Tuesday 11 February 2014

ENTRE A MAÇONARIA E O MECO por HENRIQUE NETO


“Não vou naturalmente dizer que a tragédia do Meco foi provocada pela Maçonaria, mas apenas afirmar que a cultura de secretismo instilada numa parte da sociedade portuguesa pela Maçonaria, está na origem do que aconteceu naquela praia. Porque o que aconteceu, com origem na Universidade Lusófona, não foi o resultado de uma associação de praxes, mas o crime de uma sociedade secreta, a meio caminho entre a Maçonaria e a Máfia.
 
Não por acaso. Pelo que tenho visto, a Universidade Lusófona será uma instituição de ensino mas não é uma Universidade, na melhor tradição europeia e universalista da criação de conhecimento e de escola de valores. Pelo contrário, tudo indica que se trata de um negócio de grande sucesso, que para o ser usa os recursos tradicionalmente consagrados em alguns sectores da sociedade portuguesa, que vão da cunha aos favores de amigos, afilhados e irmãos. Acresce que a aproximação às hierarquias políticas e a ambição do poder, foram as principais razões que desenvolveram na Lusófona um ambiente favorável ao secretismo de raiz antidemocrática, fonte histórica de todos os abusos, que, com o tempo, se tornou a alma do negócio.
 
Alguns acontecimentos que ultimamente têm chegado ao conhecimento da opinião pública, como as licenciaturas de favor, atestam-no e não surpreende que alguns jovens mais imaturos se tenham deixado endrominar pela cultura do sucesso fácil, do autoritarismo, da dominação dos mais fracos e da obtenção de poder pessoal, tudo isso teorizado como um suposto modelo do sucesso individual. Que isso tenha acontecido numa universidade portuguesa e, alegadamente, tenha passado ao lado dos seus órgãos dirigentes, é matéria de estudo e condenação.
 
O jornal “Sol” publicou recentemente que a Grande Loja Legal de Portugal está a instalar uma Ordem para rapazes dos 12 aos 21 anos, a exemplo do que acontece nos Estados Unidos e no Brasil, países que aparentemente não querem ficar atrás de certos países islâmicos com as suas madrastas e centros de recrutamento de malfeitores. O jornal fala apenas de rapazes e não menciona as raparigas, acrescentando que “o objectivo é formar jovens que sejam úteis à sociedade, promovendo palestras e dando-lhes formação.” Mais à frente da notícia é dito “que uma das actividades que mais praticam é a oratória para aprenderem os truques de falar em público.
 
Nada poderia ser mais claro, as irmandades sentem que estão a perder terreno para as juventudes partidárias na sua capacidade de nomear gente para as mais diversas funções e mordomias do Estado: Assembleia da República, governos, empresas públicas, grupos económicos privados, autarquias e tudo o resto onde exista alguma forma de poder e de rendimento. Cintam com jovens devidamente treinados, capazes de através da “oratória” reconquistar uma fatia do poder político e económico, que é a sua razão de ser.
 
Provavelmente nunca se saberá o que aconteceu na praia do Meco naquela noite de Dezembro, nem haverá culpados conhecidos e condenados. Se assim for, como tudo indica, será apenas mais um caso em que a justiça portuguesa é vencida pelo silêncio, pelos grupos de interesses e pela sua própria natureza de classe. Dos seis jovens roubados às suas famílias pela estupidez de uma mal compreendida disciplina fascizante, restará a memória difusa das vítimas de um sistema de educação desmiolado e irresponsável. As declarações prestadas aos meios de comunicação por alguns dirigentes da Lusófona, a seguir à morte dos jovens, de tão ridiculamente desculpabilizantes ficarão como parte da farsa que quase sempre se segue à tragédia.
 
O Governo e o Ministério da Educação farão sem dúvida aquilo que sabem fazer melhor em circunstâncias semelhantes: leis e regulamentos. Infelizmente, não lhes passará pela cabeça reconhecer que tudo isto é o resultado da degeneração de um sistema político cada vez menos exemplar e cada vez mais corrupto.”
 
