Saturday, 28 August 2010
VELHA TENDINHA
DAVID VENTURA canta "VELHA TENDINHA" no musical "A CANÇÃO DE LISBOA" de FILIPE LA FÉRIA
A QUINTA DE CAVACO SILVA
Durante a visita à quinta, o Presidente sentou-se debaixo de um pinheiro, no mesmo local onde o pai gostava de estar.
Presidência: Cavaco faz visita guiada ao CM na sua quinta, nos arredores de Boliqueime
“Mantenho esta quinta em memória do meu pai”
"Agora vou vestir o fato de camponês." Cavaco Silva põe, deste modo, fim à conversa com o CM no pequeno escritório na sua casa de férias, em Albufeira. Minutos depois, o Presidente da República, acompanhado da mulher, aparece pronto para partir para a "Quintinha", como chama à propriedade de 3 hectares, essencialmente de pomares, situada nos arredores de Boliqueime, a cerca de 20 km da Aldeia da Coelha, e encostada ao campo de golfe do Millennium de Vilamoura.
Na "Quintinha", o Presidente da fala das árvores e dos seus frutos com o à-vontade de quem conhece bem a lida da terra, a terra onde estão, afinal, as suas raízes. Parece ter um orgulho particular pelas anonas. "Não há muito disto no Algarve", diz, ao mostrar-nos os frutos ainda meio verdes. "Antigamente, o Alberto João Jardim mandava-me anonas da Madeira, mas agora não, porque diz que as minhas são melhores do que as dele!"
Cavaco Silva herdou dos pais a propriedade rural, que já era do seu avô e do seu bisavô. Para lá da ligação familiar, a quinta é, para o Presidente, um espaço de memórias de infância: "Lembro-me de que quando era criança, por volta dos 7, 8 anos, gostava de vir aqui com os meus avós. Mas, nessa altura, só havia alfarrobeiras, oliveiras e amendoeiras. Não havia absolutamente mais nada, não havia nenhuma destas casas. Foi o meu pai quem fez tudo isto. Mas foi herança do lado da minha mãe, que também adorava vir para aqui."
Explica-nos que a parte da herança que lhe coube foram as propriedades rústicas, ao passo que os irmãos ficaram com prédios urbanos. A "Quintinha" é a maior dessas propriedades recebidas e diz--nos que a mantém por uma "questão de respeito ao pai e de homenagem" ao pai (Teodoro Gonçalves Silva, falecido em 2007, aos 95 anos).
A certa altura da visita, o Presidente da República senta-se numa pedra debaixo de uma oliveira e revela que era ali que o pai gostava de estar horas a fio a descansar e a pensar: "Na última fase da vida, mesmo morando em Quarteira, ele vinha para aqui todos os dias. Dizia que lhe dava saúde, que se sentia bem aqui, a respirar... Agora este é o meu encargo. Mas faço-o com alegria, porque gosto de ver as árvores crescer, de ver os frutos aparecer, de colher os frutos e também me dá prazer oferecê-los."
De facto, segundo nos diz, não tira qualquer rendimento da quinta, muito pelo contrário, só tem prejuízo, pois, para a manter, tem de gastar água, luz, adubos, tempo... Cada vez que lá vai empenha-se em introduzir novas culturas e, mesmo para isso, tem de contar "com as boas almas amigas", umas das quais é o seu primo Henrique. Mas também o genro, Luís Montês, que nasceu em Angola, tem dado uma grande ajuda. Aliás, tem sido ele o principal responsável pela introdução da maioria das frutas exóticas na quinta do Presidente. Ali podemos ver, além de anonas, peras-abacates, pitangas, sapotis, goiabas, limas - "para fazer caipirinha", diz o Presidente. E não faltam também as árvores típicas do Sul de Portugal: marmeleiros, pessegueiros, figueiras, romãzeiras, amoreiras, alfarrobeiras, laranjeiras...
"É PRECISO PRESERVAR MUNDO RURAL"
Ao longo da visita de cerca de uma hora à sua quinta, o Presidente, que revela um interesse e um conhecimento surpreendentes dos assuntos da lavoura, assume-se como "um defensor do mundo rural". Alerta que "sem a preservação do mundo rural será a desertificação. Teremos um País envelhecido, despovoado!" A preocupação não é nova: ao longo do seu mandato, referiu-se por várias vezes ao estado da agricultura e aos problemas de escoamento dos produtos. Ainda há pouco tempo fez um apelo para que os consumidores optassem por comprar os produtos nacionais em vez dos estrangeiros, ajudando, assim, a economia nacional. Ele próprio, enquanto proprietário de uma quinta, sofre com a situação: "Isto é de tal forma que eu ofereço as alfarrobas e as amêndoas. Já ninguém as compra..."
POLÍCIAS MAIS BEM APETRECHADAS PARA COMBATER O CRIME
Os incêndios florestais surgiram este ano com uma violência como há muito não se via, provocando enormes danos, não só materiais como também humanos. Foi de tal modo que o Presidente da República teve de interromper as férias no Algarve e vir a Lisboa, para se inteirar da situação junto da Autoridade Nacional de Protecção Civil, que visitou no passado dia 23, acompanhado pelo primeiro-ministro e pelo ministro da Administração Interna.
"A questão dos incêndios é uma grande preocupação não apenas para o Presidente mas também para o Governo. Portanto, interrompi as minhas férias para ter um relato daqueles que diariamente exercem funções de comando e de coordenação no combate aos incêndios", explica o Chefe de Estado, que considera "termos neste momento um comando nacional de combate aos fogos e uma equipa que tem dado tudo o que lhe é possível para enfrentar estas situações".
Sobre o combate ao crime associado a este flagelo, Cavaco também se mostra optimista: "A informação que me é dada é a de que as nossas forças policiais, e a Polícia Judiciária em particular, estão neste momento bastante melhor apetrechadas para combater situações de dolo, situações criminosas." "Mas, às vezes, é difícil encontrar uma fronteira entre o dolo e a negligência", nota, concluindo: "Daí o apelo que fiz para que os portugueses tenham muito cuidado em comportamentos de risco, como é o caso das queimadas, que podem degenerar, de facto, em incêndios."
DISCURSO DIRECTO
"AGRICULTURA DE PASSAR CHEQUES", Aníbal Cavaco Silva, Presidente da República
Correio da Manhã - A sua quinta está pejada de anonas. O que faz a tantas anonas?
Cavaco silva - Ofereço!
- Porque é que não as vende? Assim perde dinheiro...
- Pois, é uma agricultura de passar cheques! É uma despesa gigantesca. Só a electricidade... está a ver.
- Mas, então, porque é que mantém a quinta cultivada?
- É uma questão de raízes. Foi do meu bisavô, do meu avô, do meu pai. Eu não tiro rendimento, nem um tostão. Nem quero.
- E porque não?
- Tinha de fazer registos...
- A quem é que oferece a fruta?
- Aos mais necessitados, como, por exemplo, à Santa Casa da Misericórdia. Mas alguns frutos os mais idosos não aceitam, como a pêra-abacate, que faz aumentar o colesterol, e a anona, porque tem muito açúcar.
- Que outras árvores é que tem?
- Tudo o que é esquisito... Tenho aqui árvores esquisitas.
João Cortesão
CORREIO DA MANHÃ 28-08-2010
Presidência: Cavaco faz visita guiada ao CM na sua quinta, nos arredores de Boliqueime
“Mantenho esta quinta em memória do meu pai”
"Agora vou vestir o fato de camponês." Cavaco Silva põe, deste modo, fim à conversa com o CM no pequeno escritório na sua casa de férias, em Albufeira. Minutos depois, o Presidente da República, acompanhado da mulher, aparece pronto para partir para a "Quintinha", como chama à propriedade de 3 hectares, essencialmente de pomares, situada nos arredores de Boliqueime, a cerca de 20 km da Aldeia da Coelha, e encostada ao campo de golfe do Millennium de Vilamoura.
Na "Quintinha", o Presidente da fala das árvores e dos seus frutos com o à-vontade de quem conhece bem a lida da terra, a terra onde estão, afinal, as suas raízes. Parece ter um orgulho particular pelas anonas. "Não há muito disto no Algarve", diz, ao mostrar-nos os frutos ainda meio verdes. "Antigamente, o Alberto João Jardim mandava-me anonas da Madeira, mas agora não, porque diz que as minhas são melhores do que as dele!"
Cavaco Silva herdou dos pais a propriedade rural, que já era do seu avô e do seu bisavô. Para lá da ligação familiar, a quinta é, para o Presidente, um espaço de memórias de infância: "Lembro-me de que quando era criança, por volta dos 7, 8 anos, gostava de vir aqui com os meus avós. Mas, nessa altura, só havia alfarrobeiras, oliveiras e amendoeiras. Não havia absolutamente mais nada, não havia nenhuma destas casas. Foi o meu pai quem fez tudo isto. Mas foi herança do lado da minha mãe, que também adorava vir para aqui."
Explica-nos que a parte da herança que lhe coube foram as propriedades rústicas, ao passo que os irmãos ficaram com prédios urbanos. A "Quintinha" é a maior dessas propriedades recebidas e diz--nos que a mantém por uma "questão de respeito ao pai e de homenagem" ao pai (Teodoro Gonçalves Silva, falecido em 2007, aos 95 anos).
A certa altura da visita, o Presidente da República senta-se numa pedra debaixo de uma oliveira e revela que era ali que o pai gostava de estar horas a fio a descansar e a pensar: "Na última fase da vida, mesmo morando em Quarteira, ele vinha para aqui todos os dias. Dizia que lhe dava saúde, que se sentia bem aqui, a respirar... Agora este é o meu encargo. Mas faço-o com alegria, porque gosto de ver as árvores crescer, de ver os frutos aparecer, de colher os frutos e também me dá prazer oferecê-los."
De facto, segundo nos diz, não tira qualquer rendimento da quinta, muito pelo contrário, só tem prejuízo, pois, para a manter, tem de gastar água, luz, adubos, tempo... Cada vez que lá vai empenha-se em introduzir novas culturas e, mesmo para isso, tem de contar "com as boas almas amigas", umas das quais é o seu primo Henrique. Mas também o genro, Luís Montês, que nasceu em Angola, tem dado uma grande ajuda. Aliás, tem sido ele o principal responsável pela introdução da maioria das frutas exóticas na quinta do Presidente. Ali podemos ver, além de anonas, peras-abacates, pitangas, sapotis, goiabas, limas - "para fazer caipirinha", diz o Presidente. E não faltam também as árvores típicas do Sul de Portugal: marmeleiros, pessegueiros, figueiras, romãzeiras, amoreiras, alfarrobeiras, laranjeiras...
