Alexandra Lencastre: "O casamento não é o mais importante"
Correio da Manhã – Voltas ao teatro 12 anos depois. Como é este regresso com uma obra de Tennessee Williams, pela mão do Diogo Infante?
Alexandra Lencastre – É um enorme presente e uma enorme responsabilidade. É a primeira vez que tenho a honra de pisar este palco pela mão do Diogo. Na ‘Banqueira do Povo’ percebi a sua capacidade de liderança e a Eunice [Muñoz] disse logo: "Este rapaz ainda nos vais encenar a todos!" Só posso estar a sentir uma grande felicidade e um grande pânico, que acho que é natural, depois deste tempo todo longe e com esta responsabilidade.
– O que é que te aproxima e afasta desta ‘Blanche DuBois’?
– Há muita coisa que me aproxima e me afasta. Ela é uma romântica, mas também é uma pessoa com desequilíbrio. Acho que nesse aspecto não estou tão mal como ela, que acaba por ser internada. Não tenho nada disto na minha vida!
– O teu lado romântico...
– Sim, o que me aproxima da ‘Blanche’ é o romantismo. Ela tem uma frase muito bonita: "Não quero realismo quero magia…" Querer que as coisas sejam mais bonitas do que são...
– E a tua insegurança também.
– Insegurança também tenho um bocadinho. A questão da idade também. Ela põe aquelas lanternas chinesas para abafar a luz, eu também punha se pudesse, também não gosto de ir a restaurantes com luz muito forte. Mas nunca gostei, não é porque agora tenho mais rugas. Ela diz: "Gosto do escuro, conforta--me…" E o escuro a mim também me conforta. Outra coisa com que me identifico é dizer sempre a verdade .
– Pensas voltar a casar?
– Não. Para mim o casamento não é o mais importante. A nossa aliança é dentro de nós, no nosso coração. O casamento é mais uma festa para os nossos amigos, do que para nós.
– Por isso, às vezes, julgam-te mal.
– Sim, é verdade. E diz-se o que não se sabe.
– Na infância eras uma maria rapaz.
– Era. O meu irmão é um ano mais velho e eu imitava-o em tudo, tinha uma admiração enorme. Achava que o Mundo era dos homens e ainda acho. O meu pai era o todo-poderoso, o meu avô paterno também, o materno era aquele que tinha uns braços enormes e que me protegia de tudo e de todos.
– O que achas da relação do Rogério Samora e da Mafalda Pinto?
– Estou muito feliz. Surpreendeu--me bastante, mas fico muito contente porque sei que um dos desejos do Rogério é ser pai. Não a conheço mas parece ser amorosa, e para o Rogério gostar dela...
"PIET-HEIN FOI O HOMEM DA MINHA VIDA"
CM – Em vez da Filosofia foste para o Teatro, Cinema e Televisão. Achas que foi uma boa escolha?
A.L. – Tudo o que fiz de sucesso ou fracasso fez de mim o que sou hoje em dia. O que sou agrada a alguns e não agrada a outros, tento fazer o meu melhor. Com a idade nós vamos relativizando mas vamos também criando outro tipo de angústias.
– Tens inúmeras qualidades, entre elas a beleza e o facto de acreditares nos outros. Já te desiludiste?
– Talvez, eu sempre criei muitas expectativas. Mas há pessoas que nunca me chamaram para trabalhar porque não concordam comigo, olham-me de outra forma. Mas tens razão quando falas no acreditar nos outros.
– O Piet-Hein foi o homem da tua vida?
–Sem dúvida! Parecíamos metade da mesma laranja, éramos muito parecidos. Ele completava as minhas frases, resolvíamos as coisas da mesma maneira, e foi pai das minhas filhas. Foi a época mais feliz da minha vida. Devo a ele ter estas filhas maravilhosas. Estou ligada a ele até à morte pelas nossas filhas. Tenho um grande carinho por ele, e acho que isso é muito importante.
PRETO NO BRANCO: "Se o coração tivesse on e off estava desligado"
A Rita Blanco é a tua maior amiga?
(suspira) Foi durante muitos anos. Agora afastou-se, não sei porquê! Sempre foi muito especial. Sinto amor por ela. Amizade é amor, e isso não desapareceu! Ela está a viver um grande amor. Eu estou numa altura muito só e dedicada ao trabalho e às filhas.
As tuas filhas, a Catarina e a Margarida, estão na idade da vergonha. Como é que elas reagem?
É uma mistura de orgulho e de vergonha. A Margarida, que é a mais velha, já me disse: "Mãe, prefiro que não me vá buscar ao colégio porque eu não sou eu. Sou a filha da Alexandra."
Estás bem do coração agora?
Se o coração tivesse um botão on e off, neste momento estava desligado.
Sentes que vais ficar só?
Não sei se vou ficar só, mas enquanto tenho os meus amigos não estou sozinha.
PERFIL
Alexandra Lencastre nasceu em Lisboa em 1965. Actualmente, integra o elenco da novela da TVI ‘Meu Amor’ e prepara-se para estrear a peça ‘Um Eléctrico Chamado Desejo’, no Teatro D. Maria II. Tem duas filhas, Margarida e Catarina, fruto do casamento com Piet-Hein Bakker.
