Portugal está entre os países da UE com maior crescimento das exportações. Os dados do segundo trimestre confirmam que esta tendência se mantém.
Os últimos cinco anos inverteram uma situação de crescimento das exportações abaixo da média da União Europeia, que já se mantinha desde 1990.
Este facto, que alimentou o discurso de perda de competitividade da economia portuguesa, parece já não se verificar há pelo menos cinco anos. Em quatro dos últimos cinco anos, o País teve um crescimento das exportações acima da média da UE15.
Portugal partilha alguns dos problemas de competitividade das outras economias da UE15 mas, dentro deste grupo de países, surge como o segundo com maior crescimento das exportações nos últimos 5 anos. Nos cinco anos anteriores estava entre os seis com menor crescimento (ver tabela).
Os dados do segundo trimestre confirmam esta tendência de crescimento. As exportações apresentam um aumento até superior ao verificado no primeiro trimestre, crescendo 15,4% face ao período homólogo. No primeiro trimestre de 2010, as exportações portuguesas tinham já crescido 14,8%, um valor que surpreendeu a maioria dos economistas, ficando muito acima das previsões das instituições internacionais.
Estes valores mostram que a indústria portuguesa está a ter uma capacidade de recuperação da crise superior à esperada.
Um facto interessante é a forte recuperação das exportações do sector automóvel, especialmente de componentes, que mostra que os programas de apoio ao sector permitiram manter a capacidade exportadora nesta importante indústria. Os aumentos de produção que se anunciam, como o da Peugeot-Citroen de Mangualde, sugerem que estas exportações devem continuar a crescer. O aumento das exportações foi também empurrado pelos combustíveis, químicos, borracha e pasta de papel. A entrada em laboração de grandes projectos de investimento nestes sectores deu um contributo decisivo.
As exportações para fora da União Europeia continuaram a aumentar a um ritmo superior à média, mesmo num período de retracção do mercado angolano, o maior fora da UE. Este mostra que a diversificação de mercados e a aposta em países de alto crescimento não está dependente apenas da evolução dos Palop.
Um aumento das exportações em um ou dois trimestres é um sinal positivo que deve ser visto com prudência. No gráfico, apresento valores para períodos de cinco anos, que comparam a evolução da taxa de crescimento média anual das exportações portuguesas com as da UE15 de 1960 até 2010.
Os dados de longo prazo revelam dois períodos de crescimento claramente acima da média da UE15. O primeiro foi o que se seguiu à nossa integração na EFTA e o segundo o da entrada na então CEE. O gráfico ilustra também o declínio da competitividade da economia portuguesa desde o início dos anos noventa, com três períodos consecutivos em que as exportações portuguesas cresceram ao mesmo ritmo ou abaixo das dos países da UE15.
A entrada no euro, o aumento da concorrência asiática, o alargamento ao Leste e o aumento dos salários acima da produtividade foram factores que contribuíram para este longo período de má performance das exportações portuguesas.
O mesmo gráfico mostra que nos últimos 5 anos esta situação se inverteu, com Portugal a apresentar um crescimento médio anual das exportações quase dois pontos percentuais acima do registado nos países da UE15. O País continua no euro e a concorrência asiática continua bem forte, mas, aparentemente, os nossos empresários estão a conseguir reagir aos desafios da globalização de uma forma melhor que os da maioria da UE15.
Os dados apresentados aqui mostram que a perda de competitividade e de capacidade exportadora não é uma fatalidade a que nos tenhamos de render.
O facto de os portugueses estarem a conseguir exportar, a conquistar novos mercados e a vender produtos diferentes dos que vendiam há uma década não nos deve levar a afirmar que tudo está a correr bem. Pelo contrário, o facto de mostrar que estamos cada vez mais a competir no mercado global faz com que a promoção de factores de competitividade seja hoje ainda mais determinante. Deve, assim, servir de incentivo a que se continue a remover barreiras ao aumento da eficiência e da produtividade das empresas portuguesas.
Por outro lado, não devemos também acreditar que o aumento das exportações conduzirá automaticamente ao equilíbrio das contas externas. Este depende do aumento da produção e das exportações, mas também da evolução do consumo e das importações. Se não houver moderação destes dois últimos, o aumento das exportações não conseguirá corrigir o défice externo.
