Friday, 26 April 2013
Thursday, 18 April 2013
ERRO NA FÓRMULA DO EXCEL USADA PARA JUSTIFICAR AUSTERIDADE
Artigo que inspirou uma legião de fãs de políticas restritivas tem falhas, segundo investigadores da universidade de Massachusetts
Na base das políticas de austeridade, estão uma série de contas. O problema é quando essas decisões de aperto de cinto partem de contas erradas. Foi o que se detetou agora em relação ao artigo «Crescimento em tempo de dívida», cuja fórmula de Excel utilizada pelos dois investigadores que assinam o texto parece ter falhas. O certo é que tem inspirado uma legião de fãs, desde o comissário Europeu para os Assuntos Económicos, Olli Rehn, até ao secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, por exemplo.
O artigo de Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff baseou-se em estatísticas entre 1946 e 2009 para concluir que o crescimento económico diminui drasticamente quando o nível da dívida pública de um país ultrapassa os 90% do Produto Interno Bruto (PIB).
Segundo essa investigação, com uma amostra de 20 economias avançadas durante o período pós-guerra, o crescimento médio anual do PIB varia entre cerca de 3% e 4%, quando o rácio da dívida pública em relação ao PIB é inferior a 90%. Mas o crescimento médio cai para -0,1% quando a proporção sobe acima de um limiar de 90%.
O que se constata agora é que uma dívida pública elevada pode não ter consequências assim tão negativas no crescimento económico de um país, mas foi nisso que se centraram muitas decisões políticas (leia-se, de austeridade) para resolver a crise na Europa.
Numa análise ao artigo daqueles dois investigadores, outros três da universidade de Massachusetts detetaram que os resultados do artigo que tem servido de base a políticas de austeridade nos últimos três anos «estavam baseados numa série dados errados e técnicas estatísticas incomportáveis», lê-se num artigo publicado pelo Financial Times esta quarta-feira.
«Quando realizámos novos cálculos precisos, utilizando [o mesmo] conjunto de dados, verificou-se que, quando o rácio de dívida em relação ao PIB é superior a 90%, o crescimento médio é de 2,2%, e não -0,1%. Descobrimos também que a relação entre crescimento e dívida pública varia muito ao longo do tempo e entre países», frisam Thomas Herndon, Michael Ash e Robert Pollin.
O artigo da polémica excluiu, por exemplo, anos em que os países com dívidas com um peso superior 90% registaram sólidos crescimentos económicos, como foi o caso da Austrália e Canadá, ambos entre 1946 e 1950, e Nova Zelândia (entre 1946 e 1949). Apresenta falhas também ao peso atribuído à duração do crescimento do PIB e os erros de código no Excel, que deixou de fora da análise cinco países: Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá e Dinamarca.
«Então, o que é que isso significa?», questionam. Ora, se considerarmos uma situação em que um país está a aproximar-se do limite de 90% na relação dívida pública / PIB, isso não quer dizer que esse país está a atingir «um ponto perigoso onde o crescimento económico é susceptível de diminuir vertiginosamente».
Pelo contrário, «a nossa prova corrigida mostra que o crescimento de um país pode ser um pouco mais lento», mas continua a existir. É muito importante, sublinham ainda, perceber se o crescimento lento é causa ou consequência de uma dívida pública elevada, antes de podermos tirar conclusões significativas. O que uma falha básica num cálculo de Excel pode fazer...Harvard Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff já reagiram à crítica dos investigadores de Massachusetts. Argumentam que quiseram mostrar uma associação e não relação de causalidade entre dívida e crescimento e fazem questão de sublinhar que nesta última análise há resultados que não fogem muito aos seus. Remetem-se ao silêncio em relação ao erro detetado na fórmula de Excel.
O artigo de Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff baseou-se em estatísticas entre 1946 e 2009 para concluir que o crescimento económico diminui drasticamente quando o nível da dívida pública de um país ultrapassa os 90% do Produto Interno Bruto (PIB).
