Saturday, 28 August 2010

ATERRAGENS EM AUTOESTRADAS REPETEM-SE


Polémica

Aterragens em auto-estradas repetem-se

Desde o ano passado que se verificam situações como a de 30 de Julho na A24

As aterragens e descolagens dos helicópteros de combate a fogos em auto-estradas e outras vias rodoviárias são uma prática que tem vindo a repetir-se, apesar dos sucessivos alertas dos comandantes da Protecção Civil. Ao que apurou o DN, "desde o ano passado que há conhecimento de aterragens nas auto-estradas e nas escapatórias de emergência", revelou um comandante da Protecção Civil (ANPC).

Outro operacional adiantou que "já por diversas vezes houve alertas, durante os briefings dos meios aéreos, para evitar estas manobras e limitá-las ao estritamente necessário". A ANPC, que nos termos da lei detém competência operacional e administrativa sobre estes aparelhos, não presta esclarecimentos, tal como o Instituto Nacional de Aeronáutica Civil (INAC).

O director do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves (GPIA) recusou prestar esclarecimentos "sobre operações de aeronaves civis, ocorrências, incidentes e acidentes com aeronaves dada a sua missão e atribuições" e remeteu eventuais informações para o INAC, que "tem por missão regular e fiscalizar o sector da aviação civil".

Porém, Fernando Reis recordou que estas operações "estão enquadradas pelo Manual de Emprego dos Meios Aéreos em Operações de Protecção Civil, que se aplica à operação de todos os meios aéreos empenhados em operações de Protecção Civil, Socorro e Assistência, sob Comando Táctico e Coordenação da Autoridade Nacional de Protecção Civil".

O documento alerta para a necessidade de salvaguardar "os imprevistos operacionais", mas lembra que "os períodos de tempo nas operações aumentam a adrenalina e podem levar o piloto de combate a incêndios a exceder as suas capacidades de desempenho e as performances da aeronave que comanda".

Sobre a entrada e saída das brigadas, sustenta que "os elementos a embarcar devem reunir-se a cerca de 10 a 15 metros do helicóptero, em local visível para o piloto, à frente deste e na parte mais baixa do terreno". E alerta para o perigo de "quando o rotor está em aceleração ou desaceleração, o batimento natural das pás do rotor poderá originar a queda de uma das pás especialmente em condições de vento forte".

O que não aconteceu a 30 de Julho quando o helicóptero estacionado em Viseu aterrou e descolou, por duas vezes, na A24. Um dos automobilistas apresentou queixa no INAC, que terá já aberto uma investigação ao sucedido.

Arderam quase cinco mil hectares de floresta este mês no Parque Natural da serra da Estrela, ou seja, 5,52% da área total, diz o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade. Segundo dados provisórios do ICNB, os fogos que deflagraram entre 1 e 20 deste mês nos concelhos de Celorico da Beira, Seia, Gouveia e Guarda consumiram 4878 hectares. No Parque Nacional Peneda Gerês arderam 8162 hectares, correspondendo a 11,7% da área total do parque.

Ontem, a ANPC registou mais de meia centena de incêndios. No concelho de Vila Chaves, portugueses e espanhóis combateram um fogo que teve início em Espanha e atravessou a fronteira. Na Guarda os bombeiros voltaram a dominar, às 15.47, o fogo que assolara a região na véspera e obrigara mesmo à interrupção da linha da Beira Alta. O incêndio na aldeia de Pai Lobo, no concelho de Almeida, destruiu a capela de Santo Antão e várias arrecadações agrícolas, e os residentes foram evacuados.

por AMADEU ARAÚJO

DIÁRIO DE NOTÍCIAS 28-08-2010

CLIENTES DA BANCA ADIAM AMORTIZAÇÃO DOS EMPRÉSTIMOS

Crédito à habitação

Em Julho, o valor da amortização começou a cair e a tranche dos juros a aumentar

As pessoas continuam a ir ao banco para comprar casa. Os clientes dos bancos estão a revelar sinais de menor capacidade para amortizar o empréstimo da casa mas, ao mesmo tempo, estão a canalizar mais dinheiro para pagarem os juros da dívida. O aperto crescente no rendimento disponível e o novo ciclo de subida de taxas, que já é visível, são as principais razões que explicam o fenómeno que está a fazer com que as prestações totais subam, ainda que o capital amortizado a cada mês seja cada vez menor.

