Saturday, 4 September 2010

ASAE MANDOU PARAR UPACAL

ASAE mandou parar panificação da Upacal

A Upacal está a recorrer a duas panificadoras dos concelhos de Alcobaça e Cadaval para assegurar o fornecimento de pão aos seus estabelecimentos, depois da ASAE ter encerrado a unidade de produção da empresa caldense na estrada de Tornada.

A informação foi confirmada por Joel Henriques, o novo sócio-gerente da Upacal – União Panificadora Caldense. O gerente explicou que uma inspecção da ASAE detectou alguns problemas nas áreas de estufa e refrigeração.

Os funcionários do sector de produção foram de férias e as obras de remodelação já começaram. Joel Henriques acredita que os problemas estarão resolvidos dentro de uma semana. “Para nós acaba por ser uma oportunidade para apostarmos na modernização das instalações”, referiu o gerente.

Gazeta das Caldas contactou a ASAE e o gabinete de imprensa do Ministério da Economia para obter mais esclarecimentos sobre o encerramento da panificadora, mas não obteve resposta até ao dia de fecho desta edição, apesar das várias tentativas.

Com cerca de 40 sócios, a Upacal está a passar por uma fase de reestruturação. Joel Henriques quer avançar com um aumento de capital para poder passar a ser sócio maioritário e usar os fundos para investir na empresa. “Queremos celebrar os 50 anos da Upacal com estabilidade operacional e financeira”, salientou Joel Henriques.

O objectivo é a Upacal concentrar os seus esforços na produção e distribuição. Dos 20 estabelecimentos que a empresa detinha, restam apenas cinco (três nas Caldas, um no Nadadouro e outro na Foz do Arelho), depois de os restantes terem sido vendidos.

Há dois anos a empresa tinha cerca de 150 funcionários, mas actualmente são apenas 60.

No dia 7 o encerramento da panificação e o facto dos salários de Junho não terem sido pagos gerou algum descontentamento. Mas, numa reunião com os funcionários, Joel Henriques garantiu que o pagamento dos salários seria feito no dia seguinte e que, com as obras, a paragem da panificadora seria solucionada.

Pedro Antunes
pantunes@gazetacaldas.com


GAZETA DAS CALDAS 16-07-2010

UPACAL: A INSOLVÊNCIA

Pedida insolvência da Upacal

Deu entrada no Tribunal das Caldas da Rainha, a 24 de Agosto, um processo de insolvência da sociedade por quotas União Panificadora Caldense, Lda.

A insolvência foi pedida por dois funcionários que reclamam o pagamento de ordenados em atraso. Estes ex-trabalhadores tinham apresentado a rescisão com justa causa por não receberem há mais de 60 dias.

A acção foi interposta pela advogada Anabela Coelho, em nome de Luís Santo e Lúcia Pereira, sendo referidas alegadas dificuldades da empresa em poder pagar as suas dívidas.

Segundo Luís Santo, já há algum tempo que havia problemas financeiros e atrasos nos ordenados na Upacal, mas estes agravaram-se com a actual gerência.

Na passada quarta-feira, 1 de Setembro, mais 27 trabalhadores pediram rescisão de contrato por justa causa, por estarem sem receber há 60 dias. Estarão também em dívida o subsídio de férias de 2009 e de 2010 a todos os funcionários.

Os trabalhadores queixam-se ainda de não terem seguro de acidentes de trabalho.
O gerente da empresa, Joel Henriques, que ocupa este cargo há três meses, não quis tecer comentários sobre este pedido de insolvência, garantindo apenas que a sua intenção é a de tornar a Upacal mais sólida.

O empresário comentou que poderia ter suspendido os contratos de trabalho dos funcionários depois da ASAE ter mandado parar a produção em Julho, mas que quis “resolver a situação de boa fé”.

Segundo Joel Henriques, a sua intenção era a de retomar a produção rapidamente, mas têm acontecido diversas contratempos que estão a atrasar o processo.

O gerente da Upacal tem sido acusado de estar a pressionar alguns funcionários para assinarem acordos de rescisão por valores irrisórios. Joel Henriques garante que as pessoas têm saído satisfeitas com a indeminização paga.

Segundo Luís Santo, houve uma pessoa que “aceitou uma ninharia” porque estava quase a passar fome por não receber o vencimento.

