorável, vinculativo e decisivo do Banco de Portugal", que "ainda não se pronunciou". Para Jaime Antunes, "sempre que há uma perspectiva de solução para o banco, é uma boa notícia".

"A solução do Governo foi abandonar o banco e os clientes. Esta solução [compra do banco] em comparação com o que existe é boa, mas não é uma solução perfeita, porque perfeita era receber o dinheiro que lá está e está congelado há oito meses", refere.

Entretanto, o representante dos clientes do BPP Durval Padrão diz ter esperança de que a situação dos depositantes "evolua no bom sentido" após a aquisição do banco anunciada pela Sociedade Comercial Orey Antunes.

10 de Julho de 2009

I ONLINE
Comunicado

Domus e Orey cancelam aliança

Duarte d'Orey ofereceu um euro para comprar o BPP

A compra de 25% da Orey Financial pela Domus, vista como uma aliança para a eventual compra do BPP e do BPN, não se vai concretizar.

"A Sociedade Comercial Orey Antunes informa que o acordo para a abertura de 25% do capital da sua participada Orey Financial ao Grupo Domus não se irá concretizar nos moldes anunciados", lê-se num comunicado enviado ao regulador do mercado, onde se justifica o cancelamento do negócio com a "actual conjuntura macroeconómica menos favorável".

A aliança entre o Grupo Orey e a Domus fora anunciada em Dezembro do ano passado, surgindo depois dos dois grupos terem manifestado interesse no BPP e no BPN. A Orey tinha oferecido um euro pelo BPP e a Domus assumido publicamente estar de olho no BPN.

O acordo entre os dois grupo é agora limitado ao "objectivo de analisar e explorar oportunidades conjuntas num modelo de parceria e colaboração contínua, nomeadamente na área de gestão de créditos vencidos, em particular no mercado brasileiro, e na área dos fundos imobiliários".

I ONLINE 24/08/10

Pedro Latoeiro

DUARTE D'OREY: O HOMEM QUE QUIS SALVAR O BPP

Banca

Duarte d'Orey

Quem é o gestor que quer salvar o Banco Privado Português?

É o rosto da revolução que transformou o centenário grupo Orey Antunes na holding financeira que quer ser a solução para impedir a falência do BPP.

Parece ter-se aberto um caminho para se encontrar uma solução para o Banco Privado Português (BPP). O futuro de accionistas, de clientes e do banco, entre os quais estão figuras mediáticas como o novo treinador do Benfica, Jorge Jesus, passa agora pela Orey Antunes, sociedade com mais de um século de existência e que na última década passou de empresa familiar da área de navegação para instituição financeira dinâmica e arrojada. Características bem vincadas na personalidade do seu líder Duarte d' Orey que, aos 38 anos, não esconde a ambição de fazer da Orey Antunes um dos grupos financeiros de primeira linha em Portugal.

"É metódico e inteligente como muitos, mas corajoso e ambicioso como poucos." As palavras são de um dos colaboradores mais próximos do gestor na Orey Financial, a sub-holding financeira do grupo Orey Antunes que Duarte d'Orey "assume como uma aposta pessoal", assegura. "Sagaz e perspicaz". São outras das expressões usadas para descrevê-lo.

A confirmação das negociações com a Privado Holding, dona do BPP, não surpreende. "Além de um bom negócio, o Duarte também gosta muito de ter visibilidade pública", garante o mesmo colaborador. Foi, justamente, isso que conseguiu quando em 2002 lançou os primeiros fundos de investimento em futebol, através do First Portuguese Group, entretanto integrado na Orey Financial, e que há ano e meio garantiram-lhe presença na capa do "Wall Street Journal". Antes tinha passado pelo Banco Mello e foi pioneiro em operações com hedge funds (fundos de cobertura de risco).

Através de participações em passes de jogadores de futebol do Sporting, Porto e Boavista, Duarte d' Orey afirmou-se no sector da gestão de activos nacional. Mas a ambição era maior e acabou por ganhar o controlo accionista da empresa familiar Orey Antunes, na sequência do lançamento de uma oferta pública de aquisição. O processo de ascensão terá criado alguma divisão dentro do numeroso núcleo de accionistas familiares.

