Sunday, 15 August 2010

ABUSOS SEXUAIS ACABAM COM DORMITÓRIOS NA COLÓNIA DE FÉRIAS "O SÉCULO"

Férias

Pela primeira vez na história da Colónia Balnear O Século, este ano as férias não incluem dormida. Colónias de férias e ATL são locais de abusos, reconhecem investigadores

A sombra de um predador sexual que vestiu a pele de monitor de crianças e do qual ninguém suspeitou ainda atormenta a Colónia Balnear Infantil de O Século. As regras da instituição mudaram este Verão para prevenir futuros abusos sexuais. Um crime que continua a ocorrer em ateliês de tempos livres (ATL) e colónias de férias, como dizem especialistas na área do trabalho com menores.

Rui Salvado, advogado de 32 anos, foi condenado, a 31 de Maio, a 18 anos de prisão por ter violado 20 crianças da Colónia Balnear O Século, quando era monitor, e outras seis do Colégio Militar, onde estudou. "A instituição também se sentiu abusada por ele, não foram só as crianças que foram abusadas", afirmou ao DN Rodolfo Crespo, administrador da Fundação O Século.

"O caso obrigou-nos a pensar em mudar regras. A partir deste Verão, as férias na colónia já não incluem dormida." Foi o romper de um conceito que já vinha de 1927.

Os monitores são obrigados a apresentar o registo criminal desde Setembro de 2009. Mas a colónia balnear já tinha por hábito pedir o registo criminal e outras referências sobre os candidatos.

O problema, no caso de Rui Salvado, era que o predador estava "limpo". "Era um jovem do qual só havia boas referências e tinha o registo criminal limpo quando foi monitor. A maior parte dos abusos até ocorreram fora da colónia porque ele passou a ser visita regular das famílias das crianças", adiantou Rodolfo Rebelo.

As regras para ATL e colónias de férias podem estar mais apertadas, mas não são infalíveis. "Temos cuidados redobrados agora e, para além do registo criminal, os candidatos a monitores são seleccionados pelo gabinete de psicologia, onde passam por uma entrevista rigorosa. Mas nunca suspeitámos do Rui Salvado, e isso é que causa medo" .

O medo é justificado. Um predador ou abusador sexual pode ser qualquer um. Rui Salvado, que se tornou advogado, vivia em Carnaxide e era um cidadão "normal".

A pedopsiquiatra Ana Vasconcelos está a acompanhar dois casos, um ocorrido no ano passado e outro este ano, em ATL. "Miúdos de 12 e de 14 anos que experimentaram certos actos com miúdos mais novos. Ocorreram em ATL da periferia da Grande Lisboa", disse.

A Polícia Judiciária não tem registo de nenhum caso recente, confirmou o DN com fonte da PJ.

A Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens em Risco está a par desta realidade. "Tenho conhecimento de casos que já ocorreram em ATL e colónias de férias através das comissões de protecção. São locais onde as crianças estão mais livres, propícias por vezes a contactos exploratórios sexuais até entre miúdos", disse a vice-presidente da CNPCJR, Fátima Duarte.

A responsável tem a experiência na Casa Pia de Lisboa, em cuja direcção esteve até há dois anos. "Pela experiência com essa instituição, o princípio com monitores ou educadores deverá ser: À mínima suspeita de abuso suspende-se o funcionário e apresenta-se queixa ao Ministério Público."

DIÁRIO DE NOTÍCIAS

RUTE COELHO 15-08-2010

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