Sunday, 14 November 2010

A PRODUÇÃO DE ALFARROBA EM PORTUGAL

Algarve produz a alfarroba, mas os dinamarqueses ficam com o proveito

Uma empresa dinamarquesa comprou no Algarve a principal fábrica de transformação de alfarroba. Deslocalizou a unidade para Valência (Espanha) e, assim, adquiriu uma posição dominante – 55 por cento – no mercado mundial.

A transformação é mais rentável do que a produção

Agora, a partir de Andaluzia, passou a extrair da polpa de alfarroba a substância que apura o creme no café - segredo dos portugueses, mesmo que a bica seja tirada por máquinas italianas. E se o gelado não se derrete de uma forma lenta, é pela utilização de um aditivo natural extraído deste fruto seco que, no Algarve, já foi considerado o "ouro negro" pelos altos rendimentos que proporcionava aos agricultores. Agora, já não é tanto assim.

Em Marrocos, plantam-se novos pomares desta espécie - que requer poucos cuidados de tratamento e pouca água - para travar o avanço do deserto. No Algarve, depois do boom dos citrinos nos anos 1980, os proprietários das terras estão a virar-se para os frutos secos, apesar de o preço à produção – a rondar os quatro euros a arroba – não ser considerado estimulante.

Manuel Caetano - um veterano do sector - considera que o valor vai depender da capacidade de "atrair investidores para desenvolver em Portugal as novas descobertas feitas acerca deste fruto". Na Alemanha, para onde o Algarve exporta uma parte significativa do que produz, faz-se, por exemplo, tablete de alfarroba, usada como produto dietético, em substituição do chocolate, "porque não cria habituação".

A Industrial Farense, por coincidência, recebeu, esta semana, o prémio Green Project Awards, na área da Investigação & Desenvolvimento. Deu a conhecer o estudo Valor Alfa, destinado a valorizar a polpa - usada tradicionalmente na produção de rações para animais. A partir da polpa de alfarroba, pode-se extrair os antioxidantes, semelhantes aos taninos que se encontram no vinho tinto, "produzindo medicamentos destinados a reduzir o colesterol e combater o cancro". Por enquanto, a parte mais rentável são as pequenas bagas da vagem, usadas como aditivos nas papas para bebés, cosmética e alimento para atletas de alto rendimento.

A polpa é exportada para países como Bélgica, Holanda, Inglaterra e Alemanha a 120 euros por tonelada. Uma situação, sublinha o industrial, "lamentável, porque não traz valor acrescentado". Por outro lado, a venda da fábrica algarvia Indal aos dinamarqueses da Danisco e a posterior deslocalização para Valência, "colocou Portugal numa situação de maior fragilidade". Manuel Caetano, o último director-geral da unidade fabril no Algarve, critica: "A Danisco subiu de uma percentagem de 45 para os 55 por cento no mercado mundial de alfarroba, adquirindo uma posição dominante - o que contraria as leis comunitárias -, mas nada foi feito para travar o negócio."

Para já, acrescenta, a tecnologia desenvolvida na Indal permitiu-lhes valorizar de um para oito euros/quilo a venda do hidrocoloide (E 410) - aditivo extraído da semente de alfarroba, utilizado na comida para bebés. Ao fim de dez anos de tentativas, sem êxito, para desenvolver a tecnologia criada em Portugal, sublinha Manuel Caetano, "compraram a fábrica e levaram o conhecimento para Espanha, onde já tinham uma unidade fabril. É assim que se faz no mercado da globalização", lamenta.

O negócio da alfarroba em Portugal, diz Manuel Caetano, representa 32 milhões de euros, para uma produção de 40 mil toneladas. Mas só o transporte para a Alemanha, sublinha, representa 40 por cento do valor do produto. A Industrial Farense está a arrancar com a construção de uma nova unidade – um investimento de 5,5 milhões de euros, apoiado em 45 por cento com fundos comunitários. Na região há seis fábricas de alfarroba, mas fazem apenas a primeira transformação (separação da semente da polpa). O processo completo, para tirar todo o aproveitamento do fruto, compreende seis etapas.

14.11.2010 - 15:49 Por Idálio Revez

http://economia.publico.pt/Noticia/algarve-produz-a-alfarroba-mas-os-dinamarqueses-ficam-com-o-proveito_1466084

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