Tuesday, 18 June 2013

SOBREVIVENTES DO HOLOCAUSTO VISITAM PORTUGAL

Sobreviventes do Holocausto visitam Portugal esta quinta-feira
 
Sobreviventes da Segunda Guerra Mundial chegam esta quinta-feira a Cabanas de Viriato, à casa de Aristides de Sousa Mendes, o cônsul de Portugal em Bordéus que os salvou.
 
Acompanhados por familiares, os sobreviventes encontram-se a partir desta segunda-feira em Portugal para uma visita a Cabanas de Viriato, em Carregal do Sal, à casa que pertenceu ao diplomata Aristides de Sousa Mendes, responsável por salvar várias pessoas do Holocausto.
 
A visita de cinco dias inclui, ainda, passagens por Vilar Formoso, Guarda, Belmonte, Figueira da Foz, Curia, Coimbra, Caldas da Felgueira e Tomar.
 
"Os locais de visita abrangem os diversos núcleos judaicos incluídos na 'Rota das Judiarias', assim como localidades e espaços onde alguns refugiados portadores do visto Sousa Mendes viveram durante a II Guerra Mundial", refere uma nota de imprensa do Turismo Centro de Portugal.
 
Os sobreviventes terão, também, a oportunidade de participar numa cerimónia no cemitério de Cabanas de Viriato e visitar a igreja onde Aristides de Sousa Mendes se casou com a primeira mulher, Angelina, na próxima quinta à tarde. A visita à propriedade do diplomata, conhecida por Casa do Passal, é o programa seguinte. Em frente à casa, o arquiteto Eric Moed, neto de um refugiado, está a preparar uma instalação artística.
 
A organização admite que "para todas essas famílias, Portugal foi o símbolo da paz e da esperança retomada" e que o país irá retomar o "caminho de liberdade".
 
A comitiva iniciou no passado dia 9, em França, uma viagem que pretende homenagear a memória de Aristides de Sousa Mendes, que salvou mais de 30 mil pessoas do holocausto, aos passar-lhes vistos, desobedecendo às orientações que tinha recebido de Salazar.
 
Esta iniciativa é organizada pela Fundação Sousa Mendes, nos Estados Unidos da América, pela comissão nacional francesa de homenagem a Aristides de Sousa Mendes e pela AJPN - Anónimos, Justos e Perseguidos durante o período Nazi.
 

Friday, 14 June 2013

FUNDAÇÃO ARISTIDES SOUSA MENDES



                                                       Memória

A lista de Sousa Mendes

Na próxima semana, meia centena de sobreviventes da Segunda Guerra Mundial, salvos graças aos vistos do diplomata Aristides de Sousa Mendes, chegarão à aldeia de Cabanas de Viriato, para honrar a sua memória   

 Olivia Mattis nunca esquecerá a história que ouvia a sua avó Lucie contar. A 10 de maio de 1940, ainda dormia com o marido, em Bruxelas, quando ouviu o som de uma explosão e correu para a janela. Já era de manhã, o sol brilhava - e mísseis prateados rasgavam o céu azul.
 
Lucie correu a ligar o rádio. A Alemanha acabara de invadir a Bélgica, a Holanda e o Luxemburgo. Embora ninguém desconfiasse da perseguição que os nazis haviam de fazer aos judeus, a sua ideologia antissionista já era conhecida. Em poucas horas, o casal fez as malas, chamou alguns familiares e apanhou um comboio para Paris.
 
Dias depois, o seu bairro, na capital francesa, foi bombardeado. O clã Mattis continuou a fuga para sul e chegou, por acaso, a Bordéus. Aqui, um rabi ultraortodoxo, de longos caracóis ruivos, falou-lhes de um diplomata português. "Este cônsul está a ajudar centenas de pessoas", terá dito. A família logo entregou os passaportes no consulado. Em poucas horas foram devolvidos, carimbados. Escaparam para Portugal, embarcando no cargueiro Santarém, com destino ao Rio de Janeiro e, meses depois, começaram uma nova vida em Nova Iorque.
 
A história que a avó de Olivia contava terminava sempre assim, com a referência a um cavalheiro sem nome, que salvara 12 membros da família. A sua identidade permaneceu um mistério, durante sete décadas. Até que, em abril de 2010, o pai de Olivia fazia zapping e parou num canal francês, intrigado pelo filme Disobedience, do cineasta Joel Santini. Quando passaram os créditos, tomou nota do nome do realizador e enviou-lhe um e-mail, a que este respondeu de imediato. O pai de Olivia reencaminhou as mensagens para a filha. "Descobri o homem que salvou a nossa família", escreveu. "Chama-se Aristides de Sousa Mendes."
 
