Homeopatia é negócio difícil de quantificar
Há 837 produtos farmacêuticos homeopáticos registados no Infarmed, mas ninguém sabe quanto vale o negócio em Portugal. Às 10.23 horas de hoje, sábado, um grupo de "cépticos" vai tomar uma overdose deles para provar a sua inocuidade. E perguntar por que são legitimados
A polémica não é nova. Do lado dos defensores das medicinas alternativas, o argumento é de que a homeopatia funciona, com a vantagem de não ter efeitos secundários e de ser mais barata do que a medicação convencional. Do lado dos cépticos, fala-se em embuste, com produtos que não têm eficácia provada e que são de tal forma diluídos que não passam de açúcar. Com a desvantagem de induzirem as pessoas em falsas esperanças e atrasar terapêuticas efectivas.
O certo é que o negócio - embora curto no universo dos medicamentos - floresce. Representará 0,4% do mercado farmacêutico europeu, ou seja, mil milhões de euros. E, em França, as vendas dos Laboratórios Boiron (maiores produtores mundiais de produtos homeopáticos) chega a 1%. E, segundo dados de 2007, cresceram 10% a nível mundial.
Em Portugal, não há dados. O Infarmed apenas remete para as marcas que são registadas (837, em mais de 51 apresentações) que, sendo de venda livre, nas farmácias e não só, não têm acompanhamento. Da IMS Health, consultora que analisa o mercado do medicamento, dizem-nos que o sector da homeopatia "não é monitorizado".
Mas o que é, afinal, a homeopatia? Segundo a Associação Portuguesa de Homeopatia (APH), o princípio é usar substâncias que produziriam numa pessoa saudável "os mesmos sintomas que curam nos doentes".
A polémica está na diluição: as doses usadas são infinitesimais, ao ponto de a ciência não conseguir medir a concentração molecular. E de não ter, por isso "efeitos secundários", explica Francisco Patrício, presidente da Sociedade Homeopática de Portugal, médico que usa a homeopatia e a medicação convencional. "Depende das situações." Mas lembra que aquela até é usada em cuidados intensivos e em urgências, em países como a Áustria, a Alemanha, a Inglaterra ou o Brasil.
A diluição é precisamente o argumento da Campanha 10.23, que hoje, sábado, promove manifestações em dezenas de cidades de 25 países, às 10.23 horas da manhã. "Homeopatia é só água e açúcar" é o lema, que será testado com um "suicídio colectivo". Os auto-denominados "cépticos" vão tomar uma overdose de produtos homeopáticos para provar que não têm efeitos. E, em Lisboa, o encontro está marcado para o Príncipe Real.
Pedro Homero, um dos organizadores, explica com uma imagem: dilua-se uma gota de café em cem de água. Depois, uma gota da diluição em 100 de água e por aí adiante. Ao 6º passo, são precisas 20 piscinas para encontrar uma gota de café. Ao 12º (número de Avogadro), já não há uma molécula original. Os produtos homeopáticos têm diluições multiplicadas por 100 ou 200.
"Vou tomar Oscillococcinum", indicado para estados gripais e sintomas decorrentes. Custa 9,95 euros e tem como base fígado de pato diluído centenas de vezes. Já houve quem fizesse contas: uma única ave dá para vender 20 milhões de dólares do produto... "É sacarose", diz Pedro Homero. Uma embalagem equivale a seis gramas, um "pacote de açúcar do café".
Definição de Homeopatia
"Abordagem terapêutica particular, que utiliza remédios extremamente diluídos para estimular a capacidade inata, nas pessoas, de se curar", segundo a APH.
Prós e contras
Os defensores argumentam com a ausência de efeitos secundários e o baixo custo dos tratamentos. Os opositores dizem que são inócuos e atrasam terapêuticas eficazes. E apontam relatos de casos de morte por falta de tratamento.
A manifestação e o infarmed
A iniciativa questiona o Infarmed sobre o registo de produtos que devem ter "um grau de diluição que garanta a inocuidade". O instituto remete para directivas europeias, transpostas para Portugal.
Ordem dos Médicos
Emitiu parecer contra. O bastonário José Manuel Silva mantém reservas quanto à falta de rigor dos testes e à eficácia, não testada, de produtos cujo uso pode agravar situações clínicas.
Movimento de cépticos
Nasceu na Bélgica, em 2004, contra o agravamento de seguros para incluir a homeopatia. Renasceu em 2010 em Inglaterra, depois de o Governo manter a comparticipação apesar de parecer contrário do comité científico parlamentar.
Número de avogadro 6.02x1023
Valor da diluição a partir da qual já não há uma só molécula da substância diluída. É usado por ambos os lados: por não ter efeitos secundários e por não ter efeito nenhum.