12 Agosto 2010 JORNAL DE NEGÓCIOS
Manuel Caldeira Cabral
Os últimos cinco anos inverteram uma situação de crescimento das exportações abaixo da média da União Europeia, que já se mantinha desde 1990.
Este facto, que alimentou o discurso de perda de competitividade da economia portuguesa, parece já não se verificar há pelo menos cinco anos. Em quatro dos últimos cinco anos, o País teve um crescimento das exportações acima da média da UE15.
Portugal partilha alguns dos problemas de competitividade das outras economias da UE15 mas, dentro deste grupo de países, surge como o segundo com maior crescimento das exportações nos últimos 5 anos. Nos cinco anos anteriores estava entre os seis com menor crescimento (ver tabela).
Os dados do segundo trimestre confirmam esta tendência de crescimento. As exportações apresentam um aumento até superior ao verificado no primeiro trimestre, crescendo 15,4% face ao período homólogo. No primeiro trimestre de 2010, as exportações portuguesas tinham já crescido 14,8%, um valor que surpreendeu a maioria dos economistas, ficando muito acima das previsões das instituições internacionais.
Estes valores mostram que a indústria portuguesa está a ter uma capacidade de recuperação da crise superior à esperada.
Um facto interessante é a forte recuperação das exportações do sector automóvel, especialmente de componentes, que mostra que os programas de apoio ao sector permitiram manter a capacidade exportadora nesta importante indústria. Os aumentos de produção que se anunciam, como o da Peugeot-Citroen de Mangualde, sugerem que estas exportações devem continuar a crescer. O aumento das exportações foi também empurrado pelos combustíveis, químicos, borracha e pasta de papel. A entrada em laboração de grandes projectos de investimento nestes sectores deu um contributo decisivo.
As exportações para fora da União Europeia continuaram a aumentar a um ritmo superior à média, mesmo num período de retracção do mercado angolano, o maior fora da UE. Este mostra que a diversificação de mercados e a aposta em países de alto crescimento não está dependente apenas da evolução dos Palop.
Um aumento das exportações em um ou dois trimestres é um sinal positivo que deve ser visto com prudência. No gráfico, apresento valores para períodos de cinco anos, que comparam a evolução da taxa de crescimento média anual das exportações portuguesas com as da UE15 de 1960 até 2010.
Os dados de longo prazo revelam dois períodos de crescimento claramente acima da média da UE15. O primeiro foi o que se seguiu à nossa integração na EFTA e o segundo o da entrada na então CEE. O gráfico ilustra também o declínio da competitividade da economia portuguesa desde o início dos anos noventa, com três períodos consecutivos em que as exportações portuguesas cresceram ao mesmo ritmo ou abaixo das dos países da UE15.
A entrada no euro, o aumento da concorrência asiática, o alargamento ao Leste e o aumento dos salários acima da produtividade foram factores que contribuíram para este longo período de má performance das exportações portuguesas.
O mesmo gráfico mostra que nos últimos 5 anos esta situação se inverteu, com Portugal a apresentar um crescimento médio anual das exportações quase dois pontos percentuais acima do registado nos países da UE15. O País continua no euro e a concorrência asiática continua bem forte, mas, aparentemente, os nossos empresários estão a conseguir reagir aos desafios da globalização de uma forma melhor que os da maioria da UE15.
Os dados apresentados aqui mostram que a perda de competitividade e de capacidade exportadora não é uma fatalidade a que nos tenhamos de render.
O facto de os portugueses estarem a conseguir exportar, a conquistar novos mercados e a vender produtos diferentes dos que vendiam há uma década não nos deve levar a afirmar que tudo está a correr bem. Pelo contrário, o facto de mostrar que estamos cada vez mais a competir no mercado global faz com que a promoção de factores de competitividade seja hoje ainda mais determinante. Deve, assim, servir de incentivo a que se continue a remover barreiras ao aumento da eficiência e da produtividade das empresas portuguesas.
Por outro lado, não devemos também acreditar que o aumento das exportações conduzirá automaticamente ao equilíbrio das contas externas. Este depende do aumento da produção e das exportações, mas também da evolução do consumo e das importações. Se não houver moderação destes dois últimos, o aumento das exportações não conseguirá corrigir o défice externo.
12 Agosto 2010 JORNAL DE NEGÓCIOS
Manuel Caldeira Cabral
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