Saturday, 4 January 2014

SKY CYCLE - UMA UTOPIA?

SkyCycle, uma rede de ciclovias a pairar sobre as ruas de Londres

Projecto do arquitecto Norman Foster está a ser estudado e pode vir a custar mais de 240 milhões de euros. SkyCicle é visto como uma “utopia”: "sem autocarros, carros ou stress"
Tem 219 quilómetros de extensão e paira sobre as ruas de Londres. O SkyCycle é uma rede de ciclovias desenhada pelo arquitecto britânico Norman Foster e, caso seja aprovada para construção, vai custar mais de 200 milhões de libras (cerca de 240 milhões de euros), noticia a BBC.
 
 A arrojada proposta, uma parceria entre os gabinetes Foster+Partners e Exterior Architecture e os consultores Space Syntax, quer ligar, numa primeira fase, a zona Este de Londres à Liverpool Street Station. “Se aprovadas, as dez rotas seriam construídas acima das linhas ferroviárias existentes e levariam cerca de 20 anos a completar”, continua o site da rádio e televisão britânica.
 
 O projecto, que permitiria o uso da bicicleta num caminho livre de carros, está a ser estudado pelas “partes interessadas”, por forma a ter algum “feedback” antes de ser submetido para candidatura. “Acredito que as cidades onde se pode caminhar ou andar de bicicleta em vez de conduzir são lugares mais simpáticos para se viver”, disse Foster.
  
Ainda de acordo com a BBC, a rede de ciclovias, ainda conceptual, pode atingir “quase seis milhões de pessoas” que vivem na zona de influência. Para dar resposta ao tráfego de bicicletas — que, estima-se, podia chegar aos doze mil ciclistas por hora —, o SkyCycle foi pensado para ter mais de duzentas rampas de acesso, espalhadas por toda a cidade. Em média, as deslocações de bicicleta pela cidade diminuiriam até meia hora.
  
“SkyCycle é uma abordagm lateral para encontrar espaço numa cidade congestionada. Utilizando os corredores acima das linhas ferroviárias suburbanas, poderíamos criar uma rede ‘word-class’ de segurança”, continuou Foster. Já Sam Martin e Oli Clark, do Exterior Architecture, definem o projecto como “uma utopia”: “sem autocarros, carros ou stress”.
  
Já o porta-voz da Network Rail, a autoridade responsável pela rede ferroviária do Reino Unido, garantiu apoiar os planos. “Vamos manter a ligação com todos os envolvidos, enquanto a ambição por este projecto inovador se desenvolve."
 

Wednesday, 25 December 2013

Monday, 23 December 2013

JAIME NOGUEIRA PINTO: AS RELAÇÕES PORTUGAL- ÁFRICA


 É um dos grandes africanistas portugueses, mas não vive dentro dos livros. Angola e Moçambique são temas que conhece como a palma das mãos

Jaime Nogueira Pinto: “As relações Portugal-Angola são alvo de manipulação - cá e lá”

No livro que publicou em 2008, Jogos Africanos, escreve logo nas primeiras páginas que, quando tinha 15 anos, a sua visão de África era muito simplista, como no romance As minas de Salomão, que aliás cita. Via África como uma divisão entre os bons e os maus. Cinquenta anos depois é possível olhar para África e ver quem são os bons e os maus?
 
Não... os bons não eram tão bons como pareciam, os maus também não eram tão maus como se achava. Acho que não é tanto uma visão de África, é uma visão da vida. Graças a Deus quando temos 15 anos, e até quando temos 25 ou 30, ainda vemos tudo como bons e maus. E com o tempo passamos a ver uma coisa que é interessante: não são necessariamente bons todos os que pensam como nós, não são necessariamente maus todos os que pensam o contrário de nós. Ou seja, há uma data de boas ideias servidas por gente péssima e há uma data de gente boa a servir coisas más. A vida ensina isso.
 
 
É igual em África?


É igual em toda a humanidade. Isso é outra coisa que também aprendemos. Por um lado, a profunda identidade e diferença das pessoas, dos povos; por outro, o denominador comum que é a natureza humana. Foi Deus quem a criou assim ou porque é assim, não sei.
 
Nesse mesmo livro diz que partiu para Angola em Julho de 1974, em pleno PREC. A sua ligação a Angola é profunda. Hoje há talvez 150 mil portugueses em Angola, não sabemos ao certo...

Não sabemos ao certo, os portugueses têm a mania de inflacionar os números. Mas também não inflacionam apenas os números deles, inflacionam os de todos....
 
... é de qualquer forma um número alto. Muitas dessas pessoas são empresários bem integrados na sociedade angolana...

Há pessoas que estão bem integradas, normalmente aquelas camadas mais modestas. As camadas médias estão bem integradas. Às vezes noto, a nível das empresas importantes e dos quadros mais altos, que há uma autocriação de gueto. Quer dizer, estas pessoas, às vezes, fazem vida em grupo, em gueto, e isso é mau porque pode ser interpretado como uma forma de se considerarem mais importantes.
 
Porque acontece isso?


Não sei, é normal, é uma questão de defesa. As pessoas são muito assim, têm a tendência, quando estão deslocadas, quando estão expatriadas, para criar um pequeno grupo. Isso é negativo porque as pessoas em Angola gostam de conviver para além da vida empresarial, profissional e das relações de trabalho. Gostam de ter relações afetivas quando gostam das pessoas. Essa é uma das características de Angola, talvez na Costa Oriental [de África] não seja bem assim, mas Angola tem muito isso. Os angolanos, para o bem e para o mal, têm muita coisa parecida connosco histórica e culturalmente.