 
HENRIQUE NETO in JORNAL DE LEIRA, edição de 6 de Fevereiro de 2014
 

Wednesday 5 February 2014

Sunday 2 February 2014

Monday 13 January 2014

PRESIDENTE DO CONSELHO EUROPEU EVOCA "CATÓLICO" ROBERT SCHUMAN

 

Presidente do Conselho Europeu evoca «católico» Robert Schuman, «pai da Europa» que pensava mais no futuro do que nos votos
 
Com este artigo quero prestar uma vibrante homenagem ao pai da Europa moderna, Europa que se chamou "Comunidade" e que tem hoje o nome de "União". Robert Schuman que nos deixou há 50 anos (a 4 de setembro de 1963) e o seu exemplo, o seu pensamento e a sua ação são para mim fonte de inspiração constante.
 
O homem que, a 9 de maio de 1950, fez entrar a Europa contemporânea na história, não estava só nem era o único. Outros Grandes da Europa marcaram o caminho ou levaram-no por diante: Aristide Briand e Gustav Stresemann (que receberam o prémio Nobel da Paz em 1926), depois Winston Churchill, Charles de Gaulle, Konrad Adenauer, Alcide De Gasperi e Paul-Henri Spaak; sem esquecer aquele "mentor" do projeto europeu que foi Jean Monnet, nem o "braço operativo" que esteve ao lado de Robert Schuman, o diretor do seu ministério Bernard Clappier. Homens provenientes de diversos horizontes, de diferentes convicções políticas, filosóficas e religiosas, mas que têm em comum o facto de terem inscrito a Europa e o projeto europeu na história. (...)
 
O pensamento e a ação destes Grandes da Europa são hoje desconhecidos ou, pior, ignorados. Por isso, é em relação a eles que quero testemunhar todo o meu reconhecimento através desta reflexão dedicada a Rober Schuman. Sim, Schuman: homem simples, modesto, calmo, honesto e reto, de temperamento sereno, dotado de prontidão de espírito e sentido de humor, que detestava a demagogia e era "impermeável" às modas intelectuais.
 
Este homem, que não fazia "gestos teatrais", tinha como reconhecida qualidade «a clareza, a precisão e as maneiras reflexivas de apresentar as argumentações» (citação do excelente trabalho de François Roth, "Robert Schuman, du Lorrain des fontières au père de l'Europe", 2008). Poderia ter dito «je suis ma conscience», "sigo" e "sou" a minha consciência. Estava ao serviço do bem comum e não exercitava o poder para fins pessoais. Homem de Estado, pensava, como Churchill, nas gerações seguintes mais do que nas seguintes eleições. Cristão, espiritualmente e socialmente católico, também ele gostava de recarregar-se com frequentes retiros no mosteiro.
 
Em suma, Robert Schuman exercitava, coisa mais rara do que geralmente se pensa, um poder autêntico. Porque, como escrevia Hannah Arendt, «o poder só é exercitado onde ato e palavra não tomam estradas separadas, onde os fins não são vazios de sentido e os atos credores de violência».
Era homem de abertura, homem das fronteiras que se encontram; para ele amar a Europa não queria dizer ignorar o próprio país, a própria região, a própria vila.
 
Porque cada homem precisa de ser "reconhecido": conhecido e reconhecido. Para existir, e não só para ser. E o reconhecimento passa através de referências, pontos fixos. Referências que cada pessoa se dá e que os outros lhe reconhecem. Referências feitas de laços sociais e familiares, mas também de laços históricos e geográficos. O homem faz parte da humanidade. (...) Ser um europeu sem laços não tem sentido. E poderia provocar apenas uma sensação de medo e retirada, derivada de uma perda de referências. Robert Schuman compreendeu-o bem.
 
Era de Evrange, da Lorena, de França, da Europa. Não "ou", mas "e". Porque as identidades não se anulam. Ao contrário, enriquecem-se reciprocamente e não se perde uma identidade adquirindo outra. Identidade europeia, porque Robert Schuman fez da Europa a obra da sua vida. O seu projeto, o seu desejo, era a Europa.
 
Na declaração que precede em alguns meses a declaração de 9 de maio de 1950, dizia já claramente que «a confiança entre os povos não se improvisa nem se impõe. Podemos chegar a ela apenas através de uma cooperação num quadro mais amplo no qual seremos muitos a dar prova de boa vontade. Esse quadro é a Europa». Declaração que não tem uma ruga. Porque a Europa é uma ideia generosa. É a colocação em ato do perdão, da reconciliação. «A Europa nascerá das realidades concretas que criarão antes de tudo uma solidariedade de facto», escreverá a Adenauer. E no seu livro "Pour l'Europe", publicado em 1963, fará esta análise: «Todos os grandes problemas que afligem os países saídos da guerra assumiram um caráter mundial e subtraem-se à autonomia política e económica dos países, mesmo dos mais poderosos». Se omitir as palavras «saídos da guerra», que hoje estão datadas, poderei descrever nos mesmos termos a crise económica e financeira que nos atingiu nos últimos anos.
 
