Monday 28 June 2010

DUQUES DE BRAGANÇA E OS PRIMOS HABSBURGOS VISITAM ÉVORA


A família Bragança encontrou em Évora os primos Habsburgo, com os quais foi fotografada. Atrás: Johanna e Margareta de Habsburgo, D. Duarte e Afonso de Bragança, Joseph de Habsburgo (filho) e Joseph de Habsburgo (pai). À frente: Paulo e Elisabeth de Habsburgo, D. Isabel, Francisca e Dinis de Bragança, Frederic e Matias de Habsburgo

Duques de Bragança: Visita à cidade de Évora com os filhos

D. Isabel de Bragança passeou com os filhos, Francisca, Dinis e Afonso, pelo centro histórico de Évora e aproveitou também para visitar o Museu de Évora.

A família Bragança encontrou em Évora os primos Habsburgo, com os quais foi fotografada. Atrás: Johanna e Margareta de Habsburgo, D. Duarte e Afonso de Bragança, Joseph de Habsburgo (filho) e Joseph de Habsburgo (pai). À frente: Paulo e Elisabeth de Habsburgo, D. Isabel, Francisca e Dinis de Bragança, Frederic e Matias de Habsburgo
João Lima
Como representantes da Casa Real Portuguesa, é natural que D. Duarte e D. Isabel de Bragança sintam particular orgulho em falar sobre a História do nosso país. Assim, e aproveitando a realização da XII Tourada Real, os duques de Bragança foram com os três filhos, Afonso, de 13 anos, Francisca, de 12, e Dinis, de nove, até à histórica cidade de Évora.

Apesar dos compromissos já agendados não permitirem à família ficar mais do que dois dias, os duques fizeram questão de passear com os filhos pela cidade, como partilhou com a CARAS D. Isabel, durante a inauguração da exposição de Maria Sobral Mendonça - Arte & Toiros - que decorreu no Hotel M'Ar de Ar Aqueduto: "É sempre um prazer voltar a Évora, que é um local muito bonito e bem preservado. Hoje andámos a passear e gosto de ver a harmonia e a beleza desta cidade. Também fomos ao Museu de Évora e fiquei muito impressionada com todo o trabalho que fizeram. Sempre que podemos, aproveitamos para conhecer melhor o País e para estar com as pessoas."

Para além de todos os elementos históricos que tornam esta cidade alentejana emblemática, D. Duarte tem um outro elemento, talvez mais afectivo, que o liga a Évora. Há pouco mais de um ano, acompanhou a duquesa Diana de Cadaval até ao altar da Sé Catedral de Évora, no dia do seu casamento com o príncipe Charles-Philippe d'Orléans. Por isso, foi com natural apreço que o pretendente ao trono português falou desta cidade, que tem várias características que a distinguem das demais: "Évora está a tornar-se um centro cultural muito interessante e dá o exemplo a Portugal de como se pode ter uma cidade com progresso e que mantém a sua arquitectura e beleza. A área dentro das muralhas está muito bem preservada. E a população tem muito amor à beleza da sua cidade. É um óptimo destino para um programa em família."

E não foi apenas um programa para o núcleo familiar mais restrito. A acompanhar os duques de Bragança estavam os seus primos Joseph e Margareta de Habsburgo e os seus filhos destes, Johanna, Frederic, Joseph, Matias, Paulo e Elisabeth.

À semelhança de muitos aristocratas europeus, Joseph de Habsburgo é um apaixonado por Portugal e todos os anos vem ao nosso país passar férias, aproveitando para estar com alguns familiares, como é o caso de D. Duarte e D. Isabel de Bragança. Apesar de já conhecer Évora, Joseph avançou que é sempre um prazer voltar a um local com tanta História para contar: "É uma cidade muito bonita e muito famosa. Somos alemães, mas falamos muito de Portugal. E tanto eu como os meus filhos adoramos cá vir passar férias. Gosto muito da vida, do ritmo do dia-a-dia e das pessoas deste país. E tem coisas muito bonitas, como toda a costa litoral e as corridas de touros."