Mas dizia que a classe média portuguesa que está em Angola tem uma atitude diferente?

A classe média e até a classe baixa, os trabalhadores. Estive em julho em Angola com algumas pessoas que trabalham comigo. Fomos almoçar ao Cabo Ledo, a 100 quilómetros a sul de Luanda, num restaurante mesmo em cima da praia, uma praia lindíssima, e estava uma série de gente, pessoas modestas, trabalhadores, toda a gente convivendo com as famílias e com os locais, tudo numa grande mistura que é muito característica.

E que não acontece tanto numa África francófona...?

Não, não acontece tanto na África francófona, na anglófona talvez ainda menos e na Costa Oriental [de África] também não acontece tanto. É muito característico até do tipo de colonização, do tipo de pessoas que fizeram a colonização de Angola e do tipo de relação que foi estabelecida no século passado. Angola foi um destino de gente que ia de saco às costas para ganhar a vida, para fazer pela vida. Moçambique era diferente, uma estrutura de grandes companhias onde as pessoas iam para lugares médios ou altos e já iam com as famílias. Em Angola não, muitos fizeram ali as suas famílias. Angola é um produto de um tipo de gente mais popular.
 
As recentes investigações judiciais que aconteceram em Portugal a cidadãos angolanos com relevância política e até com responsabilidade judiciais, casos que foram arquivados, provocaram uma enorme tensão política entre os dois países. Isso complicou a vida aos empresários em Angola, mudou alguma coisa?

Em alguns casos pode ter complicado, porque cria sempre um clima de reserva, de maior tensão. Mas não é que a intenção fosse essa... É evidente que as pessoas seguem muito a política e sobretudo as pessoas responsáveis e com um certa visibilidade e, às vezes, querem ser mais papistas que o Papa. Acho que houve aqui uma grande manipulação. Há aqui um problema complicado: as relações de Portugal com Angola, que são muito importantes quer para Portugal quer para Angola, talvez neste momento mais para Portugal, não podem ser, como têm sido, reféns da manipulação política, quer em Angola, quer em Portugal.
 
Ou seja?

Ou seja, às vezes os angolanos para hostilizarem o Governo angolano utilizam como refletor a sociedade portuguesa, as instituições portuguesas e os media portugueses. E vice versa. A questão económica é importante do ponto de vista do interesse público, até pela dependência económica que sucessivos governos portugueses, não vou dizer quais, nos foram colocando. Recuperar a independência económica e financeira de Portugal é uma base fundamental da independência política... portanto temos de olhar muito a sério para estas áreas. Há aqui uma razão de Estado para que estas coisas sejam tratadas como interesse público.
 
Falemos da parceria estratégica com Angola. Isto é o quê mesmo?




Temos de ver a questão da internacionalização da economia portuguesa. Lembro-me que, depois do 25 de Abril, andava tudo muito contente porque a partir daquele momento passávamos a ter relações com todos os países mas na maior parte nem eles estão muito interessados em ter relações connosco, nem nós tínhamos nada para lhes comprar, nem para vender, nem para lhes dar. Uma falácia. Agora, há países que são importantes e com quem é importante termos relações... são aqueles com quem temos afinidades históricas.
 
Angola.


Angola é um caso.
 
A parceria estratégica é apenas um chavão político?


A questão da parceria estratégica poderia fazer sentido num espaço, vamos chamar-lhe assim, lusófono. Acabada a Guerra Fria e acabadas as grandes solidariedades ideológicas, hoje, salvo raríssimas exceções, reminiscências quase folclóricas embora terríveis para as pessoas que lá vivem, como a Coreia do Norte, o mundo tem mais ou menos todo o mesmo sistema: o sistema económico é o sistema capitalista, chamemos-lhe assim, e o sistema político é o sistema democrático. Há alguns países que não são bem assim, a Arábia Saudita e mais algumas monarquias ainda teocráticas em algumas zonas do Golfo, há depois essas reminiscências como Cuba e a Correia do Norte.
 
Esse mundo acabou...


Curiosamente, uma das solidariedades que surgiu no pós-Guerra Fria tem a ver com identidades históricas e culturais que depois se manifestam doutras maneiras. Quem é que teve tropas combatentes no Iraque depois da invasão de 2003? Os americanos, os ingleses, os australianos... curiosamente é um bocadinho aquela linha dos povos que Churchill chamaria os anglo-saxónicos. Se no espaço lusófono criássemos este tipo de unidade acho que tínhamos muito a ganhar. Há, de facto, uma certa complementaridade.
 
Do ponto de vista económico e político quais são os países que estão a fazer concorrência a Portugal nesses mercados africanos lusófonos?

O Brasil tem interesses na área da construção... penso que a maior construtora estrangeira a operar em Angola é a Odebrecht. Nós depois temos a Mota Engil. A Odebrecht teve aquela ligação grande a Capanda durante a guerra e os irmãos Odebrecht cuidaram sempre muito bem das suas relações com os dirigentes angolanos. Os chineses são importantes, claro, estão em toda a África. O drive dos chineses é o de terem uma sede enorme de concessões, sobretudo de oil and gas, de energia, além de outras matérias primas, como os minerais.
 
Os chineses...


Os chineses são muito mais parecidos com aquilo que seria um Estado nacionalista. Aliás, eu diria que o mestre económico dos chineses é muito mais o List do que o Marx. Os chineses têm uma linha de nacionalismo económico e têm uma história que os marcou muito nesse aspeto, não querem voltar a passar por aquilo que passaram no século XIX, de serem humilhados nas guerras do ópio, serem invadidos pelos ocidentais, depois maltratados pelos japoneses. Por isso, os chineses chegaram à conclusão que tinham de deixar-se daquelas fantasias maoístas e desenvolveram uma economia que funciona. Para isso, precisam, também, de África. África é o continente que ainda tem grandes recursos em termos energéticos, tem grandes recursos de minerais, tem muita terra livre para comida, tem água e depois...
 