O nascer de uma fundação
 
Olivia diz que o diplomata "tornou-se rapidamente numa obsessão". A musicóloga, com um doutoramento na Universidade de Stanford, começou a reunir informação sobre o português e organizou uma lista de pessoas, nos EUA, interessadas em Sousa Mendes. "Mas foi apenas quando conheci a sua família, e percebi as dificuldades por que tinham passado, que decidi envolver-me", diz. "Contaram-me que sonhavam recuperar a casa onde ele viveu, em Cabanas de Viriato, mas não tinham fundos. Então disse: 'Vamos angariar esse dinheiro nos EUA."
 
Nesse verão de 2010, Sebastian Mendes, neto do diplomata, reuniu-se em Washington com Lissy Jarvik e Harry Oesterreicher, cujas famílias receberam vistos, e Miguel Ávila, um gestor português emigrado na Califórnia. "No final da reunião, a fundação encontrava-se desenhada", afirma. "Tínhamos administração, presidente, estatutos, tudo." Em setembro, a Sousa Mendes Foundation já existia legalmente.
 
O primeiro objetivo era angariar dinheiro para recuperar a Casa do Passal (no último ano, juntaram cerca de 40 mil euros). Além disso, pretendiam divulgar a história do cônsul, com a realização de palestras, filmes e exposições, e, finalmente, queriam identificar todas as pessoas salvas.
 
Meses depois, Olívia visitou os pais, em Salt Lake City, no Utah, e aproveitou para conhecer a Biblioteca da História da Família. Nesta instituição, gerida pela igreja Mormon, acedeu a uma gigantesca base de dados. Com a lista de vistos emitidos a seu lado, pesquisou um primeiro apelido e... surgiu um resultado. O nome aparecia num rol de passageiros de embarcações com destino aos EUA. A seguir, mais um, e outro e outro. Rapidamente, percebeu que a lista era muito mais extensa do que imaginara. "Com o mesmo passaporte, podiam viajar várias pessoas", explica. Hoje, calcula-se que as assinaturas de Sousa Mendes tenham salvo cerca de 30 mil pessoas.
 
Olívia regressou a Nova Iorque, ampliou e imprimiu a lista de nomes e fez uma enorme colagem, que espalhou no chão da sua sala. Em janeiro do ano passado, perguntou a vários colaboradores da fundação se queriam ajudar nesta operação gigantesca de busca. Todos disseram que sim.
 
Nove pessoas trabalham hoje no projeto, esclarece Olivia, que é agora presidente da fundação. "Vivem em vários Estados americanos e uma investigadora reside na Bélgica. Ninguém trabalha a tempo inteiro e são todos voluntários, mas dedicam uma grande parte do seu tempo a esta missão."
 
Em 18 meses, identificaram cerca de 3 mil pessoas que Sousa Mendes ajudou a fugir dos nazis. A maioria reside nos EUA, mas há outros no Brasil, Canadá, Israel, Bélgica, França, Holanda, Suíça, Portugal, Rússia e Polónia.
 
A equipa tem o trabalho facilitado: já não precisa de visitar bibliotecas. Tem acesso a páginas online como a ancestry.com ou a familysearch.org através das quais podem aceder a enormes bases de dados. "Se encontramos alguém... bingo! Fazemos um telefonema."
 
Uma descoberta transformadora
 
No início do ano passado, Jonah Peretti, fundador dos sites de informação Huffington Post e BuzzFeed, recebeu um desses telefonemas.
 
A sua mãe, Della, estava em Genebra, na Suíça, mas ele contactou-a imediatamente. "Mãe, telefonaram-me de uma fundação. Dizem que fomos salvos por um homem chamado Sousa Mendes." A americana lembrou-se, então, de uma carta que a mãe escrevera antes de morrer, contando a sua fuga da Suíça. Quando regressou à Califórnia, recuperou o manuscrito:"Assim que chegámos a Portugal, tudo melhorou, de forma mágica... víamos sorrisos, era limpo, acolhedor, cuidado... Que alívio!"
 
Sobre a passagem pelo País, era tudo. "Fiquei chocada", lembra Della. "Seis pessoas da minha família receberam vistos e não sabia da existência do cônsul. Ninguém o conhece nos EUA. Como é possível?"
 