Para além da beleza e da História do País, Joseph confessou que muitas das suas memórias familiares foram construídas em Portugal. Tal como aconteceu com vários nobres durante o período da II Grande Guerra, alguns antepassados do primo de D. Duarte encontraram refúgio em terras lusas: "Durante a Guerra, alguns membros da minha família deixaram os seus países e vieram para cá. Foi o caso do rei de Itália, de Simeão da Bulgária e do rei Juan Carlos, que são meus primos. E penso que posso afirmar que todos foram felizes em Portugal."



Autor: Marta Mesquita
20 de Jul de 2009 às 14:37

AGULHAS VITIMAM ENFERMEIROS


Saúde

Agulhas vitimam 1900 enfermeiros


Média de 13 acidentes de trabalho por dia. Há casos de Hepatite B e Sida. Na última década quase duplicaram os acidentes com os profissionais. Em 2007 houve 5063 incidentes que levaram à perda de 52 mil dias de trabalho.

Os enfermeiros são as maiores vítimas de acidentes de trabalho no sector da Saúde e a principal acção causadora de acidente é a picada de agulha. Há dois anos, 1991 profissionais foram picados. Estas são as conclusões do último Relatório de Acidentes de Trabalho, do Ministério da Saúde.

O documento revela que, em 2007, registaram-se 5063 acidentes de trabalho, o que dá uma média de 13 acidentes por dia, dos quais 1632 foram picadas de agulha. Perderam-se, nesse ano, um total de 52 702 dias de trabalho devido a ausência por doença.

Há casos de enfermeiros que foram contaminados pelos vírus da sida ou da hepatite B após a picada de agulha ou corte com ferramenta ou utensílio e posterior contacto directo com um doente.

Segundo o relatório, os hospitais foram as unidades com maior número de acidentes de trabalho (4593), em especial nos internamentos e nos Serviços de Urgência.

O número de acidentes de trabalho nos hospitais e centros de saúde quase duplicou na última década, registando-se 3042 acidentes em 1997, enquanto em 2007 esse número atingiu os 5063.
No total, o mês de Março é o que regista maior número de acidentes (463), sendo o dia da semana mais atingido a segunda--feira (925) e o período horário mais afectado o das 08h00 às 12h00 (1734).

Guadalupe Simões, vice-coordenadora nacional do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) afirmou ao CM que este tipo de acidentes só tenderá a aumentar.

'As picadas ocorrem não por descuido, mas por falta de recursos. O ministério tenta manter a qualidade dos cuidados com menos custos e não admite mais profissionais, mais enfermeiros, obrigando a mais horas e sujeitando o profissional e o doente a um maior risco de acidente.'

Segundo a responsável, 'perante a falta de 25 mil enfermeiros nos hospitais e de cinco mil nos centros de saúde, não se pode pedir mais aos enfermeiros'. 'Em média, cada um faz o trabalho de dois profissionais', diz.

APONTAMENTOS

MÉDICOS EM 3.º LUGAR

Os médicos ocupam a terceira posição dos profissionais mais afectados pelos acidentes de trabalho, com 571 casos. Em primeiro estão os funcionários dos serviços gerais, com 1541 acidentes.

INCAPACIDADES

A maioria dos acidentes não provocou qualquer tipo de incapacidade. No entanto, houve um elevado número de incapacidade temporária (1581 casos) e doenças crónicas.

ERRO AUMENTA COM MUDANÇAS NA ORGANIZAÇÃO

O Relatório dos Acidentes de Trabalho constata que 'as profundas mudanças na organização dos processos de trabalho, visando o aumento da produtividade, flexibilidade e redução de custos nem sempre vêm acompanhadas das melhorias das condições de trabalho'. Assim, a percepção das incapacidades e limitações para terminar as tarefas dentro dos prazos gera um ambiente de stress e conduz, por vezes, a um desempenho profissional deficiente, aumentando as possibilidades de erro e a ocorrência de acidentes.

DISCURSO DIRECTO

'NÃO FOI FÁCIL PROVAR O ACIDENTE DE TRABALHO', Fátima Reis, Enfermeira do Hospital de Santa Maria

Correio da Manhã – Foi infectada pelo vírus da hepatite B depois de se ter cortado numa lâmina. Como aconteceu?

Fátima Reis – Uma técnica deixou uma lâmina no ambiente de trabalho e eu cortei a mão. Andei a trabalhar uns dias com a ferida, não fiquei em casa à espera que cicatrizasse.

– Como ocorreu então a contaminação? E sabe quem a infectou?