... e tem mercado potencial...

África tem hoje um enorme mercado nos telefones celulares, nos automóveis. Bem sei que parte de índices muito pequenos mas, por isso mesmo, a margem de crescimento é grande. Por isso tudo, para economias novas, Angola é muito apetecível. Em Angola os chineses entraram quase como monopolistas na reconstrução dos caminhos de ferro. Sem ofensa para os chineses, na parte de construção de estradas o trabalho não tem sido muito famoso.

Mencionou o Brasil como um potencial parceiro económico relevante para Angola.




Sim, mas esta força humana que nós vemos dos portugueses em Angola, não vemos nos brasileiros.
 
Escreveu uma vez que os países produtores de petróleo têm tendência para serem mais autoritários.




Os países que estão a começar é natural que sejam autoritários. D. Afonso Henriques não era advogado, nem era do PS ou do PSD, e a profissão dele era guerreiro, tirava terras ao inimigos para os amigos e para a família. Os estados quando surgem são muito parecidos. No caso dos estados mais novos do planeta, que são os estados africanos, eu distingo duas coisas: os que tiveram que lutar pela independência, foi o caso da área lusófona, porque a política portuguesa foi diferente dos outros países europeus, esses países tiveram de lutar pela independência e a seguir tiveram guerras civis prolongadíssimas. Depois temos os outros estados que tiveram independências dadas ou, digamos, outorgadas, não tiveram guerras de independência, mas sofreram guerras pós-independência muito complicadas e continuam a ter estruturas tribais muito fortes. A fábrica nacional deles é muito mais lenta.
 
Isso significa que exigimos demais dos países africanos? Queremos que se democratizem e normalizem quase instantaneamente?




Os americanos sim, não digo todos os americanos porque também há americanos realistas, mas há esta espécie de obsessão que os americanos têm de exportar o seu modelo político para todo o lado e fazem-no com o cinismo necessário porque, que eu saiba, não se preocuparam muito em introduzir a democracia, por exemplo, na Arábia Saudita. Mas, quando lhes deu jeito introduzi-la no Iraque foram por aí. Agora, nós temos isso, os europeus também têm: é uma obsessão irrealista porque se nós tivéssemos criado os nossos estados assim não existíamos. Digo isto em qualquer lado: só pode haver democracia havendo nação, se não houver nação a coisa fragmenta-se. Aliás, foi o que aconteceu quando se introduziu a democracia na Jugoslávia, depois do fim da Guerra Fria, a Jugoslávia desapareceu, ficaram seis Estados. Como não estava criada um entidade nacional, havia várias entidades nacionais juntas, cada nação da Jugoslávia quis ser livre. A fábrica da nação em Angola está a funcionar porque a guerra destribalizou e atirou as pessoas para as cidades, acelerou essa fábrica da nação.
 
Como olha para os investimentos angolanos em Portugal?

Acho bem, desde que essas pessoas, e tanto quanto se vê até hoje, não procurem utilizar esses recursos para influenciar de um modo, digamos, negativo.
 
É uma coisa que o preocupa?

Não sei se existe, até agora não tenho visto. Há uma coisa muito interessante: um jornal que seja manipulado não serve de nada para os manipuladores porque perde a credibilidade com uma rapidez extraordinária, as pessoas dão por isso, então num meio mínimo como é o português... Acho que as teorias conspiratórias têm muita sorte, como há uma grande preguiça mental das pessoas, pessoas com doutoramentos e grandes cursos têm essa preguiça mental, não lêem e não pensam, as teorias conspiratórias resolvem imensos problemas porque explicamos tudo sem sabermos nada.
 
Moçambique outra vez em tensão, Dhalkama em parte incerta, no mato, há um ambiente de medo, logo numa altura em que recursos naturais poderiam dar outro rumo ao país...

Conheço bem Afonso Dhlakama, também o presidente Chissano, conheço o General Chipante, conheço bastante bem essas pessoas todas. Nestas coisas temos que pensar um bocadinho no fator humano. O que é que aconteceu? Criou-se à volta de Moçambique, sobretudo depois das descobertas muito significativas de gás natural, a ideia que choviam milhões ou biliões só de Moçambique. Isso não é verdade, o gás está lá efetivamente, a 50 milhas ao largo da pequena cidade de Palma, está no mar, mas ainda vai demorar e custar muito dinheiro ir buscá-lo.
 
Não faltam empresas interessadas.

Temos lá duas empresas grandes, a Anadarko, uma empresa americana importante, e o consórcio da Eni, onde também está a Galp. Só que começou a falar-se disso com uma intensidade, quer na imprensa portuguesa, quer na imprensa moçambicana, que toda a gente começou a achar que todos estavam ricos exceto eles próprios. Eram milhões de moçambicanos a pensar isso. Foi também a pressão exercida sobre o líder da oposição, o líder da Renamo, que já estava um bocadinho incomodado com o aparecimento do MDM, uma cisão do partido dele, e que lhe criou nesse momento, como uma forma de auto protesto, o ir para aquele acampamento na Gorongosa. Quando isso aconteceu achei que se devia fazer alguma coisa.
 
Mas não se fez.

