Estreia hoje "O Camareiro", com Virgílio Castelo e Ruy de Carvalho
Há uma grande diferença entre a personagem de Ruy de Carvalho na peça "O Camareiro" e o próprio. No palco, é um actor em fim de carreira, dominado pela senilidade e loucura. Já Ruy, o verdadeiro, prova que aos 82 anos mantém uma energia invejável e que está longe de abandonar os palcos.
Na peça vemos os bastidores do teatro como um actor Há uma grande diferença entre a personagem de Ruy de Carvalho na peça "O Camareiro" e o próprio. No palco, é um actor em fim de carreira, dominado pela senilidade e loucura. Já Ruy, o verdadeiro, prova que aos 82 anos mantém uma energia invejável e que está longe de abandonar os palcos.
Quando chega ao Teatro Dona Maria II, em Lisboa, para o ensaio de imprensa, traz quase um dia inteiro de trabalho às costas. Levantou-se às seis, apesar de na noite anterior ter ficado no teatro até à meia-noite. Conduziu o seu Smart até aos estúdios em Quintanilha, na zona de Alverca, e passou a manhã em gravações para a novela da TVI. Nem teve tempo para almoçar. Começou o ensaio, de mais de duas horas, sem comer, mas na plateia ninguém se apercebeu do seu cansaço. "Não sei como aguento. Estou admirado comigo mesmo", confessa, enquanto atira uma explicação. "Há os actores de montra e os de bengala. Os de montra vem para cá só para se mostrar, os de bengala morrem velhinhos a trabalhar no teatro."
A peça "O Camareiro", de Ronald Harwood, argumentista de "O Pianista", marca o regresso do actor ao teatro nacional, pelas mãos de Diogo Infante, director artístico do D. Maria II. "Estou aqui porque gosto muito do Diogo e por que ele me convidou. Já os que mandam na tutela do Teatro Nacional não merecem consideração nenhuma. Mandaram-me embora por ser velho e reformado. Dizem que não foi essa a razão, mas ia sair por três meses e já lá vão oito anos. Se não trabalhasse noutro sítio estava desempregado", explica.
Polémicas à parte, tanto Ruy de Carvalho como Virgílio Castelo e o encenador João Mota estão muito entusiasmados com a peça que consideram um "hino ao teatro e aos actores". "O Camareiro" - em cena a partir de hoje e até 25 de Outubro - é um mergulho nos bastidores do teatro, que o público nunca vê.
O espectáculo não pára Nas palavras de Ruy de Carvalho esta peça é uma coscuvilhice para a plateia. "O Camareiro" oscila entre a comédia e o drama e é baseada na vida de um dos maiores actores shakespearianos, Sir Donald Wolfit. Estamos em 1942, em plena II Guerra Mundial, e a companhia prepara-se para interpretar o "Rei Lear". Mas o empresário e protagonista da peça, Sir Donald Wolfit, está à beira da loucura e do colapso. Só com a ajuda do seu fiel camareiro, Norman, interpretado por Virgílio Castelo, é que vai tentar terminar a sua 227ª representação de Rei Lear.
Quando o pano sobe, vemos Virgílio Castelo no camarim do seu "amo". A personagem Norman, com tiques efeminados, sem roçar o exagero, é quem traz doses deliciosas de humor. Uma personagem capaz de arrancar muitas gargalhadas ao público, mas cuja devoção e dedicação ao Sir lhe custou a vida. "O Camareiro" começa com o Ruy de Carvalho a fugir do hospital, depois de ter andado à chuva na rua, a saltar sobre a roupa, completamente descontrolado. "Sou eu que decido a altura de ir para a sucata", grita ao regressar. Mas mesmo com toda a determinação, a senilidade está a levar a melhor. É Norman que conduz Sir pelos bastidores, até ao palco, lhe dá as deixas e o motiva a actuar. Nós, o público, acompanhamos tudo e vemos o teatro do lado dos bastidores, como se preparam os actores e como sofrem. É uma peça diferente de tudo, por isso João Mota diz: "Gostava que o público sentisse o amor pelo actor e pelo teatro".