"É PRECISO PRESERVAR MUNDO RURAL"
Ao longo da visita de cerca de uma hora à sua quinta, o Presidente, que revela um interesse e um conhecimento surpreendentes dos assuntos da lavoura, assume-se como "um defensor do mundo rural". Alerta que "sem a preservação do mundo rural será a desertificação. Teremos um País envelhecido, despovoado!" A preocupação não é nova: ao longo do seu mandato, referiu-se por várias vezes ao estado da agricultura e aos problemas de escoamento dos produtos. Ainda há pouco tempo fez um apelo para que os consumidores optassem por comprar os produtos nacionais em vez dos estrangeiros, ajudando, assim, a economia nacional. Ele próprio, enquanto proprietário de uma quinta, sofre com a situação: "Isto é de tal forma que eu ofereço as alfarrobas e as amêndoas. Já ninguém as compra..."
POLÍCIAS MAIS BEM APETRECHADAS PARA COMBATER O CRIME
Os incêndios florestais surgiram este ano com uma violência como há muito não se via, provocando enormes danos, não só materiais como também humanos. Foi de tal modo que o Presidente da República teve de interromper as férias no Algarve e vir a Lisboa, para se inteirar da situação junto da Autoridade Nacional de Protecção Civil, que visitou no passado dia 23, acompanhado pelo primeiro-ministro e pelo ministro da Administração Interna.
"A questão dos incêndios é uma grande preocupação não apenas para o Presidente mas também para o Governo. Portanto, interrompi as minhas férias para ter um relato daqueles que diariamente exercem funções de comando e de coordenação no combate aos incêndios", explica o Chefe de Estado, que considera "termos neste momento um comando nacional de combate aos fogos e uma equipa que tem dado tudo o que lhe é possível para enfrentar estas situações".
Sobre o combate ao crime associado a este flagelo, Cavaco também se mostra optimista: "A informação que me é dada é a de que as nossas forças policiais, e a Polícia Judiciária em particular, estão neste momento bastante melhor apetrechadas para combater situações de dolo, situações criminosas." "Mas, às vezes, é difícil encontrar uma fronteira entre o dolo e a negligência", nota, concluindo: "Daí o apelo que fiz para que os portugueses tenham muito cuidado em comportamentos de risco, como é o caso das queimadas, que podem degenerar, de facto, em incêndios."
DISCURSO DIRECTO
"AGRICULTURA DE PASSAR CHEQUES", Aníbal Cavaco Silva, Presidente da República
Correio da Manhã - A sua quinta está pejada de anonas. O que faz a tantas anonas?
Cavaco silva - Ofereço!
- Porque é que não as vende? Assim perde dinheiro...
- Pois, é uma agricultura de passar cheques! É uma despesa gigantesca. Só a electricidade... está a ver.
- Mas, então, porque é que mantém a quinta cultivada?
- É uma questão de raízes. Foi do meu bisavô, do meu avô, do meu pai. Eu não tiro rendimento, nem um tostão. Nem quero.
- E porque não?
- Tinha de fazer registos...
- A quem é que oferece a fruta?
- Aos mais necessitados, como, por exemplo, à Santa Casa da Misericórdia. Mas alguns frutos os mais idosos não aceitam, como a pêra-abacate, que faz aumentar o colesterol, e a anona, porque tem muito açúcar.
- Que outras árvores é que tem?
- Tudo o que é esquisito... Tenho aqui árvores esquisitas.
João Cortesão
CORREIO DA MANHÃ 28-08-2010
JUAN MARIA KROHN
MAGNICIDIO HABLA EL EX SACERDOTE CULPABLE
«No llegué a herir al Papa»
«Los agentes de Juan Pablo II me derribaron antes», declara en exclusiva a «Crónica» el ex sacerdote Fernández Krohn, localizado en Bruselas. El secretario del Papa fallecido dice que este español llegó a clavarle un cuchillo en Fátima, en 1982.
Creía haber pagado lo suficiente con los tres años y medio que pasó en una cárcel portuguesa. Pero a Juan Fernández Krohn le persigue su pasado de «cura que atentó contra el Papa Wojtyla en Fátima». Hasta ahora se creía que sin llegar a herirlo. Pero ahora, el que fuera su secretario durante más de 39 años, Stanislaw Dziwisz, revela que Juan Pablo II recibió una cuchillada que le hizo sangre. «Un montaje prefabricado, un infundio», se indigna el hoy ex sacerdote. Pero le apunta el dedo acusador de un cardenal. Y le persigue la «maldición de Fátima».
El 12 de mayo de 1982 Juan Pablo II visitaba Fátima para depositar, en la corona de la Virgen, la bala que le había disparado un año antes, en la Plaza de San Pedro, el turco Ali Agca. Como ofrenda por haberle salvado la vida. Y allí mismo, la Virgen volvió a salvarlo. El cura español Juan Fernández Krohn se abalanzó sobre él con un puñal. «Puedo revelar ahora que fue herido. Cuando lo llevamos de vuelta a su habitación, había sangre», asegura Dziwisz, cardenal de Cracovia.
Fernández Krohn, el acusado, lo desmiente categóricamente en declaraciones exclusivas a Crónica. «Estas pretendidas revelaciones del antiguo secretario de Juan Pablo II me suenan a un montaje prefabricado con objetivos bien precisos. No herí al Papa».
Lo argumenta así: «Los agentes encargados de la protección papal me derribaron. Justo a los pies del Papa, me sujetaron y me obligaron a seguir en su presencia, cara a cara. Mostraba adustez y dureza en el rostro, pero ni el menor síntoma de estar herido».
De aquel Juan vestido de sotana ya poco queda. Hoy, vive en Bruselas. O, mejor dicho, malvive. «Mi situación es muy precaria. Vivo en una estrechez casi total desde hace 22 años. Sin futuro y con las puertas cerradas. Tengo muchas carreras, pero de poco me han servido. Y eso que hice de todo. Desde contable a abogado, pasando por obrero agrícola o mecánico de bicicletas». No tiene trabajo y lleva dos años dedicado a hacer una tesis doctoral. Vive en una residencia universitaria para estudiantes, en la que no le cobran nada, pero mantiene la esperanza de salir adelante. «Espero que, con la tesis terminada y con el título de doctor, pueda encontrar un puesto de profesor en Bélgica o en España».
Su único consuelo es su hijo Niels Manuel. Tiene 18 años y, hasta ahora, ha vivido con su madre, que es belga flamenca. «Ya se ha independizado, está terminando el bachillerato y tiene la doble nacionalidad. Es un fenómeno y mi único sostén en medio de tantos sufrimientos».
Un vía crucis que comenzó hace más de cinco lustros, cuando la Justicia portuguesa le condenó a tres años y medio por intento de magnicidio. «Esa fue también la idea que me quedó hasta hoy, procurándome un gran alivio: que mi acto de protesta, de resonancia mundial, se saldase de forma incruenta».
Las crónicas de entonces contaban así el suceso: «Millones de personas han podido ver cómo la policía portuguesa sujetaba a un joven, vestido con sotana, que se resistía, mientras el Papa, vuelto hacia atrás, dirigiendo su mirada al lugar del tumulto y en silencio, daba su bendición. Se le oyó gritar: «Muera el comunismo y el Concilio Vaticano II»».
¿Qué es lo que busca, entonces, el cardenal Dziwisz, desvelando el misterio de Fátima 25 años después? Fernández Krohn responde: «Aparte de las intrigas vaticanas que se me escapan, el objetivo es desviar la atención de la opinión pública sobre la connivencia y el colaboracionismo con la policía comunista de altos jerarcas de Polonia y de la propia Curia romana durante los años del pontificado de Juan Pablo II».
EL ATAQUE A WOJTYLA
Fernández Krohn nació el 24 de junio de 1949 en el seno de una familia bien y profundamente católica del madrileño barrio de Argüelles. Tanto que su padre nunca le perdonó el atentado contra el Papa. «Nunca llegué a reconciliarme con mi difunto padre. Lo lloré mucho». Muy aficionado al deporte, fundamentalmente al atletismo, a los 17 años inicia la carrera de Económicas en la Universidad Complutense de Madrid. De carácter apasionado y afable, hace gala de un gran sentido del humor. Alto y de tez morena, se lleva a las chicas de calle.
Lo ordenó sacerdote el arzobispo Marcel Lefébvre en 1978. Su primera misa, celebrada en el hotel Meliá Castilla de Madrid, fue todo un acontecimiento social en la época. Con más de mil personas invitadas. Entre ellas, la hija de Franco. «La misa fue de rito tridentino, que estaba rigurosamente prohibido en España. Por eso, al día siguiente, en la Hoja del Lunes, el cardenal Tarancón, de triste memoria, sacó una nota de lo más virulenta», recuerda.
La llegada al solio pontificio de Juan Pablo II el 16 de octubre de 1978 hizo escorar todavía más a la Hermandad de Lefébvre. A su juicio, el Papa Wojtyla «era el candidato de la izquierda eclesial, para ganarse a la derecha». Decidió quitarlo de en medio o, al menos, darle otro susto (Alí Agca ya le había disparado al corazón). Enfundado en su sotana y con sus conexiones no le fue difícil acceder al altar del Papa. «Cuando llegó, estaba en primera fila y me abalancé sobre él, pero me sujetaron antes de que pudiera rozarlo».
—¿Por qué quiso matar al Papa?
—Fue un sacrificio por la salvación de la Iglesia, de España y de mis convicciones de católico español o de nacionalcatólico.
—¿Fue un acto de enajenación mental?
—No estoy loco.
—¿Se arrepiente?
—No me arrepiento de nada.
—¿Volvería a hacerlo?
—No, he evolucionado.
—¿Se siente pecador?
—Pecador sí, pero criminal nunca. Ni delincuente tampoco.
—¿Qué piensa de Ali Agca?
—Es anticristiano y antioccidental y ve al Papa como jefe de los cruzados. A pesar de ello, Juan Pablo II le perdonó. Algo que, en cambio, nunca hizo conmigo.