Os nossos patrícios habituaram-se muito a não se preocupar, não preocupam, não se ocupam, e depois quando as coisas acontecem ficam alarmadíssimos, como se ninguém lhes tivesse dito nada. Durante um ano as coisas foram-se complicando, até porque o líder da oposição foi para o acampamento e já havia três ou quatro acampamentos... É muito fácil, quando há homens armados num país, também há homens armados na polícia e nas forças armadas e não gostam especialmente uns dos outros, mais tarde ou mais cedo vai haver problemas. Fundamentalmente tem que se fazer uma coisa: tem que se reintegrar a Renamo politicamente, porque não participou nas recentes eleições [municipais] e isso favoreceu imenso o outro partido da oposição, o MDM, que é um partido interessante, com quadros bastante preparados que corresponde mais ao tal modelo de classe média nascente e urbana. Aliás, não é impunemente que as vitórias nas cidades são suas nas zonas mais urbanizadas, mais progressivas, digamos assim.
 
Há condições para as empresas, não só as grandes empresas, viverem em paz e fazerem negócios?

A situação vai estabilizar porque ninguém vive com estas situações, ninguém vive com uma parte do país a ter que fazer os percursos nas estradas sob escolta, mesmo assim com ataques de vez em quando. Ninguém vive com esta coisa dos raptos, que é uma enorme insegurança, sobretudo para os expatriados.
 
Os raptos são preocupantes?


Claro que deve preocupar. Os raptos começaram dirigidos como uma coisa profissional, dirigidos a famílias abastadas da comunidade islâmica, negociantes. Era extorsão pura, as pessoas eram devolvidas à procedência sãs e salvas depois de pagarem resgates elevados. Depois deste Verão começou a haver uma espécie de fenómeno de democratização do rapto, até em famílias paupérrimas. Penso que isto também tem a ver com uma certa insegurança. Parte das forças armadas e parte da polícia das forças armadas como vieram para estas zonas de tensão com a Renamo de certa forma saíram da capital...
 
Os portugueses devem preocupar-se?

Os portugueses devem preocupar-se. É um setor que conheço bem, o da segurança, e as pessoas, que antes não nos pediam isso, pedem segurança direta, pedem que vá um carro buscá-las, que as acompanhem, que haja um homem armado... Isso surgiu e acho que é preocupante, mas vamos ao lado positivo e racional: isto não é uma situação com a qual se possa viver. O presidente Guebuza tem grande noção política, tem neste momento problemas no seu próprio partido onde terá que agir. Mas a classe política está consciente destes problemas e de que eles não se podem eternizar porque isso terá altíssimas e graves repercussões nos investidores. O gás é diferente, porque são negócios que podem viver em enclave, isolados, mas o resto não aguenta este estado das coisas. Tudo o que é negócio no interior e tem de passar pelas estradas e pelos caminhos de ferro está em causa...
 
Moçambique está em antepenúltimo lugar no ranking do índice de desenvolvimento humano. Há quase tudo ainda por fazer. Portugal é um parceiro privilegiado?




Portugal tem boas condições em algumas áreas. O sistema financeiro moçambicano está muito ligado aos bancos portugueses, que têm aí um papel dominante. Moçambique é Costa Oriental, é uma coisa bastante diferente e tem ali outras proximidades, tem os grandes países asiáticos, tem a Índia, tem a China, tem a própria África do Sul, é outra África. A Costa Oriental e a Costa Ocidental são muito diferentes quer historicamente, quer economicamente. Em Moçambique temos que ser muito realistas exatamente porque a história é diferente, a história das relações é diferente e até o próprio modelo económico.
 
O que tem a dizer sobre a Guiné Bissau e a história dos passaportes?

Essa história reflete que aquilo é um Estado completamente marginal. A última pessoa que tentou pôr aquele país direito foi o Carlos Gomes Júnior e foi derrubado por um golpe militar, em Abril de 2012. Nessa altura o Governo português teve uma atuação certa, conseguiu que ele não fosse morto, eu acho que era o que estavam a preparar-lhe. Tem-se tolerado ali um governo, uma coisa de uns militares que tomaram o poder pela força das armas, uma criminalidade enorme...
 
É justo dizer que a relação de Portugal com a Guiné é mais distante?

A relação com a Guiné Bissau era boa, a Guiné tem quadros de relações muito interessantes. O problema destes países é que as pessoas acabam por sair deles, o que é uma tragédia.
 
Portugal devia ter uma verdadeira política africana?

Está sempre para ter mas nunca tem. Os americanos é que têm secretário adjunto para os Assuntos Africanos. O problema não é um problema de orgânica do Governo, é um problema de vontade política, é um problema de lucidez, é um problema de usar os recursos da própria sociedade civil portuguesa, a influência que as comunidades portuguesas têm nessas áreas, os conhecimentos que as pessoas que lá trabalham têm.
 
Nenhum partido tem mostrado essa vontade.




Isto há aqui uma tragédia na história de Portugal, porque o regime que se implantou há 40 anos tinha como única linha ideológica fazer tudo ao contrário de Salazar. Como Salazar se preocupava com África e achava que aquilo era importante, a nova ideia foi dizer “não é nada importante”. Depois começaram a perceber que talvez fosse importante mas, entretanto, perderam-se muitos anos.
 
Jaime Alexandre Nogueira Pinto (Porto, 4 de Fevereiro de 1946, 67 anos) é professor universitário, investigador, empresário (na área da consultoria e segurança) e escritor. Foi casado com Maria José Nogueira Pinto. Acaba de lançar o livro “Portugal, Ascenção e Queda” (D. Quixote). Licenciou-se em Direito, pela Faculdade de Direito de Lisboa. Foi voluntário na Guerra Colonial.
 