– Sei, foi por contacto directo a introduzir agulhas e soros para canalizar uma veia a um doente, um toxicodependente.

– Fez logo análises quando soube que foi infectada?

– Há seis ou sete anos não se faziam de imediato análises ao profissional picado e ao doente, como agora se faz. Durante uma semana senti um cansaço fácil e reparei na urina escura. Desconfiei. Fiz análises que acusaram hepatite B.

– Foi indemnizada? Contou com o apoio da administração do hospital?

– Não há indemnização. A classificação de acidente de trabalho só foi aceite pela junta médica na terceira exposição.

– Foi difícil provar o acidente?

– Não foi fácil, mas acabaram por classificar o acidente de trabalho. O que não aconteceu com uma colega.

– O que é que lhe aconteceu?

– Uma enfermeira que trabalhava no sanatório do Hospital de Torres Vedras foi infectada com a tuberculose e morreu meses depois de uma junta médica não reconhecer o acidente de trabalho e ter negado o direito à reforma por invalidez.

– Alguma vez se sentiu discriminada no local de trabalho?

– Não. O acidente ocorreu quando trabalhava na Urgência e já saí, fui trabalhar para outro serviço mas a saída não tem ligação com o acidente e nunca fui discriminada.

– Toma mais precauções?

– Sim, para minha protecção e do doente.

Exclusivo Correio da Manhã 28 de Junho 2010

ALBERTO DO MÓNACO VAI CASAR


O Governo do Mónaco anunciou, esta quarta-feira, o noivado do príncipe Alberto com Charlene Wittstock, antiga campeã sul-africana de natação.

Laetitia Pierrat, porta-voz da Casa Real, frisou que este "será o primeiro casamento de um príncipe reinante" desde que Rainier III casou com Grace Kelly, em 1956.

Quarta-Feira, 23 de Junho de 2010

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Sábado, 26 de Junho de 2010


Príncipe D. Afonso vai estudar em Colégio inglês

O Infante D. Afonso deixará o Colégio de S. João de Brito, em Lisboa, indo estudar em Setembro num prestigiado colégio interno inglês.
O primogénito dos Duques de Bragança tem 14 anos e concluiu o ensino básico com boas notas.

"Achámos que seria útil fazer esta experiência numa escola tradicional inglesa, marcadamente católica e com uma forte componente de formação militar".

Os duques de Bragança optaram por não colocar o Infante em nenhum dos mais prestigiados colégios britânicos, Eton ou Harrow, onde estão os filhos das mais conservadoras famílias reais europeias, preferindo um colégio católico. SAR D. Duarte não quis revelar o nome da escola por razões de segurança e por ter feito esse compromisso com o director da escola. Contudo, será nas proximidades de Londres, onde poderá contar com o apoio de dois primos , da linha Liechtenstein da família, que também estudam no mesmo colégio.

D. Afonso de Bragança optou pela área científica ,"é um jovem muito interessado em Biologia marítima e acredita que o futuro de Portugal está no mar", explicou SAR D. Duarte. "Tanto eu como a minha mulher e ouvindo o meu conselho privado achámos que seria útil experimentar a escola inglesa. O objectivo é que o Infante tenha uma visão mais internacional".

Os restantes príncipes D. Maria Francisca e D. Dinis, têm pena de que o irmão mais velho vá estudar para longe, dado que são muito próximos e unidos. O Sr. D. Duarte já lhes respondeu que "hoje em dia é fácil ir a Londres, sobretudo porque há muitas viagens baratas".

No colégio jesuíta de Lisboa o Infante era bom aluno, não sendo o melhor da turma. "É muito bom naquilo que gosta e menos empenhado nas restantes disciplinas. Apesar de estar contente por iniciar uma nova etapa da sua vida académica, fica com pena de deixar o Colégio e o grupo de amigos que reuniu" explicou SAR D. Duarte de Bragança, Duque de Bragança.

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ADVOGADOS E SOLICITADORES COM ACESSO A DADOS DO FISCO

Advogados e solicitadores com acesso a dados do Fisco
ADVOCATUS 28-Jun-2010

Fisco mostra dados de mais de 200 mil contribuintes a advogados e solicitadores nos casos em que estes tenham em mãos contribuintes devedores e seja necessário proceder à penhora ou arresto dos seus bens. Para o fiscalista, Tiago Caiado Guerreiro, esta é uma medida destruidora total da privacidade dos cidadãos.