Detenido por los guardaespaldas del Papa, fue juzgado en Portugal. «En el juicio — aunque mi abogado y todo el mundo me aconsejaban que adujese enfermedad psiquiátrica— yo mantuve una estrategia suicida: asumí todo y me condené a mí mismo». Seis años y medio de cárcel por intento de asesinato y siete meses más por desacato. En la cárcel, abandonó el sacerdocio.
Tras cumplir la pena, «anduve deambulando por diversos países europeos y, al ver que no tenía salida alguna en la vida civil en España, me vine a Bélgica. Aquí, tuve una segunda juventud». Se casó por lo civil con una periodista portuguesa que había cubierto su caso.
La «maldición de Fátima» le persigue y en su recorrido vital florecen los problemas. En 1999, es acusado de intentar incendiar la sede de Herri Batasuna en Bruselas. Y en el año 2000, «con motivo de la visita del Rey a Bélgica protagonicé un acto de protesta, al que dio amplia cobertura la prensa española y, en especial EL MUNDO. Grité: «Rey Borbón, yo no maté al Papa, tú, en cambio, mataste a tu hermano».
La policía belga lo detuvo. «Me encerraron en la jaula de los locos furiosos. Con un comedero como el que tienen los animales en las cuadras en España. Denigrante».
Tras salir del psiquiátrico, Fernández Krohn le promete a su hijo que no volverá a meterse en líos. Y se dedica a buscar trabajo, sin encontrar demasiadas salidas. Eso sí, recibe «presiones y ofertas para que se convierta al protestantismo y al Islam. «No llegaron a ofrecerme dinero, pero sí solucionar mi vida y la de mi familia para siempre». La oferta del Islam le llegó a través del famoso escritor converso Roger Garaudy. No aceptó. «Soy de una familia cuyas raíces católicas se pierden en la noche de los tiempos. Tuve incluso mártires durante la guerra».
Cuando las aguas de su vida parecían calmarse, se encuentra de nuevo en el ojo del huracán. Porque en Roma, un cardenal ha resucitado su «maldición de Fátima». Una maldición «que me persigue, que pesa como una losa que está a punto de aplastarme de nuevo».
Así se protege al Pontífice
Sin ejército. ¿Quién protege a los papas, cómo? Sin ejército propio, el Vaticano dispone de una importante red de espionaje, seguridad y efectivos antiterroristas. Al frente de todo está monseñor Renato Boccardo, secretario general del Gobierno de la Santa Sede (ministro del Interior vaticano). A los distintos cuerpos de seguridad que se ocupan de la defensa del Estado vaticano y de la protección papal se les conoce popularmente como los ángeles de la guarda del Papa. Dentro de la Santa Sede están su guardia de cuerpo personal (los guardias suizos), y la Gendarmería Vaticana (heredera de la Guardia Noble y de la Guardia Palaciega de los estados pontificios, su comandante es Domenico Giani). Fuera de los muros vaticanos: en Italia actúan los agentes de la inspección de la Policía; en los viajes, su seguridad se confía a los distintos cuerpos de la nación que le hospeda.
Papamóvil. Desde el atentado contra Juan Pablo II en 1981, y tras los atentados del 11-S, la seguridad en el Vaticano se reformó considerablemente. No sólo por los controles policiales y detectores de metales por los que deben pasar los asistentes, cada miércoles, a las audiencias papales. Cada vez que el Sumo Pontífice se sube a su papamóvil y recorre la plaza de San Pedro se colocan a los costados de su vehículo el jefe de la Guardia Suiza y el guardaespaldas personal del Papa. Dentro le acompaña su secretario personal, monseñor Georg Genswein.
Nuevo jefe. Benedicto XVI acaba de nombrar jefe de la Guardia Suiza, el ejército más pequeño y viejo del mundo (fundado por el Papa Julio II, 1503-1513), a Daniel Rudolf Anrig, de 36 años, comandante general de la Policía suiza. La Guardia Suiza, que desempeña las funciones de guardia de cuerpo y servicio de honor del Papa, se compone de 110 soldados y un capellán.
EL MUNDO 18-08-2010
JOSE MANUEL VIDAL
«No llegué a herir al Papa»
«Los agentes de Juan Pablo II me derribaron antes», declara en exclusiva a «Crónica» el ex sacerdote Fernández Krohn, localizado en Bruselas. El secretario del Papa fallecido dice que este español llegó a clavarle un cuchillo en Fátima, en 1982.
Creía haber pagado lo suficiente con los tres años y medio que pasó en una cárcel portuguesa. Pero a Juan Fernández Krohn le persigue su pasado de «cura que atentó contra el Papa Wojtyla en Fátima». Hasta ahora se creía que sin llegar a herirlo. Pero ahora, el que fuera su secretario durante más de 39 años, Stanislaw Dziwisz, revela que Juan Pablo II recibió una cuchillada que le hizo sangre. «Un montaje prefabricado, un infundio», se indigna el hoy ex sacerdote. Pero le apunta el dedo acusador de un cardenal. Y le persigue la «maldición de Fátima».
El 12 de mayo de 1982 Juan Pablo II visitaba Fátima para depositar, en la corona de la Virgen, la bala que le había disparado un año antes, en la Plaza de San Pedro, el turco Ali Agca. Como ofrenda por haberle salvado la vida. Y allí mismo, la Virgen volvió a salvarlo. El cura español Juan Fernández Krohn se abalanzó sobre él con un puñal. «Puedo revelar ahora que fue herido. Cuando lo llevamos de vuelta a su habitación, había sangre», asegura Dziwisz, cardenal de Cracovia.
Fernández Krohn, el acusado, lo desmiente categóricamente en declaraciones exclusivas a Crónica. «Estas pretendidas revelaciones del antiguo secretario de Juan Pablo II me suenan a un montaje prefabricado con objetivos bien precisos. No herí al Papa».
Lo argumenta así: «Los agentes encargados de la protección papal me derribaron. Justo a los pies del Papa, me sujetaron y me obligaron a seguir en su presencia, cara a cara. Mostraba adustez y dureza en el rostro, pero ni el menor síntoma de estar herido».
De aquel Juan vestido de sotana ya poco queda. Hoy, vive en Bruselas. O, mejor dicho, malvive. «Mi situación es muy precaria. Vivo en una estrechez casi total desde hace 22 años. Sin futuro y con las puertas cerradas. Tengo muchas carreras, pero de poco me han servido. Y eso que hice de todo. Desde contable a abogado, pasando por obrero agrícola o mecánico de bicicletas». No tiene trabajo y lleva dos años dedicado a hacer una tesis doctoral. Vive en una residencia universitaria para estudiantes, en la que no le cobran nada, pero mantiene la esperanza de salir adelante. «Espero que, con la tesis terminada y con el título de doctor, pueda encontrar un puesto de profesor en Bélgica o en España».
Su único consuelo es su hijo Niels Manuel. Tiene 18 años y, hasta ahora, ha vivido con su madre, que es belga flamenca. «Ya se ha independizado, está terminando el bachillerato y tiene la doble nacionalidad. Es un fenómeno y mi único sostén en medio de tantos sufrimientos».
Un vía crucis que comenzó hace más de cinco lustros, cuando la Justicia portuguesa le condenó a tres años y medio por intento de magnicidio. «Esa fue también la idea que me quedó hasta hoy, procurándome un gran alivio: que mi acto de protesta, de resonancia mundial, se saldase de forma incruenta».
Las crónicas de entonces contaban así el suceso: «Millones de personas han podido ver cómo la policía portuguesa sujetaba a un joven, vestido con sotana, que se resistía, mientras el Papa, vuelto hacia atrás, dirigiendo su mirada al lugar del tumulto y en silencio, daba su bendición. Se le oyó gritar: «Muera el comunismo y el Concilio Vaticano II»».
¿Qué es lo que busca, entonces, el cardenal Dziwisz, desvelando el misterio de Fátima 25 años después? Fernández Krohn responde: «Aparte de las intrigas vaticanas que se me escapan, el objetivo es desviar la atención de la opinión pública sobre la connivencia y el colaboracionismo con la policía comunista de altos jerarcas de Polonia y de la propia Curia romana durante los años del pontificado de Juan Pablo II».
EL ATAQUE A WOJTYLA
Fernández Krohn nació el 24 de junio de 1949 en el seno de una familia bien y profundamente católica del madrileño barrio de Argüelles. Tanto que su padre nunca le perdonó el atentado contra el Papa. «Nunca llegué a reconciliarme con mi difunto padre. Lo lloré mucho». Muy aficionado al deporte, fundamentalmente al atletismo, a los 17 años inicia la carrera de Económicas en la Universidad Complutense de Madrid. De carácter apasionado y afable, hace gala de un gran sentido del humor. Alto y de tez morena, se lleva a las chicas de calle.
Lo ordenó sacerdote el arzobispo Marcel Lefébvre en 1978. Su primera misa, celebrada en el hotel Meliá Castilla de Madrid, fue todo un acontecimiento social en la época. Con más de mil personas invitadas. Entre ellas, la hija de Franco. «La misa fue de rito tridentino, que estaba rigurosamente prohibido en España. Por eso, al día siguiente, en la Hoja del Lunes, el cardenal Tarancón, de triste memoria, sacó una nota de lo más virulenta», recuerda.
La llegada al solio pontificio de Juan Pablo II el 16 de octubre de 1978 hizo escorar todavía más a la Hermandad de Lefébvre. A su juicio, el Papa Wojtyla «era el candidato de la izquierda eclesial, para ganarse a la derecha». Decidió quitarlo de en medio o, al menos, darle otro susto (Alí Agca ya le había disparado al corazón). Enfundado en su sotana y con sus conexiones no le fue difícil acceder al altar del Papa. «Cuando llegó, estaba en primera fila y me abalancé sobre él, pero me sujetaron antes de que pudiera rozarlo».
—¿Por qué quiso matar al Papa?
—Fue un sacrificio por la salvación de la Iglesia, de España y de mis convicciones de católico español o de nacionalcatólico.
—¿Fue un acto de enajenación mental?
—No estoy loco.
—¿Se arrepiente?
—No me arrepiento de nada.
—¿Volvería a hacerlo?
—No, he evolucionado.
—¿Se siente pecador?
—Pecador sí, pero criminal nunca. Ni delincuente tampoco.
—¿Qué piensa de Ali Agca?