Segundo o Instituto Nacional de Estatística, que apresenta dados até Julho último, cada cliente deve em média 60 621 euros ao banco. Todos os meses as pessoas têm de pagar uma prestação que ronda agora os 263 euros: esta parcela inclui a amortização - o dinheiro que o cliente abate ao empréstimo para reduzir os juros e a dependência face ao banco - e os juros - que remuneram o banco pelo dinheiro que emprestou. Este valor (263 euros) é relativamente baixo, pois tem em conta todos os créditos concedidos e os mais antigos têm uma prestação mais baixa pois beneficiaram de mais amortizações ao longo da sua vigência. Se às operações para compra de casa se juntarem os créditos para compra de terrenos ou construção de casas, a prestação média fica em 251 euros, mas também esta já está a subir à conta dos juros.

As prestações totais médias estão a ser puxadas pela importância crescente dos juros, que mais do que compensa a menor capacidade de amortização das famílias. Isto significa por um lado que o efeito da subida das taxas de juro já está a ser passado para os clientes. Por outro, começa a ser notório um aperto cada vez maior no rendimento disponível das famílias, reflexo de um mercado de trabalho com desemprego alto e de medidas de austeridade do governo para combater o défice.

João Cantiga Esteves, professor do ISEG e consultor financeiro, lembra que "a situação do mercado de crédito é hoje muito peculiar". "Apesar das taxas de juro extremamente baixas do BCE, a verdade é que os bancos continuam a não conseguir financiar-se no mercado interbancário como no passado."

"O crédito é de facto um mercado muito mais difícil hoje", observa. "O dinheiro que conseguem está a servir para reestruturar os balanços e só depois para financiar a economia." Por isso, o professor confirma que "já estamos num processo de subida dos juros sem haver subidas por parte do BCE, isto é, os spreads, que no fundo são os prémios de risco, estão a subir e muito". O economista junta ainda que o ambiente de estagnação, o desemprego alto e o endividamento acumulado ao longo de décadas "ajudam bastante à compressão do rendimento disponível, não havendo por isso grande margem para poupar", fazendo "aumentar ainda mais a exposição das pessoas a esta subida dos juros no crédito".

Filipe Garcia, economista da consultora IMF, frisou que a subida dos juros já está acontecer, embora acredite que seja moderada. Ainda assim, o ambiente mais restritivo no crédito, combinado com as medidas de austeridade - subida do IVA, aumento da taxa de retenção na fonte em sede de IRS, mais inflação e salários estabilizados -, "acabam por retirar poder de compra às famílias e ter um impacto maior".

No segmento da compra de habitação, cada devedor conseguiu amortizar 170,9 euros. O valor remanescente (92 euros) diz respeito a juros. Em Julho, o valor da amortização começou a cair e os juros começaram a aumentar. Nos novos contratos a quebra no valor amortizado é ainda maior e a sensibilidade face aos juros também. Nos empréstimos contratados nos últimos 12 meses, a prestação média total está a subir há dois meses (ficou em 294 euros em Julho), sendo que o capital amortizado desceu para 140 euros. A parcela relativa a juros aumentou para 154 euros, o valor mais alto desde Novembro de 2009.

Os bancos estão aproveitar a maior procura na habitação e o facto de continuarem a beneficiar do regime de financiamento vantajoso concedido pelo BCE para reforçarem ganhos. As taxas de juro efectivas dos novos créditos (TAEG) estão a subir desde o início do ano, segundo o Banco de Portugal. A tendência é continuar.

I ONLINE

por Luís Reis Ribeiro, Publicado em 28 de Agosto de 2010

REMEMBERING STÉPHANIE AND DANIEL'S MARRIAGE


A Princess Reborn

An Expectant Stephanie of Monaco Says She Has Found True Love with Daniel Ducruet—The Man Who Was Once Her Bodyguard

AS THE WILD CHILD OF THE GRIMALDI FAMILY, Princess Stephanie, 27, is a longstanding favorite among those who savor tabloid tales about troubled royals. Since 1982, when she was injured in a car wreck that killed her mother, Princess Grace, Stephanie has fluttered from one infatuation to the next in a seemingly desperate search for love. Stints as a fashion model, swimsuit designer, perfume peddler and chanteuse have alternated with giddy interludes in the arms of beaux, including Rob Lowe, racecar driver Paul Belmondo, record producer Hon Bloom and Jean-Yves Le Fur, a French real estate developer to whom she was briefly engaged in 1990. She made her mistakes in public as she struggled to forge an identity beyond that of Princess Stephanie Marie Elisabeth of Monaco. "My whole life," she said recently, "has been nothing but tremendous doubt."