 
 
 

JAIME NOGUEIRA PINTO: "FOI-SE LONGE DEMAIS NA DIABOLOZAÇÃO DO ESTADO NOVO"

 
 
Académico defende que o 25 de Abril promoveu uma ruptura mais forte que a passagem da monarquia para a República
 
Sendo o nacionalismo um pensamento político em vias de extinção em Portugal desde o 25 de Abril, Jaime Nogueira Pinto é uma espécie de ave rara entre os nossos intelectuais. Autor de uma vasta obra, regressa aos temas históricos depois de se ter estreado nas lides literárias com o seu primeiro romance e de ter publicado o assombroso "Ideologia e Razão de Estado - Uma História do Poder". O novo livro, intitulado "Portugal - Ascensão e Queda" (Ed. D. Quixote), em que Nogueira Pinto faz um resumo das ideias políticas que marcaram a história de Portugal, foi o ponto de partida da conversa com o i. Homem de direita e conhecido apoiante do Estado Novo, o que o levou ao exílio a seguir ao 25 de Abril, o académico tem uma visão politicamente incorrecta da história - que se acentua à medida que se aproxima dos temas e acontecimentos contemporâneos.

Se a ascensão do país começa com as descobertas, a queda inicia-se quando?

Não se pode dizer que há só uma ascensão e só uma queda. Tivemos de facto um ciclo de ascensão, que começa com a guerra da independência, com o infante D. Henrique, a dinastia de Avis toda, e depois as navegações: primeiro a costa ocidental africana, depois o dobrar do cabo da Boa Esperança e a viagem de Vasco da Gama. De seguida vêm as conquistas. Afonso de Albuquerque, a figura mais simbólica desse império, morre em 1515 depois de conquistar os pontos principais do Índico. Aguentámos no século xvi - ganhámos aqui, perdemos acolá. Não há dúvida de que tivemos grandes progressos na colonização do Brasil, mas em contrapartida tivemos altos e baixos na Índia. E depois com a expedição de Alcácer Quibir e o seu mau sucesso perdemos a independência e voltámos ao zero político. E isso passa a ter consequências, até porque os inimigos de Espanha passam a ser nossos também, o que até aí não acontecia, uma vez que Portugal nasceu contra Espanha e portanto os seus inimigos costumavam ser os nossos aliados. Passámos a ter os ingleses, os franceses e os holandeses contra nós e os espanhóis, tendo de escolher os seus próprios territórios ou os de Portugal - mesmo sendo nessa altura deles -, protegiam os deles. Perdemos o Brasil, Angola e uma parte substancial da Índia e do Oriente. Destes últimos praticamente não recuperámos nenhum, o Brasil e Angola recuperámos já depois da Restauração. Mas é muito interessante que quem recupera Angola são os portugueses do Brasil. A partir da Restauração temos uma nova subida, que se intensificou com a vitória da guerra da independência. Há uma figura notabilíssima que é uma espécie de resumo disto tudo: o padre António Vieira. É um continuador, uma figura com um relevo grande, um homem de sete instrumentos, que vive quase 90 anos. É um homem que, após ser missionário no Brasil, corre a Europa toda com ideias fantásticas e tem a ideia de criar em Portugal uma companhia majestática para explorar o comércio marítimo e negociar com os judeus portugueses e com os cristãos- -novos fugidos para a Holanda o regresso dos capitais a troco da liberdade religiosa.

O que a Holanda estava a fazer...

Sim, era isso que a Holanda estava a fazer com as suas companhias. Temos depois disso uns períodos complicados e no século xviii - já tínhamos tido a grande fortuna da pimenta da Índia e a grande fortuna do açúcar do Brasil - vem o ouro e os diamantes do Brasil, que curiosamente não deixam muito por cá, porque se gasta muito dessa fortuna a defender os territórios. Os nossos principais autores do século xix, como o Oliveira Martins, criticavam muito o facto de não termos imperialismo como os outros. Não explorávamos economicamente as coisas ou se explorávamos não conseguíamos tirar vantagens.

Diz-se que não tínhamos meios humanos nem capital para o fazer.

É um problema de números. No século xvi, a população portuguesa era cerca de um milhão, enquanto os espanhóis já são 7 milhões e os ingleses talvez 3,5 milhões. Temos uma população proporcionalmente pequena, se formos ver a nossa área de expansão nesse século: do Nordeste do Brasil ao Rio de Janeiro e do Rio ao Maranhão. A Bahia já havia sido fundada; tínhamos em África muita gente, em Marrocos havia praças guarnecidas com guerras de fronteira continuadas. Havia ainda as feitorias em Luanda, Benguela, depois na costa oriental, a costa de Moçambique até quase à Somália, e depois a Índia. A carreira da Índia tinha uma média de cinco barcos anuais - devem ter ido para a Índia entre 60 e 70 mil homens durante o século xvi. É uma aventura desproporcional face aos recursos e por isso é que é tão impressionante. Essa história esmaga-nos agora: metade do país revê-se nela numa espécie de nostalgia que dá para a tristeza e a outra metade que, por estar longe, quase a odeia. Temos, como os espanhóis, um problema de convivência com esta fase da história que não é fácil.

Sentimo-nos um país pequeno, mas, se olharmos para os números da União Europeia a 28, somos um país de dimensão média. Esse sentimento de inferioridade tem a ver com a ideia de que já fomos grandes?