—Es anticristiano y antioccidental y ve al Papa como jefe de los cruzados. A pesar de ello, Juan Pablo II le perdonó. Algo que, en cambio, nunca hizo conmigo.
Detenido por los guardaespaldas del Papa, fue juzgado en Portugal. «En el juicio — aunque mi abogado y todo el mundo me aconsejaban que adujese enfermedad psiquiátrica— yo mantuve una estrategia suicida: asumí todo y me condené a mí mismo». Seis años y medio de cárcel por intento de asesinato y siete meses más por desacato. En la cárcel, abandonó el sacerdocio.
Tras cumplir la pena, «anduve deambulando por diversos países europeos y, al ver que no tenía salida alguna en la vida civil en España, me vine a Bélgica. Aquí, tuve una segunda juventud». Se casó por lo civil con una periodista portuguesa que había cubierto su caso.
La «maldición de Fátima» le persigue y en su recorrido vital florecen los problemas. En 1999, es acusado de intentar incendiar la sede de Herri Batasuna en Bruselas. Y en el año 2000, «con motivo de la visita del Rey a Bélgica protagonicé un acto de protesta, al que dio amplia cobertura la prensa española y, en especial EL MUNDO. Grité: «Rey Borbón, yo no maté al Papa, tú, en cambio, mataste a tu hermano».
La policía belga lo detuvo. «Me encerraron en la jaula de los locos furiosos. Con un comedero como el que tienen los animales en las cuadras en España. Denigrante».
Tras salir del psiquiátrico, Fernández Krohn le promete a su hijo que no volverá a meterse en líos. Y se dedica a buscar trabajo, sin encontrar demasiadas salidas. Eso sí, recibe «presiones y ofertas para que se convierta al protestantismo y al Islam. «No llegaron a ofrecerme dinero, pero sí solucionar mi vida y la de mi familia para siempre». La oferta del Islam le llegó a través del famoso escritor converso Roger Garaudy. No aceptó. «Soy de una familia cuyas raíces católicas se pierden en la noche de los tiempos. Tuve incluso mártires durante la guerra».
Cuando las aguas de su vida parecían calmarse, se encuentra de nuevo en el ojo del huracán. Porque en Roma, un cardenal ha resucitado su «maldición de Fátima». Una maldición «que me persigue, que pesa como una losa que está a punto de aplastarme de nuevo».
Así se protege al Pontífice
Sin ejército. ¿Quién protege a los papas, cómo? Sin ejército propio, el Vaticano dispone de una importante red de espionaje, seguridad y efectivos antiterroristas. Al frente de todo está monseñor Renato Boccardo, secretario general del Gobierno de la Santa Sede (ministro del Interior vaticano). A los distintos cuerpos de seguridad que se ocupan de la defensa del Estado vaticano y de la protección papal se les conoce popularmente como los ángeles de la guarda del Papa. Dentro de la Santa Sede están su guardia de cuerpo personal (los guardias suizos), y la Gendarmería Vaticana (heredera de la Guardia Noble y de la Guardia Palaciega de los estados pontificios, su comandante es Domenico Giani). Fuera de los muros vaticanos: en Italia actúan los agentes de la inspección de la Policía; en los viajes, su seguridad se confía a los distintos cuerpos de la nación que le hospeda.
Papamóvil. Desde el atentado contra Juan Pablo II en 1981, y tras los atentados del 11-S, la seguridad en el Vaticano se reformó considerablemente. No sólo por los controles policiales y detectores de metales por los que deben pasar los asistentes, cada miércoles, a las audiencias papales. Cada vez que el Sumo Pontífice se sube a su papamóvil y recorre la plaza de San Pedro se colocan a los costados de su vehículo el jefe de la Guardia Suiza y el guardaespaldas personal del Papa. Dentro le acompaña su secretario personal, monseñor Georg Genswein.
Nuevo jefe. Benedicto XVI acaba de nombrar jefe de la Guardia Suiza, el ejército más pequeño y viejo del mundo (fundado por el Papa Julio II, 1503-1513), a Daniel Rudolf Anrig, de 36 años, comandante general de la Policía suiza. La Guardia Suiza, que desempeña las funciones de guardia de cuerpo y servicio de honor del Papa, se compone de 110 soldados y un capellán.
EL MUNDO 18-08-2010
JOSE MANUEL VIDAL
HERDEIROS DE LÚCIO TOMÉ FETEIRA PROCURAM 80 MILHÕES NOS ESTADOS UNIDOS
Polícia
Herdeiros de Lúcio Feteira procuram 80 milhões nos Estados Unidos
Os herdeiros de Lúcio Thomé Feteira dizem que há cerca de 80 milhões de dólares depositados em contas nos EUA resultantes da venda de empresas de Lúcio Thomé Feteira. Cartas rogatórias enviadas pelas autoridades portuguesas ainda não tiveram resposta.
A cabeça de casal da herança, Olímpia Feteira, filha de Lúcio Thomé Feteira, resultante de uma relação fora do casamento, diz ter chegado a este número através de anotações que descobriu em agendas de Rosalina, a secretária e amante do magnata que foi assassinada, em Dezembro do ano passado, a tiro, nos arredores do Rio de Janeiro, depois de se ter encontrado com o seu advogado, Domingos Duarte Lima.
Os 100 milhões de dólares (cerca de 80 milhões de euros), resultaram, segundo a herdeira, da venda de três empresas do ramo do fabrico de vidro e de chapa de vidro, que eram o núcleo dos negócios de Lúcio Thomé Feteira, juntamente com o imobiliário.
As vendas aconteceram na década de 60 do século passado, altura em que o magnata decidiu desfazer-se de grande parte das suas empresas – várias dezenas, espalhadas por vários pontos da Europa, África e América do Sul. “Três dessas empresas foram compradas pela multinacional francesa Saint-Gobain e pelos americanos da Pittsburg Plate Glass”, disse, ao JN, Olímpia Feteira. A duas empresas são ainda hoje gigantes mundiais da indústria de fabrico de materiais para construção civil.
Segundo a mesma fonte, o dinheiro estará em contas de vários bancos nos Estados Unidos da América, sobretudo no Chase Manhattan Bank, e faz parte do património que os herdeiros de Lúcio Thomé querem ver restituído à herança, por temerem que tenha sido também transferido por Rosalina Ribeiro após a morte de Lúcio Thomé Feteira, com 98 anos, no ano 2000, na casa de Lisboa onde vivia com Rosalina.
Na sequência de uma queixa crime apresentada por Olímpia Feteira e por outros herdeiros, existe já a certeza de que Rosalina Ribeiro transferiu, em 2001, dezenas de milhões de euros de uma conta na Union de Banques Suisses, na Suíça, para uma conta sua, também na Suíça. Cerca de seis milhões de euros foram depois transferidos, em várias tranches, para uma conta titulada por Duarte Lima. As movimentações foram confirmadas pelo próprio banco, numa resposta a cartas rogatórias enviadas pela Justiça portuguesa.
O advogado de Olímpia Feteira no Brasil, Paulo Freitas, confirmou, à Agência Lusa, que foram feitas mais transferências para “ outras pessoas que ainda estão a ser investigadas”, declarou.
Segundo o advogado, tinha chegado o momento de Rosalina dar explicações às autoridades. “Acabou nunca fazendo [declarações] porque logo após a vinda dessas informações, veio ao Brasil e foi morta”, complementou.
A morte “encomendada” de Rosalina, segundo Paulo Freitas, prejudicou os herdeiros e pode trazer ainda dificuldade para o desenrolar do inventário”.
O processo crime tinha já sido arquivado em 2008 e acabou por ser reaberto em Agosto de 2009, com a chegada da resposta do banco suíço à carta rogatória, mas acabaria por ser de novo arquivado após a morte de Rosalina Ribeiro Cartas rogatórias para outros países em que existiam contas bancárias não tiveram resultados.
Estas ligações, para serviços externos ao Jornal de Notícias, permitem guardar, organizar, partilhar e recomendar a outros leitores os seus conteúdos favoritos do JN(textos, fotos e vídeos). São serviços gratuitos mas exigem registo do utilizador.
JORNAL DE NOTÍCIAS 28-08-2010
Por António Soares
Herdeiros de Lúcio Feteira procuram 80 milhões nos Estados Unidos
Os herdeiros de Lúcio Thomé Feteira dizem que há cerca de 80 milhões de dólares depositados em contas nos EUA resultantes da venda de empresas de Lúcio Thomé Feteira. Cartas rogatórias enviadas pelas autoridades portuguesas ainda não tiveram resposta.
A cabeça de casal da herança, Olímpia Feteira, filha de Lúcio Thomé Feteira, resultante de uma relação fora do casamento, diz ter chegado a este número através de anotações que descobriu em agendas de Rosalina, a secretária e amante do magnata que foi assassinada, em Dezembro do ano passado, a tiro, nos arredores do Rio de Janeiro, depois de se ter encontrado com o seu advogado, Domingos Duarte Lima.
Os 100 milhões de dólares (cerca de 80 milhões de euros), resultaram, segundo a herdeira, da venda de três empresas do ramo do fabrico de vidro e de chapa de vidro, que eram o núcleo dos negócios de Lúcio Thomé Feteira, juntamente com o imobiliário.
As vendas aconteceram na década de 60 do século passado, altura em que o magnata decidiu desfazer-se de grande parte das suas empresas – várias dezenas, espalhadas por vários pontos da Europa, África e América do Sul. “Três dessas empresas foram compradas pela multinacional francesa Saint-Gobain e pelos americanos da Pittsburg Plate Glass”, disse, ao JN, Olímpia Feteira. A duas empresas são ainda hoje gigantes mundiais da indústria de fabrico de materiais para construção civil.
Segundo a mesma fonte, o dinheiro estará em contas de vários bancos nos Estados Unidos da América, sobretudo no Chase Manhattan Bank, e faz parte do património que os herdeiros de Lúcio Thomé querem ver restituído à herança, por temerem que tenha sido também transferido por Rosalina Ribeiro após a morte de Lúcio Thomé Feteira, com 98 anos, no ano 2000, na casa de Lisboa onde vivia com Rosalina.