Segundo essa investigação, com uma amostra de 20 economias avançadas durante o período pós-guerra, o crescimento médio anual do PIB varia entre cerca de 3% e 4%, quando o rácio da dívida pública em relação ao PIB é inferior a 90%. Mas o crescimento médio cai para -0,1% quando a proporção sobe acima de um limiar de 90%.
O que se constata agora é que uma dívida pública elevada pode não ter consequências assim tão negativas no crescimento económico de um país, mas foi nisso que se centraram muitas decisões políticas (leia-se, de austeridade) para resolver a crise na Europa.
Numa análise ao artigo daqueles dois investigadores, outros três da universidade de Massachusetts detetaram que os resultados do artigo que tem servido de base a políticas de austeridade nos últimos três anos «estavam baseados numa série dados errados e técnicas estatísticas incomportáveis», lê-se num artigo publicado pelo Financial Times esta quarta-feira.
«Quando realizámos novos cálculos precisos, utilizando [o mesmo] conjunto de dados, verificou-se que, quando o rácio de dívida em relação ao PIB é superior a 90%, o crescimento médio é de 2,2%, e não -0,1%. Descobrimos também que a relação entre crescimento e dívida pública varia muito ao longo do tempo e entre países», frisam Thomas Herndon, Michael Ash e Robert Pollin.
O artigo da polémica excluiu, por exemplo, anos em que os países com dívidas com um peso superior 90% registaram sólidos crescimentos económicos, como foi o caso da Austrália e Canadá, ambos entre 1946 e 1950, e Nova Zelândia (entre 1946 e 1949). Apresenta falhas também ao peso atribuído à duração do crescimento do PIB e os erros de código no Excel, que deixou de fora da análise cinco países: Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá e Dinamarca.
«Então, o que é que isso significa?», questionam. Ora, se considerarmos uma situação em que um país está a aproximar-se do limite de 90% na relação dívida pública / PIB, isso não quer dizer que esse país está a atingir «um ponto perigoso onde o crescimento económico é susceptível de diminuir vertiginosamente».
Pelo contrário, «a nossa prova corrigida mostra que o crescimento de um país pode ser um pouco mais lento», mas continua a existir. É muito importante, sublinham ainda, perceber se o crescimento lento é causa ou consequência de uma dívida pública elevada, antes de podermos tirar conclusões significativas. O que uma falha básica num cálculo de Excel pode fazer...Harvard Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff já reagiram à crítica dos investigadores de Massachusetts. Argumentam que quiseram mostrar uma associação e não relação de causalidade entre dívida e crescimento e fazem questão de sublinhar que nesta última análise há resultados que não fogem muito aos seus. Remetem-se ao silêncio em relação ao erro detetado na fórmula de Excel.
http://www.tvi24.iol.pt/economia---economia/austeridade-erro-excel-formula-crescimento-em-tempo-de-divida-ultimas-noticias/1440448-6377.html
Saturday, 30 March 2013
Friday, 29 March 2013
A CRISE CIPRIOTA
Chipre não sai do euro porque tem medo da reação da Turquia
A sugestão de Paul Krugman desta semana de uma saída imediata do euro não domina o sentimento cipriota porque a situação da ilha é geopoliticamente muito complexa, diz a empresária russa Natália Lazareva, com negócios em Chipre.
Jorge Nascimento Rodrigues
A crise cipriota não é só um problema de dinheiro russo em depósitos, é um problema geopolítico muito complicado, diz ao Expresso Natália Lazareva, 55 anos, doutorada em Economia pela Universidade Lomonosov de Moscovo, e empresária russa em Chipre e na Rússia que vive num vaivém entre Nicósia e Moscovo.
A posição da Rússia no xadrez da crise cipriota continua a alimentar o debate. O argumento alemão é que o Chipre tem um "modelo de negócio" que faliu e muita gente na Europa continental fala de que se trata de um offshore para "lavagem de dinheiro" russo e para reinvestimento, depois, "limpo" na Rússia.