Now, to hear Stephanie tell it, life holds no more doubts. On May 15, the joyous Princess announced to a pair of French journalists that she is three months pregnant. The child, she said, was fathered by her former bodyguard, Daniel Ducruet, 27—a onetime member of Monaco's police force who now manages a seafood-distributing business. Divorced from his first wife in the mid-1980s, he has a 4-month-old son by former girlfriend Martine Malbouvier, 32. A Frenchman born in Monaco, Ducruet met the Princess when he was assigned to the palace security detail from 1988 to October 1991. A few months before he left the post, the two began to live together. Exulted the expectant mother: "Things are completely changed. It is a happiness of such intensity, there are no words to explain it."

By all accounts, Stephanie and Ducruet, who say they have no plans to wed immediately, are wild for one another. In an interview in her high-rise apartment in Monaco, the Princess (in brightly colored tights and a pullover) and her paramour—a well-built, athletic-looking sort—nuzzled and cuddled as they discussed the circumstances that brought them together. Said Daniel: "The first time we met...we exchanged a glance, and we couldn't stop looking at each other.... [And now] a baby is going to emerge from that lovely little belly...." Added Stephanie: "[Daniel] helped me greatly to grow up. He really loves me for myself. He has proved to me that I am the one who counts, not what I represent."

Friends say that Ducruet is a self-made man. In the words of one who knows him well, Stephanie's beau is "smart, witty and loyal." Says the friend: "Daniel's only problem, if it is a problem, is that he was born into a poor family." (Raised near the border in Beausoleil, France, he is the son of Henri, a manual laborer, and Maguy, a housewife.) Although Daniel attended the University of Nice for just a year, his friend lauds his "good business sense," and adds, "he's doing well with his company."

The talk of Monaco on the last weekend in May, the news of the Princess' pregnancy overshadowed both the 50th running of the Monaco Grand Prix and a gala dinner in honor of Prince Rainier's 69th birthday (an event attended by neither Stephanie nor her elder sister, Princess Caroline). It also eclipsed the persistent rumor that Caroline (widowed in 1990 when husband Stefano Casiraghi died in a powerboat accident) is wailing for the Vatican to annul her 1978 marriage to Philippe Junot in order to wed Vincent Lindon, a 32-year-old French actor.

Following Stephanie's announcement, magazines ran paparazzi shots of the fully swimsuited Princess (who usually bathes topless), her belly slightly protruding, frolicking with Daniel in the pool at the Monte-Carlo Beach Hotel. As it was Mother's Day in France, Le Journal du Dimanche wished Stephanie, "Happy Mother's Day (Future) Mother," even as it erroneously noted that the Palace had denied that Rainier's youngest was expecting.

Many observers wondered how the Prince had taken the news that he was to become a grandfather again. (Caroline is the mother of Andrea, 8, Charlotte, 5, and Pierre, 4.) But direct comment was not forthcoming. Said one palace source: "There will be no official statement [about the pregnancy]."

Stephanie herself told reporters, "[My family] is happy for me. To see me happy, to know that I am going to have a child, they are evidently pleased."

Beyond that, she said little about Rainier's reaction, though jaded Stephanie watchers speculated that her having a child by her ex-bodyguard might finally goad her tolerant father to rage. "All these things are driving the Boss [as Rainier is called by intimates] up the wall," said one close family friend.

Others, however, note that Caroline was pregnant with Andrea when she wed Casiraghi in 1983 and that Rainier has always been particularly indulgent toward Stephanie. "She's got a tremendously strong character," he once said admiringly. Although the constitution specifies that no member of the family can marry without his approval, the doting Prince is deemed unlikely to refuse Daniel his daughter's hand. "He's got to accept both the baby and the father," says an American friend.

Daniel's friend confides that Ducruet "hasn't had a father-son talk" with Rainier but adds, "He is not afraid of his future father-in-law."