Na sequência de uma queixa crime apresentada por Olímpia Feteira e por outros herdeiros, existe já a certeza de que Rosalina Ribeiro transferiu, em 2001, dezenas de milhões de euros de uma conta na Union de Banques Suisses, na Suíça, para uma conta sua, também na Suíça. Cerca de seis milhões de euros foram depois transferidos, em várias tranches, para uma conta titulada por Duarte Lima. As movimentações foram confirmadas pelo próprio banco, numa resposta a cartas rogatórias enviadas pela Justiça portuguesa.
O advogado de Olímpia Feteira no Brasil, Paulo Freitas, confirmou, à Agência Lusa, que foram feitas mais transferências para “ outras pessoas que ainda estão a ser investigadas”, declarou.
Segundo o advogado, tinha chegado o momento de Rosalina dar explicações às autoridades. “Acabou nunca fazendo [declarações] porque logo após a vinda dessas informações, veio ao Brasil e foi morta”, complementou.
A morte “encomendada” de Rosalina, segundo Paulo Freitas, prejudicou os herdeiros e pode trazer ainda dificuldade para o desenrolar do inventário”.
O processo crime tinha já sido arquivado em 2008 e acabou por ser reaberto em Agosto de 2009, com a chegada da resposta do banco suíço à carta rogatória, mas acabaria por ser de novo arquivado após a morte de Rosalina Ribeiro Cartas rogatórias para outros países em que existiam contas bancárias não tiveram resultados.
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JORNAL DE NOTÍCIAS 28-08-2010
Por António Soares
FALSA MÉDICA LIGAVA AO ACASO
Polícia
"Médica" afinal era homem e ligava ao acaso
Saiu tranquilamente do tribunal, com a medida de coacção mínima, o homem suspeito de ter-se feito passar por médica para induzir mulheres a actos sexuais em "consultas" telefónicas. Há mais processos em investigação e o indivíduo pode não ser o único falso clínico.
Afinal, a voz feminina que enganou “várias dezenas de mulheres”, segundo a PSP, seria simulada por um homem, de 46 anos, vendedor de profissão, sem qualquer ligação à área da saúde e residente em Vila das Aves (Santo Tirso). Foi apanhado em flagrante, anteontem, na rua, a contactar mais uma vítima por telemóvel.
Presente, ontem, ao Tribunal de Instrução Criminal do Porto, acabaria por sair em liberdade, com termo de identidade e residência. À saída, fez de conta que nada tinha a ver com o caso. “Querem falar comigo? Deve ser engano”, limitou-se a dizer aos jornalistas, enquanto caminhava apressadamente, de cigarro na boca. Sem antecedentes criminais, o vendedor foi indiciado por usurpação de funções, coacção sexual, devassa da vida privada e ofensa a pessoa colectiva.
A detenção, efectuada pela Divisão de Investigação Criminal (DIC) da PSP do Porto, resultou de diligências encetadas há sete meses, após uma denúncia do Instituto Português de Oncologia (IPO).
Em causa estava o esquema, do qual o JN deu conta este mês. Várias mulheres, de diferentes pontos do país, eram contactadas telefonicamente por uma “doutora” que se apresentava como profissional do IPO, mas também do Hospital de S. João. Sob o pretexto da urgência de essas pessoas fazerem rastreios por poderem ter cancro, o indivíduo, imitando uma voz feminina, conseguia convencê-las a fazer “testes” envolvendo práticas de masturbação e apalpação.
Em determinados casos, até perguntava às “pacientes” se tinham telemóveis 3D para estas poderem filmar aqueles actos e enviar-lhe as imagens. Para poupar nas chamadas – houve conversas de horas – chegava a dizer-lhes para serem elas a ligar-lhe. As mulheres ainda eram aconselhadas a deslocar-se aos hospitais, para mais exames.
Ao contrário do que se suspeitava, a PSP descarta, para já, a hipótese de o autor dos crimes ter tido acesso a informação clínica privilegiada das vítimas. O comissário Fernando Silva, da DIC, realçou que as mulheres eram escolhidas “aleatoriamente”, através da ligação para números ao acaso, e que a grande arma do homem era “o poder de argumentação e retórica”. O vendedor terá usado vários telemóveis pré-pagos e não tinha preocupação em ocultar os números. Nas buscas, a PSP apreendeu-lhe um aparelho e diversa documentação.
Fernando Silva explicou que já foram ouvidas 15 vítimas e que futuramente serão contactadas “várias dezenas” que também terão caído no esquema. A única motivação do indivíduo seria a satisfação sexual.
Ao que o JN apurou, há outros processos ligados a falsas médicas a ser investigados e não é de descartar o envolvimento de mais indivíduos.
Nuno Silva
JORNAL DE NOTÍCIAS 28-08-2010
ATERRAGENS EM AUTOESTRADAS REPETEM-SE
Polémica
Aterragens em auto-estradas repetem-se
Desde o ano passado que se verificam situações como a de 30 de Julho na A24
As aterragens e descolagens dos helicópteros de combate a fogos em auto-estradas e outras vias rodoviárias são uma prática que tem vindo a repetir-se, apesar dos sucessivos alertas dos comandantes da Protecção Civil. Ao que apurou o DN, "desde o ano passado que há conhecimento de aterragens nas auto-estradas e nas escapatórias de emergência", revelou um comandante da Protecção Civil (ANPC).
Outro operacional adiantou que "já por diversas vezes houve alertas, durante os briefings dos meios aéreos, para evitar estas manobras e limitá-las ao estritamente necessário". A ANPC, que nos termos da lei detém competência operacional e administrativa sobre estes aparelhos, não presta esclarecimentos, tal como o Instituto Nacional de Aeronáutica Civil (INAC).
O director do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves (GPIA) recusou prestar esclarecimentos "sobre operações de aeronaves civis, ocorrências, incidentes e acidentes com aeronaves dada a sua missão e atribuições" e remeteu eventuais informações para o INAC, que "tem por missão regular e fiscalizar o sector da aviação civil".
Porém, Fernando Reis recordou que estas operações "estão enquadradas pelo Manual de Emprego dos Meios Aéreos em Operações de Protecção Civil, que se aplica à operação de todos os meios aéreos empenhados em operações de Protecção Civil, Socorro e Assistência, sob Comando Táctico e Coordenação da Autoridade Nacional de Protecção Civil".
O documento alerta para a necessidade de salvaguardar "os imprevistos operacionais", mas lembra que "os períodos de tempo nas operações aumentam a adrenalina e podem levar o piloto de combate a incêndios a exceder as suas capacidades de desempenho e as performances da aeronave que comanda".
Sobre a entrada e saída das brigadas, sustenta que "os elementos a embarcar devem reunir-se a cerca de 10 a 15 metros do helicóptero, em local visível para o piloto, à frente deste e na parte mais baixa do terreno". E alerta para o perigo de "quando o rotor está em aceleração ou desaceleração, o batimento natural das pás do rotor poderá originar a queda de uma das pás especialmente em condições de vento forte".
O que não aconteceu a 30 de Julho quando o helicóptero estacionado em Viseu aterrou e descolou, por duas vezes, na A24. Um dos automobilistas apresentou queixa no INAC, que terá já aberto uma investigação ao sucedido.
Arderam quase cinco mil hectares de floresta este mês no Parque Natural da serra da Estrela, ou seja, 5,52% da área total, diz o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade. Segundo dados provisórios do ICNB, os fogos que deflagraram entre 1 e 20 deste mês nos concelhos de Celorico da Beira, Seia, Gouveia e Guarda consumiram 4878 hectares. No Parque Nacional Peneda Gerês arderam 8162 hectares, correspondendo a 11,7% da área total do parque.
Ontem, a ANPC registou mais de meia centena de incêndios. No concelho de Vila Chaves, portugueses e espanhóis combateram um fogo que teve início em Espanha e atravessou a fronteira. Na Guarda os bombeiros voltaram a dominar, às 15.47, o fogo que assolara a região na véspera e obrigara mesmo à interrupção da linha da Beira Alta. O incêndio na aldeia de Pai Lobo, no concelho de Almeida, destruiu a capela de Santo Antão e várias arrecadações agrícolas, e os residentes foram evacuados.
por AMADEU ARAÚJO
DIÁRIO DE NOTÍCIAS 28-08-2010
CLIENTES DA BANCA ADIAM AMORTIZAÇÃO DOS EMPRÉSTIMOS
Crédito à habitação
Em Julho, o valor da amortização começou a cair e a tranche dos juros a aumentar
As pessoas continuam a ir ao banco para comprar casa. Os clientes dos bancos estão a revelar sinais de menor capacidade para amortizar o empréstimo da casa mas, ao mesmo tempo, estão a canalizar mais dinheiro para pagarem os juros da dívida. O aperto crescente no rendimento disponível e o novo ciclo de subida de taxas, que já é visível, são as principais razões que explicam o fenómeno que está a fazer com que as prestações totais subam, ainda que o capital amortizado a cada mês seja cada vez menor.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística, que apresenta dados até Julho último, cada cliente deve em média 60 621 euros ao banco. Todos os meses as pessoas têm de pagar uma prestação que ronda agora os 263 euros: esta parcela inclui a amortização - o dinheiro que o cliente abate ao empréstimo para reduzir os juros e a dependência face ao banco - e os juros - que remuneram o banco pelo dinheiro que emprestou. Este valor (263 euros) é relativamente baixo, pois tem em conta todos os créditos concedidos e os mais antigos têm uma prestação mais baixa pois beneficiaram de mais amortizações ao longo da sua vigência. Se às operações para compra de casa se juntarem os créditos para compra de terrenos ou construção de casas, a prestação média fica em 251 euros, mas também esta já está a subir à conta dos juros.
As prestações totais médias estão a ser puxadas pela importância crescente dos juros, que mais do que compensa a menor capacidade de amortização das famílias. Isto significa por um lado que o efeito da subida das taxas de juro já está a ser passado para os clientes. Por outro, começa a ser notório um aperto cada vez maior no rendimento disponível das famílias, reflexo de um mercado de trabalho com desemprego alto e de medidas de austeridade do governo para combater o défice.
João Cantiga Esteves, professor do ISEG e consultor financeiro, lembra que "a situação do mercado de crédito é hoje muito peculiar". "Apesar das taxas de juro extremamente baixas do BCE, a verdade é que os bancos continuam a não conseguir financiar-se no mercado interbancário como no passado."
