Wednesday, 18 August 2010

PROFESSORA CASTIGADA POR CHUMBAR MAIS DE METADE DOS ALUNOS

Ensino superior




Professora castigada por reprovar mais de metade dos alunos



Regência de duas disciplinas foi retirada a docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa

Elvira Gaspar está convencida de que, se usasse critérios de avaliação menos exigentes não estaria agora a travar uma batalha no Departamento de Química. Nos últimos três anos, a professora da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Elvira Gaspar, foi regente das cadeiras de Técnicas de Laboratório e Segurança para as turmas do 1.o ano das licenciaturas de Química Aplicada e de Engenharia Química e Bioquímica. Mas, neste ano lectivo, que arranca a 15 de Setembro, o Departamento de Química retirou-lhe a regência das duas disciplinas. Motivo: mais de metade dos seus alunos chumbou nos exames finais.

A decisão chegou a 19 de Julho por carta dirigida a Elvira Gaspar. No despacho, assinado pela presidente do Departamento de Química, Isabel Moura, as razões para despromover a professora são claras: na sequência de "um aumento súbito do insucesso escolar", o conselho de Departamento de Química "aconselhava uma mudança, ainda que temporária, da atribuição da responsabilidade da disciplina".

A professora da Universidade Nova de Lisboa foi apanhada desprevenida. A distribuição do serviço docente já tinha sido feita em Maio e Elvira Gaspar manteve a regência das cadeiras para o ano lectivo de 2010/11. "A nova decisão surgiu em Julho, já fora do prazo legal, atribuindo-me a responsabilidade exclusiva pelas notas dos alunos", conta a docente.

Uma responsabilidade que garante não ser só da sua competência, já que a avaliação prática dos estudantes nas suas disciplinas foi repartida também com mais outros três docentes: "Institui como norma que os conhecimentos práticos da disciplina têm de ser avaliados por todos os docentes envolvidos, quatro neste ano lectivo. A cada um de nós cabe aferir os conhecimentos dos alunos que pertencem às turmas de outros colegas. É o método que uso para garantir a imparcialidade." Elvira Gaspar acusa agora o Departamento de Química de a sancionar sem sequer ouvir o que teria a dizer em sua defesa: "Se tivesse tido a oportunidade de contestar essa decisão, teria dito, por exemplo, que para mim, um aluno só merece 10 valores se adquiriu as competências mínimas nas vertentes teóricas e práticas da disciplina." Caso contrário, a reprovação é o único caminho, avisa a professora.

Na Faculdade de Ciências e Tecnologias, todos os professores a quem lhes são atribuídas as regências das disciplinas têm "autonomia" para decidir quais os critérios de avaliação a aplicar nas suas cadeiras, explica Elvira Gaspar. E a professora estabeleceu as suas próprias regras. Para os alunos dos cursos de Química Aplicada e de Engenharia Química e Bioquímica concluírem a disciplina de Técnicas de Laboratório e Segurança é preciso ultrapassar três momentos de avaliação.

O primeiro crivo surge com um teste teórico sem aviso prévio mas só faz quem quer. Os que obtêm nota igual ou superior a 12 valores ficam dispensados do exame teórico. Todos sem excepção têm, no entanto, de passar pela prova final que avalia a componente prática da disciplina. E só os que obtiverem classificação superior a 9,5 valores poderão ser submetidos à prova teórica. Para quem teve nota negativa, o caminho chega ao fim: "Não faz sentido sujeitar os estudantes que reprovaram nos testes práticos aos exames teóricos, uma vez que a passagem da disciplina resulta da média conquistada nessas duas vertentes."

No ano lectivo anterior, dos 53 alunos de Química Aplicada, 16 concluíram a disciplina. No caso dos estudantes de Engenharia Química e Bioquímica, os resultados são igualmente desanimadores: 28, entre 90 alunos inscritos, fizeram a cadeira (ver infografia). Elvira Gaspar diz que se tivesse usado outros critérios não estaria agora a travar esta batalha. "Como a faculdade não tem regras universais para avaliar os alunos, a exigência é um valor que depende apenas da vontade dos professores."

Não há normas e "ninguém avalia a eficácia dos parâmetros usados pelos regentes: "Se quisesse poderia até instituir como critério de avaliação a realização de um trabalho final." Tudo seria mais simples - desabafa a professora -, assegurando que essa solução até proporcionar-lhe-ia mais tempo para se dedicar à investigação científica. Como resposta a uma "sanção aplicada sumariamente" Elvira Gaspar solicitou ao director da Faculdade de Ciências e Tecnologia uma licença sabática para se dedicar ao projecto de investigação que está a desenvolver: "Esse pedido, decorrente da aplicação da sanção, já foi feito fora de prazo, tal como aconteceu com a decisão de me retirarem a regência das cadeiras."

O i tentou contactar a presidente do Departamento de Química, Isabel Moura, e ainda o subdirector do Conselho Científico da Faculdade de Ciências e Tecnologia, José Legatheaux Martins. Os dois órgãos são os principais responsáveis pela distribuição do serviço docente, mas não foi possível obter qualquer esclarecimento por ambos estarem de férias. O director da faculdade Fernando Santana também está de férias, mas fonte próxima prometeu uma resposta "o mais breve possível", que contudo não chegou até ao fecho desta edição.

I ONLINE

por Kátia Catulo , Publicado em 18 de Agosto de 2010

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