De acordo com o Diário Económico (DE), o número de consultas directas às bases de dados do Fisco, para obtenção de informações de contribuintes devedores por parte de agentes de execução, está a disparar em 2010. Entre Janeiro e Maio, mais de 200 mil contribuintes viram alguns dos seus dados, à partida protegidos pelo sigilo fiscal, consultados por solicitadores e advogados sem a autorização judicial que costumava ser necessária. Objectiva: rápida identificação de bens de devedores para o pagamento de dívidas através de penhoras ou arrestos. Para o fiscalista, Tiago Caiado Guerreiro, as mais de 200 mil consultas directas a determinados dados protegidos pelo sigilo fiscal revelam que, "quanto mais difícil é a situação económica, maior é o incumprimento". Situação que, continua o especialista, é agravada pelo prolongamento da crise e do desemprego, pelo que "é para agravar" a tendência de extracção de dados da administração tributária. "Está a criar-se, em Portugal, a destruição total da privacidade. O Estado degradou o sistema a um nível, que vale tudo para o acesso à informação", remata Tiago Caiado Guerreiro.

BASTONÁRIO ADMITE CONTRARIAR A DECISÃO DOS TRIBUNAIS


Bastonário admite contrariar decisão dos tribunais
ADVOCATUS 28-Jun-2010

Marinho e Pinto garante que não vai desistir de obrigar os novos licenciados a fazerem um exame de acesso à Ordem dos Advogados (OA).
O bastonário da OA, não desiste e garante que qualquer candidato ao estágio de acesso à advocacia terá de fazer um "exame de aferição seis meses depois" de se inscrever na Ordem, independentemente da decisão dos tribunais. A afirmação de Marinho e Pinto foi proferida este fim-de-semana, no Encontro Nacional dos Advogados de Empresa, em resposta aos estudantes que contestam, em tribunal, a prova criada pelo bastonário, para impedir os licenciados de Bolonha, de se inscreverem directamente na OA.

Recandidatura a bastonário apresentada hoje
Marinho Pinto apresenta hoje, Segunda-feira, 28, nas instalações do Conselho Distrital do Porto, a sua candidatura a Bastonário da Ordem dos Advogados. Esta será a apresentação nacional da recandidatura do actual bastonário da OA, agendada para as 18h30, na Rua Gonçalo Cristóvão, 347-R/C Fracção B (Centro Empr. Mafre).

BISPOS BELGAS EM ISOLAMENTO DURANTE BUSCAS POLICIAIS


Bélgica: Raides em casas e gabinetes de bispos suspeitos de pedofilia


Papa denuncia acção “deplorável”

O Papa Bento XVI considerou ontem "surpreendentes e deploráveis" os raides de quinta-feira a casas e gabinetes de bispos da Igreja belga, durante os quais foram violadas, pelo menos, duas sepulturas de prelados.


Em carta ao líder da Conferência Episcopal belga, o Santo Padre exprimiu "solidariedade" aos bispos visados e criticou a "forma deplorável como as buscas foram levadas a cabo". Bento XVI fez votos para "que a Justiça siga o seu curso", mas lembrou a necessidade de "assegurar os direitos de indivíduos e instituições, respeitar as vítimas e reconhecer o esforço dos que aceitam colaborar".

O Vaticano havia já confrontado a Bélgica com os abusos "sem precedentes até mesmo em regimes comunistas". A operação foi levada a cabo durante uma reunião dos bispos belgas, que ficaram em isolamento durante nove horas, até ao final das buscas.

Correio da Manhã 28 de Junho 2010

Saturday 26 June 2010

ENTREVISTA A D. JANUÁRIO TORGAL FERREIRA


Entrevista

"Concordo e aceito um homem que viva com um homem"

por Rosa Ramos, Publicado em 26 de Junho de 2010 Actualizado há 6 horas


Polémico e desassombrado, critica Cavaco Silva, mas não acredita que a Igreja procure um candidato alternativo