"O crédito é de facto um mercado muito mais difícil hoje", observa. "O dinheiro que conseguem está a servir para reestruturar os balanços e só depois para financiar a economia." Por isso, o professor confirma que "já estamos num processo de subida dos juros sem haver subidas por parte do BCE, isto é, os spreads, que no fundo são os prémios de risco, estão a subir e muito". O economista junta ainda que o ambiente de estagnação, o desemprego alto e o endividamento acumulado ao longo de décadas "ajudam bastante à compressão do rendimento disponível, não havendo por isso grande margem para poupar", fazendo "aumentar ainda mais a exposição das pessoas a esta subida dos juros no crédito".
Filipe Garcia, economista da consultora IMF, frisou que a subida dos juros já está acontecer, embora acredite que seja moderada. Ainda assim, o ambiente mais restritivo no crédito, combinado com as medidas de austeridade - subida do IVA, aumento da taxa de retenção na fonte em sede de IRS, mais inflação e salários estabilizados -, "acabam por retirar poder de compra às famílias e ter um impacto maior".
No segmento da compra de habitação, cada devedor conseguiu amortizar 170,9 euros. O valor remanescente (92 euros) diz respeito a juros. Em Julho, o valor da amortização começou a cair e os juros começaram a aumentar. Nos novos contratos a quebra no valor amortizado é ainda maior e a sensibilidade face aos juros também. Nos empréstimos contratados nos últimos 12 meses, a prestação média total está a subir há dois meses (ficou em 294 euros em Julho), sendo que o capital amortizado desceu para 140 euros. A parcela relativa a juros aumentou para 154 euros, o valor mais alto desde Novembro de 2009.
Os bancos estão aproveitar a maior procura na habitação e o facto de continuarem a beneficiar do regime de financiamento vantajoso concedido pelo BCE para reforçarem ganhos. As taxas de juro efectivas dos novos créditos (TAEG) estão a subir desde o início do ano, segundo o Banco de Portugal. A tendência é continuar.
I ONLINE
por Luís Reis Ribeiro, Publicado em 28 de Agosto de 2010
Em Julho, o valor da amortização começou a cair e a tranche dos juros a aumentar
As pessoas continuam a ir ao banco para comprar casa. Os clientes dos bancos estão a revelar sinais de menor capacidade para amortizar o empréstimo da casa mas, ao mesmo tempo, estão a canalizar mais dinheiro para pagarem os juros da dívida. O aperto crescente no rendimento disponível e o novo ciclo de subida de taxas, que já é visível, são as principais razões que explicam o fenómeno que está a fazer com que as prestações totais subam, ainda que o capital amortizado a cada mês seja cada vez menor.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística, que apresenta dados até Julho último, cada cliente deve em média 60 621 euros ao banco. Todos os meses as pessoas têm de pagar uma prestação que ronda agora os 263 euros: esta parcela inclui a amortização - o dinheiro que o cliente abate ao empréstimo para reduzir os juros e a dependência face ao banco - e os juros - que remuneram o banco pelo dinheiro que emprestou. Este valor (263 euros) é relativamente baixo, pois tem em conta todos os créditos concedidos e os mais antigos têm uma prestação mais baixa pois beneficiaram de mais amortizações ao longo da sua vigência. Se às operações para compra de casa se juntarem os créditos para compra de terrenos ou construção de casas, a prestação média fica em 251 euros, mas também esta já está a subir à conta dos juros.
As prestações totais médias estão a ser puxadas pela importância crescente dos juros, que mais do que compensa a menor capacidade de amortização das famílias. Isto significa por um lado que o efeito da subida das taxas de juro já está a ser passado para os clientes. Por outro, começa a ser notório um aperto cada vez maior no rendimento disponível das famílias, reflexo de um mercado de trabalho com desemprego alto e de medidas de austeridade do governo para combater o défice.
João Cantiga Esteves, professor do ISEG e consultor financeiro, lembra que "a situação do mercado de crédito é hoje muito peculiar". "Apesar das taxas de juro extremamente baixas do BCE, a verdade é que os bancos continuam a não conseguir financiar-se no mercado interbancário como no passado."
"O crédito é de facto um mercado muito mais difícil hoje", observa. "O dinheiro que conseguem está a servir para reestruturar os balanços e só depois para financiar a economia." Por isso, o professor confirma que "já estamos num processo de subida dos juros sem haver subidas por parte do BCE, isto é, os spreads, que no fundo são os prémios de risco, estão a subir e muito". O economista junta ainda que o ambiente de estagnação, o desemprego alto e o endividamento acumulado ao longo de décadas "ajudam bastante à compressão do rendimento disponível, não havendo por isso grande margem para poupar", fazendo "aumentar ainda mais a exposição das pessoas a esta subida dos juros no crédito".
Filipe Garcia, economista da consultora IMF, frisou que a subida dos juros já está acontecer, embora acredite que seja moderada. Ainda assim, o ambiente mais restritivo no crédito, combinado com as medidas de austeridade - subida do IVA, aumento da taxa de retenção na fonte em sede de IRS, mais inflação e salários estabilizados -, "acabam por retirar poder de compra às famílias e ter um impacto maior".
No segmento da compra de habitação, cada devedor conseguiu amortizar 170,9 euros. O valor remanescente (92 euros) diz respeito a juros. Em Julho, o valor da amortização começou a cair e os juros começaram a aumentar. Nos novos contratos a quebra no valor amortizado é ainda maior e a sensibilidade face aos juros também. Nos empréstimos contratados nos últimos 12 meses, a prestação média total está a subir há dois meses (ficou em 294 euros em Julho), sendo que o capital amortizado desceu para 140 euros. A parcela relativa a juros aumentou para 154 euros, o valor mais alto desde Novembro de 2009.
Os bancos estão aproveitar a maior procura na habitação e o facto de continuarem a beneficiar do regime de financiamento vantajoso concedido pelo BCE para reforçarem ganhos. As taxas de juro efectivas dos novos créditos (TAEG) estão a subir desde o início do ano, segundo o Banco de Portugal. A tendência é continuar.
I ONLINE
por Luís Reis Ribeiro, Publicado em 28 de Agosto de 2010
REMEMBERING STÉPHANIE AND DANIEL'S MARRIAGE
A Princess Reborn
An Expectant Stephanie of Monaco Says She Has Found True Love with Daniel Ducruet—The Man Who Was Once Her Bodyguard
AS THE WILD CHILD OF THE GRIMALDI FAMILY, Princess Stephanie, 27, is a longstanding favorite among those who savor tabloid tales about troubled royals. Since 1982, when she was injured in a car wreck that killed her mother, Princess Grace, Stephanie has fluttered from one infatuation to the next in a seemingly desperate search for love. Stints as a fashion model, swimsuit designer, perfume peddler and chanteuse have alternated with giddy interludes in the arms of beaux, including Rob Lowe, racecar driver Paul Belmondo, record producer Hon Bloom and Jean-Yves Le Fur, a French real estate developer to whom she was briefly engaged in 1990. She made her mistakes in public as she struggled to forge an identity beyond that of Princess Stephanie Marie Elisabeth of Monaco. "My whole life," she said recently, "has been nothing but tremendous doubt."
Now, to hear Stephanie tell it, life holds no more doubts. On May 15, the joyous Princess announced to a pair of French journalists that she is three months pregnant. The child, she said, was fathered by her former bodyguard, Daniel Ducruet, 27—a onetime member of Monaco's police force who now manages a seafood-distributing business. Divorced from his first wife in the mid-1980s, he has a 4-month-old son by former girlfriend Martine Malbouvier, 32. A Frenchman born in Monaco, Ducruet met the Princess when he was assigned to the palace security detail from 1988 to October 1991. A few months before he left the post, the two began to live together. Exulted the expectant mother: "Things are completely changed. It is a happiness of such intensity, there are no words to explain it."
By all accounts, Stephanie and Ducruet, who say they have no plans to wed immediately, are wild for one another. In an interview in her high-rise apartment in Monaco, the Princess (in brightly colored tights and a pullover) and her paramour—a well-built, athletic-looking sort—nuzzled and cuddled as they discussed the circumstances that brought them together. Said Daniel: "The first time we met...we exchanged a glance, and we couldn't stop looking at each other.... [And now] a baby is going to emerge from that lovely little belly...." Added Stephanie: "[Daniel] helped me greatly to grow up. He really loves me for myself. He has proved to me that I am the one who counts, not what I represent."
Friends say that Ducruet is a self-made man. In the words of one who knows him well, Stephanie's beau is "smart, witty and loyal." Says the friend: "Daniel's only problem, if it is a problem, is that he was born into a poor family." (Raised near the border in Beausoleil, France, he is the son of Henri, a manual laborer, and Maguy, a housewife.) Although Daniel attended the University of Nice for just a year, his friend lauds his "good business sense," and adds, "he's doing well with his company."
The talk of Monaco on the last weekend in May, the news of the Princess' pregnancy overshadowed both the 50th running of the Monaco Grand Prix and a gala dinner in honor of Prince Rainier's 69th birthday (an event attended by neither Stephanie nor her elder sister, Princess Caroline). It also eclipsed the persistent rumor that Caroline (widowed in 1990 when husband Stefano Casiraghi died in a powerboat accident) is wailing for the Vatican to annul her 1978 marriage to Philippe Junot in order to wed Vincent Lindon, a 32-year-old French actor.
Following Stephanie's announcement, magazines ran paparazzi shots of the fully swimsuited Princess (who usually bathes topless), her belly slightly protruding, frolicking with Daniel in the pool at the Monte-Carlo Beach Hotel. As it was Mother's Day in France, Le Journal du Dimanche wished Stephanie, "Happy Mother's Day (Future) Mother," even as it erroneously noted that the Palace had denied that Rainier's youngest was expecting.
Many observers wondered how the Prince had taken the news that he was to become a grandfather again. (Caroline is the mother of Andrea, 8, Charlotte, 5, and Pierre, 4.) But direct comment was not forthcoming. Said one palace source: "There will be no official statement [about the pregnancy]."
Stephanie herself told reporters, "[My family] is happy for me. To see me happy, to know that I am going to have a child, they are evidently pleased."
Beyond that, she said little about Rainier's reaction, though jaded Stephanie watchers speculated that her having a child by her ex-bodyguard might finally goad her tolerant father to rage. "All these things are driving the Boss [as Rainier is called by intimates] up the wall," said one close family friend.
