Tuesday 9 November 2010

Família

Apadrinhamento civil. Lei abre a porta a casais do mesmo sexo

Na lei, a candidatura de casais homossexuais ao acolhimento de crianças institucionalizadas não é factor de exclusão, mas de ponderação.

Lei pode ser fase preparatória para aprovação da adopção por casais do mesmo sexo A lei do apadrinhamento civil deixa a porta entreaberta ao acolhimento de crianças por casais do mesmo sexo.
Não há nenhum ponto na lei que regulamenta esta nova figura jurídica que proíba homossexuais solteiros ou casados de apadrinharem crianças institucionalizadas. Aqui, a homossexualidade é meramente um factor de ponderação à habilitação dos padrinhos, ao lado de outros factores como as condições económicas, sociais e emocionais dos candidatos.

O decreto-lei remete para o disposto no regime que permite o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo: não é admitida a possibilidade "legal da adopção por pessoas casadas com cônjuge do mesmo sexo", mas admite-o "para efeitos da ponderação". Ou seja, a lei "não impede [o acolhimento de crianças por homossexuais], diz antes que é um factor a ponderar", explica a advogada Lídia Branco.

O apadrinhamento civil é a nova figura jurídica que permite que pessoas com mais de 25 anos possam acolher uma criança ou jovem em risco, a título definitivo, desde que o vínculo à família biológica não se perca e pais e padrinhos estabeleçam um compromisso. "A partir do momento em que os pais biológicos aceitam, parece-me uma porta entreaberta", acrescenta Lídia Branco.

A omissão de impedimentos ao apadrinhamento civil por casais homossexuais, num momento em que a lei que regula o casamento gay proíbe que pessoas casadas com cônjuges do mesmo sexo possam adoptar, é um dos pontos da nova figura jurídica que merece críticas. "A lei é dúbia. Remete para as normas da adopção por casais homossexuais, mas não as usa como critérios de exclusão nas candidaturas. Ao referi-las como factor de ponderação, pode haver tribunais que venham a permitir", acusa Isilda Pegado, jurista e membro da Plataforma Cidadania e Casamento, que invoca "o superior interesse da criança" para apelar à necessidade de rever a lei. "Não admito que seja este o caminho."

Os pressupostos da adopção "deveriam ser válidos para os padrinhos civis, se não o são, estamos perante uma perversão das normas", entende Luís Villas-Boas. O director do Refúgio Aboim Ascensão questiona: "Uma criança não pode ser adoptada por um casal do mesmo sexo, mas depois é posta em casa de um casal homossexual nos moldes do apadrinhamento civil? Qual é a diferença?"

Preparar a transição António Serzedelo, presidente da Opus Gay, entende que a lei foi feita nestes moldes, não só para "responder ao problema das crianças institucionalizadas", mas também para "preparar a opinião pública para a adopção por casais homossexuais". "É uma resposta inteligente para preparar a sociedade para estas novas famílias, sem chocar tanto como chocaria a adopção."Já Paulo Côrte-Real, presidente da Ilga, não o entende como uma fase preparatória à aprovação da adopção por casais do mesmo sexo, mas como "mais uma proibição". "Ao remeter para o artigo que proíbe a adopção, está a sugerir que se proíba."

Um dos argumentos mais usados contra a adopção por casais de gays e lésbicas é a ausência de uma referência materna e paterna na educação da criança. Se o apadrinhamento civil obriga a manutenção dos laços com os pais biológicos, esse argumento deixa de ser válido? Se Paulo Côrte-Real entende que "não há nenhuma razão científica para recusar o acolhimento, apadrinhamento ou adopção a pessoas do mesmo sexo", Isilda Pegado garante que o problema se mantém porque os padrinhos são a maior referência: "Existe um pai e uma mãe, mas são os padrinhos que têm as responsabilidades parentais."

por Sílvia Caneco, Publicado em 09 de Novembro de 2010

http://www.ionline.pt/conteudo/87540-apadrinhamento-civil-lei-abre-porta-casais-do-mesmo-sexo

Monday 8 November 2010

SALAZAR CONTRIBUIU PARA TRAVAR A MONARQUIA

«Se a I República não marcou um novo começo para Portugal e se o Estado Novo guardou muito da I República, parece-me lógico partir do princípio que o corte entre Estado Novo e o regime atual não foi total. »
Filipe Ribeiro de menezes