Luis Santo, falando em nome de outros colegas, acusa o gerente de maus tratos psicológicos sobre o pessoal, o que este rejeita, afirmando que que “podem dizer o que quiserem”, mas que ele próprio tem razões de queixa de algumas pessoas e prefere não tratar dessas questões na praça pública.

Contudo, houve uma funcionária que pediu baixa psiquiátrica porque não aguentou mais a pressão do gerente. “Às vezes ela até caia no chão com medo dele”, disse Luis Santo.

PREJUÍZOS DE 27 MIL EUROS EM 2009

Em 2009 a Upacal teve um volume de vendas próximo dos 2 milhões de euros, mas registou prejuízos de 27 mil euros. E dos quase cem funcionários que tinha há um ano, só tem neste momento 41 (sem contar ainda os 29 que pediram a rescisão do contrato).

Joel Henriques sublinha que só está na gestão da empresa há três meses e que nessa altura tinha um quadro de quase 60 pessoas, tendo-se conseguido reduzir o pessoal através de rescisões amigáveis.

O gerente diz que o seu plano de recuperação passa por reduzir nos custos e, consequentemente, o quadro do pessoal que não deverá ter mais de 20 pessoas.

“Em três meses pagámos 100 mil euros de dívidas”, disse à Gazeta das Caldas, acrescentando que a empresa tem uma estrutura de custos muito elevada, por exemplo, ao nível da frota e do combustível. Só em consumo de gás, conta, foram gastos 10 mil euros em Julho, que tiveram de ser pagos de imediato.

Dos inúmeros postos de venda que detinha nas Caldas e na região, a Upacal já só detém dois na cidade, um no Nadadouro, outro na Foz, para além da fábrica. Este emagrecimento, feito através da alienação dos próprios imóveis, foi feito na anterior gerência. Joel Henriques diz que não sabe quanto rendeu nem o que foi feito desse dinheiro, mas presume que foi para pagar dívidas.

Actualmente a gerência da Upacal é composta por Joel Henriques, que tem formação em Engenharia e por Cláudio Grácio, que é técnico oficial de contas.

Pedro Antunes
pantunes@gazetacaldas.com

Carlos Cipriano
cc@gazetacaldas.com

1-09-2010

O ESTADO DE MÁ FÉ

A actual situação do patrocínio oficioso é, no mínimo, escandaloso. Não sendo do conhecimento público, apesar do enorme debate no seio da classe, merece ser divulgada. Os advogados que prestam patrocínio oficioso (as chamadas 'oficiosas') encontram-se numa situação em que prestam um serviço, de cariz social imprescindível, sem receberem de acordo com a Lei, estando o Estado em reiterada violação. E isto acontece há anos e independentemente do titular da pasta ou da cor partidária de quem lá está.

A advocacia é uma actividade nobre e fundamental num estado de direito democrático. E o patrocínio oficioso existe para garantir que todos tenham acesso à Justiça, mesmo que não tenham condições financeiras para tal. De acordo com o regime em vigor (até há pouco tempo não existia prazo legal para o pagamento dos respectivos honorários), o Instituto de Gestão Financeira do Min. da Justiça - entidade responsável pelo pagamento - está obrigado a pagar até ao final do mês seguinte (relativamente ao acto - julgamento, interrogatório, conclusão do processo, etc). Mas sucede que, à data de hoje (Setembro), o Instituto está em atraso, com todos os advogados inscritos no patrocínio oficioso, nos meses de Abril, Maio, Junho e Julho (o Agosto terá que ser pago até ao final de Setembro). Isto apesar das sucessivas promessas - quebradas - do Ministro da Justiça, que, descaradamente, falta constantemente à verdade.

Vários advogados já interpelaram o Instituto neste sentido e as respostas apontam o mês de Dezembro como data de pagamento. Ora isto é uma vergonha, para um Estado que se quer cumpridor e de boa fé mas age de pura má fé, mentindo e enganando os portugueses. Já nem vou falar dos valores dos honorários (relativamente baixos tendo em conta os valores pagos a tradutores, peritos, etc) nem na dualidade de critérios (as grandes sociedades de advogados avençadas do Estado recebem todos os meses a tempo e horas - e estamos a falar em milhões de euros por mês! -, tal como os tradutores, que também recebem a horas). O que irá suceder, se o problema não for resolvido em definitivo, é que apenas permanecerão no patrocínio oficioso aqueles advogados que necessitam dos trocos das oficiosas como pão para a boca: novatos, com pouca experiência e em início de carreira, ou que se encontram numa situação de carência financeira provocada pelo excessivo número de advogados em exercício e consequente concorrência.