D. Januário, 72 anos, recebeu o i em sua casa, em Lisboa


No Natal, e apesar de "conhecer mal" os vizinhos, distribui postais pelas caixas de correio do prédio, no centro de Lisboa. Diz que é o único bispo "a morar num andar" e tranca-se a sete chaves em casa, mesmo de dia. "Fui assaltado, sabe? Mas só me levaram uma máquina fotográfica digital", conta, antes de nos fechar à chave dentro do apartamento. O bispo das Forças Armadas e de Segurança, D. Januário Torgal Ferreira, é assim: nunca faz cerimónias e recusa-se a fazer fretes. Vive em Lisboa há 22 anos, mas jura que ainda tem o Porto no coração. Na sala, há um quadro gigantesco com um poema de Eugénio de Andrade e várias fotografias da mãe - "uma das primeiras mulheres a formar-se em Portugal". No escritório tem pilhas de livros até ao tecto. Devem ser uma dor de cabeça para a empregada que lhe limpa a casa duas vezes por semana. D. Januário reformou--se o ano passado da vida militar e deixou de ter gabinete no Ministério da Defesa, mas ainda faltam mais de três anos para acabar o "mandato" de bispo. Provavelmente, continuará a ser inconveniente e polémico até ao fim. Defende Saramago e os homossexuais, elogia as manifestações da CGTP, critica o mediatismo da sociedade. Mas depois fala do amor e do mundo com a ingenuidade e a emoção de uma criança. O bispo das Forças Armadas vai à praia de calções e diz que se irrita com "críticas gratuitas". Aos 72 anos, confessa que odeia autobiografias: "São detestáveis. Ontem já não era eu."

Costuma googlar o seu nome?

Uma ou outra vez. A primeira foi há mais de dez anos, no estrangeiro, por sugestão de um padre meu amigo. Na altura tinha seis páginas de resultados, fiquei muito admirado. Hoje devem ser mais de 30! É uma ferramenta interessante, porque permite medir as animosidades e as simpatias que vamos suscitando. De vez em quando, lá vou ver o que se escreveu de novo. E a informação nunca se perde, eterniza-se. Por exemplo, agora com a morte do Saramago, lembrei-me das críticas que recebi na altura em que ele recebeu o Nobel...

Por causa de o ter defendido?

Sim. Quando comecei a lê-lo tive dificuldade em entrar no estilo. Não foi daquelas pessoas com quem simpatizasse muito, no início, do ponto de vista literário. Mas acabei por ir descobrindo e compreendendo a sua obra que, de facto, é genial. E isto escandalizou muitas pessoas.

Não ficou chocado quando leu o "Evangelho segundo Jesus Cristo"?

Não. A mim o que me chocou foi perceber que muita gente o atacava só por ser comunista e por não ser católico. Isso não tem nada a ver com a qualidade da sua produção literária. Nessa altura, falava--se de como ele era demoníaco por ter escrito uma obra sobre Jesus Cristo, desumanizando-o e humanizando-o ao ponto de tudo aquilo ser uma ficção, uma mentira. Era uma negação, um Cristo grotesco. Eu pensei muitas vezes: "Este homem diz-se ateu e tem expressões terríveis sobre Deus, mas ao mesmo tempo tem conceitos extremamente humanizadores quanto à figura de Cristo." Saramago não era de Deus, mas passava a vida a falar de Deus. Ele, no fundo, tinha interesse por Deus! E deve merecer respeito pelo seu ponto de vista. A única coisa que me entristece e me distancia de certas leituras é a agressão gratuita, a calúnia, o banditismo mental, a inquisição ao contrário.

Na semana passada, o "Osservatore Romano" chamava Saramago de "populista e extremista". Revê-se nisto?

[Olha para o exemplar do jornal do Vaticano que tem em cima da mesa] Eu não! Eu pensei que esse extremismo já tivesse passado, esse radicalismo. Não ficava mal mostrar alguma sensatez - mantendo a verdade - diante de uma pessoa que já cá não está para se defender. É claro que discordo de muitas interpretações de Saramago e tenho pena que ele tenha demonstrado um conjunto de desconhecimentos em relação às estruturas bíblicas, mas dou-lhe o mérito de se ter interessado por Deus. Talvez ele não gostasse que eu dissesse isto, mas não sei se esse interesse não esconderia uma grande inquietação dele, uma grande procura de Deus. Só que o procurava ao contrário. Uma coisa é a interpretação estético-literária. Outra coisa é a interpretação exegética ou espiritual. Não separar as duas vertentes mostra uma crise de cultura.