A restauração da monarquia em Portugal durante o Estado Novo foi travada pela divisão dos monárquicos, pelas “muitas correntes ideológicas” a que o regime tinha de atender mas também pelo próprio Salazar, que “não podia admitir tal coisa”. A tese é defendida, em declarações à agência Lusa, pelo historiador português Filipe Ribeiro de Meneses, autor da obra “Salazar”, a mais recente biografia do político português António Oliveira Salazar, cuja edição portuguesa chegará às livrarias na próxima semana. Para o investigador da University of Ireland, a tese de que foi Salazar quem comprometeu a possibilidade de restauração da monarquia é alimentada pela ideia de “que Portugal poderia ter seguido o exemplo espanhol”. “Em Espanha, Francisco Franco pôde – muito lentamente, e controlando de perto o ritmo dos acontecimentos – restaurar a monarquia. Fê-lo, porém, após a guerra civil de Espanha, durante a qual o republicanismo espanhol foi destroçado.






Historiador português Filipe Ribeiro de Meneses, autor da obra “Salazar”





Franco tinha apenas de gerir a oposição de certos elementos falangistas à ideia monárquica e controlar o desejo de protagonismo do herdeiro ao trono, o príncipe D. Juan”, disse. No caso de Portugal, porém, “a situação era bem diferente”. “O Estado Novo, saído da Ditadura Militar iniciada em 1926, con- tinha – como a própria Ditadura – muitas correntes ideológicas. Os monárquicos (também eles divididos) eram uma fação importante, mas minoritária. Salazar precisava de manter a ilusão da possibilidade do regresso da monarquia, através de gestos simbólicos”, referiu. O regresso dos restos mortais de D. Manuel II e, mais tarde, de D. Miguel, a importância prestada à família de D. Duarte Nuno a partir dos Centenários de 1940 foram gestos destinados a “garantir o apoio” da fação monárquica. Mas Salazar “não podia ferir diretamente a opinião republicana maioritária” – “em Espanha o Exército era monárquico; em Portugal não o era”, observou.




A urna com os restos mortais de D. Manuel II em Lisboa, a passar á frente da comitiva oficial (onde se pode ver Salazar), a 2 de Agosto de 1933





“Por outras palavras, a restauração da monarquia não estava ao alcance de Salazar, mesmo se a quisesse efetuar – mas ele não podia admitir tal coisa”, comentou.

«O interesse em Salazar e no Estado Novo, que é enorme, não deve ser confundido com saudade do regime; é sobretudo o desejo natural de entender as especificidades do caso português, de tentar entender por que somos como somos (embora me pareça, após ter escrito o livro, que temos a tendência de exagerar o papel de Salazar neste processo: as nossas qualidades e os nossos defeitos, assim como alguns dos problemas que se nos atravessam pela frente são bem anteriores ao Estado Novo). Porém, nem todos os que tentam ir ao encontro deste interesse sobre o passado o fazem isentos de fins políticos. Quero dizer com isto que a memória de Salazar e algumas das suas características pessoais (o cuidado com os dinheiros públicos, por exemplo) são usadas como armas de arremesso ideológicas contra a "situação" atual. Quarenta anos depois da sua morte, pouco parece restar da obra de Salazar, porque Portugal seguiu um caminho bem diferente do por ele desejado. Mas se a I República não marcou um novo começo para Portugal e se o Estado Novo guardou muito da I República, parece-me lógico partir do princípio que o corte entre Estado Novo e o regime atual não foi total. »

Ao longo de cerca de 800 páginas, o historiador português retrata outros aspetos da vida do homem cuja figura se confunde com o próprio Estado Novo. Da investigação, que foi lançada no final do ano passado nos Estados Unidos em primeira mão, resulta ainda a não existência da “menor indicação de que Salazar tenha hesitado quanto ao caminho a seguir em relação ao Ultramar”. “Houve reformas administrativas, claro está, abriram-se as colónias ao investimento estrangeiro e deu-se a criação do Espaço Económico Português: mas a palavra de ordem era resistir. Havia condições, julgou Salazar, para isso: podia-se incluir a guerra colonial no contexto da Guerra Fria, desenvolvendo-se assim um discurso de defesa do Mundo Ocidental, mesmo que contra a vontade deste”, argumentou o historiador. A “posição de força” em que o regime estava foi, no entanto, sobrestimada por Salazar, “ignorando as consequências de um possível (ou provável, no entender do resto do mundo) fracasso”. O investigador português considerou ainda que Salazar se absteve de apontar um sucessor porque a escolha “de um favorito” apontaria “o fim da sua carreira política”. “Mesmo assim o Estado Novo resiste, e tem estabilidade suficiente para resolver o problema da sucessão, escolhendo-se alguém tido como o mais capaz de todos os candidatos”, apontou Filipe de Meneses, considerando que nenhum sucessor teria conseguido fazer evoluir um regime que perdeu a capacidade de se adaptar e “cristalizou” - vulnerabilizando-se - com a guerra colonial.

