Monday, 26 July 2010


Transportes

Governo admite que TAP não resistirá a uma nova crise


A TAP fechou 2009 com um prejuízo de 3,5 milhões de euros

Seja por causa do preço dos combustíveis, ou por uma quebra na procura, o executivo diz que nova crise "arrasta TAP para a ruptura". É "urgente" a privatização

É o governo que o diz. Numa carta datada de 20 de Julho, o ministério das Obras Públicas explica a urgência em privatizar a transportadora aérea TAP não com o défice, até porque não faz ideia de quanto irá encaixar com a venda, mas com a "necessidade urgente" de recapitalizar a empresa antes que surja uma nova crise - seja na procura, como em 2009, ou no preço do petróleo, como em 2008. Se a TAP voltar a passar por qualquer uma dessas situações não sobreviverá, considera o governo. E, segundo as Obras Públicas, nem o doloroso caminho de "melhoria dos resultados operacionais" que tem sido seguido a salva: "Este é o caminho que tem sido seguido pela TAP. Mostrando--se, contudo, ainda insuficiente, deverão ser consideradas todas as alternativas", revela o gabinete do ministro.

"A recapitalização do grupo TAP é uma necessidade urgente e sem ela a empresa encontra-se numa situação fragilizada, correndo riscos de, em face de uma nova crise de mercado ou de aumento dos preços dos combustíveis, a empresa ser arrastada para uma situação de ruptura financeira e de impossibilidade de, por si só, solver compromissos", lê-se na carta enviada pelo gabinete do ministro António Mendonça em resposta a questões colocadas pelo Bloco de Esquerda a propósito da privatização da transportadora aérea.

O governo constituiu em 2009 uma comissão para a reestruturação financeira da TAP, logo após terem sido conhecidos os 285 milhões de euros de prejuízos da empresa e a sua situação de falência técnica: no final do ano passado, os capitais próprios negativos chegavam a 200 milhões. Porém, e apesar de a comissão já ter entregado ao governo o seu plano para a TAP - como o i noticiou em Março -, nas respostas dadas ao deputado do Bloco de Esquerda, as Obras Públicas salientam que nos trabalhos "desta comissão têm vindo a ser desenvolvidos estudos sobre a matéria em apreço [privatização]" e que as recomendações do Comité de Reestruturação ainda não serviram para tomar qualquer decisão.

Encaixe e empregos Sobre o impacto de venda da TAP no abate do défice, o governo salienta que, sem decisão sobre o que será vendido a privados, ainda não consegue prever um encaixe. "Uma vez que, como se refere, não há ainda uma decisão final sobre o modelo a adoptar sobre a questão da privatização da TAP, não é ainda conhecido o impacto esperado do ponto de vista da evolução do défice", lê-se na carta do ministério das Obras Públicas.

Contudo, sobre se o Estado vai garantir "os postos de trabalho associados às empresas a alienar", acabam-se as incertezas. Mesmo com a própria TAP a admitir que precisa de reduzir a mão-de-obra, o governo assegura que "garantirá os direitos dos trabalhadores" e que, "independentemente de quem seja o dono das acções" da TAP, "há condições para a empresa continuar a oferecer excelentes oportunidades de trabalho".

I ONLINE 26-07-2010

por Filipe Paiva Cardoso

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