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Monday, 13 January 2014

PRESIDENTE DO CONSELHO EUROPEU EVOCA "CATÓLICO" ROBERT SCHUMAN

 

Presidente do Conselho Europeu evoca «católico» Robert Schuman, «pai da Europa» que pensava mais no futuro do que nos votos
 
Com este artigo quero prestar uma vibrante homenagem ao pai da Europa moderna, Europa que se chamou "Comunidade" e que tem hoje o nome de "União". Robert Schuman que nos deixou há 50 anos (a 4 de setembro de 1963) e o seu exemplo, o seu pensamento e a sua ação são para mim fonte de inspiração constante.
 
O homem que, a 9 de maio de 1950, fez entrar a Europa contemporânea na história, não estava só nem era o único. Outros Grandes da Europa marcaram o caminho ou levaram-no por diante: Aristide Briand e Gustav Stresemann (que receberam o prémio Nobel da Paz em 1926), depois Winston Churchill, Charles de Gaulle, Konrad Adenauer, Alcide De Gasperi e Paul-Henri Spaak; sem esquecer aquele "mentor" do projeto europeu que foi Jean Monnet, nem o "braço operativo" que esteve ao lado de Robert Schuman, o diretor do seu ministério Bernard Clappier. Homens provenientes de diversos horizontes, de diferentes convicções políticas, filosóficas e religiosas, mas que têm em comum o facto de terem inscrito a Europa e o projeto europeu na história. (...)
 
O pensamento e a ação destes Grandes da Europa são hoje desconhecidos ou, pior, ignorados. Por isso, é em relação a eles que quero testemunhar todo o meu reconhecimento através desta reflexão dedicada a Rober Schuman. Sim, Schuman: homem simples, modesto, calmo, honesto e reto, de temperamento sereno, dotado de prontidão de espírito e sentido de humor, que detestava a demagogia e era "impermeável" às modas intelectuais.
 
Este homem, que não fazia "gestos teatrais", tinha como reconhecida qualidade «a clareza, a precisão e as maneiras reflexivas de apresentar as argumentações» (citação do excelente trabalho de François Roth, "Robert Schuman, du Lorrain des fontières au père de l'Europe", 2008). Poderia ter dito «je suis ma conscience», "sigo" e "sou" a minha consciência. Estava ao serviço do bem comum e não exercitava o poder para fins pessoais. Homem de Estado, pensava, como Churchill, nas gerações seguintes mais do que nas seguintes eleições. Cristão, espiritualmente e socialmente católico, também ele gostava de recarregar-se com frequentes retiros no mosteiro.
 
Em suma, Robert Schuman exercitava, coisa mais rara do que geralmente se pensa, um poder autêntico. Porque, como escrevia Hannah Arendt, «o poder só é exercitado onde ato e palavra não tomam estradas separadas, onde os fins não são vazios de sentido e os atos credores de violência».
Era homem de abertura, homem das fronteiras que se encontram; para ele amar a Europa não queria dizer ignorar o próprio país, a própria região, a própria vila.
 
Porque cada homem precisa de ser "reconhecido": conhecido e reconhecido. Para existir, e não só para ser. E o reconhecimento passa através de referências, pontos fixos. Referências que cada pessoa se dá e que os outros lhe reconhecem. Referências feitas de laços sociais e familiares, mas também de laços históricos e geográficos. O homem faz parte da humanidade. (...) Ser um europeu sem laços não tem sentido. E poderia provocar apenas uma sensação de medo e retirada, derivada de uma perda de referências. Robert Schuman compreendeu-o bem.
 
Era de Evrange, da Lorena, de França, da Europa. Não "ou", mas "e". Porque as identidades não se anulam. Ao contrário, enriquecem-se reciprocamente e não se perde uma identidade adquirindo outra. Identidade europeia, porque Robert Schuman fez da Europa a obra da sua vida. O seu projeto, o seu desejo, era a Europa.
 
Na declaração que precede em alguns meses a declaração de 9 de maio de 1950, dizia já claramente que «a confiança entre os povos não se improvisa nem se impõe. Podemos chegar a ela apenas através de uma cooperação num quadro mais amplo no qual seremos muitos a dar prova de boa vontade. Esse quadro é a Europa». Declaração que não tem uma ruga. Porque a Europa é uma ideia generosa. É a colocação em ato do perdão, da reconciliação. «A Europa nascerá das realidades concretas que criarão antes de tudo uma solidariedade de facto», escreverá a Adenauer. E no seu livro "Pour l'Europe", publicado em 1963, fará esta análise: «Todos os grandes problemas que afligem os países saídos da guerra assumiram um caráter mundial e subtraem-se à autonomia política e económica dos países, mesmo dos mais poderosos». Se omitir as palavras «saídos da guerra», que hoje estão datadas, poderei descrever nos mesmos termos a crise económica e financeira que nos atingiu nos últimos anos.
 
Sim, a Europa era a sua questão primeira, a sua grande causa. Uma Europa baseada na solidariedade e na responsabilidade. Sobre valores que colocam "o homem no centro". O homem enquanto pessoa, aquele homem (entendido como homem ou mulher) que se apresenta não como um indivíduo puramente autónomo, mas como um indivíduo em relação de solidariedade, um indivíduo dotado de direitos e deveres; em suma, o homem que sabe ser interpelado pelo rosto do outro. O outro e portanto, necessariamente, a diversidade.
 
É precisamente a diversidade a construir a riqueza histórica europeia. E é a universalidade a constituir a nossa mensagem política. A universalidade, não o universalismo. A universalidade de uma palavra dirigida a cada homem. Ao contrário do universalismo, que considera a realidade como um todo único.
 
A Europa que era para Schuman, e é sempre para nós, um projeto em perpétuo devir. Porque a Europa, como a conhecemos hoje, é o resultado de um duplo moto de unificação e despedaçamento. E a tensão é parte integrante da nossa herança. Uma tensão que não é destrutiva, mas, ao contrário, vital. Porque nos impede de cair numa forma de letargia politicamente mortal. Uma tensão que nos obriga constantemente a "enquadrar de novo" o projeto europeu.

Herman Van Rompuy
Presidente do Conselho Europeu
In L'Osservatore Romano