Sim. Fomos os primeiros europeus a conseguir chegar e os últimos a sair, uma espécie de império tardio. E isso marca--nos. Na Idade Média Portugal era um país paupérrimo do ponto de vista agrícola devido a uma questão geográfica: dois terços do território são paus e pedras, pinhais, montanhas, e não temos muitos rios navegáveis. Tínhamos as lezírias do Tejo, o Sado, um bocadinho do vale do Mondego. Terra pobre, difícil de trabalhar, e por isso tinha-se de viver do mar. Nessa altura começa por isso um comércio intenso não só para sul, mas também muito para norte - com a Flandres e a Inglaterra - muita exploração de pesca na costa. Mas a questão dos portos também não era famosa. Olhando para essas condições, há uma grande visão do infante D. Henrique na promoção das Descobertas ao trazer os cosmógrafos, os pilotos, e criar um sistema de incentivos para a vinda dos que viviam nos melhores sítios da Europa, nomeadamente em Itália. Os líderes dessa época tiveram ambição, audácia e uma grande visão - usando a história podemos aprender. O infante tinha a decisão, os fundos e as condições necessárias para lançar as expedições. Mas não foi uma questão pacífica na sociedade da época. Se lermos os autores do tempo, como Gil Vicente e Camões, percebemos que discutem os prós e os contras da aposta do infante. Camões, por exemplo, vai buscar o Velho do Restelo porque havia muita gente que se opunha às descobertas - e ele dá voz a isso. "Os Lusíadas", que infelizmente nos metem pela frente quando somos pequenos com o objectivo de analisar questões chatíssimas de gramática, são uma obra simbólica desse ambiente e revelam uma sociedade portuguesa muito viva. Estamos a falar do século xvi.

A figura de D. Sebastião tem um lado heróico porque o rei morreu em combate, mas também fica ligado à tragédia porque ficámos sem descendentes. A queda de Portugal parece que se inicia aí.

Claro. O império estava exausto. Se formos a analisar a geopolítica da época, a ida de D. Sebastião a Marrocos fazia um certo sentido: servia para impedir a vinda dos turcos para esta zona, apoiando o pretendente ao trono marroquino que defendia a mesma ideia, e afirmar Portugal como uma potência regional. Ora trazer os turcos para esta zona era de facto um salto complicado e perigoso do ponto de vista geopolítico. Os turcos tinham nos meados do século xv conquistado Constantinopla e em 1571 tinham sido derrotados pelos cristãos em Lepanto. É claro que a expedição foi mal conduzida e conduziu à derrota. Mas nessa queda há também uma grande força. O português é também um grande resistente. Os portugueses não vivem bem na mediania. Quando são chamados para as conquistas lá se desenrascam e lá vão eles. E quando caem têm capacidade de resistir, como demonstraram ao longo de várias ocupações em que nunca foram cobardes.

Estamos à espera de salvadores desde D. Sebastião: D. João IV, D. Pedro (ou D. Miguel) ou até mesmo Salazar.

O Salazar aparece aí, de facto, como um Messias. A Primeira República estava completamente desacreditada e toda a gente estava contra o Partido Democrático. Por exemplo, as tropas do golpe de 1926 vieram para Lisboa todas de comboio; não houve uma única sabotagem, mesmo daqueles sindicatos muito esquerdistas para a época. Estava tudo farto do Afonso Costa e das suas aldrabices. A tragédia foi que a oposição antifascista - que no 25 de Abril veio a receber o poder da mão dos militares sem, na verdade, ter feito nada por isso - ficou obcecada com fazer tudo ao contrário do que o Salazar tinha feito. Admito até que houve um ressentimento muito grande, pois o regime durou 48 anos. Mas talvez se tenha ido longe de mais.

Verificou-se uma diabolização do Estado Novo? 
 
Sim, há essa diabolização. É curioso, porque nas anteriores revoluções isso não tinha acontecido. Por exemplo, na passagem da monarquia para a República não se mexeu na questão de África. Porquê? O pessoal que a República pôs a governar o Ultramar, quer em Moçambique quer no resto de África, quase todos eles tinham estado com o Mouzinho da Albuquerque, com o Paiva Couceiro, com toda essa gente. Havia pois uma continuidade com os "africanos". Uma das razões para os republicanos tomarem o poder era acusarem a monarquia de não defender bem as colónias. Até foram para a guerra por causa disso. Dá-se uma mudança a partir dos anos 60 e dá-se com o Partido Comunista, primeiro, e depois também com o Mário Soares. Foi na eleição de 1965, salvo erro, que pela primeira vez essa oposição tomou uma posição sobre o assunto diferente daquela da oposição tradicional.

A grande falha do Estado Novo foi ter impedido uma maior autonomia das colónias a seguir à independência da Índia em 1947?

Sabe, tenho pensado muito sobre o assunto... Era complicado. O Salazar não podia. Em 61/63 o mundo estava todo contra nós. Mesmo os americanos e a Igreja - que após o Concílio Vaticano II começa a deixar de apoiar regimes politicamente conservadores. Além disso, a Academia Militar, que fora apoiante incondicional da mudança de regime em 1926, já não dava essa garantia - os jovens que iam estagiar nas academias norte-americanas voltavam para conspirar. Depois, ao contrário do que o Salazar e o Franco Nogueira pensavam, as nossas colónias não eram assim tão importantes como nós pensávamos que eram.

A França e o Reino Unido souberam sair, mas mantendo a ligação cultural e comercial.

Sim, é verdade. Mas, em segundo lugar, esses países tinham uma grande dimensão metropolitana, com grande massa crítica, com grande poder na Europa - coisa que nós não tínhamos. Foi esse o nosso equívoco. O problema do Salazar também era a sua maneira de ser: muito frio e racional. Aquilo tinha de ter tido outro rasgo. Marcelo Caetano podia ter mudado isso, mas quando chega, em 68, a guerra em Angola está relativamente controlada.