Ivete carneiro
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=1775949&page=-1
Há 837 produtos farmacêuticos homeopáticos registados no Infarmed, mas ninguém sabe quanto vale o negócio em Portugal. Às 10.23 horas de hoje, sábado, um grupo de "cépticos" vai tomar uma overdose deles para provar a sua inocuidade. E perguntar por que são legitimados
A polémica não é nova. Do lado dos defensores das medicinas alternativas, o argumento é de que a homeopatia funciona, com a vantagem de não ter efeitos secundários e de ser mais barata do que a medicação convencional. Do lado dos cépticos, fala-se em embuste, com produtos que não têm eficácia provada e que são de tal forma diluídos que não passam de açúcar. Com a desvantagem de induzirem as pessoas em falsas esperanças e atrasar terapêuticas efectivas.
O certo é que o negócio - embora curto no universo dos medicamentos - floresce. Representará 0,4% do mercado farmacêutico europeu, ou seja, mil milhões de euros. E, em França, as vendas dos Laboratórios Boiron (maiores produtores mundiais de produtos homeopáticos) chega a 1%. E, segundo dados de 2007, cresceram 10% a nível mundial.
Em Portugal, não há dados. O Infarmed apenas remete para as marcas que são registadas (837, em mais de 51 apresentações) que, sendo de venda livre, nas farmácias e não só, não têm acompanhamento. Da IMS Health, consultora que analisa o mercado do medicamento, dizem-nos que o sector da homeopatia "não é monitorizado".
Mas o que é, afinal, a homeopatia? Segundo a Associação Portuguesa de Homeopatia (APH), o princípio é usar substâncias que produziriam numa pessoa saudável "os mesmos sintomas que curam nos doentes".
A polémica está na diluição: as doses usadas são infinitesimais, ao ponto de a ciência não conseguir medir a concentração molecular. E de não ter, por isso "efeitos secundários", explica Francisco Patrício, presidente da Sociedade Homeopática de Portugal, médico que usa a homeopatia e a medicação convencional. "Depende das situações." Mas lembra que aquela até é usada em cuidados intensivos e em urgências, em países como a Áustria, a Alemanha, a Inglaterra ou o Brasil.
A diluição é precisamente o argumento da Campanha 10.23, que hoje, sábado, promove manifestações em dezenas de cidades de 25 países, às 10.23 horas da manhã. "Homeopatia é só água e açúcar" é o lema, que será testado com um "suicídio colectivo". Os auto-denominados "cépticos" vão tomar uma overdose de produtos homeopáticos para provar que não têm efeitos. E, em Lisboa, o encontro está marcado para o Príncipe Real.
Pedro Homero, um dos organizadores, explica com uma imagem: dilua-se uma gota de café em cem de água. Depois, uma gota da diluição em 100 de água e por aí adiante. Ao 6º passo, são precisas 20 piscinas para encontrar uma gota de café. Ao 12º (número de Avogadro), já não há uma molécula original. Os produtos homeopáticos têm diluições multiplicadas por 100 ou 200.
"Vou tomar Oscillococcinum", indicado para estados gripais e sintomas decorrentes. Custa 9,95 euros e tem como base fígado de pato diluído centenas de vezes. Já houve quem fizesse contas: uma única ave dá para vender 20 milhões de dólares do produto... "É sacarose", diz Pedro Homero. Uma embalagem equivale a seis gramas, um "pacote de açúcar do café".
Definição de Homeopatia
"Abordagem terapêutica particular, que utiliza remédios extremamente diluídos para estimular a capacidade inata, nas pessoas, de se curar", segundo a APH.
Prós e contras
Os defensores argumentam com a ausência de efeitos secundários e o baixo custo dos tratamentos. Os opositores dizem que são inócuos e atrasam terapêuticas eficazes. E apontam relatos de casos de morte por falta de tratamento.
A manifestação e o infarmed
A iniciativa questiona o Infarmed sobre o registo de produtos que devem ter "um grau de diluição que garanta a inocuidade". O instituto remete para directivas europeias, transpostas para Portugal.
Ordem dos Médicos
Emitiu parecer contra. O bastonário José Manuel Silva mantém reservas quanto à falta de rigor dos testes e à eficácia, não testada, de produtos cujo uso pode agravar situações clínicas.
Movimento de cépticos
Nasceu na Bélgica, em 2004, contra o agravamento de seguros para incluir a homeopatia. Renasceu em 2010 em Inglaterra, depois de o Governo manter a comparticipação apesar de parecer contrário do comité científico parlamentar.
Número de avogadro 6.02x1023
Valor da diluição a partir da qual já não há uma só molécula da substância diluída. É usado por ambos os lados: por não ter efeitos secundários e por não ter efeito nenhum.
Ivete carneiro
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=1775949&page=-1