Normalmente a Igreja é um pouco inflexível nestas matérias...

O que eu acho, então, é que há uma soma de pessoas, e digo-o com respeito, que ficaram perfeitamente analfabetas, cheias de complexos, de maldade, de sensualidade, quase castradas. Quem conhece o mundo e o adora, olha-o de forma límpida e feliz. Eu dou graças à vida e aos educadores que tive, por olhar para o mundo de forma descomplexada e desinibida. É como quando me dizem: "Ah... você vai para a praia e para a piscina de calções." E então? Qual é o problema? Sou um cidadão como outro qualquer!

Mas já lhe disseram isso?

Directamente, não. Mas as pessoas encontram--me na praia. Vamos imaginar a seguinte situação: "Então você estava ali deitado, ao lado de uma rapariga a fazer topless?" E então? Que mal teria? Só um tarado é que vai para a praia pensar nessas coisas. Por vezes, a maldade está na forma como se pensa o mundo. E veja lá onde a conversa já foi parar... [risos]

Então vamos voltar ao Google. Sabe que os primeiros resultados que aparecem são coisas pouco simpáticas a seu respeito?

Não sei... hum...

Criticam-no por ser de esquerda, por exemplo...

Isso para mim até é muito simpático. Se as pessoas entenderem que ser de esquerda é falar dos problemas sociais, defender gente desempregada, demonstrar diante de sistemas governamentais a sua inutilidade, desvarios e erros... Tenho-me batido por isto e até dada altura parecia estar sozinho na luta. Fiquei contente quando ouvi, recentemente, o grande bispo do Porto, D. Manuel Clemente, falar sobre as Scut. É importante um bispo alertar para as condições sociais das populações. Foi o grito de um cidadão bom, inteligente, educado, que lança um alerta. Acho que o governo lhe devia agradecer.

Também se diz que é comunista...

Pronto. Ora aí está... As pessoas partidarizam tudo. Eu digo, realmente, que foi o Partido Comunista que devolveu a voz ao Alentejo...

Mas é?

Não. Toda a gente sabe que não tenho nenhum enquadramento partidário. Mas escolho, naturalmente, o meu voto no dia em que há eleições e sei em quem tenho votado. Ora mais à direita, ora mais à esquerda.

E ultimamente?

Nos últimos longos anos, mais à esquerda do que à direita. Mas já votei à direita. Eu não devo é entrar, publicamente, enquanto bispo, em atitudes partidárias. Já as tive, mas não como bispo. Toda a gente sabe que estive muito ligado, em tempos, a determinados aspectos da social--democracia. Dei-me muito bem com o Sá Carneiro. Mas, para mim, o espectro político não acaba aí. Desde que vim para Lisboa, comecei a ver e a descobrir os interesses, as podridões, as lutas pelo poder. Não entro em questões partidárias. Mas ponho uma tónica na doutrina social da Igreja. E hoje, mais do que nunca, fala-se do desemprego, do défice, das dificuldades e das desigualdades sociais.

Também existem essas lutas pelo poder dentro da Igreja?

Não, embora não diga que não haja diferenças dentro da Igreja. No entanto, eu às vezes até acho que somos demasiado afinados. Eu não quero a anarquia, mas...

Discute-se pouco, é isso?

Eu gostaria de ouvir outras vozes.

Recordo-me que há tempos, quando Obama esteve na China e falou dos direitos humanos, disse que um líder não pode ter medo. Considera que Cavaco Silva teve medo quando decidiu promulgar o casamento entre homossexuais?

Não o quero interpretar. Só posso interpretar o texto que ele publicou. A mim o que me impressionou negativamente nem foi o facto de ter promulgado o casamento, apesar de ser um casamento com o qual eu não concordo e que entendo como união. Fiquei, sim, muito admirado com a produção cultural insuficiente da argumentação usada: dizer que não veta por causa da situação crítica que estamos a atravessar? Mas há aqui alguma relação de causa e efeito? Vetar daria origem a manifestações gigantescas, descontentamento? Se ainda há dias houve uma manifestação espectacular, como todas as da CGTP, e Lisboa foi invadida por pessoas de todo o país, que quiseram protestar por estarem em causa o pão, os salários... Assumiram a defesa dos seus direitos... E houve alguma escaramuça? Qual mal-estar? Felizmente já demos vários passos na democracia!