A história oficial ensina-nos que a guerra estava perdida

Mas não estava, isso está estudadíssimo. Em 1973 houve 50 mortos em Angola, com quase 100 mil homens em armas. O que se pode dizer é que o país não estava preparado - com o serviço militar obrigatório era muito complicado fazer isto. Primeiro porque começava a haver dinheiro, depois começaram a dar-se os fenómenos que se deram nos Estados Unidos com o Vietname. Grande parte das coisas acabaram no Vietname quando terminou o serviço militar obrigatório. As gerações estavam a apanhar com a riqueza económica, as classes médias não queriam ir. Uns tinham medo, outros não estavam para isso. Muitas vezes não eram eles mas as próprias famílias, as mãezinhas. Fez-se um esforço para a profissionalização do Exército, mas Salazar nunca quis isso.

Sempre foi muito crítico de Marcelo Caetano, responsabilizando-o pelo fim do regime.

Sim, mas revi algumas das minhas posições. O que Marcelo Caetano tentou fazer foi o salazarismo sem Salazar. Ora aquilo não funcionava assim. O Franco pôde fazer isso mas não tinha uma guerra de África. Essa é a grande questão. E Franco tinha uma visão muito dinâmica da sociedade espanhola. Salazar tinha horror à violência, tinha aquela ideia muito ordeira. Franco não, tinha passado a vida dele na violência. Salazar era muito dado às coisas católicas, muito ordeiro. Tem aquela frase fantástica: "O Estado tem de ser forte para não ser violento." Salazar acabou por criar um sistema que não tinha saídas.

Ao não conseguir fazer uma transição para a democracia, o Estado Novo não foi responsável pelos danos políticos, económicos e sociais do PREC?

Não se podia fazer a guerra com a democracia aqui. E nunca ninguém pensou que a instituição militar estivesse assim. Um Exército onde há uma revolta de capitães já não é um exército. Quem comanda as unidades são os coronéis e os tenentes-coronéis - é uma classe leal ao regime, até por razões funcionais, políticas e institucionais. E isso foi um prognóstico em que me enganei. Não percebi que as unidades militares estavam na guerra - cá estavam uma espécie de depósitos para formar o pessoal para África. O que de deu no 25 de Abril foi precisamente isso. Uns capitães fizeram as coisas, nuns sítios prenderam, noutros nem tiveram de prender coisa nenhuma. Fez--se como na Primeira República: quem não aderiu também não obstruiu. E o próprio Marcelo Caetano também desarticula qualquer espécie de defesa. O sistema está de tal modo minado que Marcelo Caetano acha que aquilo é uma revolta, não contra ele, mas para tirar Américo Tomaz e deixá-lo ficar a ele. Ele acha que o Spínola está a comandar e Spínola não está a comandar coisa nenhuma. Todos são usados, mesmo uma série de oficiais conservadores. É uma espécie de comédia de enganos.

Uma Constituição que apagasse os tempos do PREC permitiria reequilibrar a balança política no país?

Não sei. Vou contar-lhe um história: na véspera de vir para Lisboa, não sei se da primeira se da segunda vez, Salazar encontrou o Cabral Moncada na Baixa. Eles não eram da mesma geração, mas eram contemporâneos. Salazar estava muito preocupado e perguntou-lhe: "O que é que eu vou fazer para a política? Eu não tenho imaginação nenhuma." Ele, de facto, não tinha grande imaginação, mas Portugal nessa época - estamos a falar de 1928 - não precisava de imaginação. Apesar de tudo, o espaço ultramarino colonial era uma espécie de grande reserva que assegurava as matérias-primas e os excedentes demográficos. Desde que houvesse ordem financeira e nas ruas, os recursos existiam e o dinheiro voltou. Hoje em dia é exactamente o contrário. Portugal precisa de imaginação. Hoje também há muita coisa em comunicações e transportes. A tecnologia tornou mais fácil muita coisa. E não há dúvida que os portugueses têm boas condições psicológicas, porque somos miméticos, cosmopolitas. Alguém me dizia que sai uma nota optimista deste livro, que é a ideia de que, mesmo em dificuldades, estamos a mostrar resistência. Mas esse é o nosso lado de resistentes nas Invasões Francesas. Quando chegamos ao limite, por sermos uma nação muito antiga, temos coisas que não contamos que apareçam mas aparecem. Depois... é como a indignação. Se ela não for organizada, não serve de nada em política. É uma boa forma de provarmos que não somos cínicos, mas isso tem de ter alguma organização. Agora é preciso haver uma identidade forte. E o poder económico que advém do facto de sermos uma nação também dá bastante força. Porque os problemas que vêm aí, na Europa, vão ser de violência e de fragmentação. Vão ser problemas ligados à identidade.

A integração de Portugal na União Europeia (UE) foi um logro?

Lembro-me que a minha mulher, que na altura trabalhava no Estado, me dizia sempre que tudo aquilo tinha sido muito mal negociado, à pressa. Porque a entrada na Europa era uma espécie de seguro de vida do regime. As pessoas não queriam que houvesse um regresso ao Estado Novo, por um lado, e também tinham medo da esquerda totalitária. A ideia era: "Vamos entrar aqui para um clube, mesmo que depois não tenhamos dinheiro para pagar as quotas. Mas agora entramos, ficamos aliviados, e eles defendem-nos dos males maiores." A dada altura não se podia dizer mal da adesão à Europa. Havia uma espécie de unanimismo à volta disso, que nos levou para a situação em que estamos. Depois, é curioso - e num processo que já vi acontecer diversas vezes em Portugal -, as pessoas parece que não têm qualquer tipo de memória dos seus actos. E clamam contra as consequências das coisas que foram concretizadas quando estiveram no poder.