Claro que, quem fica a perder é o Zé Povinho, o pobre que não tem dinheiro para pagar as custas judiciais e os honorários do advogado, que lhe vê calhar em sorte um novato quase sem experiência, pois quem exerce o patrocínio oficioso por razões éticas e morais (como é o meu caso), pensa seriamente em abandonar o sistema. Muitos até têm falado numa espécie de 'greve', em que os advogados não prestariam mais serviço oficioso até serem pagos todos os honorários devidos. Mas a medida dificilmente avançará já que a greve seria um mal maior, se bem que já resultou no passado. Pessoalmente, tenho dito que, 'a bem', isto já não se resolve, mas mas custa-me tomar uma decisão tão gravosa e extrema. Mas entre abandonar o patrocínio oficioso (que não me custaria, já que, felizmente, não necessito dele para viver) e fazer greve, prefiro a segunda hipótese, pois prejudicaria menos os cidadãos do que ficarem estes adstritos a colegas com pouca experiência.

Ficámos hoje a saber que o CDS-PP pretende que seja publicado online a lista de credores do Estado. Referiu-se apenas às empresas, mas se fosse alargada a todas as entidades, veríamos lá milhares de advogados. A larga maioria dos advogados.

Adenda: "As empresas de distribuição vão ser obrigadas a pagar aos fornecedores de produtos alimentares num prazo de trinta dias, sob pena de multa, que pode atingir quase 50 mil euros, segundo um decreto-lei hoje aprovado." O Governo decidiu multar as empresas que não paguem aos fornecedores a horas. E multar-se a si próprio por não pagar aos advogados a horas?
LEGALICES 2-09-2010

4TH OF SEPTEMBER: LIBERATION DAY IN MONACO

Saturday, September 4, 2010 Liberation Day in Monaco

HSH Prince Louis II reviewing French-African troops as part of the celebration of the liberation of Monaco and the Allied victory in World War II.

Yesterday HSH Prince Albert II of Monaco and sidekick Michel Roger attended the festivities marking the anniversary of the liberation of Monaco from German forces during World War II. The Sovereign Prince reviewed a parade of men costumed in period uniforms and driving historic vehicles.

The Germans had left Monaco shortly after evacuating Paris on August 25, 1944. The following week was spent in confusion, not knowing if the Allies were coming or if the Germans would return, comforted only by the solid presence of their battle-hardened monarch of Great War fame Prince Louis II.

Then, on September 3, 1944 a jeep with two American GI's came racing down the road from Menton. The jeep drove into Monte Carlo, pulled up to the 'Tip Top Bar' and one of them, future author Irwin Shaw, jumped out, ordered some drinks and announced that Monaco had been liberated. In no time at all crowds of adoring Monegasques were crowding around the Americans to express their gratitude. Later more Allied troops arrived for some formal ceremonies, presided over by a proud Prince Louis II and his grandson and fellow French army veteran Prince Rainier.

MAD FOR MONACO

4-09-2010

DÍVIDAS A ADVOGADOS OFICIOSOS

Justiça: Dívidas a advogados oficiosos vão ser pagas na próxima semana -- Bastonário

Figueira da Foz, Coimbra, 04 set (Lusa) -- O Ministério da Justiça vai regularizar, na próxima semana, os pagamentos em atraso a cerca de cinco mil advogados oficiosos, disse hoje, na Figueira da Foz, o Bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto.

No final da tertúlia "125 minutos com...", que decorreu no Casino local, e dirigindo-se a uma advogada na assistência, Marinho Pinto informou que se tinha reunido na sexta feira, em Coimbra, com o ministro da Justiça, Alberto Martins, que lhe deu a notícia de que "para a semana vão ser pagos os atrasos nas oficiosas".

"Com as cautelas e as prudências que estas promessas têm, parece que para a semana vão ser pagos os atrasos", sublinhou.

DN 4-09-2010

http://dn.sapo.pt/Inicio/interior.aspx?content_id=1655251

EUNICE MUÑOZ: 81 ANOS

Teatro

Como Eunice se prepara para o palco

Quisemos descobrir os segredos de uma das maiores actrizes portuguesas.

