Monday, 27 May 2013

HELENA ROSETA CONTRA A DISTRIBUIÇÃO DE COMIDA AOS SEM-ABRIGO NAS RUAS


A vereadora quer novas soluções para o apoio aos sem-abrigo como a criação de cantinas com ambiente familiar e renovação dos abrigos “Toda a gente se oferece para voluntariar e ir para a rua distribuir comida aos sem-abrigo, como se fossem dar milho aos pombos” disse Helena Roseta, vereadora do Desenvolvimento Social da Câmara de Lisboa, em entrevista à Lusa para ilustrar a dificuldade de coordenar as associações que estão no terreno a dar apoio aos sem-abrigo. Ao i, Roseta explicou que a maneira como se processa a distribuição da comida em Lisboa “não tem condições nem dignidade”, defendendo por isso a existência de espaços onde as várias associações possam providenciar refeições aos sem-abrigo da capital.

“Com a quantidade de voluntários e associações que há em Lisboa, temos condições para fazer um trabalho personalizado com as pessoas que estão a dormir na rua” sublinhou Helena Roseta ao i, acrescentando que associações como a Serve the City Lisboa já proporcionam jantares comunitários em Alcântara de duas em duas semanas. A vereadora aposta em novas soluções para apoiar o número crescente de sem-abrigo na cidade – cerca de 2000, embora aponte a dificuldade de fazer um levantamento preciso desta população devido ao seu carácter itinerante – como locais com ambiente familiar” para as refeições, a reconversão de instalações do INATEL na Infante Santo em hotel social e a renovação dos albergues já existentes.

Uma das apostas da autarquia, em execução, é a criação de uma unidade de atendimento a sem-abrigo no Cais do Sodré, onde várias entidades vão procurar ajudar sem abrigo a resolver problemas de saúde, procurar trabalho ou tratar de documentação. O espaço foi cedido pela Câmara Municipal e vai ser coordenado pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

Desemprego

Para além do aumento de sem-abrigo, Helena Roseta diz que há uma mudança no perfil das pessoas que vivem actualmente na rua. “Já não falamos só de pessoas que sofrem de doenças mentais ou com histórias de adicção. Hoje temos pessoas que perderam o emprego e vão para dormir para a rua, incluindo muitos jovens e famílias completas” declarou a vereadora.

Segundo Helena Roseta, foi exactamente o desemprego a consequência da crise que mais teve impacto na cidade de Lisboa, “com cerca de 1000 novos desempregados todos os meses” no ano passado. A falta de recursos dos lisboetas, tem feito com que cada vez mais pessoas recorram à Câmara Municipal para pedirem uma habitação social. “Andamos à volta dos 1800, 1900 pedidos por ano. Agora a nossa capacidade de resposta anda à volta de uns 300 fogos por ano”, disse a autarca, apontando que a Câmara deveria construir e reabilitar entre 500 a mil fogos por ano, vendendo parte do seu património. Na entrevista à Lusa, Helena Roseta não esqueceu as críticas aos cortes levados a cabo pelo governo. “Isto põe em causa tudo. Tudo o que foi a construção europeia e a construção democrática de Portugal desde 1974. Nem no tempo de Marcelo Caetano ou de Oliveira Salazar se tiravam as pensões às pessoas. Isto é terrorismo social. É uma coisa inacreditável” disse a vereadora.

  http://www.ionline.pt/artigos/portugal/roseta-contra-distribuicao-comida-na-rua-aos-sem-abrigo

Thursday, 18 April 2013

ERRO NA FÓRMULA DO EXCEL USADA PARA JUSTIFICAR AUSTERIDADE

 

Artigo que inspirou uma legião de fãs de políticas restritivas tem falhas, segundo investigadores da universidade de Massachusetts
 
Na base das políticas de austeridade, estão uma série de contas. O problema é quando essas decisões de aperto de cinto partem de contas erradas. Foi o que se detetou agora em relação ao artigo «Crescimento em tempo de dívida», cuja fórmula de Excel utilizada pelos dois investigadores que assinam o texto parece ter falhas. O certo é que tem inspirado uma legião de fãs, desde o comissário Europeu para os Assuntos Económicos, Olli Rehn, até ao secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, por exemplo.
O artigo de Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff baseou-se em estatísticas entre 1946 e 2009 para concluir que o crescimento económico diminui drasticamente quando o nível da dívida pública de um país ultrapassa os 90% do Produto Interno Bruto (PIB). 

Segundo essa investigação, com uma amostra de 20 economias avançadas durante o período pós-guerra, o crescimento médio anual do PIB varia entre cerca de 3% e 4%, quando o rácio da dívida pública em relação ao PIB é inferior a 90%. Mas o crescimento médio cai para -0,1% quando a proporção sobe acima de um limiar de 90%.

O que se constata agora é que uma dívida pública elevada pode não ter consequências assim tão negativas no crescimento económico de um país, mas foi nisso que se centraram muitas decisões políticas (leia-se, de austeridade) para resolver a crise na Europa.

Numa análise ao artigo daqueles dois investigadores, outros três da universidade de Massachusetts detetaram que os resultados do artigo que tem servido de base a políticas de austeridade nos últimos três anos «estavam baseados numa série dados errados e técnicas estatísticas incomportáveis», lê-se num artigo publicado pelo Financial Times esta quarta-feira. 

«Quando realizámos novos cálculos precisos, utilizando [o mesmo] conjunto de dados, verificou-se que, quando o rácio de dívida em relação ao PIB é superior a 90%, o crescimento médio é de 2,2%, e não -0,1%. Descobrimos também que a relação entre crescimento e dívida pública varia muito ao longo do tempo e entre países», frisam Thomas Herndon, Michael Ash e Robert Pollin. 

O artigo da polémica excluiu, por exemplo, anos em que os países com dívidas com um peso superior 90% registaram sólidos crescimentos económicos, como foi o caso da Austrália e Canadá, ambos entre 1946 e 1950, e Nova Zelândia (entre 1946 e 1949). Apresenta falhas também ao peso atribuído à duração do crescimento do PIB e os erros de código no Excel, que deixou de fora da análise cinco países: Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá e Dinamarca.

«Então, o que é que isso significa?», questionam. Ora, se considerarmos uma situação em que um país está a aproximar-se do limite de 90% na relação dívida pública / PIB, isso não quer dizer que esse país está a atingir «um ponto perigoso onde o crescimento económico é susceptível de diminuir vertiginosamente». 

Pelo contrário, «a nossa prova corrigida mostra que o crescimento de um país pode ser um pouco mais lento», mas continua a existir. É muito importante, sublinham ainda, perceber se o crescimento lento é causa ou consequência de uma dívida pública elevada, antes de podermos tirar conclusões significativas. O que uma falha básica num cálculo de Excel pode fazer...
Harvard Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff já reagiram à crítica dos investigadores de Massachusetts. Argumentam que quiseram mostrar uma associação e não relação de causalidade entre dívida e crescimento e fazem questão de sublinhar que nesta última análise há resultados que não fogem muito aos seus. Remetem-se ao silêncio em relação ao erro detetado na fórmula de Excel.

http://www.tvi24.iol.pt/economia---economia/austeridade-erro-excel-formula-crescimento-em-tempo-de-divida-ultimas-noticias/1440448-6377.html