O que é certo é que mesmo sendo vetada, a lei voltaria ao Parlamento e...

[Interrompe] Por isso mesmo! Ele sabia que o próprio ciclo da legalidade seria suficientemente rápido e teria um determinado efeito. Por isso, para que é que vem com uma explicação que é perfeitamente inadequada, inconveniente, injustificada e incoerente? A sério que não vejo como é que uma situação crítica do ponto de vista económico-financeiro pode ser agravada com a legalização de um homem casar com um homem ou de uma mulher com uma mulher.

Portanto, o que o aborreceu não foi a aprovação do casamento, mas sim a fraca argumentação de Cavaco Silva?

Há coisas que não se podem misturar e que eu não quero misturar. Cavaco Silva não precisava de invocar a sua posição católica a primeira vez, nem justificar se agora tem uma posição diversa, ou não. Eu faço uma análise independente das minhas convicções católicas. Não me parece que pegue, vindo de uma pessoa minimamente apetrechada do ponto de vista cultural, a explicação do senhor Presidente da República. Mas não me compete julgar. Nem analisar ou comentar.

Mas o assunto caiu mal na igreja. O cardeal-patriarca foi muito explícito nas críticas e a Igreja até estará à procura de um candidato alternativo...

Caiu mal, sim. Mas não acredito nisso de se procurarem candidatos. As pessoas sabem que, eventualmente, podendo haver um candidato à direita de Cavaco Silva... será difícil encontrar alguém capaz de o vencer. Mas isto são assuntos da política. A crítica a Cavaco Silva tem o seu fundamento. Para mim, independentemente do conteúdo - eu não concordo com a noção de casamento -, concordo e aceito um homem que viva com um homem e uma mulher que viva com uma mulher.

Isso não o choca?

É evidente que não. A atitude que tenho de ter é a respeitabilidade.

E há mesmo um guião de homilias contra Cavaco Silva?

É uma grande novidade, em absoluto, que me está a dar. Ignoro isso em absoluto.

Vai votar nele?

Vou votar naquele em que achar que devo votar.

Mas uma vez que o desiludiu...

O facto de ele ter dado uma má lição ou ter feito uma má redacção não quer dizer que eu não possa votar nele.

Como encara o movimento de gays católicos?

São pessoas que põem problemas. Eu acho que o drama de cada pessoa deve ser entendido. Nós julgamos e jogamos com generalidades. Eu despertei para este problema já há muitos, muitos anos, quando conheci um casal que já não era jovem e que me confessou, amargurado, que o filho era homossexual. E eles sofriam e diziam: "Não discriminamos o nosso filho, achamos que não é um crime." Nós podemos não aceitar nem entender que os nossos filhos sejam homossexuais, mas temos de os amar, não os podemos afugentar. E a Igreja só pode ter uma atitude: acolher, ouvir, tentar entender. Eu às vezes pergunto a colegas: "Você já alguma vez falou com um homossexual?" É que eu já e sabe o que é que vi? Uma pessoa que sofria loucamente, porque não era entendida, porque tinha uma orientação sexual que não é aceite socialmente. Alguém que se sentia só, escorraçado. Alguém que se escondia.

A Igreja acolhe os homossexuais, na verdade. Desde que não pratiquem a sua homossexualidade...

Com certeza que um casal homossexual não é um teórico, não é? E os afectos traduzem-se por essa prática, por essa fusão psíquico-afectiva da unidade misteriosa que é o ser humano.

A Igreja tem de entender isso?

Entender, sim. Sacralizar é que não - porque o amor, para a Igreja, é um sacramento, o matrimónio. Esta é uma matéria muito complexa, que tem de ser muito bem compreendida. E nenhuma instituição pode dizer se aceita ou não aceita. Cada caso é um caso.

Que opinião tem dos novos movimentos? Em Portugal, o Papa disse que são a nova Primavera da Igreja, mas depois recomendou algum cuidado aos bispos. Em que é que ficamos?