I ONLINE
por Vanda Marques , Publicado em 10 de Setembro de 2009
Há uma grande diferença entre a personagem de Ruy de Carvalho na peça "O Camareiro" e o próprio. No palco, é um actor em fim de carreira, dominado pela senilidade e loucura. Já Ruy, o verdadeiro, prova que aos 82 anos mantém uma energia invejável e que está longe de abandonar os palcos.
Na peça vemos os bastidores do teatro como um actor Há uma grande diferença entre a personagem de Ruy de Carvalho na peça "O Camareiro" e o próprio. No palco, é um actor em fim de carreira, dominado pela senilidade e loucura. Já Ruy, o verdadeiro, prova que aos 82 anos mantém uma energia invejável e que está longe de abandonar os palcos.
Quando chega ao Teatro Dona Maria II, em Lisboa, para o ensaio de imprensa, traz quase um dia inteiro de trabalho às costas. Levantou-se às seis, apesar de na noite anterior ter ficado no teatro até à meia-noite. Conduziu o seu Smart até aos estúdios em Quintanilha, na zona de Alverca, e passou a manhã em gravações para a novela da TVI. Nem teve tempo para almoçar. Começou o ensaio, de mais de duas horas, sem comer, mas na plateia ninguém se apercebeu do seu cansaço. "Não sei como aguento. Estou admirado comigo mesmo", confessa, enquanto atira uma explicação. "Há os actores de montra e os de bengala. Os de montra vem para cá só para se mostrar, os de bengala morrem velhinhos a trabalhar no teatro."
A peça "O Camareiro", de Ronald Harwood, argumentista de "O Pianista", marca o regresso do actor ao teatro nacional, pelas mãos de Diogo Infante, director artístico do D. Maria II. "Estou aqui porque gosto muito do Diogo e por que ele me convidou. Já os que mandam na tutela do Teatro Nacional não merecem consideração nenhuma. Mandaram-me embora por ser velho e reformado. Dizem que não foi essa a razão, mas ia sair por três meses e já lá vão oito anos. Se não trabalhasse noutro sítio estava desempregado", explica.
Polémicas à parte, tanto Ruy de Carvalho como Virgílio Castelo e o encenador João Mota estão muito entusiasmados com a peça que consideram um "hino ao teatro e aos actores". "O Camareiro" - em cena a partir de hoje e até 25 de Outubro - é um mergulho nos bastidores do teatro, que o público nunca vê.
O espectáculo não pára Nas palavras de Ruy de Carvalho esta peça é uma coscuvilhice para a plateia. "O Camareiro" oscila entre a comédia e o drama e é baseada na vida de um dos maiores actores shakespearianos, Sir Donald Wolfit. Estamos em 1942, em plena II Guerra Mundial, e a companhia prepara-se para interpretar o "Rei Lear". Mas o empresário e protagonista da peça, Sir Donald Wolfit, está à beira da loucura e do colapso. Só com a ajuda do seu fiel camareiro, Norman, interpretado por Virgílio Castelo, é que vai tentar terminar a sua 227ª representação de Rei Lear.
Quando o pano sobe, vemos Virgílio Castelo no camarim do seu "amo". A personagem Norman, com tiques efeminados, sem roçar o exagero, é quem traz doses deliciosas de humor. Uma personagem capaz de arrancar muitas gargalhadas ao público, mas cuja devoção e dedicação ao Sir lhe custou a vida. "O Camareiro" começa com o Ruy de Carvalho a fugir do hospital, depois de ter andado à chuva na rua, a saltar sobre a roupa, completamente descontrolado. "Sou eu que decido a altura de ir para a sucata", grita ao regressar. Mas mesmo com toda a determinação, a senilidade está a levar a melhor. É Norman que conduz Sir pelos bastidores, até ao palco, lhe dá as deixas e o motiva a actuar. Nós, o público, acompanhamos tudo e vemos o teatro do lado dos bastidores, como se preparam os actores e como sofrem. É uma peça diferente de tudo, por isso João Mota diz: "Gostava que o público sentisse o amor pelo actor e pelo teatro".
I ONLINE
por Vanda Marques , Publicado em 10 de Setembro de 2009
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