Fonte (parcial):

Diário Cidade de 4 de Setembro de 2010

http://monarquia.webnode.pt/news/salazar-contribuiu-para-travar-a-monarquia/


PAIVA COUCEIRO EXILADO POR SALAZAR


Polícia de Vigilância e de Defesa do Estado (mais tarde P.I.D.E.) – “Certificado de viagem” com que Henrique Paiva Couceiro saíu de Portugal para o seu último exílio em Espanha. Ia fazer 77 anos! Mesmo assim foi tratado por Salazar como o pior dos criminosos…

Exilado pelo salazarismo a 16 de Setembro de 1935, por seis meses, por ter criticado publicamente a política colonial do regime.

A carta que escreveu a Salazar a 31/10/1937 e que lhe valeu esse derradeiro exílio pode ser lida no link seguinte:

http://www.angelfire.com/pq/unica/ultramar_1937_paiva_couceiro_ultramar.htm

Fonte : Miguel Paiva Couceiro
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Publicada por Rui Monteiro em Quinta-feira, Junho 24, 2010

Rui Monteiro disse...
Salazar Monárquico ? P... que o pariu !

24 de Junho de 2010 01:36
Tenente Figueira disse...

Muitos gabarolas fazem questão de impor aos outros a aplicação de títulos antes do nome, tais como: Dr., Doutor, Prof., Eng., Arq., Dom, etc.

No caso de Henrique Mitchell de Paiva Couceiro, e dado o seu testemunho de vida, são os outros (i.e. todos nós) que estamos obrigados a colocar-lhe O título antes do seu nome. A partícula é a que sempre uso para me reportar a este grande português e exemplo para todos: O HERÓI.

Bem lembrado aqui no CR!
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24 de Junho de 2010 10:47

Comandante Couceiro disse...

O nosso Tenente por cá?

O que tem feito deste o nosso último encontro no 31?

Caro Tenente: essa sua espada ainda está para combates? Então volte mais vezes.

O seu lugar é aqui, a fazer a guarda ao Rei.
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24 de Junho de 2010 11:06

bicho disse...

Paiva Couceiro foi a imagem de marca do Integralismo Lusitano.

O que Paiva Couceiro tinha em excesso de patriotismo turvou-lhe, na minha humilde opinião, o raciocínio estratégico para uma possível restauração, o episódio da monarquia do norte é por mim entendido como isso mesmo, um erro quem tem tanto de heróico como precipitado, em particular em pleno golpe ao sidonismo.

Paiva Couceiro e as juntas militares condenaram a monarquia ao divisionismo nos últimos anos da I república o que levou ao aparecimento de Salazar como alternativa única.

Reconheço patriotismo e coragem ao heroi do ultramar condecorado que foi Henrique Paiva Couceiro, mas entendo que deveria ter escutado D Manuel, talvez a história de Portugal tivesse sido bem diferente.

Reconheço-lhe também, a ele e aos outros integralistas, a vontade de lutar contra o Salazarismo, pagaram por isso, foram condenados ao ostracismo mas mantiveram-se fieis às suas convicções.

Sempre tive Paiva Couceiro por um D Quixote, por todas as razões boas e más (se é que existe mal na figura de D Quixote), mesmo com 77 anos continuou a sua luta como se ainda fosse jovem, não necessitava disso, é uma figura incontornável da nossa história e deveria ser recordado; Pulido Valente deixou um registo honesto (na minha opinião) do que foi este homem, merece ser lido.

Eu, que sou republicano, presto-lhe a minha homenagem.
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25 de Junho de 2010 01:01

Jerónimo Eleutério disse...

Rua/Largo/Praça Paiva Couceiro...a própria República não o deixou esquecido!