Others, however, note that Caroline was pregnant with Andrea when she wed Casiraghi in 1983 and that Rainier has always been particularly indulgent toward Stephanie. "She's got a tremendously strong character," he once said admiringly. Although the constitution specifies that no member of the family can marry without his approval, the doting Prince is deemed unlikely to refuse Daniel his daughter's hand. "He's got to accept both the baby and the father," says an American friend.
Daniel's friend confides that Ducruet "hasn't had a father-son talk" with Rainier but adds, "He is not afraid of his future father-in-law."
While Stephanie acknowledges that her father would undoubtedly be "delighted" if she opted for a full-dress church wedding, she says that she and Daniel have other ideas. "We don't want a reception or any great ceremony," she says. "I believe that the day of our marriage we will be all by ourselves or with very few others. If necessary, we have decided to go off, just the two of us, with his mother and a pal, and get married... in perfect privacy." Rainier, she predicts, will have no objection. "I believe that he will leave it to me to choose," she says.
The wedding date, they say, is still open for discussion. "We don't want to rush things," says Daniel. "We already have this happy event coming, and we do not want to seem forced to get married. Because marriage is something beautiful and not made with an idea of obligation."
Becoming engaged undoubtedly didn't seem part of the script when the two met in 1988. When Daniel joined the palace security staff, Stephanie had just ended an affair with French-born nightclub owner Mario Oliver and was throwing her energies into her singing career. Despite the initial attraction, neither she nor Daniel made a move. "Each of us lived what had to be lived, but we remained very close to each other, in our hearts, at least," Daniel says.
"He never left my mind," adds Stephanie. "There was always a place for him... in my heart."
For the Princess, the ensuing years were restless ones: After a brief engagement to Le Fur, she recorded a second album (Stephanie) and put her name on a scent sold in Europe. When Casiraghi was killed, she seemed to lake on a new maturity—spending much of her time with the shattered Caroline and helping to care for her sister's young children.
For his part, Daniel was occupied at the time by his relationship with Malbouvier, who lives in Beausoleil. In May 1991, Malbouvier became pregnant, and four months ago she gave birth to their son, Michael.
While rumormongers claimed that Ducruet deserted the pregnant Marline after his romance with Stephanie began last spring, a close friend says he "was always there for her." Daniel himself maintains that he has been a devoted father. In fact he was present when Michael was born; he has been seen accompanying Martine and Michael to the pediatrician, and paparazzi have snapped him loading his son into the backseat of Stephanie's black BMW. As the French magazine Voici put it, "Stephanie [also] respects Daniel's fatherly involvement."
Says Daniel: "I am taking care of that child, and I am giving an allowance to his mother. He is my flesh and blood—I am not ashamed of him. Whether I wanted him or not is nobody's business. And I shall look after him as I look after the child Stephanie is giving to me."
"The things that have been said about Daniel are completely astonishing," says Stephanie. "[But] the birth of our baby is a wonderful event, and I don't want it to be sullied." At the suggestion that her child, too, may someday be the target of gossip, she retorts swiftly, "We will protect him—you will see the mother hen turn into a mother lion. Nobody will touch my child."
At the moment the mother-to-be plans to put aside long-term projects such as her singing and her work with Pool Position, the company for which she designed swimsuits. "Now my family life comes before everything," she says. Still, Italian director Ottavio Fabbri has asked the couple to star in a six-part historical TV series called Welcome to Monaco, to he shot after the birth of their baby, and they have consented—providing they won't be forced to travel. "I do not wish to be absent [from the baby]," says Stephanie. "If [the project] required me to take my distance from my family, I would not be in agreement at all."
Both athletic, Stephanie and Daniel, a paragliding enthusiast who introduced the Princess to the sport, say her pregnancy will be an active one. "I want to keep fit. I don't want to become a wreck," says Stephanie with a laugh. "I go swimming and do a bit of exercise at home, and every weekend we go off for long hikes in the mountains."
Before the baby is born, the couple plan to move with their three dogs into a two-story home that will be built near the palace, next door to Caroline's pink villa. For Stephanie, it will be the beginning of a new phase—one that, by her account, marks a new maturity. "I [am] ready to have this child," she says. "I have become much more responsible. I feel myself much more a woman."
Eager to discover the sex of their baby, the two say they are hoping for a son, whom they would call Jonathan. "We are convinced that it will be a boy," says Stephanie. Adds Daniel: "For a daddy, it's good to have a boy, because that is the continuity of his life."
According to Stephanie, this will only be the beginning for the famille Ducruet. "We want to have three or four children," she says. "At the very least, three." And how will they be raised? "One must be very open-minded, very understanding," she says. Daniel agrees. "We will offer the widest range of possibilities to our [children]," he says, "and then it will be up to them to make [their] choice."
For better or worse, it seems that the restless Stephanie has found a new raison d'être. Never mind that there are cynics who claim that this pregnancy was an impulsive move, one that will sustain her interest no longer than, say, a new suitor. The Princess is convinced that she has finally found her place. "My role will be, above all, to make [this child] happy in what he does," says the woman who has spent so much of her life struggling to define herself. "Our children," she vows, "will not be unhappy."
MICHELLE GREEN
JOEL STRATTE-McCLURE in Monaco
Contributors:
Joel Stratte-McClure
From PEOPLE Magazine
June 15, 1992
Vol. 37No. 23
By Michelle Green
PHOTOS FROM SINGAPORE
AS FÉRIAS DO PRESIDENTE
Presidência: Cavaco Silva no Algarve abre portas ao CM
“Os portugueses estão enganados quanto às férias do Presidente”
O escritório do Presidente tem passagem para a piscina, onde um grupo de crianças, entre as quais alguns dos seus netos, se divertia.
Muito bronzeado, de pólo e calções, o Presidente recebe-nos no seu pequeno escritório na Casa da Gaivota, na aldeia da Coelha, em Albufeira, sua residência de férias vai para 13 anos, localizada numa pequena rua sem saída para o trânsito. A mulher, Maria Cavaco Silva, aparece também para um cumprimento rápido, com uma braçada de roupa lavada. "Trabalho de férias!", explica, no tom de lamento de quem tem de fazer a lida de casa. E é para falar de férias, das suas férias, que o Presidente nos recebe.
Sentado numa secretária simples, cheia de papéis, que nos diz serem os diplomas que tem de analisar, Cavaco Silva vai directo ao assunto: "As férias de um Presidente da República são muito limitadas, porque é um órgão unipessoal, não tem substituto, e existem muitos assuntos que não podem esperar. Por isso, todos os dias de manhã, dedico-me ao exercício das minhas funções de Presidente da República aqui neste pequeno escritório." Um espaço situado na parte de trás da casa e aberto para um jardim com piscina, onde um grupo de crianças, entre as quais alguns dos netos do Presidente, se diverte. Nas paredes há retratos do Chefe de Estado, imagens da sua actividade política, com mais de 30 anos, e, até, a reprodução de um cartoon de António sobre as últimas presidenciais (que Cavaco ganhou logo à primeira volta, com mais de 50 por cento dos votos).
Entre as matérias inadiáveis mesmo em tempo de férias estão os diplomas do Governo e da Assembleia da República – a propósito, o Presidente recorda que tem apenas 8 dias para decidir se consulta ou não o Tribunal Constitucional e 20 dias para decidir sobre a promulgação ou o veto. "Este ano tive 37 diplomas para ler e para analisar. Ainda estão aqui alguns, que chegaram há pouco tempo", diz, apontando para os dossiês. À lembrança vem o "jipe cheio de diplomas" das férias do ano passado, mas o Presidente frisa que agora são bastante menos.
A análise e o estudo dos diplomas é "uma matéria que absorve muito, muito tempo", mas está longe de ser exclusiva. "Os portugueses estão muito enganados quanto às férias do Presidente", comenta, explicando que, além do controlo da actividade legislativa do Governo e da Assembleia da República, há toda uma série de assuntos que exige a sua atenção durante as férias, como: a nomeação de embaixadores para o estrangeiro e a acreditação de embaixadores em Portugal; as respostas a cartas de chefes de Estado e as mensagens que há que lhes enviar, de felicitação ou pesar, conforme os acontecimentos nos respectivos países; a análise dos convites que lhe são dirigidos – "O Presidente da República recebe, em média, quatro convites por dia para cerimónias oficiais" –; a assinatura dos decretos de promoção a oficial general e, é claro, o acompanhamento da situação nacional e da actualidade internacional.
"Quase todos os dias há um automóvel que vem de Lisboa com documentação que tenho de despachar ou dossiês que tenho de analisar, e há matérias cuja delicadeza exige a presença do Chefe da Casa Civil", refere o Chefe de Estado, adiantando que antes de nos receber tinha estado precisamente reunido com Nunes Liberato.
Em resumo, "as férias do Presidente nunca são férias completas; não há possibilidade, porque não há um substituto, tem de ser ele próprio a analisar e a decidir". No final, "resta algum tempo para ir de vez em quando para a praia, dar um mergulho e nadar um pouco", e para ler.
No dia em que nos recebe, a ida à praia é trocada por uma visita à quinta herdada do pai e ainda um passeio pelas arribas à frente da casa e uma caminhada no passadiço da lagoa dos Salgados, para observar os flamingos. De binóculos.
"APRECIO ALEGRE COMO POETA"
Em tempo de férias, a pergunta impõe-se: que livro ou livros está a ler? Cavaco Silva aponta para uma pequena pilha de livros sobre uma mesa e enumera alguns exemplos: a ‘A Casa-comboio’, de Raquel Ochoa (a quem o Presidente entregou o Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís), ‘Portugal, o Sabor da Terra’, de José Mattoso, um livro de Luís Rosa sobre a guerra na Guiné e... livros do Manuel Alegre? O Presidente sorri perante a ‘provocação’ e responde, surpreendendo-nos: "Sabe, tenho praticamente todos os livros do Manuel Alegre, e com dedicatórias. A minha mulher, desde sempre, guardou os livros dele e eu, quando o encontrava, pedia-lhe que os autografasse." É, remata, "uma pessoa que aprecio como poeta".
"OS GOVERNOS NÃO PRECISAM DE TER A CONFIANÇA POLÍTICA DO PRESIDENTE"
O tema da conversa com Cavaco Silva são as férias, mas o Presidente não se furta a responder a algumas perguntas sobre questões que marcam a actualidade política nacional, como a polémica à volta do projecto de revisão constitucional do PSD.