While Stephanie acknowledges that her father would undoubtedly be "delighted" if she opted for a full-dress church wedding, she says that she and Daniel have other ideas. "We don't want a reception or any great ceremony," she says. "I believe that the day of our marriage we will be all by ourselves or with very few others. If necessary, we have decided to go off, just the two of us, with his mother and a pal, and get married... in perfect privacy." Rainier, she predicts, will have no objection. "I believe that he will leave it to me to choose," she says.

The wedding date, they say, is still open for discussion. "We don't want to rush things," says Daniel. "We already have this happy event coming, and we do not want to seem forced to get married. Because marriage is something beautiful and not made with an idea of obligation."

Becoming engaged undoubtedly didn't seem part of the script when the two met in 1988. When Daniel joined the palace security staff, Stephanie had just ended an affair with French-born nightclub owner Mario Oliver and was throwing her energies into her singing career. Despite the initial attraction, neither she nor Daniel made a move. "Each of us lived what had to be lived, but we remained very close to each other, in our hearts, at least," Daniel says.

"He never left my mind," adds Stephanie. "There was always a place for him... in my heart."

For the Princess, the ensuing years were restless ones: After a brief engagement to Le Fur, she recorded a second album (Stephanie) and put her name on a scent sold in Europe. When Casiraghi was killed, she seemed to lake on a new maturity—spending much of her time with the shattered Caroline and helping to care for her sister's young children.

For his part, Daniel was occupied at the time by his relationship with Malbouvier, who lives in Beausoleil. In May 1991, Malbouvier became pregnant, and four months ago she gave birth to their son, Michael.

While rumormongers claimed that Ducruet deserted the pregnant Marline after his romance with Stephanie began last spring, a close friend says he "was always there for her." Daniel himself maintains that he has been a devoted father. In fact he was present when Michael was born; he has been seen accompanying Martine and Michael to the pediatrician, and paparazzi have snapped him loading his son into the backseat of Stephanie's black BMW. As the French magazine Voici put it, "Stephanie [also] respects Daniel's fatherly involvement."

Says Daniel: "I am taking care of that child, and I am giving an allowance to his mother. He is my flesh and blood—I am not ashamed of him. Whether I wanted him or not is nobody's business. And I shall look after him as I look after the child Stephanie is giving to me."

"The things that have been said about Daniel are completely astonishing," says Stephanie. "[But] the birth of our baby is a wonderful event, and I don't want it to be sullied." At the suggestion that her child, too, may someday be the target of gossip, she retorts swiftly, "We will protect him—you will see the mother hen turn into a mother lion. Nobody will touch my child."

At the moment the mother-to-be plans to put aside long-term projects such as her singing and her work with Pool Position, the company for which she designed swimsuits. "Now my family life comes before everything," she says. Still, Italian director Ottavio Fabbri has asked the couple to star in a six-part historical TV series called Welcome to Monaco, to he shot after the birth of their baby, and they have consented—providing they won't be forced to travel. "I do not wish to be absent [from the baby]," says Stephanie. "If [the project] required me to take my distance from my family, I would not be in agreement at all."

Both athletic, Stephanie and Daniel, a paragliding enthusiast who introduced the Princess to the sport, say her pregnancy will be an active one. "I want to keep fit. I don't want to become a wreck," says Stephanie with a laugh. "I go swimming and do a bit of exercise at home, and every weekend we go off for long hikes in the mountains."

Before the baby is born, the couple plan to move with their three dogs into a two-story home that will be built near the palace, next door to Caroline's pink villa. For Stephanie, it will be the beginning of a new phase—one that, by her account, marks a new maturity. "I [am] ready to have this child," she says. "I have become much more responsible. I feel myself much more a woman."

Eager to discover the sex of their baby, the two say they are hoping for a son, whom they would call Jonathan. "We are convinced that it will be a boy," says Stephanie. Adds Daniel: "For a daddy, it's good to have a boy, because that is the continuity of his life."

According to Stephanie, this will only be the beginning for the famille Ducruet. "We want to have three or four children," she says. "At the very least, three." And how will they be raised? "One must be very open-minded, very understanding," she says. Daniel agrees. "We will offer the widest range of possibilities to our [children]," he says, "and then it will be up to them to make [their] choice."

For better or worse, it seems that the restless Stephanie has found a new raison d'être. Never mind that there are cynics who claim that this pregnancy was an impulsive move, one that will sustain her interest no longer than, say, a new suitor. The Princess is convinced that she has finally found her place. "My role will be, above all, to make [this child] happy in what he does," says the woman who has spent so much of her life struggling to define herself. "Our children," she vows, "will not be unhappy."