25 de Junho de 2010 07:40

Quinta-feira, 24 de Junho de 2010

http://centenario-republica.blogspot.com/2010/06/paiva-couceiro-exilado-por-salazar.html

Saturday 6 November 2010

FACE OCULTA: VARA, LINO E COISSORÓ


Política

Vara, Lino e Coissoró em novos processos da «Face Oculta»

O Ministério Público ordenou investigação de mais de uma dezena de novos casos suspeitos. Armando Vara, o ex-ministro Mário Lino e o antigo deputado do CDS Narana Coissoró são visados nas certidões extraídas do processo de Aveiro e que vai levar agora a novas investigações

A Polícia Judiciária e o Ministério Público investigaram e encontraram mais do que procuraram. As perícias financeiras às contas bancárias detectaram levantamentos de depósitos suspeitos: concretamente dois cheques depositados na conta do ex-ministro em Outubro de 2009, no valor global de 425 mil euros.

Tempos antes, entre 2008 e 2009, era o socialista quem transferia um total de 500 mil euros para conta alheia. A destinatária desse meio milhão de euros, ouvida no processo «Face Oculta», justificou as movimentações bancárias com um contrato de permuta de casa com Armando Vara que não chegou a concretizar-se. Só não conseguiu explicar por que razão num dia Vara lhe deposita 150 mil euros para no dia seguinte ela lhe devolver 50 mil euros.

No despacho em que ordena a nova investigação, o procurador escreve: «Restam por esclarecer os pagamentos aparentemente contraditórios, bem como as circunstâncias que explicam a continuação da ocupação das residências pelos respectivos vendedores».

As autoridades admitem que esteja em causa um crime de fraude fiscal e de branqueamento de capitais.

As declarações da antiga secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, estão na origem de uma nova investigação, agora visando o ex-ministro das Obras Públicas. Mário Lino é suspeito de pressionar os responsáveis da REFER e a própria secretária de Estado para favorecerem as empresas de Manuel Godinho.

As autoridades querem esclarecer «se o então ministro das Obras Públicas, Mário Lino, teve interferência no processo de reestruturação da Refer ou outro tratamento de favor».
Pode estar em causa um crime de corrupção ou de abuso de poder.

Entre os novos casos a investigar consta também a atribuição de três cheques num total de 32 mil euros ao antigo deputado Narana Coissoró. Quando foi ouvido, há cerca de mês e meio, Narana confirmou os depósitos, esclarecendo que dois cheques pagaram honorários da sua actividade de advogado e um terceiro, no valor de quase dez mil euros, foi um donativo a título pessoal para a campanha eleitoral para a Assembleia da República. Ora, escreve o Ministério Público, «tais factos não se mostram completamente esclarecidos existindo suspeitas face ao modus operandi conhecido do arguido Manuel Godinho de que parte das verbas se destinassem ao pagamento de favores ou à corrupção de funcionários».

Contactado pela TVI, o antigo deputado centrista rejeita que tenha praticado qualquer ilícito.

Por Cláudia Rosenbusch, TVI 2010-11-05 22:03

http://www.agenciafinanceira.iol.pt/politica/face-oculta-armando-vara-narana-coissoro-mario-lino-tvi24/1206112-4072.html

CHINA VAI COMPRAR DÍVIDA SOBERANA PORTUGUESA

Homem mais poderoso do mundo em Lisboa para comprar dívida

Presidente chinês Hu Jintao vai reunir-se com Cavaco Silva e José Sócrates

O presidente chinês Hu Jintao, que a revista Forbes considerou como o homem mais poderoso do mundo, inicia este sábado uma visita a Portugal, com a China a indicar que está disposta a comprar dívida soberana portuguesa, informa a Lusa.

O líder que destronou o presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, na lista das personalidade mais poderosas do mundo da revista norte americana Forbes vai, nos dois dias de visita a Portugal, reunir-se com o presidente português Cavaco Silva, com o primeiro-ministro José Sócrates e com o ministro dos Negócios Estrangeiros, entre encontros com outras autoridades e com a comunidade chinesa em Portugal.

Hu será o primeiro presidente chinês a visitar Portugal em mais de uma década e um dos grandes temas dos encontros será a possibilidade da compra de dívida soberana portuguesa pela China, que tem as maiores reservas cambiais do mundo - 2,65 biliões de dólares (1,86 biliões de euros).