A actriz está de regresso ao D. Maria II em "O Ano do Pensamento Mágico".Com 81 anos, quase 70 passados em palco, Eunice Muñoz ainda fica nervosa quando representa e reza antes de actuar. Regressa agora ao Teatro D. Maria II pelas mãos de Diogo Infante. "O Ano do Pensamento Mágico" é um monólogo intenso e trágico sobre a morte

1- Convite Tudo começa com uma conversa que tem como objectivo um convite. Diogo Infante, director artístico do Teatro Nacional D. Maria II, começou por perguntar se Eunice Muñoz estava interessada em representar Joan Didion. Deu-lhe o "O Ano do Pensamento Mágico", no qual se baseia a peça. A actriz leu o livro, com calma ("sou muito mimada aqui, sabe") e aceitou o convite com uma condição: Diogo Infante tinha de ser o encenador.

2- Investigação Para este papel, Eunice Muñoz não precisou de ter aulas de língua gestual (como já aconteceu) ou investigar muito. "Bastou o livro. Estava lá tudo. O tema da morte toca-nos muito. Todos temos amigos ou familiares que um dia desapareceram."

3- Papéis pela casa Seja na cozinha, ao lado do refogado, ou na sala com as duas gatas, Eunice Muñoz decora as falas em todo o lado. Tem fotocópias encadernadas, que andam na mala, e em casa tem folhas espalhadas por todas as divisões.

4- Ensaios Há dois meses que Eunice passava todas tardes a ensaiar com Diogo Infante. Nunca ensaiou o texto com outras pessoas. "É um trabalho entre mim e o encenador. A minha prepara-ção é ouvi-lo, trocar impres- sões e confiar nele. Parece-me pouco inteligente discordar, já que ele tem a peça toda na cabeça. Sou bastante humilde nesse aspecto."

5- Chegar ao teatro Duas horas antes do espectáculo, Eunice Muñoz entra no teatro. Gosta de fazer tudo com calma. O cabelo e a maquilhagem ficam por conta dos profissionais. Jantar? Nunca antes da peça. Bebe um chá e a maior excentricidade culinária é uma sopa. "Os actores têm de jantar muito cedo ou fazer um lanche leve para terem tempo de fazer a digestão. Quando entramos em cena devemos estar libertos de pesos."

6- Camarim Já ninguém estranha as fotografias espalhadas pelo camarim da actriz. Os filhos, os pais e os avós de Eunice acompanham-na sempre. O camarim, além de ser o lugar mais familiar, é onde a actriz se isola por uns minutos para se concentrar. Antigamente fazia exercícios de voz e relaxamento. Hoje, já não precisa. "São muitos anos."

7- Fé Antes de entrar em cena, Eunice Muñoz tem um ritual: rezar. "Peço ajuda a Deus, para que me proteja."

8- Brancas "Um actor lida muito mal com elas. O truque é o não truque. Quando se tem tantos anos como eu há muita serenidade e não entro em pânico." A solução é esperar ou improvisar.

9- O fim da peça É a última pessoa a sair do teatro porque não gosta de correrias. "Toda a vida fui assim. Já saiu toda a gente e ainda lá estou. Gosto de ficar parada a relaxar no camarim, porque damos tanto de nós que ficamos um bocado vazios."

10- Casa Depois do espectáculo a adrenalina é tanta que é impossível dormir. Eunice Muñoz tem uma técnica infalível para relaxar: ver televisão com as duas gatas.

I ONLINE

por Vanda Marques , Publicado em 16 de Novembro de 2009

RUY DE CARVALHO NO CAMAREIRO

Estreia hoje "O Camareiro", com Virgílio Castelo e Ruy de Carvalho

Há uma grande diferença entre a personagem de Ruy de Carvalho na peça "O Camareiro" e o próprio. No palco, é um actor em fim de carreira, dominado pela senilidade e loucura. Já Ruy, o verdadeiro, prova que aos 82 anos mantém uma energia invejável e que está longe de abandonar os palcos.

Na peça vemos os bastidores do teatro como um actor Há uma grande diferença entre a personagem de Ruy de Carvalho na peça "O Camareiro" e o próprio. No palco, é um actor em fim de carreira, dominado pela senilidade e loucura. Já Ruy, o verdadeiro, prova que aos 82 anos mantém uma energia invejável e que está longe de abandonar os palcos.

