Miguel Real apresentou nas Caldas a trágica história da Rainha D. Amélia
“As Memórias Secretas da Rainha D. Amélia”, o último livro de Miguel Real foi apresentado na Biblioteca das Caldas da Rainha a 20 de Novembro.
Miguel Real é o pseudónimo de Luís Martins, professor do ensino secundário, que é um forte crítico da anterior ministra de Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, tendo inclusive escrito um livro sobre a governante a quem acusa de ter reduzido o ensino a critérios unicamente quantitativos.
Miguel Real diz que os alunos das Novas Oportunidades “dificilmente” conseguirão ler os seus livros
“D. Amélia foi de facto uma rainha trágica”, disse Miguel Real, durante a sessão, assistida por 20 pessoas, sobre a monarca francesa que casou com o rei D. Carlos e que acabou por assistir ao assassinato do marido e do filho mais velho, em 1908, dois anos antes da República. Em 1932 viu morrer o filho mais novo, D. Manuel, tendo ao longo da vida assistido à derrocada trágica de toda a sua família.“Era uma mulher muito supersticiosa e achava que tinha o mal no seu destino. Tentava expiá-lo fazendo o bem, mas de uma forma ou de outra os acontecimentos funestos sucederam-se”, explicou o autor durante a apresentação do livro.
A monarca acabou por ver Portugal transformar-se numa ditadura mas aproxima-se de Salazar, depois deste a convidar a visitar o túmulo dos familiares. “Ela aproxima-se e constata que não é republicano e acalenta uma esperança que decrete a monarquia”. O livro sobre “As memórias secretas da Rainha”, onde este autor ficciona a vida de D. Amélia em 12 pequenos capítulos, pertence a uma colecção que Miguel Real dedica em exclusivo às mulheres. O primeiro fala da vida de Branca Dias, um judia que atravessa o oceano com sete filhos para o Brasil fugindo à Inquisição. A obra seguinte inspira-se na vida de Snu Abecassis e ao amor vivido com Sá Carneiro. A ex-ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, é a senhora que se segue e Miguel Real diz que esta é “a mulher-homem”, caracterizada sobretudo pela razão e pouca emoção.
“Maria de Lurdes Rodrigues reduziu o ensino a critérios quantitativos”, disse. “Tinha um espírito muito objectivo e materialista e vê a escola sem olhar ao seu contexto”. Apontou o dedo aos famosos rankings “onde se comparam escolas de meninos de família e outras onde negros falam crioulo e onde os professores têm que fazer um enorme esforço para que estes entendam a língua portuguesa”. Para este autor, a ex-ministra incutiu nas escolas “um espírito mercantil de empresa onde todos têm que apresentar resultados”.
“A educação precisava de qualidade e deram-lhe quantidade”
Miguel Real considera que, em consequência das recentes politicas educativas, vigora hoje o facilitismo pois os alunos, seja por pedagogia ou por faltas, não reprovam. E com turmas com perto de 30 alunos “é difícil parar para ajudar os que têm mais dificuldades”. É por isso que diz que Maria de Lurdes Rodrigues “não fez bem à educação em Portugal pois esta precisava de qualidade e ela deu-lhe quantidade”.Apesar de não se identificar com partidos políticos ou de não querer tomar posições políticas, este autor não concorda com o formato imposto da avaliação de professores porque veio “burocratizar a avaliação e pôs um conjunto de professores a avaliar outros, dando início às disputas e aos conflitos que existem hoje nas escolas”.
Questionado sobre se os alunos das Novas Oportunidade se podem tornar leitores das suas obras, este respondeu “dificilmente”. Acrescentou ainda que este sistema onde se tenta suprir uma falta de formação para as estatísticas europeias “não olha à qualidade, à formação, ao ensino, ou à transmissão da cultura” pois a única coisa que interessa é o resultado.
Este sistema de ensino “rápido” também foi aplicado noutros países como na Turquia, Itália, ou no sul de Espanha. “Uma pessoa que saiba bordar, com um pequeno esforço frequenta a escola durante dois anos e consegue atingir diplomas do 5º, 9º ou 12º ano. Portanto, para as estatísticas, as Novas Oportunidade são óptimas!”, ironizou.
Miguel Real, que é especialista em Cultura Portuguesa – e que tem a sua obra dividida entre o ensaio, a ficção e o drama – continua a dar aulas de Filosofia e Psicologia no ensino secundário. No Natal do próximo ano irá lançar um novo livro, tendo passado as suas investigações do Brasil para a Índia. E diz que vai continuar também as suas novelas sobre as mulheres.