Meses depois, reformou-se da Universidade de Berkeley, onde era responsável por um mestrado em ciências da educação. "Estava à procura de um projeto para a minha reforma e este veio ter comigo", congratula-se. Prepara agora a tradução de um livro de banda desenhada que a fundação vai editar, faz parte da sua equipa de pesquisa e dá palestras. Por estes dias, participará numa viagem organizada pela Sousa Mendes Foundation, ao lado de Olivia Mattis e de outras 44 pessoas de oito países. Começaram no dia 9 de junho, em Paris, e terminam a 23, em Lisboa. Pelo caminho, irão visitar Bordéus, Vilar Formoso, Figueira da Foz e Cabanas de Viriato, para honrar a memória do cônsul.
 
Antes de partir para França, a 11 de abril, a professora discursou, no Tribunal Civil de Queens, em Nova Iorque, perante mais de 80 pessoas. O tema foi "Aristides de Sousa Mendes: um herói desconhecido". A americana contou a história de um homem nascido no seio de uma família privilegiada, que se tornou diplomata e contrariou as ordens de Salazar, ao emitir milhares de vistos, entre 16 e 23 de junho de 1940; mostrou imagens das suas assinaturas, muito corretas no início, depois desleixando os contornos, sobrando apenas um apelido mal desenhado nos últimos documentos; relatou o percurso dos fugitivos e mostrou uma fotografia da estação de comboios de Vilar Formoso, a primeira imagem que os refugiados tinham de Portugal; descreveu, finalmente, o julgamento deste homem, a forma como foi expulso da carreira diplomática, e como morreu, a 3 de abril de 1952, viúvo, com muitos dos 15 filhos dispersos pelo mundo, queimando as portas da sua casa para se manter quente. Della sublinhou todos os pormenores, captando a atenção dos americanos, que nunca tinham ouvido falar deste português, mas que foram sentindo de forma cada vez mais profunda as suas palavras, deixando primeiro cair algumas lágrimas, e rebentando, por fim, em aplausos.

Ler mais: http://visao.sapo.pt/a-lista-de-sousa-mendes=f735283#ixzz2WEE3O37W

 http://videos.sapo.pt/qzPugMZq7WbPeDw5IPcD#share

Monday, 27 May 2013

HELENA ROSETA CONTRA A DISTRIBUIÇÃO DE COMIDA AOS SEM-ABRIGO NAS RUAS


A vereadora quer novas soluções para o apoio aos sem-abrigo como a criação de cantinas com ambiente familiar e renovação dos abrigos “Toda a gente se oferece para voluntariar e ir para a rua distribuir comida aos sem-abrigo, como se fossem dar milho aos pombos” disse Helena Roseta, vereadora do Desenvolvimento Social da Câmara de Lisboa, em entrevista à Lusa para ilustrar a dificuldade de coordenar as associações que estão no terreno a dar apoio aos sem-abrigo. Ao i, Roseta explicou que a maneira como se processa a distribuição da comida em Lisboa “não tem condições nem dignidade”, defendendo por isso a existência de espaços onde as várias associações possam providenciar refeições aos sem-abrigo da capital.

“Com a quantidade de voluntários e associações que há em Lisboa, temos condições para fazer um trabalho personalizado com as pessoas que estão a dormir na rua” sublinhou Helena Roseta ao i, acrescentando que associações como a Serve the City Lisboa já proporcionam jantares comunitários em Alcântara de duas em duas semanas. A vereadora aposta em novas soluções para apoiar o número crescente de sem-abrigo na cidade – cerca de 2000, embora aponte a dificuldade de fazer um levantamento preciso desta população devido ao seu carácter itinerante – como locais com ambiente familiar” para as refeições, a reconversão de instalações do INATEL na Infante Santo em hotel social e a renovação dos albergues já existentes.

Uma das apostas da autarquia, em execução, é a criação de uma unidade de atendimento a sem-abrigo no Cais do Sodré, onde várias entidades vão procurar ajudar sem abrigo a resolver problemas de saúde, procurar trabalho ou tratar de documentação. O espaço foi cedido pela Câmara Municipal e vai ser coordenado pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

Desemprego

Para além do aumento de sem-abrigo, Helena Roseta diz que há uma mudança no perfil das pessoas que vivem actualmente na rua. “Já não falamos só de pessoas que sofrem de doenças mentais ou com histórias de adicção. Hoje temos pessoas que perderam o emprego e vão para dormir para a rua, incluindo muitos jovens e famílias completas” declarou a vereadora.