O motivo para atacar, agora, este "mal", depois de Chipre estar desde 2007 na moeda única, foi a dimensão desmedida do sector bancário cipriota. No entanto, Chipre é o terceiro investidor externo na Rússia, depois do Luxemburgo (que, também, é membro da zona euro) e do Reino Unido, e o sector bancário luxemburguês é três vezes superior ao cipriota em relação ao PIB.
No entanto, o papel central de Chipre é na localização de holdings mais do que apenas em termos de depósitos. Nos anos 1990, Chipre foi o primeiro país europeu a assinar tratados com a Rússia para evitar dupla tributação. Luxemburgo, Suíça e Holanda, que, também, são plataformas financeiras para a Rússia, só o fizeram mais tarde.
Porque razão a Rússia não deu a mão ao ministro Michalis Sarris na semana passada e o mandou de volta de mãos a abanar para Nicósia?
A crise cipriota é bem complicada. Não há respostas fáceis. Não é só um problema de dinheiro russo. Primeiro, não é apenas uma questão de economia "distorcida".
Não é uma crise de um "modelo de negócio" que faliu como disse a chanceler alemã Merkel e repetem os principais responsáveis do Eurogrupo?
Chipre não pode ser avaliada apenas na base de alguns princípios macroeconómicos. O mesmo, aliás, se aplica a economias da zona euro, como o Luxemburgo ou a Irlanda, ou outros centros financeiros, como Malta.
Mas, sendo o "grande irmão" ortodoxo e Chipre local de investimento financeiro russo, Moscovo não deveria ter sido mais amigável?
Bom, Chipre é um membro da zona euro. Não seria politicamente correto que a Rússia interferisse diretamente nos assuntos "internos" da zona euro, sem consultar a União Europeia. Em terceiro lugar, a Alemanha tem manifestado uma posição sobre Chipre em voz alta. A chanceler Merkel opôs-se à visita de Sarris a Moscovo. Nos últimos 20 anos, a Alemanha foi considerada um parceiro estratégico da Rússia. Mas, agora, parece que isso já é passado.
Bom, Chipre é um membro da zona euro. Não seria politicamente correto que a Rússia interferisse diretamente nos assuntos "internos" da zona euro, sem consultar a União Europeia. Em terceiro lugar, a Alemanha tem manifestado uma posição sobre Chipre em voz alta. A chanceler Merkel opôs-se à visita de Sarris a Moscovo. Nos últimos 20 anos, a Alemanha foi considerada um parceiro estratégico da Rússia. Mas, agora, parece que isso já é passado.
O tema da "lavagem de dinheiro" é um espinho nesse relacionamento?
Pois, parece que, agora, o dinheiro russo em Chipre é uma preocupação especial da chanceler Merkel. A tese da "lavagem de dinheiro" foi a primeira reclamação da Alemanha sobre Chipre.
Pois, parece que, agora, o dinheiro russo em Chipre é uma preocupação especial da chanceler Merkel. A tese da "lavagem de dinheiro" foi a primeira reclamação da Alemanha sobre Chipre.
E não é verdade?
É um rumor muito comum entre os homens de negócio russos que as principais "lavandarias" estão na Alemanha e na Suíça.
Então o que é Chipre para os russos?
É sobretudo um local para poupanças da classe média russa e para a domiciliação de empresas. Os tais muito ricos russos têm o seu dinheiro na Suíça e na Alemanha, sim, na Alemanha.
Falou de domiciliação de empresas como uma das estratégias dos empresários russos, em que consiste?
Chipre é uma plataforma muito importante para o investimento na Rússia. O aspeto mais importante não são os depósitos em que se tem centrado a atenção. Mas a legislação cipriota. É, por essa razão, que as empresas russas se domiciliam em Chipre, sobretudo as holdings, onde os homens de negócios têm os seus ativos.
Vão retirar as holdings de Chipre?