Natacha Narciso
Publicado a 3 de Dezembro de 2010
nnarciso@gazetacaldas.com
“As Memórias Secretas da Rainha D. Amélia”, o último livro de Miguel Real foi apresentado na Biblioteca das Caldas da Rainha a 20 de Novembro.
Miguel Real é o pseudónimo de Luís Martins, professor do ensino secundário, que é um forte crítico da anterior ministra de Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, tendo inclusive escrito um livro sobre a governante a quem acusa de ter reduzido o ensino a critérios unicamente quantitativos.
Miguel Real diz que os alunos das Novas Oportunidades “dificilmente” conseguirão ler os seus livros
“D. Amélia foi de facto uma rainha trágica”, disse Miguel Real, durante a sessão, assistida por 20 pessoas, sobre a monarca francesa que casou com o rei D. Carlos e que acabou por assistir ao assassinato do marido e do filho mais velho, em 1908, dois anos antes da República. Em 1932 viu morrer o filho mais novo, D. Manuel, tendo ao longo da vida assistido à derrocada trágica de toda a sua família.“Era uma mulher muito supersticiosa e achava que tinha o mal no seu destino. Tentava expiá-lo fazendo o bem, mas de uma forma ou de outra os acontecimentos funestos sucederam-se”, explicou o autor durante a apresentação do livro.
A monarca acabou por ver Portugal transformar-se numa ditadura mas aproxima-se de Salazar, depois deste a convidar a visitar o túmulo dos familiares. “Ela aproxima-se e constata que não é republicano e acalenta uma esperança que decrete a monarquia”. O livro sobre “As memórias secretas da Rainha”, onde este autor ficciona a vida de D. Amélia em 12 pequenos capítulos, pertence a uma colecção que Miguel Real dedica em exclusivo às mulheres. O primeiro fala da vida de Branca Dias, um judia que atravessa o oceano com sete filhos para o Brasil fugindo à Inquisição. A obra seguinte inspira-se na vida de Snu Abecassis e ao amor vivido com Sá Carneiro. A ex-ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, é a senhora que se segue e Miguel Real diz que esta é “a mulher-homem”, caracterizada sobretudo pela razão e pouca emoção.
“Maria de Lurdes Rodrigues reduziu o ensino a critérios quantitativos”, disse. “Tinha um espírito muito objectivo e materialista e vê a escola sem olhar ao seu contexto”. Apontou o dedo aos famosos rankings “onde se comparam escolas de meninos de família e outras onde negros falam crioulo e onde os professores têm que fazer um enorme esforço para que estes entendam a língua portuguesa”. Para este autor, a ex-ministra incutiu nas escolas “um espírito mercantil de empresa onde todos têm que apresentar resultados”.
“A educação precisava de qualidade e deram-lhe quantidade”
Miguel Real considera que, em consequência das recentes politicas educativas, vigora hoje o facilitismo pois os alunos, seja por pedagogia ou por faltas, não reprovam. E com turmas com perto de 30 alunos “é difícil parar para ajudar os que têm mais dificuldades”. É por isso que diz que Maria de Lurdes Rodrigues “não fez bem à educação em Portugal pois esta precisava de qualidade e ela deu-lhe quantidade”.Apesar de não se identificar com partidos políticos ou de não querer tomar posições políticas, este autor não concorda com o formato imposto da avaliação de professores porque veio “burocratizar a avaliação e pôs um conjunto de professores a avaliar outros, dando início às disputas e aos conflitos que existem hoje nas escolas”.
Questionado sobre se os alunos das Novas Oportunidade se podem tornar leitores das suas obras, este respondeu “dificilmente”. Acrescentou ainda que este sistema onde se tenta suprir uma falta de formação para as estatísticas europeias “não olha à qualidade, à formação, ao ensino, ou à transmissão da cultura” pois a única coisa que interessa é o resultado.
Este sistema de ensino “rápido” também foi aplicado noutros países como na Turquia, Itália, ou no sul de Espanha. “Uma pessoa que saiba bordar, com um pequeno esforço frequenta a escola durante dois anos e consegue atingir diplomas do 5º, 9º ou 12º ano. Portanto, para as estatísticas, as Novas Oportunidade são óptimas!”, ironizou.
Miguel Real, que é especialista em Cultura Portuguesa – e que tem a sua obra dividida entre o ensaio, a ficção e o drama – continua a dar aulas de Filosofia e Psicologia no ensino secundário. No Natal do próximo ano irá lançar um novo livro, tendo passado as suas investigações do Brasil para a Índia. E diz que vai continuar também as suas novelas sobre as mulheres.
Natacha Narciso
Publicado a 3 de Dezembro de 2010
nnarciso@gazetacaldas.com