Com a chegada à presidência, em 2003, Duarte d' Orey põe em marcha uma reestruturação que passou pela criação de sub-holdings por áreas de actividade. Aquele que foi o seu negócio tradicional, o agenciamento de armadores internacionais perde peso, até porque foi afectado pela crise no mercado da marinha mercante que levou os grandes armadores a cortarem nas comissões às agentes locais. A Orey ainda mantém operação na área da navegação, mas a gestão de activos tem vindo a ganhar importância e será no desenvolvimento desta vertente que se insere o interesse no BPP.

Ainda recentemente, o grupo revelou mais um passo na refocagem de actividades que passa pela venda das participações nas áreas não financeiras. Foi anunciada a alienação das sociedades Orey Antunes Agencies, Orey Antunes Technical, Orey Antunes Shipping e Orey Antunes Internacional a um fundo de capital de risco por um valor global de 33,3 milhões de euros. O objectivo, explicado após a assembleia-geral de 1 de Junho, é a transformação da Orey numa holding de investimentos constituídas por participações em empresas e investimentos no mercado financeiro, incluindo fundos de private equity, fundos imobiliários e fundos mobiliários. Uma estratégia que aproxima o grupo do BPP.

Publicado em 06 de Julho de 2009

I ONLINE

DUARTE D'OREY: APRENDI MUITO COM O PROCESSO DO BPP

Entrevista

Se Deus quiser nunca hei-de passar fome, porque sei fazer muitas coisas

Duarte D’Orey, 38 anos, empresário na área financeira, surpreendeu pela coragem e capacidade de apresentar soluções para a complicada situação do BPP. O negócio não se concretizou, mas considera que valeu a pena. Inovador, foi capa do “Wall Street Journal” no dia em que lançou o primeiro fundo de passes de jogadores de futebol a nível mundial. Nunca deu uma entrevista em que falasse da vida privada. Aceitou o desafio e a conversa fluiu naturalmente.

Qual é a ressaca do negócio do BPP?

[sorriso] A ressaca é positiva e tudo tem o seu lado bom. Eu olho sempre para o lado positivo das coisas, mesmo quando elas não acontecem como eu gostava que acontecessem. Foi o caso.

Para si não era evidente que o desfecho fosse negativo para as suas pretensões?

Não, longe disso. Acho que a história ainda não acabou e, apesar de tudo, aprendi imensas lições e estou muito contente com isso.

O que é que aprendeu?

Conheci muitas pessoas que não conhecia e descobri gente encantadora e muito competente. Por outro lado, aprendi que a política é muito mais complicada do que parece e tem um modus operandi diferente do dos negócios, que muitas vezes não consigo entender.

Qual seria a lógica natural de evolução do processo BPP?

Como considero que é um tema que não está fechado, prefiro não falar mais dele agora. Independentemente do desfecho que venha a ter, todo o processo foi muito positivo, porque aprendi imenso.

O facto de parecer muito novo tem prejudicado a carreira profissional?

[sorriso] Não me prejudica nada. Pelo contrário: às vezes até sou subestimado em termos negociais, mas ao fim de 30 segundos percebem logo com quem estão a falar.

Acha que as pessoas esperam menos de si por ter o ar que tem?

Por vezes chegam a achar que são favas contadas. Já não me chamavam "menino" há uns anos, mas antigamente também chamavam e depois arrependiam-se. Não tenho problemas nenhuns com o ar que tenho nem com o facto de ser novo. Já fiz muita coisa e sempre dei provas com factos. É assim que vou continuar. Um dia hei-de ser velho e não tenho medo disso.

A partir de que idade se é velho?

Não sei. A idade é um estado de espírito e, nesse sentido, espero nunca ser velho. Para mim, ser velho de espírito é passar a vida a olhar para o espelho retrovisor. Eu olho quase sempre pelo pára-brisas. 90% do meu tempo é a olhar para o pára-brisas e 10% para o retrovisor. Envelhecemos quando passamos tanto tempo a olhar para o espelho retrovisor que não conseguimos guiar o carro.

Aos 38 anos, com cinco filhas e um percurso profissional tão cheio, qual é a sua obra maior?