MICHELLE GREEN
JOEL STRATTE-McCLURE in Monaco

Contributors:
Joel Stratte-McClure


From PEOPLE Magazine
June 15, 1992

Vol. 37No. 23

By Michelle Green

PHOTOS FROM SINGAPORE



Daniel Ducruet watching. Stéphanie looks on.


















Uncle Albert supports his niece in Singapore














Stéphanie worried. Daniel looks on.

















Pauline fresh from the pool










In MAD FOR MONACO 28-08-2010

PREMIÈRES IMPRESSIONS DE PAULINE DUCRUET À SINGAPORE

PAULINE DUCRUET IN SINGAPORE

ROYAL WEDDING IN GREECE

AS FÉRIAS DO PRESIDENTE

Presidência: Cavaco Silva no Algarve abre portas ao CM

“Os portugueses estão enganados quanto às férias do Presidente”

O escritório do Presidente tem passagem para a piscina, onde um grupo de crianças, entre as quais alguns dos seus netos, se divertia.

Muito bronzeado, de pólo e calções, o Presidente recebe-nos no seu pequeno escritório na Casa da Gaivota, na aldeia da Coelha, em Albufeira, sua residência de férias vai para 13 anos, localizada numa pequena rua sem saída para o trânsito. A mulher, Maria Cavaco Silva, aparece também para um cumprimento rápido, com uma braçada de roupa lavada. "Trabalho de férias!", explica, no tom de lamento de quem tem de fazer a lida de casa. E é para falar de férias, das suas férias, que o Presidente nos recebe.

Sentado numa secretária simples, cheia de papéis, que nos diz serem os diplomas que tem de analisar, Cavaco Silva vai directo ao assunto: "As férias de um Presidente da República são muito limitadas, porque é um órgão unipessoal, não tem substituto, e existem muitos assuntos que não podem esperar. Por isso, todos os dias de manhã, dedico-me ao exercício das minhas funções de Presidente da República aqui neste pequeno escritório." Um espaço situado na parte de trás da casa e aberto para um jardim com piscina, onde um grupo de crianças, entre as quais alguns dos netos do Presidente, se diverte. Nas paredes há retratos do Chefe de Estado, imagens da sua actividade política, com mais de 30 anos, e, até, a reprodução de um cartoon de António sobre as últimas presidenciais (que Cavaco ganhou logo à primeira volta, com mais de 50 por cento dos votos).

Entre as matérias inadiáveis mesmo em tempo de férias estão os diplomas do Governo e da Assembleia da República – a propósito, o Presidente recorda que tem apenas 8 dias para decidir se consulta ou não o Tribunal Constitucional e 20 dias para decidir sobre a promulgação ou o veto. "Este ano tive 37 diplomas para ler e para analisar. Ainda estão aqui alguns, que chegaram há pouco tempo", diz, apontando para os dossiês. À lembrança vem o "jipe cheio de diplomas" das férias do ano passado, mas o Presidente frisa que agora são bastante menos.

A análise e o estudo dos diplomas é "uma matéria que absorve muito, muito tempo", mas está longe de ser exclusiva. "Os portugueses estão muito enganados quanto às férias do Presidente", comenta, explicando que, além do controlo da actividade legislativa do Governo e da Assembleia da República, há toda uma série de assuntos que exige a sua atenção durante as férias, como: a nomeação de embaixadores para o estrangeiro e a acreditação de embaixadores em Portugal; as respostas a cartas de chefes de Estado e as mensagens que há que lhes enviar, de felicitação ou pesar, conforme os acontecimentos nos respectivos países; a análise dos convites que lhe são dirigidos – "O Presidente da República recebe, em média, quatro convites por dia para cerimónias oficiais" –; a assinatura dos decretos de promoção a oficial general e, é claro, o acompanhamento da situação nacional e da actualidade internacional.

"Quase todos os dias há um automóvel que vem de Lisboa com documentação que tenho de despachar ou dossiês que tenho de analisar, e há matérias cuja delicadeza exige a presença do Chefe da Casa Civil", refere o Chefe de Estado, adiantando que antes de nos receber tinha estado precisamente reunido com Nunes Liberato.