Segundo Helena Roseta, foi exactamente o desemprego a consequência da crise que mais teve impacto na cidade de Lisboa, “com cerca de 1000 novos desempregados todos os meses” no ano passado. A falta de recursos dos lisboetas, tem feito com que cada vez mais pessoas recorram à Câmara Municipal para pedirem uma habitação social. “Andamos à volta dos 1800, 1900 pedidos por ano. Agora a nossa capacidade de resposta anda à volta de uns 300 fogos por ano”, disse a autarca, apontando que a Câmara deveria construir e reabilitar entre 500 a mil fogos por ano, vendendo parte do seu património. Na entrevista à Lusa, Helena Roseta não esqueceu as críticas aos cortes levados a cabo pelo governo. “Isto põe em causa tudo. Tudo o que foi a construção europeia e a construção democrática de Portugal desde 1974. Nem no tempo de Marcelo Caetano ou de Oliveira Salazar se tiravam as pensões às pessoas. Isto é terrorismo social. É uma coisa inacreditável” disse a vereadora.

  http://www.ionline.pt/artigos/portugal/roseta-contra-distribuicao-comida-na-rua-aos-sem-abrigo

Thursday, 18 April 2013

ERRO NA FÓRMULA DO EXCEL USADA PARA JUSTIFICAR AUSTERIDADE

 

Artigo que inspirou uma legião de fãs de políticas restritivas tem falhas, segundo investigadores da universidade de Massachusetts
 
Na base das políticas de austeridade, estão uma série de contas. O problema é quando essas decisões de aperto de cinto partem de contas erradas. Foi o que se detetou agora em relação ao artigo «Crescimento em tempo de dívida», cuja fórmula de Excel utilizada pelos dois investigadores que assinam o texto parece ter falhas. O certo é que tem inspirado uma legião de fãs, desde o comissário Europeu para os Assuntos Económicos, Olli Rehn, até ao secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, por exemplo.
O artigo de Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff baseou-se em estatísticas entre 1946 e 2009 para concluir que o crescimento económico diminui drasticamente quando o nível da dívida pública de um país ultrapassa os 90% do Produto Interno Bruto (PIB). 

Segundo essa investigação, com uma amostra de 20 economias avançadas durante o período pós-guerra, o crescimento médio anual do PIB varia entre cerca de 3% e 4%, quando o rácio da dívida pública em relação ao PIB é inferior a 90%. Mas o crescimento médio cai para -0,1% quando a proporção sobe acima de um limiar de 90%.

O que se constata agora é que uma dívida pública elevada pode não ter consequências assim tão negativas no crescimento económico de um país, mas foi nisso que se centraram muitas decisões políticas (leia-se, de austeridade) para resolver a crise na Europa.

Numa análise ao artigo daqueles dois investigadores, outros três da universidade de Massachusetts detetaram que os resultados do artigo que tem servido de base a políticas de austeridade nos últimos três anos «estavam baseados numa série dados errados e técnicas estatísticas incomportáveis», lê-se num artigo publicado pelo Financial Times esta quarta-feira. 

«Quando realizámos novos cálculos precisos, utilizando [o mesmo] conjunto de dados, verificou-se que, quando o rácio de dívida em relação ao PIB é superior a 90%, o crescimento médio é de 2,2%, e não -0,1%. Descobrimos também que a relação entre crescimento e dívida pública varia muito ao longo do tempo e entre países», frisam Thomas Herndon, Michael Ash e Robert Pollin. 

O artigo da polémica excluiu, por exemplo, anos em que os países com dívidas com um peso superior 90% registaram sólidos crescimentos económicos, como foi o caso da Austrália e Canadá, ambos entre 1946 e 1950, e Nova Zelândia (entre 1946 e 1949). Apresenta falhas também ao peso atribuído à duração do crescimento do PIB e os erros de código no Excel, que deixou de fora da análise cinco países: Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá e Dinamarca.

«Então, o que é que isso significa?», questionam. Ora, se considerarmos uma situação em que um país está a aproximar-se do limite de 90% na relação dívida pública / PIB, isso não quer dizer que esse país está a atingir «um ponto perigoso onde o crescimento económico é susceptível de diminuir vertiginosamente». 

Pelo contrário, «a nossa prova corrigida mostra que o crescimento de um país pode ser um pouco mais lento», mas continua a existir. É muito importante, sublinham ainda, perceber se o crescimento lento é causa ou consequência de uma dívida pública elevada, antes de podermos tirar conclusões significativas. O que uma falha básica num cálculo de Excel pode fazer...
Harvard Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff já reagiram à crítica dos investigadores de Massachusetts. Argumentam que quiseram mostrar uma associação e não relação de causalidade entre dívida e crescimento e fazem questão de sublinhar que nesta última análise há resultados que não fogem muito aos seus. Remetem-se ao silêncio em relação ao erro detetado na fórmula de Excel.

http://www.tvi24.iol.pt/economia---economia/austeridade-erro-excel-formula-crescimento-em-tempo-de-divida-ultimas-noticias/1440448-6377.html