A minha família! Profissionalmente valorizo o conjunto das coisas, mas gostei particularmente de fazer o primeiro hedge fund em Portugal em 1999. Foi começar do zero e foi o meu arranque como empresário. Também me deu um prazer especial fazer a OPA sobre a Orey Antunes em 2003. Houve uma solicitação familiar para ajudar numa transição de gerações e resolver um conflito, eu respondi a esse chamamento e acho que consegui resolver o problema. Também me deu imenso gozo comprar a Agemasa Global, que era uma operação que estava completamente perdida e no dia em que ia ser comprada decidimos ir a Madrid tentar 'entrar nos sapatos do comprador'.

Essa expressão - 'calçar os sapatos dos outros' - é dos índios, que acreditam que só conseguimos perceber verdadeiramente os outros quando calçamos os seus sapatos. Usa-a com este sentido ou por pertencer à sua gíria profissional?

[sorriso] Por acaso entrei nos sapatos de um comprador que era indiano, mas a quem os espanhóis chamam índios. Tomei a posição que ele ia tomar, entrei na sua posição contratual e, depois, fui negociar com o vendedor.

Ser pai de cinco raparigas é obra. Qual é o sentimento de um homem cuja vida familiar é rodeada de mulheres?

É uma grande obra [risos]. E é um sentimento fantástico. As minhas filhas não são minhas no sentido da posse, vieram simplesmente através de mim, e o meu papel é educá-las. Dar educação é dar ferramentas para que elas consigam mais tarde seguir o seu caminho, viverem, sobreviverem, serem felizes, fazerem outros felizes, encontrarem-se a elas próprias, poderem ajudar os outros, enfim... tudo isso.

A vida surpreendeu-o com cinco filhas, ou não?

[risos] A vida deu-me provavelmente aquilo de que eu precisaria. Aceito com humildade o que recebi da vida e adoro ser pai das minhas filhas. São maravilhosas, espectaculares, cheias de alegria e de personalidade. Revemo-nos aos bocadinhos nelas, mas é como se elas nos devolvessem um 'nós' melhor.

O que é que as suas filhas lhe revelaram sobre si próprio?

Imensas coisas. Elas têm uma maturidade brutal, que nunca esperaria nestas idades (entre os três e os 13). Todos os anos fazemos uma avaliação do pai: eu pergunto-lhes se acham que sou justo, se estudo com elas, se passo tempo suficiente em casa, e elas dão-me notas.

Como é que tem sido a sua avaliação?

De uma forma geral tem sido boa [risos]. Elas não são suficientemente imparciais!
Nada. Acabam sempre por me dar melhores notas do que mereço. Mas as mais velhas começam a ser mais objectivas na avaliação e isso também me dá sinais.

Tem tempo para a vida de família?

A minha mulher é um pilar na educação das nossas filhas e liberta-me tempo para o trabalho. Normalmente estou livre ao fim-de-semana, de manhã tomo quase sempre o pequeno-almoço em casa e à noite ainda consigo estar com a família à hora do jantar.

Ao contrário do que muitos imaginam quando olham para si e vêm apenas um homem novo, bonito, rico e com sucesso, também viveu situações muito dramáticas. Ficou marcado?

Vivi momentos muito bons e momentos muito maus e todos me marcaram. Já estive em ambos os lados da vida e estou perfeitamente tranquilo numa ou noutra circunstância. Tive um pai excepcional e tinha uma relação muito afectiva com ele. Herdei dele aquilo que nunca ninguém me vai poder tirar: uma educação fantástica. Não herdei dinheiro mas herdei uma educação que me permitiu trabalhar e construir tudo o que construí até agora. Não é muito mas é meu, fui eu que o fiz e ninguém me deu nada.

Como era o seu pai?

Era uma pessoa com uma profundidade invulgar, falava sete línguas, era um estudioso de literatura, da Bíblia, das várias culturas, adorava autores russos, ouvia canto gregoriano, tinha uma personalidade forte e uma capacidade de amar enorme. Era um ser humano excepcional, com uma sensibilidade, uma inteligência e uma profundidade intelectual como nunca conheci ninguém. Existia entre nós uma afectividade gigante e ele deu-me a capacidade de sonhar, de pensar, de ver e de criar. A minha mãe é mais "pés no chão", deu-me um espírito mais pragmático e a capacidade de executar. Sou uma combinação destes genes.