As duas coisas são compatíveis. Eu gosto dos novos movimentos. Há um ou outro mais exagerado, mas não vou mandar recados através do jornal. Na minha diocese não tenho esse problema. Mas se tivesse, chamá-los-ia e dialogaria. Há particularidades que podem chocar dentro da Igreja, por isso o mais importante deve ser criar um espírito de comunhão. E são uma Primavera, de facto. Admiro, por exemplo, os neocatecumenais, apesar das críticas, porque entregam, a partir de determinada altura, 10% do que ganham. Qual de nós é capaz de dar uma pequena parte do seu salário para os pobres e para uma obra de bem comum? Só que, de uma maneira geral, há muito o espírito de tribo e o que o Papa pediu foi que os bispos estejam atentos, no sentido de promoverem uma maior abertura.

De movimento para movimento, os ritos são muito diversificados. A longo prazo, isso não poderá pôr problemas à Igreja e causar rupturas?

Tem razão. Por isso mesmo é que o Papa pede diálogo, acompanhamento e proximidade. A convicção que tenho é que muitos movimentos estão em roda livre e alguns correm o perigo de serem uma igreja dentro da Igreja.

Tem criticado o centralismo do Vaticano. Porquê?

Julgo que deveríamos estar muito mais próximos - nós, Conferências Episcopais - e que o Vaticano nos deveria atender mais. Acho, por exemplo, que o presidente da Conferência Episcopal deveria ser uma espécie de núncio, o nosso representante muito próximo da Santa Sé.

Mas já temos um núncio...

Mas há muita gente que defende que os núncios deviam desaparecer e a ligação com Roma passar a ser feita de uma maneira muito mais próxima, através do presidente das Conferências Episcopais. Não sei se isto faz sentido ou não, mas que há centralismo, há. Roma fica longe. Devíamos estar mais perto e as nossas decisões deveriam ser mais ouvidas no Vaticano.

E existir maior liberdade para decidir?

Há um dirigismo muito grande. Por exemplo, decretou-se, no ano passado, o ano sacerdotal e decidiu-se que se iria falar sobre sacerdotes. Não poderíamos, dentro da Igreja em Portugal, decidir outra temática para cada diocese trabalhar? Às vezes, parece que vem tudo feito de Roma. Digo isto no sentido construtivo, claro. E no sentido de se aumentar a comunhão profunda com Roma.

É conhecido por dizer sempre tudo o que pensa. Diz mesmo?

Sim, sempre. Quer dizer... Agora estou a ir para velho e chega-se à conclusão de que não vale a pena gastar certas munições.

Então mas porquê? Já teve más experiências?

Não, não tive. Normalmente, digo o que penso.

Mas de certeza que já recebeu puxões de orelhas por falar de mais ou dizer coisas que não devia...

Já. De pessoas que discordam das minhas ideias. Recebo tantas cartas antipáticas! Um dia, hei-de publicá-las a todas! Não me importo, naturalmente, que existam posições diversas das minhas. Só me chateia que as pessoas deturpem o que defendo ou partam para o insulto e para a agressão gratuita.

E de dentro da Igreja?

Chamaram-me a atenção uma ou duas vezes.

A propósito de quê?

Planeamento familiar, por exemplo. Só que eu continuo a pensar o mesmo que pensava e a dizer o que dizia. O que vem provar que, da minha parte, não há a mínima hostilidade. Há uma grande comunhão e amor à Igreja e estou convicto, pela minha experiência pastoral, que aquilo que defendo será muito em breve uma realidade. Eu não aceito o dogmatismo dos métodos naturais. Por vezes, as pessoas não querem ser realistas. Mas o mais importante é que se continue sempre em grande diálogo, porque a verdade nunca se possui plenamente.

Teve um percurso académico longo, foi professor universitário, esteve muito ligado à filosofia e estudou muito. Nunca se sentiu tentado a pôr em causa alguns dogmas da Igreja?

Nunca. Pelo contrário. Quanto mais estudei, mais aumentei a minha fé e mais encontrei explicações racionais para a minha fé. Sabe qual é o grande mal no que toca à religião? Ninguém estuda nada, nem o primário. Mas toda a gente tem opiniões.

A fé cabe, então, no domínio da razão?

Fui sempre buscar à cultura filosófica razões e motivos para tornar mais lúcida a minha visão dos grandes problemas da fé. Há uma frase de Pasteur de que gosto muito: "Porque eu estudei muito, tenho a fé de um bretão. Mas se eu tivesse estudado mais, teria tido a fé de uma mulher da Bretanha" - porque a mulher é mais piedosa. Esta frase tem sido um dos grandes guias da minha vida.