Quando chega ao Teatro Dona Maria II, em Lisboa, para o ensaio de imprensa, traz quase um dia inteiro de trabalho às costas. Levantou-se às seis, apesar de na noite anterior ter ficado no teatro até à meia-noite. Conduziu o seu Smart até aos estúdios em Quintanilha, na zona de Alverca, e passou a manhã em gravações para a novela da TVI. Nem teve tempo para almoçar. Começou o ensaio, de mais de duas horas, sem comer, mas na plateia ninguém se apercebeu do seu cansaço. "Não sei como aguento. Estou admirado comigo mesmo", confessa, enquanto atira uma explicação. "Há os actores de montra e os de bengala. Os de montra vem para cá só para se mostrar, os de bengala morrem velhinhos a trabalhar no teatro."

A peça "O Camareiro", de Ronald Harwood, argumentista de "O Pianista", marca o regresso do actor ao teatro nacional, pelas mãos de Diogo Infante, director artístico do D. Maria II. "Estou aqui porque gosto muito do Diogo e por que ele me convidou. Já os que mandam na tutela do Teatro Nacional não merecem consideração nenhuma. Mandaram-me embora por ser velho e reformado. Dizem que não foi essa a razão, mas ia sair por três meses e já lá vão oito anos. Se não trabalhasse noutro sítio estava desempregado", explica.

Polémicas à parte, tanto Ruy de Carvalho como Virgílio Castelo e o encenador João Mota estão muito entusiasmados com a peça que consideram um "hino ao teatro e aos actores". "O Camareiro" - em cena a partir de hoje e até 25 de Outubro - é um mergulho nos bastidores do teatro, que o público nunca vê.

O espectáculo não pára Nas palavras de Ruy de Carvalho esta peça é uma coscuvilhice para a plateia. "O Camareiro" oscila entre a comédia e o drama e é baseada na vida de um dos maiores actores shakespearianos, Sir Donald Wolfit. Estamos em 1942, em plena II Guerra Mundial, e a companhia prepara-se para interpretar o "Rei Lear". Mas o empresário e protagonista da peça, Sir Donald Wolfit, está à beira da loucura e do colapso. Só com a ajuda do seu fiel camareiro, Norman, interpretado por Virgílio Castelo, é que vai tentar terminar a sua 227ª representação de Rei Lear.

Quando o pano sobe, vemos Virgílio Castelo no camarim do seu "amo". A personagem Norman, com tiques efeminados, sem roçar o exagero, é quem traz doses deliciosas de humor. Uma personagem capaz de arrancar muitas gargalhadas ao público, mas cuja devoção e dedicação ao Sir lhe custou a vida. "O Camareiro" começa com o Ruy de Carvalho a fugir do hospital, depois de ter andado à chuva na rua, a saltar sobre a roupa, completamente descontrolado. "Sou eu que decido a altura de ir para a sucata", grita ao regressar. Mas mesmo com toda a determinação, a senilidade está a levar a melhor. É Norman que conduz Sir pelos bastidores, até ao palco, lhe dá as deixas e o motiva a actuar. Nós, o público, acompanhamos tudo e vemos o teatro do lado dos bastidores, como se preparam os actores e como sofrem. É uma peça diferente de tudo, por isso João Mota diz: "Gostava que o público sentisse o amor pelo actor e pelo teatro".

I ONLINE

por Vanda Marques , Publicado em 10 de Setembro de 2009

ALEXANDRA LENCASTRE VOLTA AO TEATRO

Alexandra Lencastre "Se isto correr mal vou para as carmelitas descalças"

Alexandra Lencastre, 44 anos, no palco do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa

De volta ao teatro como a mulher fatal de "Um Eléctrico Chamado Desejo", reconhece que quis ser freira para fugir à realidade. Um pouco como ser actriz.