A morte do seu pai marcou um antes e um depois na sua vida, portanto.

Perdi o meu pai há sete anos, mas tive a felicidade de ele me morrer nas mãos. Tinha sido operado, estava nos cuidados intensivos, e nesse dia senti que ele estava à espera de mim para morrer. Dei-lhe a mão e disse: "Pai, pode ir embora que eu estou aqui." Passado pouco tempo as máquinas começaram a apitar e ele começou a ir embora. Eu sinto que entreguei o meu pai nas mãos de Deus. Foi uma honra ele ter morrido de mãos dadas comigo, senti-me honrado com isso. Foi, ao mesmo tempo, um momento de dor e de perda, mas também maravilhoso, em que o sentimento é ter entregue um pai que parte com a missão cumprida.

Quantos irmãos tem?

Éramos três. No ano a seguir perdi o meu irmão mais velho de forma trágica e isso foi uma grande violência. Foram duas mortes muito próximas. Não era suposto sentar-me à cabeceira da mesa com a minha mãe e, no espaço de um ano e um mês, passei de número três na hierarquia dos homens lá em casa para número um. Foi brutal.

Mudando radicalmente de assunto: há pouco sugeriu que não é rico, mas há quem ache que é muito rico...

[risos] Para mim, a utilidade marginal do dinheiro é negativa, este é um dos conceitos que tem pautado a minha vida de empresário: só tenho uma boca, o dia só tem 24 horas, as minhas filhas não comem mais bifes e, por isso, o dinheiro para mim é um tema que não aquece nem arrefece.

Isso é fácil de dizer quando não falta dinheiro...

Mas repare que já me faltou dinheiro. Já passei por isso. Vivi com muito pouco dinheiro quando tinha 16 anos e não era menos feliz por isso. Não passei fome, mas não havia dinheiro nenhum para gastos supérfluos.

Podemos considerar pouco dinheiro para a sua condição social, é isso?

Não, podemos considerar objectivamente pouco dinheiro. Mas gostava de retomar o conceito de utilidade marginal do dinheiro para dizer que a partir do momento em que se atinge um determinado conforto e qualidade de vida, isso não implica maior utilidade. Ou seja, passamos a fazer as coisas por um bem maior que não é o dinheiro e este passa a ser uma consequência.

A partir dessa margem de conforto qual é o critério?

A partir daí o jogo muda e é fantástico porque passamos a pensar não naquilo que me vai trazer mais dinheiro mas naquilo que me vai fazer feliz e sentir mais realizado. Isto, aplicado em termos empresariais, em projectos que me realizem, que acho bons e em que acredito. Projectos que permitam criar empregos e potenciar o desenvolvimento. Existe uma série de outros valores em que acreditamos e que se forem bem feitos podem criar imensa riqueza.

O que me está a dizer é que se sente livre para medir os seus lucros não apenas pelo dinheiro que ganha mas pela quantidade de postos de trabalho que cria e de projectos que sustenta? Essa é a lógica dos empreendedores sociais. Mas é também a sua?

Quando tudo isso é bem feito, o dinheiro vem como consequência. Por outras palavras, quando o critério é exclusivamente o dinheiro, tomam-se decisões muito mais de curto prazo. De outra forma conseguimos tomar mais decisões de médio e longo prazo. Conseguimos ir atrás de projectos menos prováveis mas com um valor intrínseco maior.

Não toma decisões em função do dinheiro?

Não tomo decisões com base na ideia de maximizar o dinheiro. Se tomasse as minhas decisões segundo esse critério, hoje não estaria onde estou.

Era mais rico?

Em Junho de 2007 era certamente mais rico, mas hoje até estaria provavelmente mais pobre.

Não teria conseguido atravessar a crise?

Se calhar na crise tinha-me magoado. Nunca teria feito o negócio da Orey, ter-me-ia focado muito mais na área financeira e a um nível institucional. Teria seguido de outra maneira, teria ganho mais dinheiro e até teria uma dimensão maior, mas se calhar nesta crise tinha apanhado forte e feio e poderia estar fora de jogo como alguns estão. A curto prazo teria ficado mais rico, mas agora poderia estar pior do que estou.