Para além da dívida, Portugal e a China aproveitam também a visita para assinar diversos acordos económicos, que deverão incluir a compra de produtos portugueses como vinho e azeite, para além do reforço da cooperação no sector do turismo.

O embaixador da China em Portugal disse à imprensa chinesa que a visita de Hu «dará um grande impulso às relações bilaterais» e adiantou que os presidentes chinês e português vão discutir tópicos como o reforço da cooperação nos sectores da tecnologia e das energias renováveis, o aprofundamento das relações políticas e económicas e a expansão da cooperação nos sectores da cultura e da educação.

Hu Jintao visita Portugal acompanhado de diversos membros do governo chinês e de uma comitiva de 50 empresários, após uma visita de três dias a França, onde presidiu à assinatura de contratos comerciais e industriais de valor superior a 15 mil milhões de euros.

Segundo dados chineses, nos primeiros oito meses de 2010, as exportações portuguesas cresceram 66 por cento em relação a igual período do ano passando, somando 483,5 milhões de dólares. As exportações chinesas cresceram 39 por cento no mesmo período, para 1,65 mil milhões de dólares.

A visita de Hu Jintao é também motivo de protestos. A secção portuguesa da Amnistia Internacional vai realizar uma manifestação contra «os inúmeros detidos na República Popular da China, por delito de opinião», enquanto o Bloco de Esquerda se recusa a estar presente na sessão parlamentar de recepção ao presidente chinês, porque considera o regime de Pequim «uma ditadura com créditos firmados na violação dos Direitos Humanos».

http://diario.iol.pt/economia/hu-jintao-divida-publica-ultimas-agencia-financeira-china/1206160-4058.html

ENTREVISTA DE PEDRO RAPOSO À ADVOCATUS

BASTONÁRIO CONTRA ESTÁGIOS OBRIGATORIAMENTE REMUNERADOS


Estágios de advogados passam a ser remunerados

Bastonário dos advogados contra: "Isso é uma forma de impedir o acesso ao estágio"

No ano desta foto os estágios ainda não eram remunerados

Os estagiários vão ser remunerados, receberão subsídio de refeição e seguro de saúde. E terão contratos de estágio obrigatórios. É o que pretende o Governo, que quer legislar sobre os estágios profissionais.

As intenções do executivo de tornar obrigatória a existência de um contrato de estágio escrito, bem como a sua remuneração com um subsídio mensal, além de subsídio de alimentação e seguro de acidentes pessoais, estão contempladas no artigo 141º da proposta de Lei de Orçamento do Estado. A autorização legislativa para o Governo não se dirige apenas aos estagiários de advocacia. Mas a todos os estágios que não são comparticipados pelo Estado.

O artigo 141º determina o que o governo fará com a autorização legislativa. O regime abrange os advogados mas é formulada a pensar nos contratos de trabalho, que não se adaptam a uma profissão liberal, como a advocacia. O governo pretende mesmo que, se os estagiários permanecerem nos escritórios após o tempo de estágio, sejam obrigatoriamente considerados como trabalhadores por conta de outrem A proposta ameaça, assim, acabar com a advocacia como profissão liberal.

"Isso é um absurdo! Se se aplicar aos advogados é um absurdo", disse ontem ao i o Bastonário da Ordem dos Advogados.

advogados estagiários António Marinho e Pinto, que na sua anterior candidatura à Ordem dos Advogados defendeu a existência de contratos de estágio, explica que talvez pudesse fazer sentido um regime parecido para as sociedades de advogados - que, no fundo, quando admitem estagiários estão a recrutar futuros colaboradores nos quais decidem investir. O panorama da advocacia, todavia, está longe de ser homogéneo. E o regime é impensável para o advogado em prática individual. "Isso é uma forma de impedir o acesso ao estágio", sintetiza o bastonário dos advogados. "Ninguém pode ser obrigado a aceitar um estagiário. Não se pode obrigar os advogados a aceitarem estagiários para lhes pagarem". Os patronos, explica o bastonário, já suportam as despesas dos estagiários e gastam o seu tempo com eles. "O advogado que trabalha sozinho não tem que remunerar um estágio de quem, no futuro, vai ser seu concorrente", conclui
A autorização legislativa não especifica todas as profissões a que se aplicará o regime de estágios. Porém, exclui os estágios curriculares, os estágios extracurriculares com comparticipação pública e os estágios em qualquer relação de "emprego público". Sobram os estágios obrigatórios das ordens profissionais. Aliás, o artigo fala mesmo em "patronos", quando se refere às "entidades promotoras do estágio": as pessoas singulares ou colectivas que concedem o estágio, "incluindo a pessoa singular que na qualidade de patrono e ao abrigo das disposições legais e regulamentares que regulam a realização de estágios profissionais obrigatórios para o acesso à profissão orienta o respectivo estágio". Ora, entre nós só os advogados estagiários têm patrono.