O Chefe de Estado começa por assumir o seu papel de guardião da Constituição, desta Constituição: "Estou a exercer as minhas funções à luz da Constituição que está em vigor e que eu jurei cumprir. E, para mim, a palavra ‘jurar’ tem muito significado e, por isso, confirmo o texto da Constituição que jurei cumprir e fazer cumprir. Não quer isto dizer que concordo ou não com todo o conteúdo da Constituição. Não é isso que está em causa. Agora eu sou Presidente no contexto desta Constituição, não de outras."
Interrogado sobre os que o criticaram por promulgar diplomas com os quais não concorda plenamente, como o das uniões de facto, Cavaco Silva riposta: "Esse diploma sofreu alterações na Assembleia que foram, em geral, ao encontro das observações que fiz. Mas, como todos os Presidentes da República disseram e escreveram, com alguma frequência os presidentes não concordam com a totalidade das normas jurídicas de um diploma, isso é o mais normal".
Sobre os poderes presidenciais e as relações com o Governo, não se coíbe de sublinhar as limitações impostas pela Constituição: "Basta ter presente o nosso sistema constitucional. Mudou o Presidente e nem por isso mudou o Governo; isto é, os presidentes que chegam de novo recebem um Governo que foi nomeado por um outro Presidente." Os governos, frisa, a propósito, "não precisam de ter a confiança política dos Presidentes, nem respondem politicamente perante o Presidente da República. Nos termos constitucionais, respondem politicamente perante a Assembleia da República." E conclui com um recado: "Foi por isso que, há dias, disse que os nossos comentadores estivais deviam ler o livro vermelho de Vital Moreira e Gomes Canotilho, porque analisa bem, quanto a mim, como devem ser exercidos os po-deres presidenciais".
PROMULGAÇÕES EM DIAS DE DESCANSO
O Presidente da República recebeu este ano 37 diplomas para analisar e, durante as férias no Algarve, promulgou alguns de grande importância, como o das uniões de facto, o pacote anticorrupção, o Estatuto do Aluno, as alterações ao Código de Execução de Penas e, anteontem, o diploma sobre os chips, ou seja, sobre o pagamento das auto-estradas sem custos para o utilizador (Scuts).
"A GUINÉ-BISSAU É PREOCUPANTE"
Um dos assuntos que mais preocupam o Presidente, mesmo em férias, diz respeito à situação que se passa na Guiné-Bissau, onde se coloca "a interrogação sobre a subordinação do poder militar ao poder civil". "Não podemos esquecer que houve o assassinato de um Presidente e do chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, que foi nomeado depois um outro, que, neste momento, está preso [Induta]."
CORREIO DA MANHÃ 28-08-2010
Por José Rodrigues
“Os portugueses estão enganados quanto às férias do Presidente”
O escritório do Presidente tem passagem para a piscina, onde um grupo de crianças, entre as quais alguns dos seus netos, se divertia.
Muito bronzeado, de pólo e calções, o Presidente recebe-nos no seu pequeno escritório na Casa da Gaivota, na aldeia da Coelha, em Albufeira, sua residência de férias vai para 13 anos, localizada numa pequena rua sem saída para o trânsito. A mulher, Maria Cavaco Silva, aparece também para um cumprimento rápido, com uma braçada de roupa lavada. "Trabalho de férias!", explica, no tom de lamento de quem tem de fazer a lida de casa. E é para falar de férias, das suas férias, que o Presidente nos recebe.
Sentado numa secretária simples, cheia de papéis, que nos diz serem os diplomas que tem de analisar, Cavaco Silva vai directo ao assunto: "As férias de um Presidente da República são muito limitadas, porque é um órgão unipessoal, não tem substituto, e existem muitos assuntos que não podem esperar. Por isso, todos os dias de manhã, dedico-me ao exercício das minhas funções de Presidente da República aqui neste pequeno escritório." Um espaço situado na parte de trás da casa e aberto para um jardim com piscina, onde um grupo de crianças, entre as quais alguns dos netos do Presidente, se diverte. Nas paredes há retratos do Chefe de Estado, imagens da sua actividade política, com mais de 30 anos, e, até, a reprodução de um cartoon de António sobre as últimas presidenciais (que Cavaco ganhou logo à primeira volta, com mais de 50 por cento dos votos).
Entre as matérias inadiáveis mesmo em tempo de férias estão os diplomas do Governo e da Assembleia da República – a propósito, o Presidente recorda que tem apenas 8 dias para decidir se consulta ou não o Tribunal Constitucional e 20 dias para decidir sobre a promulgação ou o veto. "Este ano tive 37 diplomas para ler e para analisar. Ainda estão aqui alguns, que chegaram há pouco tempo", diz, apontando para os dossiês. À lembrança vem o "jipe cheio de diplomas" das férias do ano passado, mas o Presidente frisa que agora são bastante menos.
A análise e o estudo dos diplomas é "uma matéria que absorve muito, muito tempo", mas está longe de ser exclusiva. "Os portugueses estão muito enganados quanto às férias do Presidente", comenta, explicando que, além do controlo da actividade legislativa do Governo e da Assembleia da República, há toda uma série de assuntos que exige a sua atenção durante as férias, como: a nomeação de embaixadores para o estrangeiro e a acreditação de embaixadores em Portugal; as respostas a cartas de chefes de Estado e as mensagens que há que lhes enviar, de felicitação ou pesar, conforme os acontecimentos nos respectivos países; a análise dos convites que lhe são dirigidos – "O Presidente da República recebe, em média, quatro convites por dia para cerimónias oficiais" –; a assinatura dos decretos de promoção a oficial general e, é claro, o acompanhamento da situação nacional e da actualidade internacional.
"Quase todos os dias há um automóvel que vem de Lisboa com documentação que tenho de despachar ou dossiês que tenho de analisar, e há matérias cuja delicadeza exige a presença do Chefe da Casa Civil", refere o Chefe de Estado, adiantando que antes de nos receber tinha estado precisamente reunido com Nunes Liberato.
Em resumo, "as férias do Presidente nunca são férias completas; não há possibilidade, porque não há um substituto, tem de ser ele próprio a analisar e a decidir". No final, "resta algum tempo para ir de vez em quando para a praia, dar um mergulho e nadar um pouco", e para ler.
No dia em que nos recebe, a ida à praia é trocada por uma visita à quinta herdada do pai e ainda um passeio pelas arribas à frente da casa e uma caminhada no passadiço da lagoa dos Salgados, para observar os flamingos. De binóculos.
"APRECIO ALEGRE COMO POETA"
Em tempo de férias, a pergunta impõe-se: que livro ou livros está a ler? Cavaco Silva aponta para uma pequena pilha de livros sobre uma mesa e enumera alguns exemplos: a ‘A Casa-comboio’, de Raquel Ochoa (a quem o Presidente entregou o Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís), ‘Portugal, o Sabor da Terra’, de José Mattoso, um livro de Luís Rosa sobre a guerra na Guiné e... livros do Manuel Alegre? O Presidente sorri perante a ‘provocação’ e responde, surpreendendo-nos: "Sabe, tenho praticamente todos os livros do Manuel Alegre, e com dedicatórias. A minha mulher, desde sempre, guardou os livros dele e eu, quando o encontrava, pedia-lhe que os autografasse." É, remata, "uma pessoa que aprecio como poeta".
"OS GOVERNOS NÃO PRECISAM DE TER A CONFIANÇA POLÍTICA DO PRESIDENTE"
O tema da conversa com Cavaco Silva são as férias, mas o Presidente não se furta a responder a algumas perguntas sobre questões que marcam a actualidade política nacional, como a polémica à volta do projecto de revisão constitucional do PSD.
O Chefe de Estado começa por assumir o seu papel de guardião da Constituição, desta Constituição: "Estou a exercer as minhas funções à luz da Constituição que está em vigor e que eu jurei cumprir. E, para mim, a palavra ‘jurar’ tem muito significado e, por isso, confirmo o texto da Constituição que jurei cumprir e fazer cumprir. Não quer isto dizer que concordo ou não com todo o conteúdo da Constituição. Não é isso que está em causa. Agora eu sou Presidente no contexto desta Constituição, não de outras."
Interrogado sobre os que o criticaram por promulgar diplomas com os quais não concorda plenamente, como o das uniões de facto, Cavaco Silva riposta: "Esse diploma sofreu alterações na Assembleia que foram, em geral, ao encontro das observações que fiz. Mas, como todos os Presidentes da República disseram e escreveram, com alguma frequência os presidentes não concordam com a totalidade das normas jurídicas de um diploma, isso é o mais normal".
Sobre os poderes presidenciais e as relações com o Governo, não se coíbe de sublinhar as limitações impostas pela Constituição: "Basta ter presente o nosso sistema constitucional. Mudou o Presidente e nem por isso mudou o Governo; isto é, os presidentes que chegam de novo recebem um Governo que foi nomeado por um outro Presidente." Os governos, frisa, a propósito, "não precisam de ter a confiança política dos Presidentes, nem respondem politicamente perante o Presidente da República. Nos termos constitucionais, respondem politicamente perante a Assembleia da República." E conclui com um recado: "Foi por isso que, há dias, disse que os nossos comentadores estivais deviam ler o livro vermelho de Vital Moreira e Gomes Canotilho, porque analisa bem, quanto a mim, como devem ser exercidos os po-deres presidenciais".
PROMULGAÇÕES EM DIAS DE DESCANSO
O Presidente da República recebeu este ano 37 diplomas para analisar e, durante as férias no Algarve, promulgou alguns de grande importância, como o das uniões de facto, o pacote anticorrupção, o Estatuto do Aluno, as alterações ao Código de Execução de Penas e, anteontem, o diploma sobre os chips, ou seja, sobre o pagamento das auto-estradas sem custos para o utilizador (Scuts).
"A GUINÉ-BISSAU É PREOCUPANTE"
Um dos assuntos que mais preocupam o Presidente, mesmo em férias, diz respeito à situação que se passa na Guiné-Bissau, onde se coloca "a interrogação sobre a subordinação do poder militar ao poder civil". "Não podemos esquecer que houve o assassinato de um Presidente e do chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, que foi nomeado depois um outro, que, neste momento, está preso [Induta]."
CORREIO DA MANHÃ 28-08-2010
Por José Rodrigues
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