"Greed and fear" é uma lógica que reina no mundo das finanças em que as pessoas oscilam entre a ganância e o medo de arriscar. Como é que lida com esta amplitude de atitudes?

Medo, não tenho. Só temo a justiça divina. Ganância também não, na medida em que, como já disse, a utilidade marginal do dinheiro para mim é negativa. Tenho, por princípio, nunca fazer aos outros o que não gostava que me fizessem a mim. Essa é a minha ética nos negócios. Ser banqueiro não é apenas ter uma licença bancária, é ser confiável e também ser capaz de confiar. Quem não é capaz de confiar, não é confiável.

Enquanto banqueiro como lida com o descrédito que fatalmente vem associado ao caso Madoff e, noutra escala, aos casos nacionais?

Madoff não era banqueiro no sentido em que ele não confiava. Em teoria era confiável mas a sua prática provou o contrário. As pessoas confiavam nele mas ele não confiava em ninguém, na medida em que confiar é dar crédito. Ser confiável é receber depósitos. O banqueiro, no sentido estrito da palavra e no modelo clássico de banco, é alguém que, por um lado, é confiável para receber os depósitos das pessoas mas, depois, também é capaz de confiar nas pessoas para lhes dar crédito. Nesta lógica o verdadeiro banqueiro tem de saber confiar.

Como é que o cidadão comum sabe se este ou aquele banqueiro são realmente confiáveis?

A banca tradicional não foi tão afectada como a área financeira, nomeadamente os gestores de fundos como o Madoff. Na banca à antiga, digamos assim, a confiança não foi tão afectada, aliás os depósitos aumentaram significativamente nas instituições. No nosso modelo de negócio tentamos encontrar pessoas com talentos e confiar nelas, dando-lhes crédito e também capital. As pessoas percebem que se sabemos confiar é porque também somos confiáveis.

O que é que se imagina a fazer durante toda a vida?

Isto. Ser banqueiro, receber depósitos e dar crédito. Sempre quis ser banqueiro e sempre mexi com dinheiro.

Que outros talentos tem?

[pausa] Sou óptimo cozinheiro, posso ser skipper de barco, equitador, instrutor de esqui de neve, guia turístico, tradutor de inglês... [risos] Se Deus quiser nunca hei-de passar fome, porque sei fazer muitas coisas. A minha atitude é fazer tudo de forma honrada e andar sempre de cabeça erguida. Não tenho quaisquer problemas em fazer o que quer que seja

Quando cozinha, o que é que cozinha?

Um pouco de tudo. Entre o Natal e o Ano Novo faço sempre umas perdizes de escabeche e uns faisões com vinho tinto, que eu próprio caço. Mas também adoro bacalhau à Brás, bacalhau na brasa, migas à alentejana, enfim, gosto muito da cozinha portuguesa tradicional. Faço uma boa sopa de peixe.

Acha-se bonito?

Não me acho feio, mas também não me acho especialmente bonito [risos].

A imagem que os outros têm de si confere com aquilo que realmente é ou há margem de erro na leitura?

Acho que a leitura que fazem de mim é bastante diferente daquilo que sou. Há quem ache que sou muito frio, muito pragmático, arrogante, calculista e até um pouco agressivo, mas é uma leitura distorcida.

É a sua maneira de criar distância, de se proteger?

Não, eu não crio distância. Sei que tenho traços diferentes dos portugueses. Aqui sou diferente, mas na Suécia sou igual aos outros todos. Por outro lado, sou muito directo e frontal, olho as pessoas nos olhos, entro nos sítios e olho à minha volta, vejo o que se passa, quem está. Não olho com agressividade, simplesmente olho a direito, faço perguntas, gosto de ser frontal e isso pode ser confundido com provocação e arrogância. Não gosto de perder tempo nem de fazer ninguém perder tempo e vou directo aos assuntos. Por vezes, confundem firmeza com frieza.

O que é a felicidade para si?