I ONLINE 6-11-2010

Publicado em 06 de Novembro de 2010

http://www.ionline.pt/conteudo/87172-estagios-advogados-passam-ser-remunerados




Friday 5 November 2010

A FALÊNCIA DE PORTUGAL

Risco da dívida

FMI demarca-se da análise dos mercados

FMI distancia-se do sentimento de "algumas análises do mercado" que apontam para o incumprimento "quase certo" do país. Mas reconhece que existe "uma situação que está dada, de que Portugal, entre outros países, está sob pressão".

"Se não forem ajudados, vão ficar numa situação insustentável. Não digo que a ajuda será fácil. Será difícil", afirmou o responsável do FMI (Philippe Merle).

Portugal está a ser pressionado de forma inédita pelos "mercados" o que, na opinião de analistas citados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) no estudo "Fiscal Monitor", ontem divulgado, está a empurrar o país para um cenário "quase certo" de falência, isto é, para um ponto em que a economia entrará em incumprimento perante o exterior.

Numa nota enviada ao i, na sequência da manchete na edição em papel de hoje, o FMI demarca-se dessas leituras, mas reitera que "algumas análises de mercado consideram quase certa a ocorrência de eventos de crédito em algumas economias avançadas" e que isto "é basicamente reconhecer uma situação que está dada, de que Portugal, entre outros países, está sob pressão".

Depois acrescenta que "daí a inferir que o Fundo está a lamentar um facto consumado vai uma enorme distância", afastando-se dessas análises de mercado - citadas pelo próprio Fundo no estudo - que dão como "quase certa" a falência do país. Ontem, o i questionou o FMI sobre o teor do estudo, mas não obteve qualquer resposta. Apesar da nota hoje enviada, as questões enviadas continuam sem réplica.

A notícia publicada nunca refere que o FMI estar a dar o default do país como “um facto consumado”, como acusa a instituição. Diz sim que o FMI reconhece que "o risco de materialização destes eventos [de crédito, como o default] permanece elevado em termos históricos no que respeita às economias avançadas - especialmente aquelas que já estão sob pressão dos mercados". Este grupo está identificado no relatório: Grécia, Irlanda e Portugal.

O Fundo lamenta que os mercados estejam a "sobrestimar" o risco de incumprimento (default) dos países mais problemáticos, mas ao mesmo tempo concorda que a probabilidade de ocorrerem estes eventos é actualmente “elevada em termos históricos”.

Tal como o i escreve, Portugal está a ser empurrado para o abismo pelos mercados onde operam investidores e especuladores de dívida pública. Na nota hoje enviada e no próprio estudo, o FMI reconhece essa "pressão" inédita.

Se as análises citadas pelo Fundo estiverem correctas – que apontam para uma falência "quase certa" do país, significa que Portugal será obrigado a recorrer ao fundo de apoio do FMI e da União Europeia (UE), à imagem do que aconteceu com a Grécia.

Hoje, a pressão dos mercados continua a ser inédita: a taxa de juro das Obrigações do Tesouro a dez anos está a negociar acima de 6,7% depois de ontem ter tocado os 6,8%, um máximo desde que Portugal aderiu ao euro. Fernando Teixeira dos Santos, o ministro das Finanças, já disse que quando esta taxa superar os 7%, começa a colocar-se a hipótese do país recorrer ao fundo do FMI/UE. Assim é, pois, chegado a essa situação, não haverá nem interesse do Tesouro em endividar-se com uns juros tão altos ou, simplesmente, não haverá quem queira emprestar dinheiro ao país a um preço mais baixo e razoável.

por Luís Reis Ribeiro, Publicado em 05 de Novembro de 2010

http://www.ionline.pt/conteudo/87114-fmi-demarca-se-da-analise-dos-mercados