Numa das primeiras vezes que fez teatro na universidade, levou com tomates. No Conservatório foi baptizada de Estrelinha de Belém porque se vestia de cor-de-rosa e usava maquilhagem. Prestes a fazer 44 anos e com uma carreira notável, Alexandra Lencastre ri-se de tudo isto. A rainha das novelas da TVI, que foi amiga do Poupas na "Rua Sésamo", regressa agora ao teatro numa encenação de Diogo Infante da peça "Um Eléctrico Chamado Desejo", de Tennessee Williams. Encontrámo-la no camarim depois de um ensaio de imprensa e de duas sessões fotográficas. Acabava de mudar de roupa e punha a pulseira Power Balance em frente ao espelho com a foto das filhas e uma cruz, quando nos recebeu e encaminhou para a varanda do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa. Durante 45 minutos, falou sem parar. Sempre sem conseguir evitar as emoções nem as lágrimas nos olhos.

Acha-se parecida com Blanche DuBois - a personagem principal da peça "Um Eléctrico Chamado Desejo"?

Era inevitável sentir que as pessoas me iriam colar a ela. A questão da idade, de estar só e de a imprensa cor-de-rosa me ter atribuído inúmeros namorados - aliás mereciam um prémio pelo número impressionante de romances. Tive muito receio, conversei com o Diogo [Infante] e com os outros actores [Albano Jerónimo, Lúcia Moniz, Pedro Laginha]. Mas com o trabalho fui-me sentido cada vez mais saudável comparada com a Blanche.

Demorou 12 anos a voltar ao teatro. Porquê só agora?

Foi o braço do Diogo que me tirou de um caminho de que não achava que ia conseguir sair. Deixar a televisão ia ser difícil. Ele ajudou-me de outra forma. Disse-me: "A razão mais forte para não fazeres teatro estes anos todos passa muito pelas tuas filhas. Esse deve ser um dos primeiros obstáculos a ultrapassar." Por isso, fez questão que elas viessem assistir a um ensaio da peça.

Ele já a tinha convidado antes?

Sim. Quando o Diogo estava no Teatro Maria Matos. Mas ele tem um lado encantador e pragmático. Quando percebia que eu tinha outro trabalho, ou alguma dúvida, dizia "não" antes de mim. Poupava-me de fazer uma coisa que me custa tanto.

Custa-lhe dizer "não"?

Sempre fui assim. Quando o meu irmão, o meu ídolo [Pedro Pedrosa, um ano mais velho] me convidava para jogar à bola com os rapazes e me pedia para ir para a baliza, não era capaz de recusar. Ninguém queria ser guarda-redes. Apanhava grandes boladas, magoava-me, mas não dizia "não".

As suas filhas já a viram nesta peça. O que acharam?

A mais velha [Margarida, 14 anos] vive isto de forma mais empolgada, já contou a peça toda aos amigos, apesar de lhe dizer que não podia. Até tentou passar umas cenas comigo [decorar falas da peça], mas fazia tantas perguntas que não passávamos da mesma cena. Quer muito ser actriz. Ainda não percebi se tem talento ou só jeito. É muito nova. Não a deixaria trabalhar agora, não ia ser bom. Ela diz que vai ver a peça todos os fins-de-semana com os amigos. É assim um bocadinho exagerada, uma características das actrizes. A mais nova [Catarina, 12 anos] é mais desligada. É surf, computadores. Agora diz que quer ser fotógrafa. O que a fascinou na peça foi o jogo de luzes na tela.

Depois do sucesso das novelas, poucos se recordam da Alexandra no teatro.

As pessoas já se esqueceram e há uma geração que nunca me viu nos palcos. Uma vez um jornalista perguntou-me: "Oh, Alexandra, e não pensa em fazer teatro?" Eu respondi: "Olhe, já fiz 38 peças de teatro."

Quando é que percebeu que queria ser actriz?

Sempre quis. Mas nunca fui levada a sério, nem apoiada pela família. Fazia teatros em casa, com os primos. Escrevia as peças e encenava-as, mas depois os miúdos fugiam de mim.

Porquê?

Oh, eu queria fazer uma coisa muito a sério e eles queriam era brincar. Começavam a rir e eu ficava danada.

Acabou por ir para filosofia.

Naquela altura só havia o Conservatório Nacional e outra escola, mas era preciso fazer primeiro o 12º ano. Fui-me desiludindo um bocadinho e optei por Filosofia. Era uma das minhas disciplinas preferidas. Os meus pais achavam que devia procurar uma profissão que me desse mais estabilidade. Como tinha uma sede de justiça muito grande, o meu pai achava que devia ir para Direito. Sendo eu uma pessoa com tantas dúvidas, fui para filosofia à procura das respostas e da verdade. Na faculdade conheci um grupo de psicologia que fazia teatro e foi nessa altura que comecei a representar.