É um percurso de liberdade positiva no sentido da liberdade interior que nos permite fazer escolhas independentemente das pressões sociais. Gostava de fazer uma volta ao mundo de barco à vela porque gosto muito do mar e ele dá-nos a verdadeira dimensão de quem somos. Gosto de me sentir pequeno e o mar dá-me isso. Uma coisa boa dos mercados financeiros é que nos dão humildade todos os dias e eu gosto disso.

I ONLINE

por Laurinda Alves, Publicado em 27 de Agosto de 2009

HP MAIS "SEXY" APÓS A SAÍDA DE MARK HURD

A perda de valor das ações devido ao escândalo sexual protagonizado pelo presidente executivo Mark Hurd deixou os títulos da empresa apetecíveis para os investidores.

A saída de Mark Hurd fez as acções da HP perderem mais de 13%

A Hewlett-Packard (HP), conhecida dos consumidores e dos investidores devido à sua forte presença no mercado de computadores e impressoras, tem andado nas bocas do mundo devido à saída do seu presidente executivo, Mark Hurd , por este ter alegadamente falsificado relatórios de despesas de jantares com uma consultora do departamento de marketing que depois o acusou de assédio sexual. Em consequência, a saída de Mark Hurd fez as ações da empresa perderem mais de 13% nas sessões entre 9 e 12 de Agosto, o equivalente a onze mil milhões de euros em termos de capitalização da empresa.

O peso de Hurd

Que razões levaram a este pânico por parte dos investidores da empresa? Mark Hurd foi nomeado presidente executivo da HP em Março de 2005, após a compra da Compaq pela HP ter gerado resultados inferiores ao esperado, o que levou à substituição de Carleton Fiorina , presidente executiva na altura. Desde então a empresa obteve subidas nas suas receitas e lucros, tendo passado de 68 mil milhões para 83 mil milhões de euros de receitas, entre 2005 e 2009, a que correspondeu um aumento no lucro de 1894 milhões para 5613 milhões de euros no mesmo período.

Neste período a HP efetuou vários cortes de despesas e focou-se no fornecimento de serviços e desenvolvimento de software, que passou de 38% das receitas para 46%, devido às fracas perspetivas da área de negócio das impressoras e digitalizadores. Esta área viu o seu peso diminuir de 28% para 20%, entre 2005 e 2009. Mas, além do corte de custos, a HP também apostou no crescimento por aquisições, tendo adquirido em 2008 a Electronic Data Systems, fornecedora de soluções de software e em 2010 a Palm, considerada por muitos como a empresa mãe dos PDA, personal digital assistants.

4 razões para investir

Esta descida das ações é interpretada por muitos analistas e comentadores como uma altura ideal para se tornar acionista da HP ou aumentar o número de ações detidas. De acordo com um artigo publicado no site do MarketWatch , existem quatro razões principais para "apostar" na HP. A principal é que embora Mark Hurd seja considerado um excelente presidente executivo, as ações desenvolvidas no seu mandato foram bastante ajudadas pela diretora financeira, Cathie Lesjak , considerada como alguém com grande experiência em cortar custos de maneira rigorosa. Lesjak mantém-se na empresa como próxima presidente executiva interina. A segunda razão é que a variação de -13% verificada nas ações da HP foi acompanhada por uma queda de 5% no índice Nasdaq, índice que agrupa a maior parte das empresas de cariz tecnológico. Isto é interpretado como um sinal de que as vendas massivas por parte dos investidores da HP não foram um caso isolado no setor.

As outras duas razões indicadas são a venda de ações que Mark Hurd detinha da HP, operações que realizou em Novembro de 2009 e em Maio deste ano e que "assustaram" os investidores, contribuindo para a descida registada na semana passada. No entanto, para Hilary Kramer, analista que escreveu o artigo do MartketWatch, esta venda poderá ser interpretada como uma premonição de Hurd que o seu comportamento no passado poderia influenciar a evolução das ações da empresa de que era presidente executivo. A última razão de acordo com a analista é que analisando a empresa, a HP tem comprado empresas de armazenamento e de serviços em rede que permitem atrair negócios dos clientes com necessidades mais complexas de TI, uma área com grande crescimento previsto. A compra da Palm vai também permitir à empresa concorrer com a Apple e a HTC, entre outras, no negócios dos telemóveis de 3ª geração.

