Rio de Janeiro: Polícia tem novos depoimentos
Encontro fatal marcado por Lima
Amigas de Rosalina desmentem advogado. Dizem que foi ele quem mandou a vítima ir ter com desconhecido.
Rosalina Ribeiro pode ter ido ao encontro de um desconhecido quando saiu sozinha de casa, no Rio de Janeiro, na noite de 7 de Dezembro de 2009, duas horas antes de ser executada com dois tiros, em vez de se ter ido encontrar com o seu advogado, Duarte Lima – ao contrário do que este disse à polícia brasileira. E segundo testemunhas foi mesmo o ex-deputado português quem marcou o encontro fatal, não o contrário. O advogado diz que foi ao Brasil a pedido da sua cliente, que se reuniu com ela num café e a deixou a seu pedido junto de uma mulher, em Maricá, a 90 quilómetros do Rio – onde o corpo da vítima foi depois encontrado. Mas duas amigas de Rosalina dizem à polícia que o advogado marcou encontro entre Rosalina e um desconhecido. Duas horas depois foi assassinada.
Nos depoimentos prestados na Divisão de Homicídios do Rio, as mulheres, cujas identidades estão a ser mantidas em sigilo, contaram que Rosalina lhes ligou na tarde desse dia a partilhar com elas toda a sua apreensão perante tal facto. Segundo as testemunhas, Rosalina afirmou que Duarte Lima, representante em Portugal dos seus interesses na herança do milionário Tomé Feteira, lhe ligara a dizer que ela teria de se encontrar nessa noite com uma pessoa desconhecida, da qual não podia sequer dizer o nome, pois suspeitava que os telefones estavam sob escuta.
Nos contactos com as amigas, o último três horas e meia antes de deixar o edifício onde morava, Rosalina ter-se-á mostrado bastante preocupada com esse encontro. Por uma questão de segurança, adiantou que ia levar a pessoa para um restaurante próximo, para que não ficassem sozinhos. As câmaras de segurança do elevador do edifício onde vivia mostram-na com uma expressão bastante tensa ao deixar o imóvel. Rosalina, que sempre tivera medo da violência do Rio, saiu do prédio e caminhou em direcção ao escuro, até desaparecer da imagem da câmara externa do prédio. Duas horas depois, segundo perícias médico-legais, foi assassinada com um tiro na testa e outro no peito.O corpo, com jóias mas sem identificação e sem a pasta cheia de documentos com que saíra de casa, foi encontrado no dia seguinte perto de Maricá, a 90 km. Num fax à polícia do Rio, Duarte Lima diz que foi buscar Rosalina a casa, a pedido desta, e que, após conversarem num café, a deixou em Maricá com uma mulher chamada Gisele, que a polícia desconhece. As duas amigas da vítima têm outra versão.
RECEBIA PENSÃO DE 13 MIL EUROS POR ANO
Rosalina Ribeiro, que era acusada por Olímpia Feteira de se ter apropriado de forma indevida de parte da herança do pai, o milionário Tomé Feteira, falecido em 2000, recebia uma pensão da Segurança Social que no ano passado totalizou os 13 mil euros. Segundo o Correio da Manhã conseguiu apurar, esse montante refere-se aos serviços prestados por Rosalina Ribeiro enquanto funcionária das empresas geridas pelo milionário português. Perante tal montante, que corresponde a um valor mensal de pouco mais de 1000 euros, Rosalina Ribeiro deveria auferir um ordenado sujeito a descontos acima dos 1700 euros.
Mas os rendimentos de Rosalina Ribeiro não se ficam por aqui. A companheira e secretária de 32 anos de Tomé Feteira recebeu ainda, no decorrer do ano passado, aproximadamente 20 mil euros, dinheiro este resultante das casas que mantinha arrendadas em dois edifícios em zonas nobres de Lisboa. Assim, ao todo, e tendo em conta a pensão da Segurança Social e os valores dos arrendamentos dos imóveis, Rosalina Ribeiro recebia, todos os anos, cerca de 33 mil euros – enquanto esperava pela sua parte na herança milionária de Feteira.
O CM sabe ainda que Rosalina teve, em 2005, problemas com o Ministério das Finanças. Foi alvo de uma acção fiscal, mas conseguiu regularizá-la antes que esta fosse executada.
Com a disputa da avultada herança deixada por Tomé Feteira, em que Rosalina é acusada do desvio de verbas, familiares do falecido milionário tentaram arrestar alguns dos bens imóveis de Rosalina Ribeiro. Esta intenção não mereceu, no entanto, a concordância dos tribunais portugueses. Alguns dos imóveis que eram propriedade de Rosalina Ribeiro, morta em Dezembro passado, no Rio de Janeiro, já estão mesmo em nome de alguns dos seus herdeiros, nomeadamente um dos seus sobrinhos.
17 Agosto 2010
Por:Domingos Grilo Serrinha/João Tavares/M.A.G./S.T.
CORREIO DA MANHÃ
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