Sim, a Europa era a sua questão primeira, a sua grande causa. Uma Europa baseada na solidariedade e na responsabilidade. Sobre valores que colocam "o homem no centro". O homem enquanto pessoa, aquele homem (entendido como homem ou mulher) que se apresenta não como um indivíduo puramente autónomo, mas como um indivíduo em relação de solidariedade, um indivíduo dotado de direitos e deveres; em suma, o homem que sabe ser interpelado pelo rosto do outro. O outro e portanto, necessariamente, a diversidade.
 
É precisamente a diversidade a construir a riqueza histórica europeia. E é a universalidade a constituir a nossa mensagem política. A universalidade, não o universalismo. A universalidade de uma palavra dirigida a cada homem. Ao contrário do universalismo, que considera a realidade como um todo único.
 
A Europa que era para Schuman, e é sempre para nós, um projeto em perpétuo devir. Porque a Europa, como a conhecemos hoje, é o resultado de um duplo moto de unificação e despedaçamento. E a tensão é parte integrante da nossa herança. Uma tensão que não é destrutiva, mas, ao contrário, vital. Porque nos impede de cair numa forma de letargia politicamente mortal. Uma tensão que nos obriga constantemente a "enquadrar de novo" o projeto europeu.

Herman Van Rompuy
Presidente do Conselho Europeu
In L'Osservatore Romano
 

Saturday 11 January 2014

Saturday 4 January 2014

SKY CYCLE - UMA UTOPIA?

SkyCycle, uma rede de ciclovias a pairar sobre as ruas de Londres

Projecto do arquitecto Norman Foster está a ser estudado e pode vir a custar mais de 240 milhões de euros. SkyCicle é visto como uma “utopia”: "sem autocarros, carros ou stress"
Tem 219 quilómetros de extensão e paira sobre as ruas de Londres. O SkyCycle é uma rede de ciclovias desenhada pelo arquitecto britânico Norman Foster e, caso seja aprovada para construção, vai custar mais de 200 milhões de libras (cerca de 240 milhões de euros), noticia a BBC.
 
 A arrojada proposta, uma parceria entre os gabinetes Foster+Partners e Exterior Architecture e os consultores Space Syntax, quer ligar, numa primeira fase, a zona Este de Londres à Liverpool Street Station. “Se aprovadas, as dez rotas seriam construídas acima das linhas ferroviárias existentes e levariam cerca de 20 anos a completar”, continua o site da rádio e televisão britânica.
 
 O projecto, que permitiria o uso da bicicleta num caminho livre de carros, está a ser estudado pelas “partes interessadas”, por forma a ter algum “feedback” antes de ser submetido para candidatura. “Acredito que as cidades onde se pode caminhar ou andar de bicicleta em vez de conduzir são lugares mais simpáticos para se viver”, disse Foster.
  
Ainda de acordo com a BBC, a rede de ciclovias, ainda conceptual, pode atingir “quase seis milhões de pessoas” que vivem na zona de influência. Para dar resposta ao tráfego de bicicletas — que, estima-se, podia chegar aos doze mil ciclistas por hora —, o SkyCycle foi pensado para ter mais de duzentas rampas de acesso, espalhadas por toda a cidade. Em média, as deslocações de bicicleta pela cidade diminuiriam até meia hora.
  
“SkyCycle é uma abordagm lateral para encontrar espaço numa cidade congestionada. Utilizando os corredores acima das linhas ferroviárias suburbanas, poderíamos criar uma rede ‘word-class’ de segurança”, continuou Foster. Já Sam Martin e Oli Clark, do Exterior Architecture, definem o projecto como “uma utopia”: “sem autocarros, carros ou stress”.
  
Já o porta-voz da Network Rail, a autoridade responsável pela rede ferroviária do Reino Unido, garantiu apoiar os planos. “Vamos manter a ligação com todos os envolvidos, enquanto a ambição por este projecto inovador se desenvolve."