Em resumo, "as férias do Presidente nunca são férias completas; não há possibilidade, porque não há um substituto, tem de ser ele próprio a analisar e a decidir". No final, "resta algum tempo para ir de vez em quando para a praia, dar um mergulho e nadar um pouco", e para ler.

No dia em que nos recebe, a ida à praia é trocada por uma visita à quinta herdada do pai e ainda um passeio pelas arribas à frente da casa e uma caminhada no passadiço da lagoa dos Salgados, para observar os flamingos. De binóculos.

"APRECIO ALEGRE COMO POETA"

Em tempo de férias, a pergunta impõe-se: que livro ou livros está a ler? Cavaco Silva aponta para uma pequena pilha de livros sobre uma mesa e enumera alguns exemplos: a ‘A Casa-comboio’, de Raquel Ochoa (a quem o Presidente entregou o Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís), ‘Portugal, o Sabor da Terra’, de José Mattoso, um livro de Luís Rosa sobre a guerra na Guiné e... livros do Manuel Alegre? O Presidente sorri perante a ‘provocação’ e responde, surpreendendo-nos: "Sabe, tenho praticamente todos os livros do Manuel Alegre, e com dedicatórias. A minha mulher, desde sempre, guardou os livros dele e eu, quando o encontrava, pedia-lhe que os autografasse." É, remata, "uma pessoa que aprecio como poeta".

"OS GOVERNOS NÃO PRECISAM DE TER A CONFIANÇA POLÍTICA DO PRESIDENTE"

O tema da conversa com Cavaco Silva são as férias, mas o Presidente não se furta a responder a algumas perguntas sobre questões que marcam a actualidade política nacional, como a polémica à volta do projecto de revisão constitucional do PSD.

O Chefe de Estado começa por assumir o seu papel de guardião da Constituição, desta Constituição: "Estou a exercer as minhas funções à luz da Constituição que está em vigor e que eu jurei cumprir. E, para mim, a palavra ‘jurar’ tem muito significado e, por isso, confirmo o texto da Constituição que jurei cumprir e fazer cumprir. Não quer isto dizer que concordo ou não com todo o conteúdo da Constituição. Não é isso que está em causa. Agora eu sou Presidente no contexto desta Constituição, não de outras."

Interrogado sobre os que o criticaram por promulgar diplomas com os quais não concorda plenamente, como o das uniões de facto, Cavaco Silva riposta: "Esse diploma sofreu alterações na Assembleia que foram, em geral, ao encontro das observações que fiz. Mas, como todos os Presidentes da República disseram e escreveram, com alguma frequência os presidentes não concordam com a totalidade das normas jurídicas de um diploma, isso é o mais normal".

Sobre os poderes presidenciais e as relações com o Governo, não se coíbe de sublinhar as limitações impostas pela Constituição: "Basta ter presente o nosso sistema constitucional. Mudou o Presidente e nem por isso mudou o Governo; isto é, os presidentes que chegam de novo recebem um Governo que foi nomeado por um outro Presidente." Os governos, frisa, a propósito, "não precisam de ter a confiança política dos Presidentes, nem respondem politicamente perante o Presidente da República. Nos termos constitucionais, respondem politicamente perante a Assembleia da República." E conclui com um recado: "Foi por isso que, há dias, disse que os nossos comentadores estivais deviam ler o livro vermelho de Vital Moreira e Gomes Canotilho, porque analisa bem, quanto a mim, como devem ser exercidos os po-deres presidenciais".

PROMULGAÇÕES EM DIAS DE DESCANSO

O Presidente da República recebeu este ano 37 diplomas para analisar e, durante as férias no Algarve, promulgou alguns de grande importância, como o das uniões de facto, o pacote anticorrupção, o Estatuto do Aluno, as alterações ao Código de Execução de Penas e, anteontem, o diploma sobre os chips, ou seja, sobre o pagamento das auto-estradas sem custos para o utilizador (Scuts).

"A GUINÉ-BISSAU É PREOCUPANTE"

Um dos assuntos que mais preocupam o Presidente, mesmo em férias, diz respeito à situação que se passa na Guiné-Bissau, onde se coloca "a interrogação sobre a subordinação do poder militar ao poder civil". "Não podemos esquecer que houve o assassinato de um Presidente e do chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, que foi nomeado depois um outro, que, neste momento, está preso [Induta]."

CORREIO DA MANHÃ 28-08-2010

Por José Rodrigues