CORREIO DA MANHÃ VIDAS 5-09-2010
Correio da Manhã – Voltas ao teatro 12 anos depois. Como é este regresso com uma obra de Tennessee Williams, pela mão do Diogo Infante?
Alexandra Lencastre – É um enorme presente e uma enorme responsabilidade. É a primeira vez que tenho a honra de pisar este palco pela mão do Diogo. Na ‘Banqueira do Povo’ percebi a sua capacidade de liderança e a Eunice [Muñoz] disse logo: "Este rapaz ainda nos vais encenar a todos!" Só posso estar a sentir uma grande felicidade e um grande pânico, que acho que é natural, depois deste tempo todo longe e com esta responsabilidade.
– O que é que te aproxima e afasta desta ‘Blanche DuBois’?
– Há muita coisa que me aproxima e me afasta. Ela é uma romântica, mas também é uma pessoa com desequilíbrio. Acho que nesse aspecto não estou tão mal como ela, que acaba por ser internada. Não tenho nada disto na minha vida!
– O teu lado romântico...
– Sim, o que me aproxima da ‘Blanche’ é o romantismo. Ela tem uma frase muito bonita: "Não quero realismo quero magia…" Querer que as coisas sejam mais bonitas do que são...
– E a tua insegurança também.
– Insegurança também tenho um bocadinho. A questão da idade também. Ela põe aquelas lanternas chinesas para abafar a luz, eu também punha se pudesse, também não gosto de ir a restaurantes com luz muito forte. Mas nunca gostei, não é porque agora tenho mais rugas. Ela diz: "Gosto do escuro, conforta--me…" E o escuro a mim também me conforta. Outra coisa com que me identifico é dizer sempre a verdade .
– Pensas voltar a casar?
– Não. Para mim o casamento não é o mais importante. A nossa aliança é dentro de nós, no nosso coração. O casamento é mais uma festa para os nossos amigos, do que para nós.
– Por isso, às vezes, julgam-te mal.
– Sim, é verdade. E diz-se o que não se sabe.
– Na infância eras uma maria rapaz.
– Era. O meu irmão é um ano mais velho e eu imitava-o em tudo, tinha uma admiração enorme. Achava que o Mundo era dos homens e ainda acho. O meu pai era o todo-poderoso, o meu avô paterno também, o materno era aquele que tinha uns braços enormes e que me protegia de tudo e de todos.
– O que achas da relação do Rogério Samora e da Mafalda Pinto?
– Estou muito feliz. Surpreendeu--me bastante, mas fico muito contente porque sei que um dos desejos do Rogério é ser pai. Não a conheço mas parece ser amorosa, e para o Rogério gostar dela...
"PIET-HEIN FOI O HOMEM DA MINHA VIDA"
CM – Em vez da Filosofia foste para o Teatro, Cinema e Televisão. Achas que foi uma boa escolha?
A.L. – Tudo o que fiz de sucesso ou fracasso fez de mim o que sou hoje em dia. O que sou agrada a alguns e não agrada a outros, tento fazer o meu melhor. Com a idade nós vamos relativizando mas vamos também criando outro tipo de angústias.
– Tens inúmeras qualidades, entre elas a beleza e o facto de acreditares nos outros. Já te desiludiste?
– Talvez, eu sempre criei muitas expectativas. Mas há pessoas que nunca me chamaram para trabalhar porque não concordam comigo, olham-me de outra forma. Mas tens razão quando falas no acreditar nos outros.
– O Piet-Hein foi o homem da tua vida?
–Sem dúvida! Parecíamos metade da mesma laranja, éramos muito parecidos. Ele completava as minhas frases, resolvíamos as coisas da mesma maneira, e foi pai das minhas filhas. Foi a época mais feliz da minha vida. Devo a ele ter estas filhas maravilhosas. Estou ligada a ele até à morte pelas nossas filhas. Tenho um grande carinho por ele, e acho que isso é muito importante.
PRETO NO BRANCO: "Se o coração tivesse on e off estava desligado"
A Rita Blanco é a tua maior amiga?
(suspira) Foi durante muitos anos. Agora afastou-se, não sei porquê! Sempre foi muito especial. Sinto amor por ela. Amizade é amor, e isso não desapareceu! Ela está a viver um grande amor. Eu estou numa altura muito só e dedicada ao trabalho e às filhas.
As tuas filhas, a Catarina e a Margarida, estão na idade da vergonha. Como é que elas reagem?
É uma mistura de orgulho e de vergonha. A Margarida, que é a mais velha, já me disse: "Mãe, prefiro que não me vá buscar ao colégio porque eu não sou eu. Sou a filha da Alexandra."
Estás bem do coração agora?
Se o coração tivesse um botão on e off, neste momento estava desligado.
Sentes que vais ficar só?
Não sei se vou ficar só, mas enquanto tenho os meus amigos não estou sozinha.
PERFIL
Alexandra Lencastre nasceu em Lisboa em 1965. Actualmente, integra o elenco da novela da TVI ‘Meu Amor’ e prepara-se para estrear a peça ‘Um Eléctrico Chamado Desejo’, no Teatro D. Maria II. Tem duas filhas, Margarida e Catarina, fruto do casamento com Piet-Hein Bakker.
CORREIO DA MANHÃ VIDAS 5-09-2010
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