Thursday, 18 April 2013

ERRO NA FÓRMULA DO EXCEL USADA PARA JUSTIFICAR AUSTERIDADE

 

Artigo que inspirou uma legião de fãs de políticas restritivas tem falhas, segundo investigadores da universidade de Massachusetts
 
Na base das políticas de austeridade, estão uma série de contas. O problema é quando essas decisões de aperto de cinto partem de contas erradas. Foi o que se detetou agora em relação ao artigo «Crescimento em tempo de dívida», cuja fórmula de Excel utilizada pelos dois investigadores que assinam o texto parece ter falhas. O certo é que tem inspirado uma legião de fãs, desde o comissário Europeu para os Assuntos Económicos, Olli Rehn, até ao secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, por exemplo.
O artigo de Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff baseou-se em estatísticas entre 1946 e 2009 para concluir que o crescimento económico diminui drasticamente quando o nível da dívida pública de um país ultrapassa os 90% do Produto Interno Bruto (PIB). 

Segundo essa investigação, com uma amostra de 20 economias avançadas durante o período pós-guerra, o crescimento médio anual do PIB varia entre cerca de 3% e 4%, quando o rácio da dívida pública em relação ao PIB é inferior a 90%. Mas o crescimento médio cai para -0,1% quando a proporção sobe acima de um limiar de 90%.

O que se constata agora é que uma dívida pública elevada pode não ter consequências assim tão negativas no crescimento económico de um país, mas foi nisso que se centraram muitas decisões políticas (leia-se, de austeridade) para resolver a crise na Europa.

Numa análise ao artigo daqueles dois investigadores, outros três da universidade de Massachusetts detetaram que os resultados do artigo que tem servido de base a políticas de austeridade nos últimos três anos «estavam baseados numa série dados errados e técnicas estatísticas incomportáveis», lê-se num artigo publicado pelo Financial Times esta quarta-feira. 

«Quando realizámos novos cálculos precisos, utilizando [o mesmo] conjunto de dados, verificou-se que, quando o rácio de dívida em relação ao PIB é superior a 90%, o crescimento médio é de 2,2%, e não -0,1%. Descobrimos também que a relação entre crescimento e dívida pública varia muito ao longo do tempo e entre países», frisam Thomas Herndon, Michael Ash e Robert Pollin. 

O artigo da polémica excluiu, por exemplo, anos em que os países com dívidas com um peso superior 90% registaram sólidos crescimentos económicos, como foi o caso da Austrália e Canadá, ambos entre 1946 e 1950, e Nova Zelândia (entre 1946 e 1949). Apresenta falhas também ao peso atribuído à duração do crescimento do PIB e os erros de código no Excel, que deixou de fora da análise cinco países: Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá e Dinamarca.

«Então, o que é que isso significa?», questionam. Ora, se considerarmos uma situação em que um país está a aproximar-se do limite de 90% na relação dívida pública / PIB, isso não quer dizer que esse país está a atingir «um ponto perigoso onde o crescimento económico é susceptível de diminuir vertiginosamente». 

Pelo contrário, «a nossa prova corrigida mostra que o crescimento de um país pode ser um pouco mais lento», mas continua a existir. É muito importante, sublinham ainda, perceber se o crescimento lento é causa ou consequência de uma dívida pública elevada, antes de podermos tirar conclusões significativas. O que uma falha básica num cálculo de Excel pode fazer...
Harvard Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff já reagiram à crítica dos investigadores de Massachusetts. Argumentam que quiseram mostrar uma associação e não relação de causalidade entre dívida e crescimento e fazem questão de sublinhar que nesta última análise há resultados que não fogem muito aos seus. Remetem-se ao silêncio em relação ao erro detetado na fórmula de Excel.

http://www.tvi24.iol.pt/economia---economia/austeridade-erro-excel-formula-crescimento-em-tempo-de-divida-ultimas-noticias/1440448-6377.html