“Não vou naturalmente dizer que a tragédia do Meco foi provocada pela Maçonaria, mas apenas afirmar que a cultura de secretismo instilada numa parte da sociedade portuguesa pela Maçonaria, está na origem do que aconteceu naquela praia. Porque o que aconteceu, com origem na Universidade Lusófona, não foi o resultado de uma associação de praxes, mas o crime de uma sociedade secreta, a meio caminho entre a Maçonaria e a Máfia.
Não por acaso. Pelo que tenho visto, a Universidade Lusófona será uma instituição de ensino mas não é uma Universidade, na melhor tradição europeia e universalista da criação de conhecimento e de escola de valores. Pelo contrário, tudo indica que se trata de um negócio de grande sucesso, que para o ser usa os recursos tradicionalmente consagrados em alguns sectores da sociedade portuguesa, que vão da cunha aos favores de amigos, afilhados e irmãos. Acresce que a aproximação às hierarquias políticas e a ambição do poder, foram as principais razões que desenvolveram na Lusófona um ambiente favorável ao secretismo de raiz antidemocrática, fonte histórica de todos os abusos, que, com o tempo, se tornou a alma do negócio.
Alguns acontecimentos que ultimamente têm chegado ao conhecimento da opinião pública, como as licenciaturas de favor, atestam-no e não surpreende que alguns jovens mais imaturos se tenham deixado endrominar pela cultura do sucesso fácil, do autoritarismo, da dominação dos mais fracos e da obtenção de poder pessoal, tudo isso teorizado como um suposto modelo do sucesso individual. Que isso tenha acontecido numa universidade portuguesa e, alegadamente, tenha passado ao lado dos seus órgãos dirigentes, é matéria de estudo e condenação.
O jornal “Sol” publicou recentemente que a Grande Loja Legal de Portugal está a instalar uma Ordem para rapazes dos 12 aos 21 anos, a exemplo do que acontece nos Estados Unidos e no Brasil, países que aparentemente não querem ficar atrás de certos países islâmicos com as suas madrastas e centros de recrutamento de malfeitores. O jornal fala apenas de rapazes e não menciona as raparigas, acrescentando que “o objectivo é formar jovens que sejam úteis à sociedade, promovendo palestras e dando-lhes formação.” Mais à frente da notícia é dito “que uma das actividades que mais praticam é a oratória para aprenderem os truques de falar em público.
Nada poderia ser mais claro, as irmandades sentem que estão a perder terreno para as juventudes partidárias na sua capacidade de nomear gente para as mais diversas funções e mordomias do Estado: Assembleia da República, governos, empresas públicas, grupos económicos privados, autarquias e tudo o resto onde exista alguma forma de poder e de rendimento. Cintam com jovens devidamente treinados, capazes de através da “oratória” reconquistar uma fatia do poder político e económico, que é a sua razão de ser.
Provavelmente nunca se saberá o que aconteceu na praia do Meco naquela noite de Dezembro, nem haverá culpados conhecidos e condenados. Se assim for, como tudo indica, será apenas mais um caso em que a justiça portuguesa é vencida pelo silêncio, pelos grupos de interesses e pela sua própria natureza de classe. Dos seis jovens roubados às suas famílias pela estupidez de uma mal compreendida disciplina fascizante, restará a memória difusa das vítimas de um sistema de educação desmiolado e irresponsável. As declarações prestadas aos meios de comunicação por alguns dirigentes da Lusófona, a seguir à morte dos jovens, de tão ridiculamente desculpabilizantes ficarão como parte da farsa que quase sempre se segue à tragédia.
O Governo e o Ministério da Educação farão sem dúvida aquilo que sabem fazer melhor em circunstâncias semelhantes: leis e regulamentos. Infelizmente, não lhes passará pela cabeça reconhecer que tudo isto é o resultado da degeneração de um sistema político cada vez menos exemplar e cada vez mais corrupto.”
HENRIQUE NETO in JORNAL DE LEIRA, edição de 6 de Fevereiro de 2014
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