Não penso que o façam. Quanto aos depósitos, com estas medidas determinadas pelo Eurogrupo, os russos vão abrir contas noutros lados, na Suíça, no Reino Unido, nos países Bálticos, até em Hong Kong. Mas as holdings ficarão em Chipre. Repito, não são os bancos que são atraentes, mas a lei cipriota que é a vantagem para as holdings e para os negócios de reinvestimento na Rússia.
Ou seja, a Rússia é cautelosa sobre o assunto, apesar das críticas muito duras feitas à decisão do Eurogrupo?
Com todas as componentes que a Rússia tem de ter em conta, isso obriga-a a ser muito cautelosa no assunto. Mas a Rússia elaborou o seu próprio plano de alternativa a um resgate a Chipre. Em caso de necessidade.
Como reagiram os russos em relação ao novo "template" de resgate definido pelo Eurogrupo?
Há um aspeto fundamental, de substância, de conteúdo, já que o tal imposto sobre dinheiro privado é a transgressão de fundamentos da moderna civilização ocidental - é um ataque à propriedade privada. É a legitimação da erosão do direito de propriedade privada. Isto vai ter consequências dramáticas em termos sociais e políticos. Pode mudar o mundo. Quem vai ganhar com isso? De certeza, que não será a União Europeia. O próprio governo russo, como o disse o primeiro-ministro Medvedev, tem dinheiro público nos bancos cipriotas em reestruturação. Um confisco de 30 ou 40% é uma perda direta para o orçamento russo. Para as empresas russas a trabalhar em Chipre será muito mau.
O outro tema quente é o do gás natural. Chipre, nesse ponto, é geoeconomicamente importante para a Rússia?
Esse tema é ainda mais complexo do que a própria crise cipriota. A posição da Rússia tem muitos aspetos. Primeiro, por causa da Turquia, que é um importante parceiro, e porque o Mar Negro e os estreitos podem tornar-se um mar fechado se Ancara assim o quiser. Por outro lado, o gás cipriota pode alterar dramaticamente o mercado de gás mundial.
Isso será benéfico para a Rússia, ou não?
Tenho dúvidas que seja benéfico.
Chipre, com toda essa posição geopolítica e geoeconómica tão complexa, e apesar de ser uma economia tão pequena, tornou-se numa zona de embate geopolítico na Europa?
Temo que sim. Pode ser um gatilho para a geopolítica. Vemos sobre a pequena ilha interesses tão diferentes, e até tão dissonantes: União Europeia, com a Alemanha a ter de ser encarada em separado, Turquia, Rússia, Reino Unido, Israel, até Estados Unidos. Alguns interesses aproximam-se, mas outros são totalmente contraditórios.
Chipre deveria sair do euro como recomendou o Nobel da Economia Paul Krugman?
O que trava os cipriotas de irem nessa direção é o medo da Turquia. De outro modo, seria o sentimento dominante.
Thursday, 28 March 2013
ROSA ABRANTES-MTEZ
A caça-batoteiros dos mercados financeiros
Jorge Nascimento Rodrigues
Em entrevista ao Expresso, a economista e consultora Rosa Abrantes-Metz, professora na Escola de Negócios Leonard Stern, da Universidade de Nova Iorque, defende a necessidade dos reguladores financeiros e das autoridades que vigiam os atentados à concorrência usarem métodos estatísticos robustos para detetar conspirações, manipulação e todo o tipo de fraudes nos mercados - do financeiro, ao da farmacêutica, ao das gasolinas ou das telecomunicações.
A economista portuguesa, formada na Universidade Católica mas doutorada na Universidade de Chicago, é pioneira no uso do que tecnicamente se designa por "filtros". A ela se deve a demonstração científica em 2008 da situação anómala com a taxa Libor, o que daria, mais tarde, origem a uma investigação das autoridades e ao rebentar do escândalo da Libor (a taxa interbancária fixada em Londres).
Rosa Abrantes-Metz está radicada nos Estados Unidos desde 1996 mas desenvolve consultoria na sua área em Portugal. O seu último artigo na Bloomberg, em fevereiro, tinha um título bem expressivo: "Como usar as estatísticas para procurar criminosos".
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