Como foi subir ao palco?

Foi horrível. Numa das primeiras vezes que actuei com o grupo "No pote das ginjas", fomos a um encontro de teatro universitário e levamos com tomates. Não achava possível que as pessoas tivessem levado mesmo tomates. Rimos imenso. Havia uma adrenalina inexplicável. A única coisa que sabia era que me faltava técnica, por isso fui para o conservatório.

E é lá que lhe dão o nome de Estrelinha de Belém?

Estávamos numa fase pós-revolução. O pensamento era: "Sou actor, logo não tenho artifícios. Sou natural e tenho o meu cheiro." Sim, mas um banho não faz mal. Como morava no Restelo e ia para as aulas de corpo de maillot cor-de-rosa, de fita na cabeça, blush e rímel. Achavam-me a maior fútil do mundo. Fui logo catalogada a Estrelinha de Belém. Alguns professores também gozavam comigo, mas depois tinha o professor Eurico de Lisboa, que era um santo, me ensinou tanta coisa. Ele dizia-me que eu era uma louca sensata, uma mistura muito boa para uma actriz.

Era boa aluna?

Era aplicada e participava muito nas aulas. Quando me corria mal uma prova escrita pedia logo uma oral. Tinha sempre 16 e 17. Mas passei uma adolescência com muitas crises existenciais. Sempre a pensar: "porque estou aqui e não ali". Viajava de comboio para ir estudar na casa de um colega e aquela viagem fazia-me viajar para outros mundos. Ficava meio perdida.

Pensou em ser freira?

Sim. Agora também pensei nisso, se isto correr mal vou para as carmelitas descalças [risos]. Sou católica, embora tenha ficado triste com a instituição Igreja. Não sou uma fiel praticante, mas rezo todos os dias. Acho que queria ser freira para fugir à realidade. De certa forma, ser actor também o é.

Como lida com a fama e com o facto de toda a gente a reconhecer na rua?

Como sou pequenina, se for de ténis e boné na cabeça e nada de glamour, posso ir a qualquer hipermercado que ninguém me conhece. Mas ser reconhecida é muito simpático. O Raul Solnado dizia uma coisa engraçada: "as palmas são afrodisíacos". Uma senhora chegou a dizer-me que eu a inspirava, que tinha passado por coisas semelhantes, que se tinha divorciado na mesma altura, tinha duas filhas, e que de cada vez que me via a trabalhar, tinha forças para o fazer. É certo que também há quem nos diga coisas horríveis, tipo: "Você não presta".

Já lhe disseram isso?

Sim. Chegaram a dizer-me: "Odeio vê-la nesses papéis. Não faça mais novelas". Acho que o público tem direito à sua opinião. Estamos a passar na rua, somos públicos.

Teve fãs a perseguirem-na?

Sim, mas coisas leves. Já tive de mudar de telemóvel, só isso.

Este mês faz 45 anos, já fez muitas produções fotográficas sensuais. Sente-se bem com o passar do tempo?

Isso das fotografias é tudo photoshop. Não lido bem com o passar do tempo. Tenho pena de já não ver tão bem, não ter tanta energia. Há uma certa decrepitude que me assusta e que é real. A pior de todas é intelectual. No lado das rugas, estou-me a borrifar. Qualquer dia se puder e tiver oportunidade financeira faço qualquer coisa, nomeadamente puxar estas pálpebras para cima. É uma coisa genética. O meu pai, o meu irmão e a minha filha mais velha têm todos. É do lado dos Pedrosas. Acho que isso baixa muito o olhar.

Não tem medo de o fazer?

Não. Às vezes levanto-me de manhã e digo: "Que horror". Lembro-me de uma frase da Blanche: "Nunca a luz do dia mostrou uma ruína tão completa". Às vezes sinto-me assim. Quando me levanto e olho ao espelho... Mas é só pele. Cá dentro ainda há um coração a bater cheio de força e fé.

Teatro Nacional D. Maria II

"Um Eléctrico Chamado Desejo", de Tennessee Williams

De Quarta a sábado às 21h30 e Domingo às 16h00
Preço: 7,5€ a 30€.

por Vanda Marques , Publicado em 04 de Setembro de 2010

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