No seu livro classifica a Europa como um continente em decadência. Com a crise que atravessa a zona euro e afecta a própria União Europeia, a Europa tem salvação?

Não sei se tem. Estou convencido de que nas próximas eleições europeias a UE vai ter uma sacudidela com uma subida forte dos partidos identitários, sobretudo em França e em Inglaterra. Isso vai levar os todos os partidos a terem posições muito restritivas, quer quanto à própria federação europeia, quer quanto à imigração. Mesmo a ideia de um referendo na Inglaterra sobre a pertença à Europa não me parece muito esquisita. Por outro lado, há uma coisa de que nos esquecemos, acho até que por falta de informação histórica. Nas sociedades em decadência da antiguidade vivia-se muito bem. Essa ideia de decadência está ligada à ideia de perda de poder e de protagonismo na cena mundial, mas também tem razões de ser. A Europa esteve durante séculos no centro de tudo e depois teve duas guerras muito sangrentas e destruidoras. O coração da destruição do século xx foi aqui. Somos um grande museu a céu aberto. Os outros vêm cá gastar dinheiro. Não há milionário russo, chinês ou australiano que não tenha um bom apartamento em Londres, no Sul de França, que não goste de passar 15 dias num bom barco no Mediterrâneo. E os alemães, como são disciplinados e não ligam muito à qualidade de vida - no sentido latino, mas também francês e inglês, do requinte -, fizeram as reformas da indústria. Mais vale que estejam a trabalhar na indústria que a invadir outros sítios à mão armada.

http://www.ionline.pt/artigos/portugal/jaime-nogueira-pinto-entrevista-ao-i-foi-se-longe-mais-na-diabolizacao-estado-novo/pag/-1

Friday, 20 December 2013

Saturday, 14 December 2013

Friday, 13 December 2013

Thursday, 12 December 2013

WINDAVIA: NOVA CHARTER 100% PORTUGUESA

 

Windavia quer faturar 50 milhões no próximo ano e transportar mais de 700 mil passageiros, incluindo franceses para Tróia, via Beja
 
  Há uma nova charter portuguesa e vai voar para 40 destinos
 Windavia vai levar franceses para Tróia
 
D.R. 12/12/2013 | 18:30 | Dinheiro Vivo
 
  O voo inaugural da Windavia entre Lisboa e Beja foi de curta duração, mas a companhia de voos charter aspira a voos mais altos. Com uma forte aposta no mercado francês - através de voos Paris-Beja para levar turistas para Tróia e Alentejo - e com a bacia do Mediterrâneo como o seu habital natural, a marca vai transportar mais de 700 mil passageiros no seu primeiro ano de operação, prevendo faturar cerca de 50 milhões de euros.
 
Ao longo do meu percurso profissional, em particular nos últimos anos, identifiquei uma oportunidade no mercado de aviação europeu, nomeadamente, nos voos charter”, conta ao Dinheiro Vivo, Pedro Bollinger, presidente da Windavia, que anteriormente ocupou o cargo de diretor comercial da SATA.
 
“As companhias aéreas tradicionais, devido aos seus pesados encargos, não conseguem muitas vezes dar respostas flexíveis à sua operação”, afirma. “Num mercado tão competitivo como a da aviação comercial e com uma instabilidade tão grande como esta, não só a nível de mercado como a nível de destinos, é necessário haver uma resposta muito rápida e flexível”, reforça. Clique aqui para ver o vídeo promocional da Windavia. ~
 
O investimento inicial foi de dois milhões de euros, com o capital a estar distribuído por Pedro Bollinger, com 49% do capital, com o restante a estar nas mãos de um investidor anónimo.
 
“Isto é uma companhia 100% portuguesa e com capitais 100% portugueses, nós pagamos os nossos impostos em Portugal”, faz questão de destacar. “Nós estamos a contribuir, de sobremaneira, para aumentar o peso do PIB no turismo e, depois, para gerar riqueza em Portugal”, defende Pedro Bollinger. Até abril, a companhia vai ter quatro Airbus A320 alugados a outras companhias a voar. De momento, decorrem negociações para mais dois A320.
 
“Nós temos um contrato de exclusividade com a White, quem opera os nossos aviões e faz a manutenção dos mesmos é a equipa da White”, afirma. A voar para mais de 40 destinos “Para 2014, temos contratos assinados para 40 destinos, como Cabo Verde, Tunísia, Marrocos, as ilhas Canárias e Baleares em Espanha, várias ilhas gregas, Israel, Montenegro, Irlanda e Itália, são inúmeras rotas”, disse.
 
Os voos charters são contratualizados diretamente, neste caso, por operadores turísticos, como no caso da portuguesa GPS Tour, sedeada em Pombal, líder no mercado de transporte aéreo de França para o Funchal, transportou no ano passado 30 mil franceses. “Os voos para Beja são todos voos charter a partir de Paris e províncias francesas. O destaque aí vai para a GPS Tour. A maioria destes turistas tem como destino Tróia e circuitos no interior do Alentejo”, explica.
 
Uma das grandes apostas da companhia são os voos entre Portugal e Israel. “Uma das nossas jóias da coroa é o voo Lisboa – Tel Aviv. Neste caso, o risco aqui é assumido por um grande operador israelita e esse voo semanal começará a partir de abril e vai se prolongar até outubro. Depois será consolidado com uma segunda aeronave em julho e agosto”, revela.
 
“Nós primeiro arranjamos os clientes, depois arranjamos os aviões, é a lógica da Windavia, uma lógica de que o mercado manda. A nossa postura passa por sermos a companhia de voos charter mais flexível do mundo”, remata Pedro Bollinger.