A HP foi fundada em 1939 em Palo Alto, uma cidade norte-americana situada no estado da Califórnia. As atividades desenvolvidas pelos seus fundadores, Bill Hewlett e Dave Packard , foram começadas numa garagem que é hoje referida como o local de nascimento do Silicon Valley , local onde se encontram as sedes de empresas de tecnologias de informação tais como Apple, Google, Intel, Cisco, Adobe, Oracle e Yahoo, entre outras

Luis Caleira Marques (www.expresso.pt)
16:10 Sexta feira, 20 de Agosto de 2010

EXPRESSO ONLINE

JOSÉ MIGUEL JÚDICE EXIGE QUE DUARTE LIMA ENTREGUE O DINHEIRO

Caso Feteira

"Duarte Lima tem de entregar o dinheiro da herança Feteira"

O advogado da filha de Tomé Feteira quer reaver dinheiro da herança

Duarte Lima diz que há uma "mão" a conduzir as notícias que o envolvem no homicídio de Rosalina Ribeiro

Se continuar em silêncio sobre o paradeiro do dinheiro que Duarte Lima terá recebido de Rosalina Ribeiro, o ex-deputado do PSD estará a prejudicar-se, acredita José Miguel Júdice. "Ele devia explicar as coisas, é do interesse dele", defende o advogado da filha de Lúcio Tomé Feteira, Olímpia de Menezes, em declarações ao i. "Já se confirmou que recebeu dinheiro da cliente [Rosalina Ribeiro] e se não o declarou é porque não é dele. Não sendo dele, ou é da Rosalina Ribeiro ou é da herança", argumenta Júdice, acrescentando que, ao manter o dinheiro, Duarte Lima estará a "levantar suspeitas" em relação ao seu envolvimento no caso do homicídio da portuguesa, em Dezembro do ano passado no Brasil.

Por agora, o principal interesse da filha de Tomé Feteira e dos restantes herdeiros do empresário de Vieira de Leiria é, segundo o advogado, reaver a parte da herança em que Rosalina terá mexido. "A única coisa que quero neste momento é que devolvam a herança e se o Duarte Lima quiser que a sua implicação no caso fique clara, que entregue, então, o dinheiro", desafia José Miguel Júdice.

Duarte Lima quebra silêncio Duarte Lima acredita que há "uma mão" a conduzir as notícias que o envolvem no caso da morte de Rosalina Ribeiro. "Não me lembro na minha vida de assistir a uma montagem tão vil e tenebrosa", disse ontem, na primeira entrevista que deu sobre o caso. Questionado por Judite de Sousa, na RTP, sobre quem estará a conduzir essa montagem, o ex-deputado do PSD ficou em silêncio.

Duarte Lima recusou-se a responder a várias perguntas, invocando sigilo profissional e avisou que não falaria sobre detalhes processuais. Também se recusou a comentar as movimentações financeiras com Rosalina Ribeiro, mas garantiu que tiveram sempre "proveniência de contas que lhe pertenciam e que ela podia movimentar".

Sobre a noite em que Rosalina Ribeiro morreu, o advogado revelou que nunca esteve previsto nenhum jantar e voltou a dizer que não se lembra do sítio onde se encontrou com a ex-secretária. Sobre o facto de ter percorrido uma distância de 500 quilómetros de carro entre Belo Horizonte e o Rio de Janeiro, Duarte Lima justificou-se, dizendo que esteve por três vezes em Belo Horizonte por razões "pessoais e profissionais" em 2009 e que costuma fazer longas viagens de carro, até por ser "mais seguro" do que viajar de avião. O ex-deputado adiantou ainda que Rosalina Ribeiro tinha telemóvel nessa noite e que estava a "conduzir negociações a título pessoal". Sobre ter deixado Rosalina, de noite, com Gisele, garantiu não ter achado estranho porque "havia uma relação natural e espontânea" com a mulher e negou não ter colaborado na elaboração de um retrato-robô, alegando que a polícia brasileira não lho pediu.

Duarte Lima disse ainda que sabe a quem não interessaria a morte de Rosalina: "Aos seus advogados, que perderam o patrocínio de uma causa relevante."

I ONLINE

por Rosa Ramos, Publicado em 27 de Agosto de 2010